quarta-feira, 29 de abril de 2020

'Mãe' - Matilde Rosa Araújo

Luzia Lage

Mãe!
Que verdade linda
O nascer encerra:
Eu nasci de ti,
Como a flor da terra

Matilde Rosa Araújo




Postei este pequeno poema há muito tempo.
Hoje, volto a partilhá-lo porque tem tido várias visualizações.
Que os dias tenham também Poesia!

Como o poema é muito fácil de decorar, disse-o hoje à minha mãe. 
Ouviu com atenção e sorriu de contentamento.


terça-feira, 28 de abril de 2020

O detergente e o sabão

Não, não vou falar da proposta patética do sr Trump de se resolver o problema do coronavírus com a injeção de desinfetante. Já se tem falado muito desse disparate que originou muitas piadas, mas o pior é que já houve quem pusesse em prática a sugestão, pondo em risco a sua vida.
Não, o meu assunto é menos bizarro e tem outra limpeza.
Em minha casa, sempre houve detergentes qb. Conheço pessoas que compram logo o novo detergente que aparece  no mercado ou é ruidosamente publicitado. Mas também conheço quem sempre tenha usado o antigo sabão, o velho Tide, o poeirento Vim e pouco mais, como a minha mãe.
Ora, numa das últimas vezes que fui ao supermercado - ainda sem filas à entrada e sem máscara - percorri o corredor dos detergentes e toca a comprar para a casa de banho, para a cozinha, para o chão, lixívia  com cheiro a isto ou àquilo, cápsulas para a máquina de lavar... O meu carrinho de compras era bem diferente do carrinho de compras habitual.
Pois bem, o que é certo é que a maior parte desses detergentes já se foi porque nunca fiz tanto uso dos ditos. Lavo aqui, desinfeto acolá, tiro e lavo tapetes, as toalhas nunca param depois de usadas...
E, pelos vistos, não é só comigo que tal acontece. Os produtores de detergentes devem esfregar os bolsos de contentes porque a crise geral não é a sua crise. 
Mas, apesar deste uso mais abundante de detergentes, cá em casa o sabão azul está sempre nas nossas mãos.
Mãe, tinha razão, mesmo quando a moda do sabão deixou de ser moda.
Um dia destes, vou comprar Tide, para recordar a minha avó focada no folhetim que passava na rádio todas as tardes. Nessa altura, havia sabão amarelo que deixava a mesma cor nas mãos. Se o sr Trump o descobrisse, recomendava-o para o banho. Assim, ficavam todos da sua cor.

sábado, 25 de abril de 2020

Liberdade

Hoje, 25 de Abril de 2020,  Liberdade também seria poder passear na rua. Se possível, ao sol e junto ao mar.
Ou numa praça qualquer, por pequenina que fosse, e poder sorrir e abraçar e tomar um café com o rosto próximo de amados rostos.
Liberdade seria percorrer as ruas e tocar nas coisas que podem ser acarinhadas. Sem medo dos vírus que podem vaguear nas superfícies e que os humanos podem transportar na pele, nas mãos, na boca, no nariz...
Liberdade seria passear de mãos dadas por cidades abertas a sorrir.
Liberdade seria não ter medo. Não o medo antigo da ditadura, mas o medo atual  que também traz proibições e forte vigilância, e que, desta vez, são justificadas e compreendidas.
Liberdade seria poder fazer parte, ou não, de ajuntamentos, conforme a vontade ou livre decisão de cada um. Não por provável conspiração, mas por improvável infeção.
Liberdade seria poder ter um diálogo próximo no intervalo do teatro e do cinema. Ou noutro qualquer sítio de arte. Ou em qualquer lugar com um banco e espaços floridos.

Mas, apesar de todas as necessárias limitações impostas pela pandemia, Liberdade é também o poder ilimitado e criativo de a celebrar. Nem que seja na varanda ou à janela ou dentro de casa.
E dentro de nós.




quinta-feira, 23 de abril de 2020

Sobre o último livro de Manuel Maria e sugestão de viagem

Publiquei o pequeno texto, que abaixo transcrevo, no dia 9 de março deste ano, a propósito da apresentação do último livro de Manuel Maria: Cinco Palavras de Antonio Vieira.
Apesar de termos trocado algumas mensagens, antes e depois da publicação do romance, ontem recebi um comentário do autor que logo publiquei. Como depois desse texto já postei bastantes, volto a publicá-lo agora para a sua visibilidade e do comentário.
Faço-o não pelo facto de ser para mim elogioso, mas por duas razões fundamentais:
- Quando Manuel Maria comunica, fá-lo de forma inteira e com convicção, tal como vive a amizade e pratica valores como o reconhecimento, etc., o que é de realçar.
- O romance agradará aos mais variados leitores que apreciam uma bela história e belíssima escrita.

