Mário Cláudio, na Comunidade de
Leitores, em Serralves, sugeriu a escrita de um texto, em 10/15 minutos,
convocando as frases/ideias seguintes, apresentadas por dois dos presentes:
- Pensar com os pés dentro de
água.
- Apanhar frutos da árvore e
saboreá-los no momento.
O curso tinha o tema: “Os prazeres
e os dias”.
O que escrevi:
Fui ao quintal ver se ainda havia
laranjas. Tinham ficado duas no cimo da laranjeira. Não lhes chegava. Desdenhei-as,
então, como a raposa fez com as uvas que pendiam da videira e que só o seu
olhar alcançava.
Queria apanhar frutos da árvore e
saboreá-los no momento e as únicas possibilidades estavam mais perto do céu do
que das minhas mãos.
Desisti do intento. Entrei em casa
e pus-me a pensar com os pés dentro de água. Não, pensar não é estar doente dos olhos, mas queria sentir os frutos em
vez de simplesmente os olhar.
De madrugada chegarão os pássaros.
A essas horas, a bacia de água, onde amacio os pés, ganhará a dimensão do mar.
Ou não.
Porque também há sonhos que se
sonham frios.