sábado, 16 de janeiro de 2021

Diário do meu confinamento

 

Segundo dia

O sol continua a brilhar mas o meu clube, ontem, não ganhou.

Hoje concluí que desperdiço muito do sol que posso aproveitar no exterior da minha casa. E resolvi passar à ação. Fui até à horta. Há muita coisa queimada pela geada, mas muitas plantas, felizmente, resistiram ao frio.

O confinamento também ajuda a reparar melhor nas coisas que temos e nem sempre valorizamos.

Tal como ontem, vou andar um pouco a pé sem me lamentar que os passeios na rua são estreitos e sem acrescentar os habituais etecetras que dão imenso jeito quando a vontade de ficar supera a de ir.

Apesar de o movimento na minha rua ter abrandado, continuo a achar que somos um povo de brandos confinamentos.

Avancei mais um pouco do livro que ando a ler e marquei uma passagem, também assinalada por quem mo emprestou (obrigada, Isaura). 



Vi agora algumas mensagens do whatsapp. Não sei bem o motivo, mas a última conversa foi sobre as professoras que tivemos na escola primária. Eu lembrei-me da D. Rosinha, que tinha ar místico e era fervorosa devota do Menino Jesus de Praga; da D. Berta que usava desalmadamente a cana e a régua com as alunas mais fracas; da D. Lucinda, de quem eu gostava muito, e que motivava a turma a gostar de aprender cada vez mais. 

Agora vou deixar que a tarde aconteça. 


 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Diário do meu confinamento

 

Primeiro dia

Está sol e os carros continuam a passar na rua, embora em menos quantidade.

Enquanto escrevia a frase anterior, apareceu-me no ecrã o título do Expresso Curto: 'O confinamento vai durar mais de um mês'.

O tempo é de incerteza e o melhor é ficar em casa o mais possível. Sem visitas, é claro. Às vezes lembro-me do tempo em que se dizia 'vou passar a tarde contigo'. Porém, por estranho que pareça, pelo Natal ouvi alguém dizer: vou passar a tarde com eles, porque há muito tempo que não falamos. E não querem máscaras, enquanto conversamos no sofá!!!

Pois! O pior foi o resto.

Ontem ouvi, no canal 2, um psiquiatra recomendar que não se passe muito tempo a ver notícias. Concordo, embora andar informado seja importante. O que não convém é ter o pensamento confinado.

Logo à noite há futebol. Gostava que o meu clube ganhasse. Em tempos de pandemia, são importantes as alegrias.

 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Voto antecipado

 

Acabo de me inscrever no voto antecipado do próximo domingo. Para além de 'ficar arrumado', evito aglomerações nada recomendáveis em tempos de pandemia.

Cheguei a pensar não o fazer, porque pensei que fosse complicado, mas, de facto, 'é só seguir os passos', como a minha filha me dizia.

Concluída a rápida inscrição, já sabia o local onde posso exercer o meu direito de voto, o horário e todas as informações relativas ao ato eleitoral.

Gosto imenso quando os serviços facilitam a vida dos cidadãos. Claro que basta introduzir dois ou três dados sobre a nossa identificação pessoal para aparecerem logo muitos mais sobre nós, mas isso não constitui qualquer novidade.

No domingo, lá estarei então, numa escola com nome de escritor. 

Oxalá se escreva um país que vá encontrando soluções para tantos entraves, como é o caso da pandemia que nos impõe novo confinamento.

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Queira dois e leve mais cinco!

 

Ela foi à farmácia. Só precisava daquele medicamento e de tantum verde para a mãe. Quando chegou a sua vez, mostrou a receita à farmacêutica que logo foi buscar o que era pedido. Juntamente, trazia uns cartões a anunciar bons descontos numa marca de shampoos. 

Têm um cheirinho maravilhoso. Se levar três, um é oferta. Vale mesmo a pena. Este nutre o cabelo, este torna-o mais brilhante, este é ótimo para o uso diário. E o cheirinho de todos é mesmo bom.

E as máscaras, já viu? Não são descartáveis e assim poupamos o ambiente. São lindas, não acha?  

Depois de tudo pago, então, obrigada, até à próxima, adeus e um bom dia.

E saiu da farmácia. Costumava não querer saco de papel ou plástico, porque usava carteiras grandes onde muita coisa cabia, mas, desta vez, teve de ser, porque tinha o medicamento, o tantum verde, três shampoos e uma embalagem com uma máscara. Ah! E um leite corporal de frutos vermelhos que a farmacêutica lhe tinha oferecido!