Mais uma vez, Manuel Maria, o meu trabalho foi simples pelo prazer que a leitura me deu e por tudo que pude rever e aprender com a obra. E por todas as viagens que a leitura da obra proporciona.

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Sábado passado foi apresentado - por Dulce Raquel Neves, na Escola Secundária de Gondomar, onde o escritor trabalhou durante duas décadas - o novo romance de Manuel Maria: CINCO PALAVRAS de António Vieira, da Editora Lugar da Palavra.
Curiosamente, o título é formado por cinco palavras, tal como aconteceu na maioria das obras anteriores do autor.
Tive o privilégio de ler o livro antes de ser publicado e logo me apercebi do longo e aturado trabalho de investigação que foi necessário realizar para que a ficção funcionasse de forma séria e rigorosa. 
Para além da sedução das histórias que são contadas, situadas no século XVII, em contexto de missões, descobertas, viagens, intercâmbios..., o exercício de escrita é também uma homenagem ao grande orador português. 
Vale a pena ler e dar a ler a obra aos alunos que estudam o Sermão de Santo António aos Peixes e a todos que querem saber mais sobre o pregador, a sua época e que gostam também de boas histórias com a nossa História dentro. E de cruzarem problemas e sentimentos que continuam a fazer parte da nossa vida e da nossa atualidade.

Sobre o encontro de sábado passado e sobre o livro, sugiro a entrada na Carruagem 23 de Vítor Oliveira http://carruagem23.blogspot.com/
Vão gostar da viagem. Melhor era impossível.


Rosas, que vos quero bem!






quarta-feira, 22 de abril de 2020

Um livro na quarentena


Já tinha começado a ler este romance (obrigada, Zá, pelo empréstimo) antes da quarentena, mas só agora o acabei. Tem mais de 500 páginas e é constituído por cartas de mulheres ligadas a Camões por diferentes laços, incluindo os maternais, expressos por Ana de Sá.
Quase todas as cartas revelam amor,  paixão, ciúme, saudade, desejo, admiração ...
Os textos são escritos por sete mulheres: Ana de Sá, Violante de Andrade, Catarina de Ataíde, Francisca de Aragão e também por aquelas que o Poeta vai conhecendo em terras aonde o levavam as navegações marítimas (Inês de Sousa (que, como é referido no epílogo, existiu apenas na imaginação da autora), Dinamene e Luísa Bárbara.
Assim, através das cartas, acompanhamos Camões nas suas viagens além-mar, a sua estada em terras distantes e o seu regresso a Lisboa. Tal como constam das cartas elementos da Lírica do Poeta e da sua Épica.
A autora, como ela refere no prefácio, viajou, durante dois meses, pelos lugares longínquos onde o Poeta viveu, escreveu, brigou, enfrentou perigos e despertou fortes paixões.
É interessante este romance histórico, de escrita viva e fluente, porque, apesar da ficção, permite conhecer melhor o autor de Os Lusíadas e muitos dos ambientes ligados à época dos Descobrimentos, assim como relevantes figuras históricas do século XVI.
No entanto, na minha opinião, o elevado número de cartas, quase noventa, causa um pouco de dispersão no leitor, ainda que seja notória a expressividade e beleza de muitas.

Tenho ainda na estante um monte de livros que queria ler durante a quarentena. Provavelmente, não terei tempo, mas, como o confinamento veio para durar, pode ser que, pelo menos, o volume diminua. Até que o vírus não mate!

terça-feira, 21 de abril de 2020

Medeia Filmes Quarentena Cinéfila

'Aquela loura' é o filme, francês, disponível das 12 h de 5a f às 12 h de sábado.
Este filme, restaurado, data de 1952,  é do género drama, tem a duração de 96 m e é classificado para 12 anos.

