quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Conversa à janela

         - Filha, anda ver a neve.
- Até a janela está fria, mãe.
- Olha como a neve cai do céu.
- No Frozen, ainda cai mais. 
- Se quiseres, podemos ver o filme outra vez.
- Quero, mãe.
- Repara como os telhados também se cobrem de neve.
- Mamã, esta neve é bebé.


Conversas ao pé da porta

- Obrigada. Ela vai ficar contente.
- Este ano, dei um avental aos netos das minhas amigas.
- Também deste um avental aos rapazes?
- Ora essa, por que não?


terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Cortar ou não cortar, eis a questão


"a Porto Editora nega que tenha havido censura no caso dos polémicos cortes de um poema de Álvaro de Campos num manual escolar do 12º ano, mas confirma que retirou três versos à "Ode Triunfal" por conterem “linguagem “explícita”, relacionada com a “prática da pedofilia”. A decisão, noticiada domingo pelo Expresso, foi recebida com incredulidade e crítica pelas associações de professores de Português. A “Ode Triunfal” é um “texto canónico, uma referência” que não pode ser truncada desta forma, dizem. O Expresso descobriu entretanto mais um manual onde os versos foram omitidos." 
in Expresso Curto de hoje

A descoberta do corte de alguns versos da "Ode Triunfal" de Fernando Pessoa,  num manual de Português de 12º ano, tem dado que falar nos últimos dias.
 Se, por um lado, rejeito qualquer forma de censura; por outro, sei que, embora todos os temas possam ser tratados nas aulas,  é preciso tempo para os abordar devidamente. 
Muitos jovens não conversam em casa, ou porque estão a maior parte do tempo sozinhos ou os problemas familiares criam as suas próprias discussões e angústias; na escola, o tempo torna-se escasso para o debate de ideias; os programas são extensos; os resultados dos exames são muito escrutinados, sobretudo se forem maus.
Ora, por estas e por outras razões talvez, os autores do referido manual fizeram um corte cirúrgico discutível. Se a intenção era afastar temas embaraçosos da sala de aula, a editora podia ter pensado que o tracejado, em vez dos versos, levantaria, como é compreensível, muitas questões aos alunos, atendendo a que são seres pensantes.
Acrescente-se que a "Ode Triunfal" de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, é um extraordinário poema que só poderia ser produzido por um poeta genial que consegue pôr por palavras a imensidão de sensações captadas pela junção de múltiplos espaços e tempos da Humanidade. Contudo, como acontece com os outros textos, tem de ser analisado no tempo necessário.
Diga-se também que, pelo que sei, o poema não é habitualmente lecionado na íntegra por ser muito extenso, embora os alunos tenham acesso à totalidade do texto porque está disponível em muitos suportes.
Seja como for, a discussão é sempre útil e enriquecedora para todos os que trabalham nos e com os manuais, independentemente de ser uma grande ou pequena editora.  Nada nem ninguém é perfeito e pode sempre melhorar-se a qualidade dos produtos, para mais se se trata de educação.
Possam, assim, os autores dos programas concluir que também é preciso tempo para a lecionação dos conteúdos e formação dos jovens, porque a escola é a principal fornecedora desses bens cada vez mais essenciais.
E possa também a obra de Fernando Pessoa e outros autores ser mais conhecida. Se tal acontecer, nem haverá estes cortes porque o sentido crítico e cívico, que se espera dos jovens do 12º ano, ajudará a que o diálogo sobre todos os temas se estabeleça de forma construtiva, dentro e fora da sala de aula. 
 Deixo aqui a "Ode Triunfal" (se faltarem alguns versos, peço desculpa, porque a intenção não é cortar).
 http://arquivopessoa.net/textos/2459

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Conversas à porta de casa

- Pois, mas também temos de ter tempo para nós.
- Não me lembro de ter uma tarde para mim. Ando mesmo cansada.
- E tem filhos e netos.
- Só tenho falado com eles pelo telefone. Até o meu marido se queixa.
- Eles também são importantes.
- Se são, mas os meus pais não podem estar sós.

domingo, 13 de janeiro de 2019

"Adeus, Tristeza"

Há dias, ia na rua e cruzei-me com um casal que eu conhecia, mas que já não via há vários anos.
Parámos e vieram as palavras que sempre repetimos nesses momentos:
" Está tudo bem? Há tanto tempo! ...
Ele olhava a mulher incessantemente, enquanto ela referia alguns males que a atormentavam e insistia na tristeza que sentia continuamente.
Eu disse-lhe que ela estava bonita e que acreditava que tinha coisas boas na vida que poderiam dar-lhe momentos de felicidade. 
Ele dizia que sim à esperança com a cabeça e com um sorriso.
O sim dela era à tristeza que a tinha invadido.
Depois de outras palavras, de olhares, de sorrisos, de alguns silêncios, despedimo-nos.
Pelo caminho, fui-me lembrando desta canção de Fernando Tordo.
Oxalá ela possa dizer, cantar, gritar... 
- "Adeus, tristeza!

