quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Que esta escrita nunca se acabe!

 Belíssimo texto. Para além do bom humor, é uma lição de escrita criativa.

Obrigada, Idalina, por mais esta partilha.

“Recordo-me dos primeiros dias em que comecei a planear o primeiro livro da minha vida, esse romance que ia escrever nas águas-furtadas do sexto andar do número 5 da rue Saint-Benoît e que a partir do primeiro momento, desde que encontrei o argumento num livro de Unamuno, se intitulou La asesina ilustrada. Embora nesse tempo tivesse uma relação muito idiota com a morte, ou precisamente por isso, o romance propunha-se matar quem o lesse, matar o leitor segundos depois de ele o dar por terminado. Foi uma ideia inspirada pela leitura de Como SE Faz Um Romance, um ensaio de Unamuno que descobri numa banca de livros ao longo do Sena e que me tinha chamado a atenção devido ao título, pois pensei que falava do que eu precisamente não sabia fazer. Mas não, falava de tudo menos de como se escrevia um romance. No entanto, num parágrafo onde Unamuno especulava com livros que provocam a morte dos seus leitores, encontrei uma boa ideia para contar uma história.

Um dia, cruzei-me com Marguerite Duras na escada – eu subia para a minha chambre e ela descia para a rua – e mostrou-se subitamente interessada em saber com que coisas andava entretido. E eu, pretendendo armar-me em importante, disse-lhe que me propunha escrever um livro que provocasse a morte de todos os que o lessem. Marguerite ficou petrificada, sublimemente estupefacta. Quando conseguiu reagir, disse-me – ou julguei que me dizia, porque voltou a falar-me no seu francês superior – que matar o leitor, além de um despropósito, era praticamente impossível, a menos que, por exemplo, de dentro do livro saísse disparada uma veloz e afiada flecha envenenada que fosse direta ao coração do desprevenido leitor. Fiquei muito aborrecido e até cheguei a temer que me deixasse sem as águas-furtadas, temi que descobrir que eu era um principiante sem demasiado interesse a levara a isso. Mas não, Marguerite detetou simplesmente em mim uma descomunal confusão mental e quis ajudar-me. Acendeu pausadamente um cigarro, olhou-me meio compassivamente e acabou por me dizer que, se queria assassinar quem lesse o livro, o devia fazer com base num efeito textual. Disse isto e continuou a descer a escada deixando-me mais preocupado do que estava. Eu tinha entendido bem ou o seu francês superior tinha-me feito entender mal? Que era aquilo de efeito textual? Talvez se tivesse referido a um efeito literário que eu mesmo me deveria encarregar de construir dentro do texto para causar ao leitor a impressão de que as próprias letras do texto o iam matando. Talvez fosse isso. Mas, em todo o caso, como conseguir um efeito literário que pulverizasse o leitor de uma forma só textual?

Após uma semana de duras interrogações e sombras negras que para meu desespero se abatiam sobre o meu trabalho literário, voltei a cruzar-me com Marguerite na escada. Desta vez, ela subia – como em tantos imóveis de Paris, não havia elevador – para o terceiro andar, onde ficava a sua casa. E eu descia do sexto, da minha modesta chambre, em direção à rua. Manejando novamente o seu francês superior, Marguerite perguntou-me, ou pareceu-me entender que me perguntava, se já tinha conseguido matar os meus leitores. Ao contrário do nosso anterior encontro, desta vez decidi não me armar em importante, quer dizer, não cair no ridículo, e procurar não ser só humilde como aproveitar qualquer lição que ela me pudesse transmitir. Contei-lhe, atabalhoadamente, com o meu francês inferior, ou se se quiser confuso, as dificuldades com que me debatia para conseguir pôr o meu romance em pé. Procurei explicar-lhe que, seguindo o seu conselho, já só queria provocar a morte do leitor praticando o crime no espaço estrito da escrita. «Mas é muito difícil de conseguir, uma vez que me encontro nele», acrescentei.

