Para a escrever, inspirei-me no meu neto que, desde o Natal passado, espreita, de vez em quando, para dentro da chaminé.
Era quase Natal e Pedrinho, entusiasmado, via
vezes sem conta o Pai Natal. Encontrava-o na escolinha, nas ruas, nas lojas… e
sempre diferente. Às vezes, era gordo; outras, magrinho; outras, assim-assim, mas
sempre com barbas brancas, óculos pequeninos e ar sorridente.
Um
dia, numa festinha, onde estava com os pais, ouviu alguém dizer que o Pai Natal
não traz presentes para todos os meninos. Ficou pensativo e perguntou porquê,
mas a pessoa mudou logo de assunto.
Mistério!
- Pensou Pedrinho, que tinha aprendido essa palavra há pouco tempo. E logo
perguntou à mãe se era verdade que nem todos os meninos recebem prendas do Pai
Natal, mas a mãe pediu-lhe silêncio porque um grupo ia tocar violino.
Quando
terminou o momento musical, saíram apressados para a casa da avó, onde toda a
família ia passar o Natal.
- E
a Clarinha também vem? - Perguntou o menino.
-
Sim, claro, e podes brincar mais tempo com ela.
Pedrinho
ficou muito feliz com a vinda da prima, que morava num país distante, e pensou que podia então pôr-lhe aquela
pergunta, porque ela era mais velha, sabia muitas coisas e tinha mais tempo que os adultos.
Ao
chegarem à sala da casa da avó, aproveitou para lembrar à mãe o carro de
bombeiros que tinha pedido ao Pai Natal.
-
Vamos ver, disse a mãe, se o Pai Natal e o presente cabem na chaminé.
Uns dias
antes do Natal, chegou a Clarinha, que tinha escrito uma carta ao Pai Natal,
sem esquecer de lhe agradecer o presente que esperava.
Nessa
tarde, enquanto brincavam, Clarinha contou ao primo que gostava de ter pedido
ao Pai Natal presentes para todos os meninos, mas o papel da carta não chegava
para escrever tudo. Foi então que Pedrinho se lembrou da pergunta que tinha
ficado sem resposta. E Clarinha disse com os olhinhos azuis a brilhar:
-
Vamos então escrever outra carta ao Pai Natal para lhe pedir presentes para
todos as crianças, porque eu também já sei que muitas não recebem nada. Eu
escrevo e tu fazes os desenhos.
À
noite, na véspera de Natal, Pedrinho e Clarinha puseram um banquinho para o Pai
Natal descansar quando descesse da chaminé - que estava limpa e
apagadinha. Numa mesa pequena mesmo ao lado, ficou um pratinho com bolachas,
uma cenoura e um copo de leite. Ah! E a
carta de ambos, com letra redondinha e desenhos bonitos.
Ao
acordar, os dois meninos, ainda em pijama, foram a correr ver os presentes e
ficaram muito contentes. Para mais, o Pai Natal tinha levado a carta e comido o
lanchinho, para recuperar forças.
E,
para surpresa da Clarinha, a primeira coisa que Pedrinho fez foi pôr a sua
cabecinha ruiva dentro da chaminé - que estava limpa e apagada, como já
vos disse - vendo-o a olhar para cima até onde podia, com ar misterioso. Sorriu-lhe
como menina mais velha e compreensiva de mistérios que também sentia.
A
partir desse dia, quando Pedrinho estava a brincar junto da lareira da avó, espreitava
de vez em quando, sempre curioso. E pensava: Mistério! Tanto mistério!
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