Centenário de Sophia

Site oficial das comemorações do centenário do nascimento de Sophia de Melo Breyner Andresen:

http://centenariodesophia.com


MAR
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Melo Breyner Andresen

Beijinhos em janeiro


Obrigada, D., pela foto e pela proposta de encontrar beijinhos nesta imagem. 
Eu encontrei um, mas, pelo que dizes, há mais.
Haja sempre praias e beijinhos, seja janeiro ou agosto!

Violetas: mais perfume do que presença!


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

ROGER WATERS (Another brick in the wall)

Tantos muros, felizmente, já foram derrubados e tantos muros, infelizmente, outros pretendem levantar. 
Como o teimoso muro de Trump. 



Joaquín Sorolla no MAA


Vi hoje, no Expresso Curto, o anúncio da exposição da obra de Joaquín Sorolla, no Museu de Arte Antiga, em Lisboa.
Na notícia, é referido que o pintor é quase desconhecido em Portugal. Eu não o conhecia também.
Se puder, irei ver a exposição que estará no MAA até final de março de 2019. Para além de toda a luz da obra do autor, é também uma oportunidade de rever a luz de Lisboa.

A National Gallery de Londres prepara uma exposição da obra do pintor para a próxima primavera.
  Partilho um excerto que retirei do mesmo Expresso Curto:

"Trata-se de uma versão aumentada e enriquecida da exposição de 2016, SOROLLA TIERRA ADENTRO, que, em Madrid, mostrou como Sorolla deu a conhecer novas versões das diversas paisagens espanholas, dotando-as de um novo sentido e significado. Predominam na mostra as paisagens que o mestre espanhol do «ar livre» e da «luz intensa» executou nas suas viagens pela Espanha da viragem dos século XIX para o século XX, desde a sua Valência natal até ao País Basco e à Andaluzia, participando num movimento cultural que buscava uma outra imagem do país, alheada da representação historicista de glórias passadas e encontrando-a na pura paisagem, tanto das regiões da periferia peninsular quanto nos campos da Mancha ou de Castela e seus monumentos."

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Roma - Um filme sem máscaras e... com três óscares

 Quando vi este filme, pus este post. Partilho-o de novo porque o filme recebeu, esta noite e em Los Angeles, os óscares de realização, fotografia e filme estrangeiro. Para mim, apenas pessoa que gosta de cinema, bem merecidos.

Começo pelo fim. Não pelo fim do filme, mas pelo final na sala do cinema Trindade, no Porto, onde o filme também está em exibição. Toda a gente continuou sentada, durante os minutos em que passou o genérico, embora os carateres fossem esbranquiçados e de difícil leitura.


De facto, o filme, a preto e branco, entra no coração e na razão das pessoas.

Uma família mexicana de quatro filhos, uma mãe/sogra, duas empregadas e um cão. Vivem numa zona privilegiada, de nome Roma.
A protagonista (para mim) é uma das empregadas, Cleo, uma rapariga pobre mexicana, interpretada na perfeição por Yalitza Aparicio. Ela vive silêncios, sofrimentos, perdas tremendas, levantando-se sempre quando toca o despertador.


Apaixona-se por um rapaz que a abandona. Também os donos da casa se separam.
Num contexto de forte agitação social dos anos 70 no México, surgem fenómenos naturais adversos, desilusões, lutas, sentimentos fortes...
Tudo sem rodeios, sem fingimentos, sem cinismos, sem mentiras. Há cenas em que a vida é tratada a cru.

Gostei muito do modo como agem as crianças, os quatro filhos do casal. Correm para as ondas do mar, zangam-se com os irmãos por tudo e por nada, sentem a natural tristeza pela falta de amor do pai, etc.

E são todas diferentes. E todas gostam de Cleo, que sempre ajuda e acarinha.

Parece que o realizador e argumentista, Alfonso Guarón, quis homenagear as mulheres que contribuíram para o seu crescimento e educação, para além da mãe e da avó que, no filme, estão sempre presentes.

Uma das crianças tem uma forte imaginação. Não sei se, através daquele menino, ele desenhou alguns dos seus próprios traços. 
O que sei é que este filme prende ao longo de mais de duas horas. 
Perdurando nos olhos e no pensamento.




domingo, 6 de janeiro de 2019

sábado, 5 de janeiro de 2019

As montanhas vão parindo ratos?