Então vi que, se eu não a entendia muito, tão-pouco ela me entendia a mim. Fez-se um sério silêncio. Então, procurando acabar com a tensão, tentei resumir-lhe o que se passava comigo, balbuciei sincopadamente isto: «Um conselho, é do que preciso, ajuda para o meu romance.» Desta vez Marguerite entendeu perfeitamente. «Ah, um conselho», disse, e convidou-me a sentar-me ali no hall (como se estivesse muito cansado), apagou lentamente o cigarro e pô-lo no cinzeiro da entrada e dirigiu-se, um tanto misteriosamente, para o seu escritório, donde voltou passado um minuto com uma folha de papel que parecia uma receita médica e continha umas instruções que podiam – disse-me, ou julguei entender que me dizia – ser-me úteis para escrever romances. Peguei na folha e dirigi-me para a rua. Li as instruções que continha pouco depois, já na rue Saint-Benoît, e senti que de repente desabava sobre mim todo o peso do mundo, ainda hoje recordo o pânico enorme – calafrio, para ser mais exato – que senti ao lê-las:

1. Problemas de estrutura. 2. Unidade e harmonia. 3. Enredo e história. 4. O fatot tempo. 5. Efeitos textuais. 6. Verosimilhança. 7. Técnica narrativa. 8. Personagens. 9. Diálogo. 10. Cenários. 11. Estilo. 12. Experiência. 13. Registo linguístico.”

 

Vila-Matas, Enrique, Paris Nunca Se Acaba, 2003, Editorial Teorema, Lisboa

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Cinco flores


A pandemia limita muito as viagens.
Este ano, não estarei com a Clarinha no seu 5º aniversário.
Já lhe fiz um postal com cinco flores. No interior, dei-lhe os parabéns em letra redondinha.
E desenhei mais flores.
Ah, e também pintei corações.


Não foi só ontem

 

Ontem, fui a uma caixa multibanco para pagar várias contas. Quando me preparava para introduzir o cartão, verifiquei que atrás de mim estava uma jovem. Como sabia que ia demorar algum tempo, voltei-me e perguntei-lhe:

- É só para levantar dinheiro?

- É, respondeu.

Eu disse-lhe então:

- Pode passar, porque vou demorar algum tempo.

A jovem passou, fez a operação que pretendia e foi à sua vida. Mas nem sequer um obrigada.

Na estrada, passam-se coisas semelhantes: dá-se passagem, mesmo tendo prioridade, e alguns condutores avançam e nem um olhar. E nem um levantar de mão de agradecimento.

Para não falar de quando se segura na porta para a pessoa que vem atrás passar e não se ouve sequer uma palavra. 

Diz-se que o silêncio é de oiro, mas, nestes casos, uma simples palavra é bem mais valiosa. E não custa nada.

 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

domingo, 9 de agosto de 2020

Pequeno diário à beira-mar


Partida e chegada. Junto roupa para levar para a semana de férias. Não, não é preciso casaco. Tem estado muito calor.  Preciso é de frescura.
Chego depois de passar junto ao mar, onde vejo muitas ondinhas a que chamamos carneirinhos.
No parque de estacionamento estão poucos carros.
Há vento norte. Vejo também pelos arbustos.
Quando saio do carro, sinto a falta de um casaco.
E em tempo de covid há menos abraços.
Sempre aqueceriam um bocadinho mais.

No dia seguinte. Vou ver a praia da parte da tarde. O parque de estacionamento, ao lado do passadiço, está ainda mais deserto. Chega uma caravana com matrícula espanhola.
É a única, embora no verão costume haver muitas mais.
Na praia, não há ninguém. Apenas mar enfurecido.
Apenas vento.
Apenas sargaço negro que as ondas arrastaram e que deixam desenhos  ondeados na areia molhada.
Volto para casa.
Amanhã levo o telemóvel.


Num momento de decisão. Tinha decidido passar a semana sem ligar a televisão nem abrir o computador.
Mesmo assim, pus o computador na bagagem. Junto de um livro.
Não abri, como tinha decidido, o computador.
Usei o telemóvel!!!!!


Num outro dia. Enquanto caminhava, ia olhando as algas negras da praia e ia-me lembrando da mulher muito velha e corcovada que, antigamente, apanhava feixes de algas e os transportava praia fora.
Andava sempre vestida de preto, era franzina e não falava com ninguém.
Vivia perto da praia, mas só as algas lhe traziam a maresia.

Quase sempre ao final do dia. Já não sabia se era hábito se era paixão. Quando fechava o quiosque, pegava no tripé e na máquina fotográfica. Era o momento mais desejado do dia. Fotografava o mar, o pôr-do-sol e as gaivotas. Amava aquela praia e conhecia-a ao pormenor. Um dia, perguntei-lhe se tinha fotografado muito. Respondeu que sim, mas sem dar qualquer ênfase à resposta. Compreendi. Também as gaivotas não precisam de dizer que gostam de voar.

