quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

"Todas as Cartas de Amor são Ridículas"


Klimt
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Uma carta de Pessoa a Ophélia...



Bébézinho do Nininho-ninho
Oh! Venho só quevê pâ dizê ó Bébézinho que gostei muito da catinha d’ella. Oh!
E tambem tive munta pena de não tá ó pé do Bébé pâ le dá jinhos.
Oh! O Nininho é pequinininho!
Hoje o Nininho não vae a Belem porque, como não sabia s’havia carros, combinei tá aqui ás seis o’as.
Amanhã, a não sê qu’o Nininho não possa é que sahe d’áqui pelas cinco e meia (isto é a meia das cinco e meia).
Amanhã o Bébé espera pelo Nininho, sim? Em Belem, sim? Sim?
Jinhos, jinhos e mais jinhos
Fernando
31/05/1920


sábado, 7 de fevereiro de 2015

Plantar uma floresta








Graça Morais
 
Quem planta uma floresta
Planta uma festa.

Planta a música e os ninhos,
Faz saltar os coelhinhos.

Planta o verde vertical,
Verte o verde,
Vário verde vegetal.

Planta o perfume
Das seivas e flores,
Solta borboletas de todas as cores.

Planta abelhas, planta pinhões
E os piqueniques das excursões.

Planta a cama mais a mesa.
Planta o calor da lareira acesa.
Planta a folha de papel,
A girafa do carrocel.

Planta barcos para navegar,
E a floresta flutua no mar.
Planta carroças para rodar,
Muito a floresta vai transportar.
Planta bancos de avenida,
Descansa a floresta de tanta corrida.

Planta um pião
Na mão de uma criança:
A floresta ri, rodopia e avança.


Luísa Ducla Soares

A gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca
Lisboa, Teorema, 1990



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

À luz de fevereiro



Uso de ferramenta "proibida" ao serviço da diferenciação pedagógica


Hoje, a minha aula de Português do 11º ano foi diferente e ainda bem.
Assim é mais fixe - disseram alguns alunos.
Pois, recorri a uma ferramenta cujo uso é "proibido" na sala de aula - telemóveis. 
Explico, então, o como e o porquê.
Estando a frequentar uma ação de formação - Diferenciação pedagógca na sociedade de informção, online e offline, criei um blogue para uso esccolar. Dei-lhe um título: Letras não são tretas.
Claro que tive de ter ajuda das formadoras e de colegas, porque o wordpress não era, de modo nenhum, "a minha praia".
Criado o blogue - como é bom ver um produto "nosso" -  tinha de o utilizar nas aulas. Foi ontem, então, que passei à prática.
Na sala, só havia um computador e convidei os alunos a utilizarem os seus telemóveis ou tablets. Ora, num universo de 27 alunos (um estava a faltar), havia um tablet e uns 25 telemóveis com ligação à internet.
Partilhámos, visionando-os, os posts que eu já havia colocado no blogue e passámos para a partilha de um trabalho sobre Os Maias realizado muito recentemente.
Falei-lhes de algumas regras, da desilusão que seria se fizessem um mau uso de todas as ferramentas disponíveis e que são extraordinárias na nossa vida.
E houve a escrita de alguns textos e envio de mensagens.
Terei de corrigir muita coisa, mas, embora ainda esteja tudo muito fresco, acho que houve mais "letras do que tretas", o que me deu muita satisfação.
E quem passasse junto à sala veria o uso de um instrumento proibido no Regulamento Interno,. mas, pelo sorriso empenhado dos alunos, logo se veria que era por uma boa causa.
Assim o espero.