segunda-feira, 29 de junho de 2020

Ainda vou a tempo, S. Pedro?


Peço-te desculpa, S. Pedro,
De não ter falado aqui;
Para os outros versejei
Sem escrever ontem pra ti.

Tenho andado muito ocupada
E és o último: que azar!
Os últimos ser primeiros
Já deu o que tinha a dar.

S. Pedro, não fiques triste
E peço-te paciência,
Pra não perdermos a nossa
Nem a nossa consciência!

Como tens chaves do Céu,
Podes entrar e sair.
Dá uma chave aos cientistas
Para o Covid banir.

Está na hora de ir embora
Mas não posso dar beijinho;
Como já deves saber,
Agora é cotovelinho!



sábado, 27 de junho de 2020

Obrigada, Sandra!

 Este pequeno texto foi partilhado hoje, 
por uma professora, num grupo de Whatsapp, após o final de aulas à distância.
Gostei muito e pedi para o publicar aqui.

Obrigada, Sandra.
Obrigada, tantos professores
e tantas professoras.


Ontem acabaram as aulas... A sensação que fica é que nada terminou... Não estar, ver, sentir a reação dos alunos dá ideia que nada terminou! 
Sei que dar as aulas presenciais foi uma árdua tarefa e nada agradável, mas a sensação de vazio que senti nesta despedida... Foi muito triste e difícil. 
Mais triste é não estar convosco, ver os vossos sorrisos, sentir a vossa presença! 
Para mim, isto foi tudo menos escola e eu adoro o que faço! E acima de tudo adoro estar convosco!

Sandra Moreira 


Não está a cheirar nada bem!


Gosto muito dos parques de Londres. Dos que conheço, é claro. Um deles foi até cenário de um filme bastante interessante que estreou há poucos anos. O parque é Hampstead Heath. É imenso, arborizado, florido, com lagos, com vastos espaços verdes. Enfim, muito variado e ótimo para caminhar, para correr, para contactar com a natureza, para relaxar...
E tenho pena de não ir lá há muito tempo, mas a pandemia tem fechado muitas portas, embora tenha também aberto outras, mas menos numerosas.
Pois bem, esses parques maravilhosos, aonde vão multidões (pelos vistos, a afluência nunca abrandou muito, apesar de todos os apelos) continuam com as casas de banho fechadas.
Pode imaginar-se o que se passa e o que se encontra pelos caminhos por onde as pessoas vão apenas para caminhar ou correr.
É caso para dizer: isto não está a cheirar nada bem!!!


Deve ser bom ouvir


 




sexta-feira, 26 de junho de 2020

'E hoje, já sorriste?'

Ela estava doente e ia recebendo mensagens: As melhoras, vai correr tudo bem, tu és forte...
Mas uma das que mais lhe tocou foi: 'Então, hoje já sorriste?'
Gostou tanto que passou a adotar essa questão em situações semelhantes, esperando que agradasse como com ela tinha acontecido.
E as respostas que dava e que agora recebia pareciam mais positivas e a repetição menos chata. 
Coisas tão simples e mais leves quando o momento é mais pesado.
E com a vantagem de não haver direitos de autor.

E a propósito, hoje já sorriram?


quarta-feira, 24 de junho de 2020

O Porto sem festa de S. João

 Obrigada, M.A., por outra bela e bem humorada partilha.
Retratas muito bem alguns espaços do Porto que nunca ninguém viu desertos em noite/dia de S. João.
      Como o momento continua difícil, e como se diz que todos os santos ajudam,
é certeiro o pedido que fazes a S. João:
'Se não conseguires sozinho,
Faz um apelo ao S. Pedro!'


 
'Em dia de S. João,
Fui à festa e não a havia,
É que o Santo, do seu posto,
Confinou toda a folia.

Foi num gesto altruísta,
S. João, sabemos todos,
E o Porto, solidário,
Lá acatou esses modos.

Era ver tantas esplanadas
Cheias de mesas vazias
E nas poucas ocupadas
Nem sinais d`outras folias. 

Nem doces, nem manjericos,
Nem o cheiro das sardinhas,
Nem nada que nos lembrasse
Das tradições sanjoaninas. 

S. João, quando puderes,
Vê se afastas este medo,
Se não conseguires sozinho,
Faz um apelo ao S. Pedro!'
M.A.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Como 'cada dia é uma riqueza', aqui vai outra beleza


Surpresa de S. João

É véspera de S. João 
E já o sol nascente
Que bate na janela vizinha
Em frente à minha
Faz nascer um sol poente. 

Hoje tenho dois sóis
O nascente e o poente
Por causa de uma janela
E dos espelhos que há nela;
Um que nasce na montanha
E o outro, galhofeiro,
A imitar o verdadeiro. 

Não deito nenhum deles fora;
Se vêm à mesma hora
Com tão dourada surpresa
É porque S. João assim quer
Mostrar que, se eu quiser,
Cada dia é uma riqueza.
 
                             Clémina 
                             23 junho 2020

Ó meu rico S. João!