Mindelo - manhã de ontem

 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Pintores e poetas mostram bem que ninguém é uma ilha


Beatriz Brum
- nasceu em 1993, em Ponta Delgada


Coisa Amar

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre



Urbano Resendes
- nasceu em 1959, na ilha de S. Miguel


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner


quarta-feira, 29 de julho de 2020

Nove ilhas, outras tantas pronúncias


Hoje, uma amiga enviou-me este vídeo sobre os falares das ilhas dos Açores.
Gostei muito e quis também partilhá-lo.
Vale a pena ouvir as diferentes pronúncias das nove ilhas, comunicadas de forma tão expressiva e bem humorada.
Com este vídeo, fiquei ainda com mais vontade de voltar aos Açores.
Só que, no momento atual, não se sabe é quando. 
Felizmente, os livros, a música, os meios de comunicação ajudam a viajar.

Obrigada, Isabel.

P.S. No vídeo, apenas reconheço Luís Filipe Borges, açoriano.
Se foi ele que impulsionou este vídeo,  merece um aplauso.
E o Professor também.


terça-feira, 28 de julho de 2020

Irrita-me profundamente


Domingo à noite, quis ver o programa da SIC - julgo que repetido - de Ricardo Araújo Pereira, de reconhecido talento para a escrita e para a representação.
No momento em que liguei a televisão, o humorista segurava um martelo, prestes a destruir uma pequena estátua que tinha a seu lado.
Aludia, é claro, ao derrube de estátuas em diferentes países.
Independentemente dos motivos ideológicos, não gosto mesmo nada de cenas de humor em que se estragam coisas, fazendo disso espetáculo.
A meu ver, existem outros modos de exercer o legítimo direito à crítica.
Também Herman José - um génio do humor - já recorreu à mesma estratégia, demolindo, por exemplo, partes de cenários.
Também  não gosto de ver estragar alimentos, como às vezes acontece, com o intuito de provocar o riso.
No excerto do programa que vi este domingo, um pequeno fragmento da estátua pareceu atingir o humorista.
Mesmo assim, ele não perdeu a graça, mas também não fez perder a irritação.



segunda-feira, 27 de julho de 2020

Há palavras e palavras!



Sempre que posso, desde a fase mais aguda da Covid 19, gosto de arrumar coisas em casa: reorganizo livros, separo papéis e reúno outros, reciclo ou dou coisas que, com o tempo, se foram tornando inúteis e ocupam demasiado espaço, etc.

Ora, como acontece muitas vezes nestes casos, vêm-me ter à mão papéis que não me trazem boas recordações, outros que me causam nostalgia, outros que me comovem e que não quero perder...

Numa caixa, uma espécie de pequena arca onde vou guardando bons tesourinhos, encontrei uma folha de um jornal Expresso, dobrada em quatro, com um texto de José Tolentino Mendonça. Não devia ter tempo de o ler na altura e ficou à espera.

O título é "Farmácia da alma".
Reli o texto e deixem-me partilhar algumas frases de que gostei muito:

"Na contemporaneidade, descobrimo-nos sempre mais imersos numa cultura onde a palavra é sobreabundante, onde a todo o minuto se produzem milhões de palavras, com o risco de que o seu vamor empalideça";

"A palavra distingue-nos entre todas as outras criaturas, porque somos seres de palavra, nascemos com essa capacidade, vivemos através da palavra, conhecemos e damo-nos a conhecer através dela";

"Conta-se que os antigos faraós do Egito criavam bibliotecas nas cidades mais remotas do reino e sobre a entrada faziam escrever: 'Farmácia da alma'";

"A palavra é uma parte significativa da complexa arte de curar";

" A palavra oportuna pode ser, de facto, curativa."

Toda a crónica é muito interessante, mas... mais palavras para quê?


sábado, 25 de julho de 2020

O algodão também engana

Chien-min Chung/Getty Images

"Uma coligação de grupos de direitos humanos apela às grandes marcas de vestuário para deixarem de ser cúmplices na exploração da população Uighur

Uma em cada cinco peças de roupa com algodão no mercado internacional foi produzida com o envolvimento de trabalho forçado. A estimativa é feita pela Coligação para Acabar com o Trabalho Forçado na Região Uighur, um grupo de sindicatos e grupos da sociedade civil que lutam contra abusos nessa zona da China.
Os relatos sobre campos de concentração para a população Uighur em Xinjiang, acompanhados de notícias sobre maus-tratos diversos, incluindo a esterilização forçada de mulheres com o objetivo de reduzir a população Uighur, têm recentemente indignado o mundo.
(...) " 


In Expresso Curto de 24 julho 2020


sexta-feira, 24 de julho de 2020

Leituras partilhadas - Gostei logo do título da obra


Obrigada, Idalina, pela partilha de mais algumas leituras.
Estes excertos, para além do prazer do texto, são uma boa lição de escrita
e também de apreciação crítica.

