Revi o filme "Julieta" de Almodóvar.
No ecrã, reencontrei rostos recorrentes em filmes deste realizador,
como é o caso de Rossy de Palma, que, neste caso, faz o papel de uma empregada
doméstica numa casa junto ao mar, onde vive uma mulher, ainda jovem, doente, em
coma, cujo marido trabalha na pesca.
Este homem, Xoan, vai conhecer Julieta
no comboio, numa viagem noturna, e apaixonam-se, vindo a viver juntos e a ter
uma filha, após a morte da primeira mulher.
Nessa viagem em que se conheceram, segue
também um homem mais velho, desesperando de solidão. Dirige a palavra a Julieta,
mas esta inquieta-se e muda de lugar. Numa das paragens seguintes, o homem sai
do comboio e suicida-se.
Anos mais tarde, Xoan, quando a filha é
adolescente, depois de uma discussão com Julieta por ciúmes que esta demonstra,
vai para o mar e morre, porque o barco naufraga devido a uma grande tempestade.
Entretanto, a filha, muito ligada ao
pai, depois de um retiro, afasta-se da mãe e, propositadamente, não permite que
ela saiba onde se encontra.
Já no outono da vida, Julieta começa a
procurar a filha, numa busca ansiosa e contínua.
Ora, neste filme, existem temas
recorrentes de Almodóvar: a doença (como o coma), os conflitos entre pais e
filhos, a homossexualidade, a busca do passado, a solidão, a culpabilidade...
Julieta sente culpa pelo suicídio do velho
homem que queria comunicar com alguém e de quem ela, assustada, se afastou; pela
morte do companheiro após uma discussão; pelo desaparecimento
da filha com quem poderia ter dialogado mais...
Comove-me a canção final, em tom plangente,
na voz de Chavela Vargas: "Si no te vas".
É necessário viver intensamente, sentir
muito, conhecer muito para realizar filmes que são espelhos em que, por uma questão ou por outra, muitos de nós se reveem.