Sobre este filme, pode ler-se na página da Medeia Filmes:

'Becker consegue algo raro, neste filme que é, talvez, a sua obra-prima: uma “reconstituição” de época (a Belle Époque) perfeita, no espírito do tempo. Casque d’Or (Simone Signoret) é a bela amante de um bandido, Manda (Serge Reggiani, na sua melhor interpretação de sempre), nesta história de amor, morte, amizade e ciúme.'



segunda-feira, 20 de abril de 2020

0k?

Hoje, vi o início do estudo em casa na RTP Memória. Tive curiosidade. A primeira aula foi dada por uma professora, bastante jovem, com boa voz e boa presença, que disse chamar-se Isa.
Como a aula se destinava ao primeiro ciclo, começou com uma história engraçada que morava num livro de ilustrações bem vistosas.
A partir do texto lido, construiu a sua aula sobre rimas, divisão silábica, etc.
E fê-lo muito bem, apesar de, com certeza, não estar habituada às câmaras da televisão e, por isso, estar um pouco nervosa, como disse no início da aula.
Pois bem, ao longo da sessão, e ao pretender estabelecer um diálogo com os miúdos, ainda que à distância, repetia vezes sem conta: ok?
Ora bem, pronto, ok, todos temos os nossos bordões, aquelas palavrinhas que, quase sem nos darmos conta, repetimos até à exaustão, e que só os outros ouvem.
Tive uma professora de História que dizia sempre 'os nossos amigos' a propósito de povos, de reis, de presidentes, etc. Muitos conteúdos eram perdidos para se tomar nota das vezes em que se ouvia  'os nossos amigos'.
Eu também tenho os meus apoios, é claro, e só deles me dei conta quando me disseram. A partir daí, passei a ouvi-los e a tentar evitá-los. Um deles era, e, se calhar, continua a ser, o 'ora bem'. E usarei outros bordões de linguagem, uns mais conscientes, outros menos.
Voltando à professora Isa, gostei também do modo como leu uma história de Luisa Ducla Soares, na aula a seguir e que era de Leitura. Claro que as histórias de Luisa Ducla Soares são tão boas que facilitam qualquer leitura.
Quando puder, vou continuar a ver. Ok?

domingo, 19 de abril de 2020

Mulher à janela

Salvador Dali

Há duas semanas que ela, todos os dias, passava algum tempo à janela. Como a janela era virada para sul, aproveitava para apanhar um bocadinho de sol nas horas mais quentes ou amenas. Quando chovia ou estava frio, ficava a olhar por dentro dos vidros. Afastava a velha cortina para os lados e olhava as árvores que ajudara a plantar há muitos anos, como uma tangerineira que continuava com uns frutos apetitosos lá bem no alto.
Era da janela que falava com as vizinhas e com as pessoas da família. Ficava a saber as novidades, fazia perguntas e dava respostas. O tempo assim passava mais depressa e ouvia vozes a sério, sem serem interrompidas por publicidade, como acontecia na televisão.
Gostava bem mais desses momentos do que das novelas que costumava ver todos os dias. As notícias ou histórias tristes já a cansavam e para os filmes faltava-lhe paciência. Se começava a dar algum ao mesmo tempo que pressentia alguém da aldeia a passar, logo preferia ir à janela para conversar um pouco.
Esta semana vai ser crucial. Vai fazer novo teste covid 19. Se der negativo, já pode sair do quarto. 
E uma das primeiras coisas que quer fazer são umas cortinas novas para a janela do quarto,  donde quase não saiu durante a quarentena, mas que a punha em contacto direto com o seu mundo, ainda que à distância.
Nunca tinha reparado como a janela era bonita. Merecia mesmo umas cortinas novas. Tinham de ser transparentes como as antigas. Para que a luz continuasse a entrar.

sábado, 18 de abril de 2020

Por este quintal acima!





Medeia Filmes Quarentena Cinéfila

O que pode ler-se na apresentação deste filme classificado para doze anos:


'Último filme da tetralogia sobre o poder realizada por Aleksandr Sokurov, “Fausto” é baseado na primeira parte da tragédia homónima de Goethe: um homem de ciência deixa-se manipular por um sujeito traiçoeiro, que lhe promete dinheiro e a mulher que deseja, numa época marcada pela fome e pela corrupção.'