Oxalá gostem. Eu gostei muito e vou tentar ler o livro.


Kirmen Uribe, O Dois Amigos, 2011, Planeta


Este primeiro excerto é o início do romance. No terceiro excerto, explica os passos que deu até chegar a ele.


"Os peixes e as árvores assemelham-se.
Assemelham-se nos anéis. Se fizéssemos um corte horizontal numa árvore, veríamos os seus anéis no tronco. Um anel por cada ano transcorrido: é assim que se sabe a idade da árvore. Os peixes também têm anéis, mas nas escamas. E, da mesma forma que acontece com as árvores, graças a eles sabemos quantos anos tem o animal.
Os peixes nunca deixam de crescer. Nós não, nós minguamos a partir da idade madura. O nosso crescimento detém-se e os ossos começam a juntar-se. O corpo encolhe. Os peixes, porém, crescem até morrer. Mais depressa quando são jovens e, a partir de certa idade, mais lentamente, mas sem nunca deixarem de crescer. E por isso têm anéis nas escamas.
O anel dos peixes é criado pelo Inverno. O Inverno é a altura em que o peixe come menos e a fome deixa uma marca escura nas suas escamas, porque o seu crescimento é menor durante esta época. Ao contrário do que acontece no Verão. Quando os peixes não passam fome, não permanece qualquer rasto nas suas escamas.
O anel dos peixes é microscópico, não se vê à primeira vista, mas está lá. Como se fosse uma ferida. Uma ferida que não sarou bem. E, como os anéis dos peixes, os momentos mais difíceis vão marcando as nossas vidas, até se converterem na medida do nosso tempo. Os dias felizes, pelo contrário, passam depressa, demasiado depressa e, em seguida, desvanecem-se.
Aquilo que para os peixes é o Inverno é a perda para as pessoas. As perdas delimitam o nosso tempo; o final de uma relação, a morte de um ser querido.
Cada perda é um anel escuro no nosso interior".
                                                                                                                 (pp. 15/16)




"O escritor precisa de protecção. Sobretudo no princípio. Deseja que lhe dêem confiança, ouvir dos outros que vai pelo bom caminho e que não se enganou no último cruzamento. O escritor precisa de protecção quando começa. Por isso, perguntei a opinião ao meu pai, quando publiquei a primeira coluna na imprensa, esperando receber a sua aprovação. Essas colunas eram as minhas primeiras publicações, naquele distante ano de 1998. Eram os meus inícios. Aquela primeira coluna, elaborei-a bastante e dediquei longas horas à sua redacção. Tentei que o estilo fosse o mais literário possível e saiu-me algo parecido com um breve conto. Com o tempo, aprendi que as colunas têm de ser colunas e os contos, contos. As colunas exigem uma condição que os contos não requerem: o imediato.
A resposta do meu pai foi deliberada. Não recebi o seu aplauso, mas, em compensação, respondeu-me através de uma história. Quando ele era pequeno, havia dois padres na aldeia. Cada um deles tinha a sua maneira própria de predicar a homilia. Um, Don Manuel, era próximo e as pessoas percebiam sem dificuldade o sermão que pronunciava. No entanto, o estilo do segundo cura, Don Jesús, era retórico. Não se percebia nada. Dirigia a sua homilia aos ricaços que se acomodavam nos bancos da frente da igreja. Pois bem, eu escrevia como esse cura, explicou-me o meu pai, como Don Jesús.
Sempre agradeci ao meu pai a sua franqueza. Por um lado, mostrou-me que a minha coluna era demasiado literária para um jornal. E, por outro, não deu sentenças, não proclamou «a coluna é boa», ou «é má». Socorreu-se de uma história para desenvolver o seu argumento, sem qualificações. E foi isso precisamente do que mais gostei, que um breve relato lhe bastasse para que eu compreendesse com clareza a sua lição. De facto, as histórias recolhem os matizes da realidade. E os matizes são o mais importante na vida".
                                                                                                      (pp. 43/44)