Se eu tivesse boa voz,
Cantava-te uma canção
Pra te fazer companhia,
Ó meu rico S. João!

Deves estar muito triste
Tu, meu querido santinho,
  Estavas sempre acompanhado
E hoje ficaste sozinho!

Não podes sair à rua
Com martelinho e balão
Que lá se foi o tal milagre,
Mesmo que digam que não!

  Vendo egoísmo ou desleixo,
Vais ficar muito afinado,
Porque muita gente pensa
Que está tudo desconfinado!

Não percas a alegria,
Ó meu santo folgazão,
Mas não queiras ir à festa
Que o vírus não brinca, não!
 

segunda-feira, 22 de junho de 2020

'S. JOÃO SEMICONFINADO'


'S. João é fogo que arde sem se ver
É festa na TV, mas que não se sente
Num semiconfinamento descontente
Das quadras faço sonetos sem querer. 

É um sofrer pelos outros ver sofrer
É solitário ficar sem ver a gente
É esperar a notícia que não mente
É ouvir números, de pernas a tremer. 

É ter de estar presa sem vontade 
Testar, testar, testar... sem ver balão! 
E, serenamente, querer sempre a verdade. 

E como poderia ir ao S. João 
Se proibiram fogareiros na cidade? 
Asso eu as sardinhas, já é bem bom.'
                                        
                                              Clémina 
                                          22/junho/2020

Obrigada! Que bela partilha.
Quando abri o mail e vi este poema, fiquei muito contente.
  Grande criatividade e atualidade.
Feliz S. João em família!
Com boa sardinha assada! 

Cesaria Evora & Kassav - Sodade

domingo, 21 de junho de 2020

Em manhã cedo de domingo

Gosto do silêncio da manhã
cedo em que as pessoas devem 
dormir ainda
e talvez
sonhar ou então com
pesadelos por tantas
incógnitas de todas as
horas
passadas
presentes
futuras.

Porém
o silêncio da
manhã
e a manhã  
continuam a ter
beleza
mais notada
quando há silêncio
e tudo parece
estar tranquilo
apesar de tantas
incógnitas de todas as
horas
passadas
presentes
futuras.

sábado, 20 de junho de 2020

O convite

Há muito tempo que ele gostava dela. Era bonita, bem disposta, inteligente. Criava laços positivos com as pessoas. Dizia o que sentia sem ferir ninguém. Seria uma boa companheira.
Eram livres, colegas de trabalho e conheciam, mais ou menos, a história de vida de cada um. Ela ter três filhos pequenos a seu cargo não dava muito jeito porque os dele já eram crescidos e viviam com a mãe. Mas, realmente, não há bela sem senão.
Já se via a viver com ela e a voltar aos tempos antigos em que os filhos eram pequenos. Via-se, pacientemente, sentado no chão a fazer legos ou puzzles. 
Como gostava dela, tudo se resolveria.
Num intervalo do trabalho, encontraram-se os dois a tomar café. Estavam sozinhos. Ele aproveitou o momento e convidou-a para sair. Podiam ir caminhar junto à praia e depois logo se veria.
Ela aceitou o convite. Os miúdos estavam na escola e assim podia ver o mar.
Encontraram-se à hora marcada. Ela trazia a roupa habitual, ele vestia uma camisa que parecia a estrear.
Enquanto caminhavam, ele olhava-a à espera do momento de poder dizer algo mais íntimo. 
Enquanto caminhavam, ela olhava o mar com o fascínio de um reencontro amoroso.
Não havia mesmo maneira de ele poder dizer-lhe que gostava dela.
Talvez ela aceitasse ir dar uma volta de carro. Seria mais fácil e não haveria tantas distrações. Já tinha pensado nisso.
- E se fôssemos dar uma volta? Ainda é cedo. Tenho ali o carro. Depois levo-te a casa.
- Por falar em casa, desculpa, mas lembrei-me agora que não tenho leite para o lanche dos miúdos. Vejo ali um Pingo Doce. Importas-te que vá lá? Só esperas um bocadinho.
- Sim, sim, claro, eu espero.
- Depois, pedia-te então se me levavas a casa. É que os miúdos vão chegar daqui a 30 minutos.


sexta-feira, 19 de junho de 2020

Amanhecer?

Nos últimos tempos, tenho-me levantado cedo. Abro a porta e a Castanha (a minha cadela) vem logo espreitar. Vê-me e parece ficar feliz porque sabe que em breve lhe vou dar comida.

Vejo, desconsoladamente, que o meu pão acabou. E o pão sabe(-me) tão bem ao pequeno almoço. 
E o que faço no forno não me tem saído nada bem.

Liguei a televisão. As notícias eram as de ontem. Não me apetecia ouvir as mesmas coisas.
Fui fazendo zapping. Parei num programa em que uma mulher negra falava de dez anos de violência doméstica com constantes humilhações. Não estava ali apenas para esmiuçar desgraças, mas para dizer como tinha conseguido sair delas.
Para reconquistar a liberdade, tinha recorrido a uma casa de abrigo, onde esteve uns meses com os filhos.
E contou que agora podia ler histórias (esta parte também me comoveu) para o filho mais novo, como não tinha feito para o mais velho.
E falou de uma refeição em paz, com os filhos, à volta de um frango assado que tinha um sabor maravilhoso como já não sentia há muitos anos.