Este filme está disponível das 12 h de hoje, sábado, até às 12 h da próxima 3a f.
Bom filme (assim espero)!

sexta-feira, 17 de abril de 2020

A ouvir também se 'lê'


Há anos que o audio-livro estava na minha estante de CDs, à espera de ser lido, ou melhor, ouvido.
Fui buscá-lo hoje, em tempo de quarentena por Covid 19 e um par de dias após a morte de Luís Sepúlveda, autor do texto, vitimado por essa doença.
A leitura do livro é expressiva e ajuda na viagem até à aldeia na floresta, onde vivia O Velho que lia Romances de Amor.
Vou continuar a viagem aqui do meu sofá. Posso até apagar a luz que os ambientes não se esbatem nem as personagens desaparecem nem a ação esmorece.
Pelo sim, pelo não, mantenho a janela aberta. Também ajuda a olhar mais longe.
E Luis Sepúlveda foi uma verdadeira janela para a necessidade crescente de humanização. E de boas histórias.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Medeia Filmes Quarentena Cinéfila - Nostalgia


Este filme está disponível das 12 h de hoje, 5a f,
às 12 h do próximo sábado.

No anúncio do filme (para 16 anos), pode ler-se:
'Um poeta russo, sentindo-se aprisionado pela fama e por um casamento infeliz, parte à procura do seu passado cultural em Itália. Viaja pela Toscana com Eugenia, a sua intérprete italiana. Um encontro com Domenico, um velho aparentemente lunático, acaba por permitir ao escritor compreender o segredo da sua própria nostalgia.'

Bom filme (espero que sim)!

Familias em quarentena, bonecas na tenda!

A Clarinha estava orgulhosa e nem a almofadinha faltou

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Elas devem estar a gostar da liberdade!

Quando vou ao meu quintal, vejo como tantas rosas já desabrocharam, tantos lírios já abriram, tantas proteias já se pintaram, tantas camélias já ofereceram tantas cores...
Parecem estar a gostar de mais silêncios, de menos olhares curiosos, de menos cortes.
E das ervas daninhas nem se fala. Ele é ervas de toda a espécie. Por toda a parte. Também parecem contentes por poderem ocupar espaços onde habitualmente não as deixam estar
Imagino que haja muitos quintais e jardins assim em tempo de quarentena.
Para nós, humanos, o tempo é de mais cuidados; para as plantas, é tempo de mais liberdade. Mas, cá pra mim, uns e outras continuam a não dispensar aproximações.






terça-feira, 14 de abril de 2020

Cruzes!

Vi, com estupefacção, que, no passado domingo de Páscoa, foi dada uma cruz a beijar a muitos idosos. E não só.
Numa das instituições, a pessoa que segurava a cruz zelava, cuidadosamente, para que chegasse bem à boca do idoso ou da idosa para que o beijo não se desviasse nem se afastasse do centro.
Terrivel. Inconsciente. Ignorante.
Assim, a mesma cruz passou de boca em boca em toda a fila de idosos. Na passagem de um para outro, a pessoa, que parecia jovem, limpava a cruz com o mesmo paninho que, para ela, devia ser mágico e não contaminado, como possivelmente estava.
Sou católica, já recebi o compasso em minha casa inúmeras vezes, mas sempre me fez confusão que a mesma a cruz fosse beijada por todos. E nem sequer se falava desta pandemia.
Nesta Páscoa, vi padres que, criativamente, estiveram próximos dos paroquianos, mas com o devido afastamento social.
E o que é certo é que os tais idosos, a quem a cruz era dada a beijar, nem mostravam um júbilo particular pelo gesto.
E os responsáveis pela iniciativa deviam saber o que estavam a fazer porque a informação e os alertas chegam a todos e a toda a hora.
Se não sabiam o que estavam a fazer, mais uma razão para não serem perdoados.

O sofá - antes e depois da pandemia

Antes da pandemia, passava pouquíssimo tempo no sofá. Apesar de já o ter há largos anos, achava que não tinha sido boa compra, apesar de não ser desconfortável.
A mesa da sala ou da cozinha eram alguns dos meus espaços preferidos, também para usar o computador. Mas, coitado, como engasguei o teclado com desinfetante, ali jaz, muito sossegadinho, até a quarentena o permitir.
Pois bem, depois que o meu computador ficou impróprio para uso, uso muito mais o meu sofá. E, curioso, até lhe encontro outras valências. 
Cobri-o com uma manta antiga, ainda tecida em tear, e lá está o livro que ando a ler, uma revista, o telemóvel, o meu tablet - que até à pandemia pouco era usado - e até um termómetro, não vá o covid tecê-las!
Realmente, nós, os humanos, temos uma capacidade enorme de adaptação. O que fazemos numa semana pode ser alterado na seguinte e, regra geral, seguimos as regras definidas, quando as entendemos e para elas estamos disponíveis.
Mas tudo seria mais fácil se fosse possível ver camélias de todos os sofás.