"Em Dezembro de 2002, escrevi a primeira frase do romance.
Queria uma frase com força para o princípio, como a do romance de Carson McCullers O Coração É Um Caçador Solitário. «Na cidade havia dois mudos e estavam sempre juntos.» Essa frase diz muito. Primeiro, que o romance trata de dois mudos, mas também indica a exclusão que sofrem e transparece a amizade que os une.
Ou a do romance A Campânula de Vidro, de Sylvia Plath".


quinta-feira, 23 de julho de 2020

Amália Rodrigues - "A Voz" faria agora cem anos

Outra "Estranha forma de vida"

Bebendo o ar fresco da manhã


quarta-feira, 22 de julho de 2020

A natureza tem defesas


Pelas 9.30 da manhã: flores buscando frescura

                                                  Pelas 12.20, flores protegendo-se do calor



O postal


Em Londres (e, se calhar, em todo o Reino Unido, não sei), as crianças entram na escola primária no ano letivo durante o qual fazem cinco anos.
É um ano de transição entre a pré-primária e a fase escolar seguinte. 
Acho maravilhoso ver e ouvir uma criança a desenhar números, a juntar as letras e ler palavras e frases e, com isso, mostrar prazer e alegria.
É o que se passa com a minha neta que faz cinco anos no próximo mês.
Quase todos os aniversários dela foram passados cá em Portugal, com a família reunida. 
Este ano será tudo diferente, porque o governo britânico impõe quarentena para quem chegar de Portugal. E a TAP já cancelou muitos voos (sem dar cavaco a quem já tinha pago as viagens). E existem todos os perigos da pandemia que já todos conhecemos.
Felizmente, estivemos juntos em fevereiro.
Mas só voltaremos a encontrar-nos no Natal. Se tudo correr melhor. Se os vírus estiverem mais sossegados. Se a vacina já ajudar.  Se não houver tantos surtos. Se e se e se...
E, como eu, há muitas pessoas com filhos que emigraram e com quem não vão estar este verão.
Felizmente, há o whatsapp, o facetime, o skype... mas não é a mesma coisa.
Hoje, para matar algumas saudades, vou fazer um postal para mandar à minha neta.
Pode ser que a veja e oiça a lê-lo. Pela net, é claro.

Ao sol da já quente manhã

 
 Há dias que não digo olá.  Ai este calor que 
entorpece!

Para que a horta não seque e as flores do jardim 
não murchem, rego tudo diariamente.
Faço-o pela fresca, como sempre fazia a minha 
mãe.
 
Hoje, deparei com flores deste cato e gostei da 
descoberta.
 
Não gosto muito de catos por causa dos picos, mas 
este está no mesmo sítio há bastantes anos e gosto 
dele porque a forma de crescimento é irregular. Parece um escultura que a natureza vai modelando.
 
Hoje, vi estas flores lá no alto. Achei-as belas, como todas as flores que conheço dos catos.

Mas sei que serão efémeras. 
Porém, a beleza não deixa de ser beleza, mesmo não sendo duradoura.




sábado, 18 de julho de 2020

Mais frescura à beira-mar encontrada!

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Problema resolvido

Não era difícil, afinal, dar de novo visibilidade aos comentários.

Aproveito para agradecer, mais uma vez, as vossas visitas e as vossas palavras.

Obrigada a todos.



Peço desculpa

Por motivos que (ainda) desconheço, a caixa de comentários deixou de estar visível.

Espero em breve resolver o assunto.

Enquanto tal não acontece, peço muita desculpa porque os comentários - ainda que pouco abundantes - são muito importantes para mim.

Espero, em breve, tornar visíveis de novo as vossas palavras, que agradeço do coração.



E tanta coisa aqui tão perto

Apesar de ser uma das figuras bastante ligada à minha infância e adolescência, já não a via há muito tempo.
Por causa de um trabalho, em que ela poderia colaborar com fotografias antigas, fui a casa dela, não muito longe da minha.
Ficámos no jardim.
Disse-me para me sentar junto dela. Não, era melhor ficarmos afastadas. Pois é, a pandemia. E conversámos e recordámos e rimos...
Sim, claro, ia procurar as tais fotografias, mas quase de certeza que não as tinha.  Precisava do meu número de telefone. Tomou nota num livro de palavras cruzadas que foi buscar dentro de casa.
- É o meu vício. Levanto-me muito cedo para  cuidar do jardim pela fresca. À tarde, passo o tempo a fazer palavras cruzadas.
- Parece que faz muito bem à mente. E o seu jardim é um pequeno paraíso.
- Gosto de o estimar em memória da minha mãe. Foi ela que mo deu e sei que gostava dele assim. Às vezes, as pernas não me ajudam muito, mas vou fazendo o que posso.

