sábado, 7 de fevereiro de 2015

Plantar uma floresta








Graça Morais
 
Quem planta uma floresta
Planta uma festa.

Planta a música e os ninhos,
Faz saltar os coelhinhos.

Planta o verde vertical,
Verte o verde,
Vário verde vegetal.

Planta o perfume
Das seivas e flores,
Solta borboletas de todas as cores.

Planta abelhas, planta pinhões
E os piqueniques das excursões.

Planta a cama mais a mesa.
Planta o calor da lareira acesa.
Planta a folha de papel,
A girafa do carrocel.

Planta barcos para navegar,
E a floresta flutua no mar.
Planta carroças para rodar,
Muito a floresta vai transportar.
Planta bancos de avenida,
Descansa a floresta de tanta corrida.

Planta um pião
Na mão de uma criança:
A floresta ri, rodopia e avança.


Luísa Ducla Soares

A gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca
Lisboa, Teorema, 1990



4 comentários:

  1. As saudades que eu tinha de ler um poema assim. Estou num curso de literatura, farto-me de ler de tudo, do que me obriga a faculdade, do que gosto e do que me obrigo. Surpreendentemente, ao fim deste tempo todo ainda é a professora quem me mostra o que eu afinal até precisava de ler. Há coisas que não mudam.

    Beijinho,
    João Pedro

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  2. Ó João Pedro, como fiquei feliz com o teu comentário. Fico também feliz por estares numa área de que gostas.
    E para além da escrita, não tens dito poemas?
    Inesquecível aquela aula em que recitaste um poema e se fez completo e deslumbrado silêncio! Lembras-te, com certeza!
    Um beijinho
    Vai dando notícias
    M.

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  3. Bem professora, eu nunca mais li um poema em voz alta desde as suas aulas. Também já não me sinto tão confortável a escrevê-los, ainda que tente desalmadamente recuperar o fôlego. Tento insistir também na prosa, uma paixão relativamente recente, mas o tempo escasseia e há muita coisa mais importante no caminho. Até o blog ficou abandonado durante muito tempo e aqui eu podia escrever todas as barbaridades que me apetecesse. Estou mais moderado mas ainda me sabe bem soltar aqui umas asneiras, a Internet é boa para isso.
    Agora sou um apaixonado pela leitura. Eu lia bastante já, mas há ano e meio deixei de fumar (tinha de me gabar) e comecei a coleccionar dioptrias e a montar estantes aqui em casa para os livros que fui apanhando e devorando. Lembro-me muitas vezes de si e das aulas. Plantou-me o "bichinho" das palavras e ele nunca mais foi embora. Lembro-me particularmente de si quando penso que leio Orwell, Huxley, Faulkner, Joyce; vôo para Macondo perdido em Márquez, depois em Llosa; viro insecto, macaco e sou executado sem nunca perceber porquê com Kafka e podia continuar aqui até amanhã de manhã, mas o que me importa é que depois de tudo isto, mal pego em Eça, Saramago ou em Pessoa, sinto que estou em casa. Fico feliz a lê-los, como que se fizessem parte de mim. Sabe bem ler O português. Isso é muito mérito da sua aula. O amor ao que é de cá, ao excelente património literário que é o nosso.
    Fico ansioso por ler mais de si.
    Beijinho e felicidades.
    João Pedro

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  4. Que bom, João Pedro, ter tão boas notícias, incluindo a de teres deixado de fumar. Parabéns.
    Com todas as leituras que referes, espero ver textos teus publicados. Terás, com certeza, ótimas ideias e histórias a partilhar.
    Lê, escreve, vive e vai dando notícias
    Um beijinho
    M.

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