terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O mistério e a chaminé


Esta pequena história foi igualmente publicada na coletânea Lugares e Palavras do Natal, 
Editora Lugar da Palavra.

Para a escrever, inspirei-me no meu neto que, desde o Natal passado, espreita, de vez em quando, para dentro da chaminé.


 Era quase Natal e Pedrinho, entusiasmado, via vezes sem conta o Pai Natal. Encontrava-o na escolinha, nas ruas, nas lojas… e sempre diferente. Às vezes, era gordo; outras, magrinho; outras, assim-assim, mas sempre com barbas brancas, óculos pequeninos e ar sorridente.

Um dia, numa festinha, onde estava com os pais, ouviu alguém dizer que o Pai Natal não traz presentes para todos os meninos. Ficou pensativo e perguntou porquê, mas a pessoa mudou logo de assunto.

Mistério! - Pensou Pedrinho, que tinha aprendido essa palavra há pouco tempo. E logo perguntou à mãe se era verdade que nem todos os meninos recebem prendas do Pai Natal, mas a mãe pediu-lhe silêncio porque um grupo ia tocar violino.

Quando terminou o momento musical, saíram apressados para a casa da avó, onde toda a família ia passar o Natal.

- E a Clarinha também vem? - Perguntou o menino.

- Sim, claro, e podes brincar mais tempo com ela.

Pedrinho ficou muito feliz com a vinda da prima, que morava num país distante, e pensou que podia então pôr-lhe aquela pergunta, porque ela era mais velha, sabia muitas coisas e tinha mais tempo que os adultos.

Ao chegarem à sala da casa da avó, aproveitou para lembrar à mãe o carro de bombeiros que tinha pedido ao Pai Natal.

- Vamos ver, disse a mãe, se o Pai Natal e o presente cabem na chaminé.

Uns dias antes do Natal, chegou a Clarinha, que tinha escrito uma carta ao Pai Natal, sem esquecer de lhe agradecer o presente que esperava.

Nessa tarde, enquanto brincavam, Clarinha contou ao primo que gostava de ter pedido ao Pai Natal presentes para todos os meninos, mas o papel da carta não chegava para escrever tudo. Foi então que Pedrinho se lembrou da pergunta que tinha ficado sem resposta. E Clarinha disse com os olhinhos azuis a brilhar:

- Vamos então escrever outra carta ao Pai Natal para lhe pedir presentes para todos as crianças, porque eu também já sei que muitas não recebem nada. Eu escrevo e tu fazes os desenhos.

À noite, na véspera de Natal, Pedrinho e Clarinha puseram um banquinho para o Pai Natal descansar quando descesse da chaminé - que estava limpa e apagadinha. Numa mesa pequena mesmo ao lado, ficou um pratinho com bolachas, uma cenoura e um copo de leite.  Ah! E a carta de ambos, com letra redondinha e desenhos bonitos.

Ao acordar, os dois meninos, ainda em pijama, foram a correr ver os presentes e ficaram muito contentes. Para mais, o Pai Natal tinha levado a carta e comido o lanchinho, para recuperar forças.

E, para surpresa da Clarinha, a primeira coisa que Pedrinho fez foi pôr a sua cabecinha ruiva dentro da chaminé - que estava limpa e apagada, como já vos disse - vendo-o a olhar para cima até onde podia, com ar misterioso. Sorriu-lhe como menina mais velha e compreensiva de mistérios que também sentia.

A partir desse dia, quando  Pedrinho estava a brincar junto da lareira da avó, espreitava de vez em quando, sempre curioso. E pensava:  Mistério! Tanto mistério!

 

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