Medeia Filmes Quarentena Cinéfila

Filme disponível das 12 h de hoje, 3a f ,
até  às 12 h da próxima 5a f.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Senhor Presidente, por favor!

Senhor Presidente, queria fazer-lhe um pedido: não mande já fazer uma medalha para o Enfermeiro Luís, que tratou do Senhor Primeiro Ministro Boris Johnson, num hospital de Londres.
O Senhor Presidente deve estar a pensar que muitos portugueses falam dele e que fica bem chamá-lo ao palco, com pompa e fitas coloridas ao pescoço como mandam essas circunstâncias, para o medalhar, mas peço-lhe que não o faça.
Senhor Presidente, sou uma anónima cidadã, mas tenho algumas razões para lhe fazer este pedido e a convicção de que não sou só eu a pensar assim.
Se o Senhor Presidente me permite, aqui vão algumas:
O Senhor Presidente não pode cumprimentar, nem abraçar, nem tirar selfies com ele, porque o tempo é, e deve continuar a ser, de distanciamento social. Assim sendo, a cerimônia perde logo bastante piada e, na posteridade, será difícil demonstrar aos filhos que a medalha era mesmo merecida. A menos que a era de abraços que o Senhor Presidente tanto abraçava fique eternamente de quarentena ou entre em cuidados depressivos.
Por outro lado, Senhor Presidente, reconheço que o Enfermeiro Luís merece elogios, porque há evidências que tratou de forma exemplar uma pessoa, neste caso, o chefe do governo do Reino Unido, um país que já foi mais unido, mas isso merece outro tratamento.
Senhor Presidente, se medalhar o Enfermeiro Luís, terá de fazer o mesmo a todos os outros que, de forma igualmente competente e incansável, ajudaram e continuam a ajudar a salvar tanta gente em Portugal e não só. Mesmo sabendo que o seu nome nunca será anunciado nem o nome dos doentes conhecido.
Senhor Presidente, seria injusto premiar apenas um Enfermeiro, cujo nome aparece a toda a hora nas redes sociais e não só, mas sei que dar medalhas a todos os Enfermeiros seria impensável e muito dispendioso porque o país vai ficar economicamente mais fraco, depois desta pandemia.
Por isso, Senhor Presidente, sossegue, lembre-se que a sua idade é de risco. Por favor, não corra riscos desnecessários, porque, para além de se precipitar e de ser injusto,  mais dificilmente fica imune.
Todos sabemos que o Senhor Presidente quer o bem estar e a felicidade de todos os portugueses, mas não se deixe influenciar por figuras mediáticas poderosas, sejam elas penteadas ou despenteadas, estejam elas à frente ou na retaguarda dos países.
Se o Senhor Presidente já mandou fazer a medalha, guarde-a, por favor, porque o Enfermeiro Luís já teve uma grande recompensa. Muitos outros também já foram reconhecidos, felizmente, mas ninguém soube porque não deu na televisão.
Muita saúde, Senhor Presidente, e, pela sua saúde, pense também na nossa saúde mental.
Saudações cordiais.


Conversas em tempo de quarentena

Conversa 1

- Mãe, levantei-me cedo e fui correr.
- Fizeste bem, filha.
- E havia flores tão bonitas: magnólias, narcisos, cerejeiras...
- Imagino. As flores parecem indiferentes à pandemia e ainda bem.
- Não fotografei nenhuma porque não tenho levado telemóvel.
- Fazes bem, filha, quanto mais coisas levarmos lá pra fora, mais bicharada trazemos cá pra dentro.

Conversa 2

- Então, tens escrito histórias?
- Não tantas como gostaria.
- Agora tens mais tempo.
- Mas não tenho computador.
- Como assim?
- Com as desinfeções, estraguei o teclado.
- Escreve à mão.
- Não é a mesma coisa.
- Agora, nada é a mesma coisa!