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Momentos felizes

 

Apesar de gostar de ler poesia, o que escrevo sai-me, quase sempre, em prosa.

Quando há estes desafios, desafio-me e escrevo. 

Tenho um grupo de amigos que também gostam de escrever. Nestas e noutras alturas, partilhamos os nossos textos, recebendo e dando sugestões.

Esse é também um momento feliz.



sábado, 9 de janeiro de 2021

Uma sugestão partilhada de escrita

 

"MIMOS DE FEVEREIRO

Antologia Poética 2021

A Mimos e Livros continua a celebrar a Poesia e quer comemorá-la consigo!
Vamos publicar nova Antologia Poética: MIMOS DE FEVEREIRO.
Participe!

Regulamento

1. O prazo de inscrição para participação na antologia MIMOS DE FEVEREIRO e envio de textos decorre até 20 de janeiro de 2021.

2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para geral@mimoselivros.pt

3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas e prosa poética).

4. Cada autor poderá participar apenas com um texto, que pode ocupar, no formato de poesia tradicional, até 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos) ou, na prosa poética, um máximo de 1400 caracteres (espaços incluídos).

5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.

6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.

7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 500 caracteres, incluindo espaços. No caso de exceder o limite fixado, a organização reserva-se o direito de proceder às alterações que achar convenientes.

8. O tema dos textos é livre.

... "

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Contrastes

 

Aqui no Norte, os dias têm-se levantado muito frios e à tarde o sol tem brilhado. No país, o consumo das fontes de aquecimento tem subido. Os sem-abrigo enregelam quando as noites  se fecham, arrefecem e quando não têm ajuda. Mostra-se uma foto viral de um aluno na sala de aula, enrolado numa manta para se aquecer. Nas encostas da Madeira, a violência da chuva tem causado enxurradas que tudo empurram em percursos descontrolados, numa ilha tão visitada por turistas e tão florida.

As laranjas e as tangerinas são luzes sumarentas nas árvores que vemos em muitos quintais. Ainda que menos doces do que as do Sul, vitaminam os dias e consolam o momento. As camélias abrem-se de todas as cores, faça sol ou faça chuva. Ontem já vi uma  magnólia com flores em botão. E é inverno.

A casa da democracia, em Washington, foi invadida e vandalizada no país que é considerado a grande casa da democracia no contexto mundial. E houve mortes. E houve espanto pelo mundo fora. E houve redes sociais que fecharam portas ao presidente do país mais poderoso do mundo. Ele, que tudo parecia e queria dominar, é dominado pelos acontecimentos que a sua sede de poder não dominou.

Os nossos hospitais, mesmo os grandes, sofrem pela escassez de camas num aumento brutal de casos de covid-19. Estudam-se novos confinamentos. Chovem críticas aos governantes, os profissionais de saúde conhecem a exaustão, muitos doentes têm medo de ir ao hospital; enquanto isso, bastantes pessoas não deixam para amanhã o que querem comprar hoje, mas que podia esperar por melhores dias.

Um livro que se acaba de ler ou outro que se começa é um mundo que se percorre ao nosso ritmo. Não para esquecer o nosso mundo, mas para o recriar e ir ao encontro de outras alegrias.

Um trabalho de mãos que se faz, por mais simples que seja,não deixa de ser construção e partilha. Sem esquecer as grandes obras de grandes artistas.

Quase todos os dias há debates presidenciais nas televisões portuguesas. Num deles, um dos candidatos tirou do bolso pequenas pedras, mas todos as levam na manga para atirarem ou para se defenderem. Há quem responda não respondendo, há quem tenha a sabedoria de atirar mansamente o adversário ao tapete, há quem denuncie mas não tenha o apoio de muitos, há quem queira liberalizar caminhos que quer dar a conhecer, há quem fale mais dos jovens porque os mais velhos não pensam neles, há quem tenha uma bela brandura sem sair de tetos pré-definidos...

Que o sumo e o perfume da esperança continuem. 

Como dias de sol que começam frios.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Ray Charles - Georgia On My Mind

 
Georgia, oh Georgia
No, no, no, no, no peace I find
Just an old sweet song
Keeps Georgia on my mind
I said a Georgia, heh
Maybe it's because I'm from Augusta, Georgia
A song, a song of you
Comes so sweet and clear
Like the moonlight through the pines
Oh now
Other arms will reach out to me
Other eyes smile tenderly
Still in peaceful dreams I see
The road leads back to you, yeah
Georgia, yeah, Georgia
No, no, no, no, no, no, no, no, no, no peace I find
Just an old sweet song
Keeps Georgia on my mind, sing the song
Other arms reach out to me
And other eyes will smile tenderly
Still in peaceful dreams I see
The road leads back to you, oh, oh
Georgia, Georgia
Yeah
No, no whoa
No, no, no, no, no, no, no, no, no peace I find
Just an old sweet song
Keeps Georgia, my hometown, on my mind
Oh Georgia, mhm
 
Compositores: Hoagy Carmichael / Stuart Gorell

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Nova (?) noite de consoada

 

Manteria a tradição da família. 

