Armanda Passos
Há dias, convidando os meus alunos para participarem
no Concurso "Vamos escrever um conto sobre a palavra Amor,"
disse-lhes que escreveria pequenas histórias - apenas de motivação.
Aqui está uma - muito simples e despretensiosa.
Boas escritas!
Era uma vez uma casa. E a casa tinha um jardim. E o jardim tinha flores. E as flores tinham cores, perfumes, borboletas, abelhas, joaninhas…
Fora
da casa, havia uns bancos para as pessoas se sentarem nas noites quentes de
verão, nos fins de tarde de outono, depois do almoço de domingo… E havia fotografias espalhadas pela casa. Algumas
delas tinham sido tiradas nas escadas junto aos canteiros. Todos gostavam de
flores. Até uma cadela muito alegre e brincalhona tinha o nome Flor.
E
todas as pessoas que viviam na casa eram mais novas do que aquela construção. Mesmo
a avó, a pessoa mais velha da família, tinha nascido já quando a casa existia.
Toda
a família gostava muito da casa, mas quase todos saíam cedo para trabalhar e,
quando chegavam, vinham tão cansados que só queriam jantar e descansar. Ao fim
de semana, tinham compromissos com os amigos, queriam andar a pé, ir ao cinema... e pouco tempo
tinham para ficar em casa. Porém, para a pessoa mais velha da família, a casa
era um grande amor que nunca esmorecia nem nunca se arreliava.
Quando
saía, nem que fosse só por umas horas, estava mortinha por regressar para
descansar um bocadinho no sossego silencioso do sofá, para se sentar à mesa no
sítio do costume, para pôr tudo no seu lugar, para dormir com as suas almofadas muito fofinhas… E também
para ver as flores, porque só ao olhá-las com atenção é que via se precisavam
de ser regadas, estacadas, mudadas para um lugar mais ao seu gosto… Sim, porque
as flores também manifestam as suas vontades. O que é preciso é conhecê-las.
A
casa era, assim, um abrigo, um aconchego, um abraço quentinho e continuado.
Para ser sincera, era uma paixão. Só que, ao contrário deste sentimento ainda mais arrebatado do que o amor, nunca perdia a intensidade.
Gostava de todas as divisões da casa, mas tinha uma grande preferência pelo quarto da costura. Era onde havia uma máquina antiga. Uma Singer velhinha velhinha, mas que cozia lindamente. E, junto da máquina, havia carrinhos de linhas de cores diferentes, tesouras e uma almofadinha pequenina onde estavam espetados os alfinetes. Dentro de um cestinho redondo, havia uma rendinha começada e um livro. A janela dava para um pátio onde havia muitos vasos com flores que perfumavam o ar logo de manhãzinha, sobretudo na primavera.
Gostava de todas as divisões da casa, mas tinha uma grande preferência pelo quarto da costura. Era onde havia uma máquina antiga. Uma Singer velhinha velhinha, mas que cozia lindamente. E, junto da máquina, havia carrinhos de linhas de cores diferentes, tesouras e uma almofadinha pequenina onde estavam espetados os alfinetes. Dentro de um cestinho redondo, havia uma rendinha começada e um livro. A janela dava para um pátio onde havia muitos vasos com flores que perfumavam o ar logo de manhãzinha, sobretudo na primavera.
A
menina mais nova da casa também gostava desse espaço. Podia até dizer-se que herdara aquele amor. Dizia que a casa cheirava a um
tempo que ela não tinha conhecido mas que sabia sentir.
Um
dia, na escola, a professora de português falou de um concurso: “Vamos escrever
um conto com a palavra Amor”.
E
logo lhe veio uma ideia: amor pela casa.
Pela janela, viu a avó a estender ao sol raminhos de tília para secar e, mais tarde, fazer um chá perfumado e saboroso para a família.
Pela janela, viu a avó a estender ao sol raminhos de tília para secar e, mais tarde, fazer um chá perfumado e saboroso para a família.
Abriu
o computador e começou a escrever:
Era
uma vez uma casa…