Maria Keil
Num
tempo em que os homens tinham desaprendido de sorrir, apareceu, certo
dia, uma menina que tinha um sorriso tão simpático que uma pessoa até
sentiria calor no coração, se o riso e a alegria não tivessem sido
expulsos há tanto tempo da Terra.
Não se ganhava nada com eles, diziam, e, hoje em dia, quem é que tem alguma coisa para dar?
Mas, um belo dia, sem nada o deixar antever, apareceu aquela menina no elevador…
A princípio, ninguém reparou, tão preocupadas estavam as pessoas consigo mesmas.
Nem
sequer Tomás, que naquele dia regressava da escola. Seguia no
elevador, sério, a refletir, quando, de repente, ouviu a menina
perguntar:
— Também sabes rir?
Admirado, Tomás virou-se.
— Já não rio desde os quatro anos — resmungou.
— Porquê? — perguntou a menina.
— Rir não serve de nada. Não vale um cêntimo. Aprende-se isso logo no infantário.
Ao entrar mais tarde no elevador com a mãe, Tomás voltou a encontrar a menina.
— Olá! — disse ela com um sorriso radiante.
— Olá — balbuciou Tomás, envergonhado.
E subiram calados.
Mas como a menina não deixava de sorrir, Tomás também não conseguiu por fim conter um sorriso.
Pela primeira vez! Mas a mãe logo ficou muito assustada.
— Pára com isso! — ralhou-lhe ela. — Não temos nada para dar!
Tomás assustou-se e fez uma cara séria.
Mas não conseguia esquecer o sorriso da menina no elevador.
Quando, na manhã seguinte, voltou a encontrá-la, ficou tão satisfeito que esboçou um tímido sorriso.
— Mas tu sabes rir! — exclamou a menina, radiante.
Tomás ficou tão contente que até sentiu umas coceguinhas pelas costas acima.
Desta
vez sorriu, extasiado, e as cócegas então é que não paravam… Nunca
tivera uma sensação daquelas! Mas era uma sensação tão boa que ele
agora sorria sem parar na rua, no autocarro, na escola, na padaria. E
Tomás tinha um sorriso tão amável que as pessoas não conseguiam deixar
de responder com outro sorriso. E como elas sentiam de repente um
formigueiro, também não conseguiam parar de sorrir!
Nesse dia, Tomás voltou alegremente para casa.
Estava
todo contente: iria voltar a ver a menina! Mas quando, a sorrir, abriu
a porta do elevador, só encontrou alguns vizinhos … que lhe sorriram,
hesitantes. A menina já lá não estava e nunca mais a viu…
Só tinha ficado aquela sensação agradável de formigueiro.
E a menina?
Ora bem, caso alguma vez a encontres no elevador, já sabes…
Elke Bräunling
Da wird dia Angst ganz klein
Limburg, Lahn Verlag, 1998
(Tradução e adaptação)
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