Agora, vou voltar aos meus afazeres.
Mesmo sem pão ao pequeno almoço, o dia parece luminoso. 
Será o amanhecer?


quarta-feira, 17 de junho de 2020

Gosto de cidades assim

Pequenas, acolhedoras, com gente que se cruza na rua e se conhece.
Com esplanadas, com lojas antigas, outras mais modernas, mas todas higienizadas.
Com livrarias como nas grandes cidades.
Com mar ao fundo, como não se encontra em qualquer cidade.
Com pedacinhos de cor e bom humor...


Tudo isto vi hoje em Espinho.

Não falo das obras que me fizeram andar às voltas.
Possam, quando estiveram prontas, fazer com que se diga:
- Gosto de cidades assim. 

 

Árvore(s) com maresia

Espinho - hoje

terça-feira, 16 de junho de 2020

A máquina de escrever


Há dias, ouvi na rádio uns jovens
a louvar as virtudes do uso da máquina de escrever.
Achei estranho porque dispõem, com certeza, de outras ferramentas bem mais expeditas.
Estavam interessados noutras competências da máquina de escrever,
como a dimensão lúdica.


Lembrei-me então da minha velhinha máquina de escrever e revisitei-a.
Limpei-lhe o pó e pu-la numa prateleira onde não estorvasse, mas onde também não se estragasse. Gosto de preservar certos objetos que fazem parte da minha memória.
Contudo, não tenho nenhuma vontade de a reutilizar, apesar de nela ter feito muitas fichas de trabalho, testes, relatórios e ter escrito alguns pequenos textos (nesse tempo, escrevia-os sobretudo à mão e também guardo os caderninhos).

Ao escrever na máquina, era muito difícil corrigir os erros ou fazer alterações. A borracha, azul, dura e redonda, era uma boa ajuda, mas desastrada pelas manchas que deixava e pelos estragos que causava no papel.
Muitas folhas se estragavam quando havia enganos e, quantas vezes, o trabalho tinha de ser todo reescrito.
O tempo que se perdia, os nervos que se ganhavam.
Bendito computador para, perante o texto, poder avançar, retroceder, apagar, gravar, mudar, retomar, retocar, corrigir...

Por isso, velha máquina de escrever,
gosto de te saber elogiada,
mas repousa na prateleira 
sossegadamente!
Porque, confesso, não me deixam saudades
esses tempos de antigamente!

Prefiro o computador
que ajuda em tantas ações!
Até para os sonetos de amor,
se ele o conhecesse,
seria a opção de Camões!


segunda-feira, 15 de junho de 2020

Mudam-se os tempos, persistem incompreensões!





'Não podemos olhar para o lado...'

Postal enviado pelo Clube de Histórias

domingo, 14 de junho de 2020

Conversa na rua com carinho a rimar

- Então, como vão os seus doentes?
- Vão indo, obrigada. Tanto o meu marido como o meu filho têm apetite e é o que lhes vale.
- Que bom!
- O médico diz que assim aguentam melhor os tratamentos.
- Pois, com certeza.
- E sabes que só querem a minha comida?
- Pois, comidinha boa e caseira sabe sempre bem.
- Vou fazer 84 anos e graças a Deus ainda posso fazer o comerzinho como eles gostam.
- As melhoras e muita saúde para si.
- Bem preciso. Pelo menos para continuar a fazer o comerzinho!
Ao menos o comerzinho como eles gostam.


sábado, 13 de junho de 2020

O solitário da rua e Variações


Não sou muito de arraiais, mas este ano tinha pensado ir dar um pezinho de dança. E beber uns copos. E viver uns momentos descontraídos. A vida são dois dias, carago! Sei de amigos que também queriam ir.

Tive vontade de ir este ano às festas dos santos populares, logo quando não há arraiais por causa da pandemia. Se calhar, sou como o Variações: 'só estou bem onde não estou'.

Ontem à noite, estive quase para sair na mesma e passar por sítios onde nestas datas costuma haver música pimba, dança, fogareiros com sardinha assada a fumegar, bandeirinhas coloridas quase a tocar as nossas cabeças já um pouco à roda, etc.

Não, não teria piada nenhuma o passeio e pra mais a chuva veio ajudar à festa, ou melhor, à falta dela.
Seria um passeio de solitário ainda mais solitário.

Decidi ficar em casa. Havia bola, embora não fosse o meu clube a jogar. Mas sempre era bola e houve muito tempo de jejum de ver o esférico a rolar, como diziam alguns comentadores mais pomposos.
Quando me sentei para ver o jogo, comecei a ouvir música alta na casa ao lado. E, coincidência, era o Variações.

Tal como acontecia comigo, o clube do vizinho não era mesmo nenhum dos que entravam em campo.