Enquanto a panela fervia ao lume, com as batatas, o bacalhau e as hortaliças, pôs a mesa, como costumava fazer em dias festivos. A toalha escolhida condizia com os pratos. Depois da mesa posta, tudo parecia mais orientado e organizado.

Havia, naturalmente, poucos doces, mas o bolo-rei continuava rei ao lado dos copinhos verdes de vinho do Porto. Só neles a doçura daquele néctar lhe sabia bem.

Usou também os talheres do faqueiro só aberto em ocasiões especiais, como é uma noite de consoada. Confirmou que estavam no lugar certo. Enrolou depois os guardanapos vermelhos de pano e juntou-lhes algumas folhinhas verdes de tangerinas que tinha apanhado logo de manhã.

Do fogão, exalavam odores que só sentia nas noites de Natal e Ano Novo. E não demorou muito que, no meio da mesa, da travessa voasse, dançando, um vapor saboroso e quente de cozedura  no ponto de ser saboreada.

Já podia ligar o skype.

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Adeus, Carlos do Carmo. Obrigada!

 

Hoje, dia de luto nacional pela morte de Carlos do Carmo, ouvi algumas das canções, que já são de todos nós, e que foram cantadas por Carlos do Carmo, homem cujas qualidades vocais e humanas têm sido, felizmente, celebradas, tendo sido reconhecido em vida e não só após a morte, como tantas vezes acontece.

Peço desculpa por seguir o caminho mais fácil, mas remeto para o post de Vítor Oliveira em:
http://carruagem23.blogspot.com

Para além da voz inconfundível de Carlos do Carmo, podemos também ver e ouvir outros cantores que tornam a nossa vida mais festiva e que lhe prestam homenagem.

Vítor, desculpa por não te ter pedido autorização, mas os amigos também são para celebrações! Obrigada e continuação de boa partilha e de boas viagens na Carruagem 23.

 

sábado, 2 de janeiro de 2021

É possível fazer planos para o novo ano?

 

 Acho que me vou ficar por poucas coisas e simples a curto prazo:

 

- Ler os livros que me foram emprestados.

- Andar mais a pé.

- Rever as histórias ainda não concluídas, ainda que algumas fiquem em stock.

- Ouvir e olhar mais os outros.

- Aprender, sem stresse, com as coisas boas e más.

...

 

 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

'No Teu Poema' - Carlos do Carmo (1939-2021)

 
 
APLAUSOS!
 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

FELIZ ANO NOVO!

 

        Aurélia de Souza (Valparaíso, Chile, 1866 - Porto, 1922)



 

Recomeça…

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

(S. Martinho de Anta, Vila Real, 1907 - Coimbra, 1995)




quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Quem não a procura?

 

Postal enviado pelo Clube das Histórias

Júlio Rezende (Porto 1917 - Gondomar 2011)

 "Bem-aventurado o que pressentiu
quando a manhã começou:
não vai ser diferente da noite.
Prolongados permanecerão o corpo sem pouso,
o pensamento dividido entre deitar-se primeiro
à esquerda ou à direita
e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia:
algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda,
um vento bom entra nessa janela".

Adélia Prado
(Nasceu em Divinópolis, Brasil, em 1935)

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O menino da lágrima - 3

 

Lurdes Castro

 

"Para a minha mulher e para a minha filha

Deixo-vos esta carta porque preciso de vos dizer algumas coisas que me atormentam a alma há muito tempo.

 Maria, passas os teus dias calada a tratar da casa e do jardim, eu, a ver filmes. A Natércia anda mais triste desde a separação do Fernando. Às vezes penso que é infeliz nesta casa. Nunca trocamos sorrisos, nem falamos abertamente dos nossos problemas. Fazemos cerimónia uns com os outros e parece que temos medo de ser felizes ou fomo-nos convencendo de que só os outros têm esse direito. Parecemos o menino triste da lágrima. Como gostei de o ver coberto com as flores que a Natércia desenhou. Foi pena ter sido por tão pouco tempo.