Não me ligou, por isso não devia ter as tais fotografias.
Mesmo assim, valeu a pena a visita e ter estado um bocadinho à sombra de árvores antigas.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Convite à escrita

 O Regulamento completo pode ser consultado em
www.lugardapalavra.pt

"MIMOS DE SETEMBRO
Antologia Poética 2020

A Mimos e Livros continua a celebrar a Poesia e quer comemorá-la consigo!
Vamos publicar nova Antologia Poética: MIMOS DE SETEMBRO.
Participe!

Regulamento

1. O prazo de inscrição para participação na antologia MIMOS DE SETEMBRO e envio de textos decorre até 17 de agosto de 2020.

2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para geral@mimoselivros.pt

3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas e prosa poética).

4. Cada autor poderá participar apenas com um texto, que pode ocupar, no formato de poesia tradicional, até 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos) ou, na prosa poética, um máximo de 1400 caracteres (espaços incluídos).

5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.

6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.

7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 500 caracteres, incluindo espaços. No caso de exceder o limite fixado, a organização reserva-se o direito de proceder às alterações que achar convenientes.

8. O tema dos textos é livre.

(...) "

terça-feira, 14 de julho de 2020

Mercedes Sosa - "Todo Cambia"

Obrigada, Vítor, por me teres lembrado, no teu comentário do passado dia 9,
esta música de que também gosto muito e que tinhas, recentemente, postado no teu blogue.

http://carruagem23.blogspot.com/2012/06/tudo-muda.html

Hoje, como em qualquer dia, o tema vem a propósito, por isso também o convoco.
A versão que aqui vemos é mais antiga, a tua é mais recente.
Ambas maravilhosas, na minha opinião,
na voz, também maravilhosa, de Mercedes Sosa.

Mercedes Sosa - "Canción de las simples cosas"

A primeira viagem


Hoje, este blogue - Mariana - faz anos.
Daí ter-lhe preparado uma roupa nova.
"O Vouguinha"  foi o primeiro texto que publiquei, aqui, no dia 14 de julho de 2011.
Dias antes, pelo meu aniversário, as minhas filhas perguntaram-me
o que queria como presente.
Eu disse-lhes: 'gostava que me ajudassem a criar um blogue'.
E assim abri (com algum receio, mas carinhoso apoio inicial)
esta janela que, despretensiosamente, me ajuda a olhar
com mais atenção para dentro e para fora
e a gostar muito destes momentos de partilha.
Passados estes nove anos, quero dizer:
Obrigada, obrigada a todos
que me inspiram e visitam estas páginas.
O mundo sem este blogue seria, de certeza, igual;
mas eu, não.


A primeira foto - tirada do Vouguinha


 O Vouguinha
Hoje, fui, com duas amigas, fazer uma pequena viagem na linha do Vouga: o vouguinha, como algumas pessoas lhe chamam.
Saímos de Espinho por volta das nove e meia da manhã e, passadas umas duas horas, estávamos em Sernada do Vouga.
Ao longo da viagem, fomos vendo campos verdes de milho, algumas casas rente à linha, em avançado estado de degradação, longa extensão de mato e árvores a tapar o serpenteado do percurso…
Quem motivou também para esse olhar, na carruagem quase vazia, foi a D. Eduarda, uma funcionária simpática e expedita que, nos apeadeiros, saía do comboio para abrir e fechar as cancelas. Para além disso, sorria, falava com sensato à vontade, comunicando bem com os passageiros. A pedido, marcou três almoços, por telefone, no café da estação. Não sem antes informar que o prato do dia era arroz de legumes e costeleta grelhada.
Em Sernada, havia calor, linhas antigas ainda ativas, um velho comboio no centro aberto da estação, uma horta bem regadinha e verde, buganvílias frondosas, um rio com corrente fraca e interrompida, secas ervas daninhas, feijões a secar ao lado das vagens vazias, belos e antigos pinheiros mansos, algumas casas com silêncio de riqueza antiga…
E uma expressiva senhora magrinha no café da estação a dizer que espera que a linha não acabe.
Depois do almoço, deixámos o local, entrando num velho comboio onde se lê que presta serviço há 100 anos. E apetece (-me) dizer: se ainda há tantas flores frescas, muitas mais deverão florir.