Maria, foste a pessoa que mais amei em toda a minha vida. Sei que nem sempre fui o marido que desejavas. Tinhas razão em ter ciúmes, porque eu elogiava mulheres bonitas e a ti apontava-te defeitos.

 Natércia, quero dizer-te, talvez pela primeira e última vez: amo-te muito e tenho imenso orgulho em ti. Sei que já é demasiado tarde para mudar a nossa vida, mas não quero morrer sem te dizer isto que já te devia ter dito muitas vezes. Se o tivesse feito, de certeza que eras mais feliz e eu também o seria agora!

Ando a sentir-me pior e julgo que não passarei deste Natal. E olhem que não é conversa de velho. Quero escrever esta carta enquanto posso e vou guardá-la até ao dia em que sinta que é o último.

Amo-vos, querida mulher e querida filha.

Por que raio passamos uma vida juntos sem nunca dizer que gostamos uns dos outros?  E isso faz tanta falta.

Só quando pensamos que vamos morrer é que ganhamos coragem para dizer o que devíamos ter repetido ao longo da nossa vida.

Tentem ser mais felizes que, esteja onde eu estiver, também serei.

Beijos. Adeus.

José"

Natércia saltou a leitura do final da carta e foi a correr ao quarto dos pais. A mãe ainda dormia e o pai, aparentemente, estava já sem vida, o que foi confirmado pelo 112, minutos depois.

No dia a seguir ao Natal, despediram-se, tristemente, de José. 

Dezembro ia terminando ameno. Numa tarde de sol, mãe e filha sentaram-se num banquinho do jardim em conversa mais longa do que o usual.  Natércia desenhava flores numa cartolina para substituir o menino da lágrima do fundo do corredor, agora a pedido da mãe.

Nesse momento, passaram na rua as vizinhas com a loura criança ao colo. O brinquedo eletrónico tinha avariado e, numa das faces rosadas do menino, corria uma lágrima.

 Natércia e Maria sorriram-lhe, o menino acenou-lhes com a mãozinha papuda e, de repente, deixou de chorar. 

 

 Maria Dolores Garrido

 

 Este conto foi publicado em Lugares e Palavras do Natal, Editora Lugar da Palavra, 2020

 

Nota:

Talvez a história seja um pouco triste, mas espero que o final traga um pouco de alegria e de esperança.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

O menino da lágrima - 2

 

Lurdes Castro

  Indiferente ao que acontecia à sua volta, a mãe de Natércia passava horas infinitas e silenciosas a tratar das plantas e o pai, nas arrastadas tardes,  a ver filmes do canal Hollywood.  Às vezes, era um velho que sonhava com histórias de amor; outras, o  menino triste da lágrima.                                                                                                                                                                   

O Natal aproximava-se. Como sempre, a ceia seria na cozinha só para os três. Na sala, ficariam as travessas com as rabanadas, o leite-creme e  a aletria. Enquanto durassem as iguarias, a janela não se abriria para não entrarem moscas nem olhares curiosos.

Até à véspera de Natal, tudo correu como de costume, incluindo o bacalhau a fumegar na travessa cavalinho, por entre as batatas e as couves. A sobremesa iria para a mesa nos pratinhos de porcelana, que já vinham do casamento de Maria e José.

Cearam quase em silêncio, ou melhor, a ouvir músicas natalícias pela rádio, porque as notícias da televisão não davam tréguas às desgraças.

Durante a refeição, Natércia ainda falou dos Natais da infância, em que punha o sapatinho perto do fogão para recolher as prendas trazidas pelo Menino Jesus, mas calou-se pouco depois.

A mãe sorriu apenas quando ouviu falar do Menino Jesus e o pai murmurou, com ar ainda mais cansado do que era habitual, enquanto tomava os medicamentos para o fraco coração:

- Outros tempos!

Se não fosse tão contida, Natércia diria que, em vez de um presente natalício no sapato, preferia carinhos, dias mais alegres, boas expectativas para o seu futuro... (E como tal ausência lhe dificultou também a vida no casamento! - pensou).

Nessa noite, recolheram-se cedo, como sempre acontecia no inverno.

De madrugada, o pai de Natércia levantou-se a custo e veio deixar, na mesa da cozinha, um envelope com uma carta que havia escrito dias antes. Depois, voltou a deitar-se, cada vez com mais dificuldade em andar e em respirar.

 Natércia levantou-se cedo. Queria preparar o farrapo velho, para não sobrecarregar a mãe, cuja idade ia pesando.

Vendo o envelope, logo o abriu, lendo vorazmente o que estava escrito:

 

Continua