Há quem diga, com muito boas intenções e muito trabalho meritório, que a Justiça, atualmente, não distingue ricos nem pobres.
Para mim, cidadã comum, com comum sentido de justiça, acho que ainda tal não acontece, sobretudo em muitos casos mediáticos e ruidosos.
São anunciados, por exemplo, crimes de corrupção no mundo da política, do futebol, etc. Gastam-se páginas e páginas de jornais, tempos incomensuráveis de antena; esmiúçam-se, até à exaustão, as provas que o Ministério Público diz ter e, passado muito, muito tempo, o tribunal diz que, afinal, essas provas não são suficientes e quase tudo termina, perante as ávidas câmaras de televisão, com muitos sorrisos e muitos cumprimentos felizes dos arguidos que foram ilibados e dos advogados vitoriosos que os defenderam.
Repetindo, com arte, experiência e aparente naturalidade, os advogados, cujos rostos são conhecidíssimos dos meios de comunicação social, afirmam que "a montanha pariu um rato".
Ninguém lhes negará a inteligência e a argúcia na defesa dos seus constituintes, vasculhando e encontrando nos processos todas as fragilidades que tecem que nem incansáveis aranhas. 
Mas também ninguém pode negar que os mesmos advogados aparecem sempre junto de pessoas ou de instituições muito influentes e de grande poder económico, que lhes podem pagar de forma milionária. 
Portanto, a Justiça ainda terá um longo caminho a percorrer para o cidadão comum não concluir, de forma tão recorrente, que 
- Isto não vai dar em nada.



sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Qual nunca, qual quê?

Malangatana

 

Um homem nunca chora

Acreditava naquela história
do homem que nunca chora.
Eu julgava-me um homem.
Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.
Agora tremo.
E agora choro.
Como um homem treme.
Como chora um homem!
José Craveirinha


No endereço
https://www.contioutra.com/7-poemas-mocambicanos-ilustrados-por-obras-de-malangatana/
podem encontrar-se outros poemas de poetas moçambicanos 
e outras obras do pintor Malangatana.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Na sombra, também se vê a luz!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Ano Velho/Ano Novo


domingo, 30 de dezembro de 2018

Sol a fechar/abrir o Ano!

Obrigada, D., pela bela foto.
Bom domingo e boa praia!


sábado, 29 de dezembro de 2018

Belíssimas fotografias para embelezar o (final de) Ano

 Neste endereço, que vi no Expresso Curto de ontem, encontram-se muito mais trabalhos - vencedores do prémio Travel Photographer of the Year

https://designyoutrust.com/2018/12/amazing-photos-that-won-the-2018-travel-photographer-of-the-year-awards/?utm_content=O%20Muro&utm_medium=newsletter&utm_campaign=42b0c1aed6&utm_source=expresso-expressomatinal

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Net, Ano Novo, próspero, obrigada...

Hoje procurei na net imagens sobre o Ano Novo e encontrei muito fogo de artifício, champagne a libertar-se da garrafa, copos em brinde - tudo bom e bonito para ver e saborear na noite em que um ano se acaba e outro começa. 
Uma boa altura para falarmos de desejos, de sonhos, de vontades que queremos tornar presentes, ainda que tudo esteja fechado na caixa misteriosa do futuro.
E encontrei também muitas mensagens, mais ou menos banais, que todos repetimos por estes dias. E vi uma palavra que, acho eu, foi caindo em desuso: próspero.
É difícil a pronúncia. Talvez por isso, muitos soldados que, nas antigas colónias, apareciam em triste fila para deixar a sua mensagem de Natal ou de Ano Novo na RTP, então canal único, trocavam prosperidade por propriedade. Tão jovens eram e muitos deles nunca teriam prosperidade nem propriedades.
Felizmente essa realidade mudou e, apesar de todos os perigos atuais, não trocaria por nada a realidade de agora porque existe liberdade. Embora devesse haver maior responsabilidade, sobretudo de pessoas que mexem na vida dos cidadãos.
E como o tempo é de proximidade do Ano Novo, desejo que seja para todos, queridos amigos leitores, um Bom Ano Novo. E, já agora, que seja próspero em saúde, paz, alegria, amor, amizade...
E que haja reconhecimento de tanto trabalho e de tanto talento que, se fosse mais amado e conhecido, tornaria mais Feliz o Ano Novo.
Obrigada por visitarem esta pequena casinha, a que, desde 2011, dei nome Mariana, e não imaginam como a vossa presença a torna feliz. 
Possa eu/ela dar um pequenino contributo para um FELIZ ANO NOVO de tantas pessoas que, mesmo sem as conhecer, sei que têm rosto, sentimentos e são infinitamente bem-vindas!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Um pouco mais de luz!

Os dias de Natal foram de sol. Bom. Sossegado. Mais forte do que as nuvens, mas sem qualquer prepotência. Foi muitíssimo bem-vindo. Chegou e ficou no tempo certo. 
As adolescentes da família tiveram cores fantásticas de pôr do sol para o atento instagram. Os olhos dos mais pequeninos eram luzinhas a sorrir enquanto desembrulhavam os presentes.
Hoje, porém, regressou a chuva. Natural também. Como as magnólias que ontem vi em botão, ainda que muito fechadinho. À espera do momento certo para desabrochar. Quando se abrem, parecem luzes macias. 
Também as camélias iluminam agora os ramos da árvore que as alimenta. É pena as flores caírem tanto, dizia uma amiga minha.
Embora fugazes, existem e renovam-se. Esta é uma das múltiplas maravilhas da natureza em qualquer época, incluindo a do Natal.
Hoje logo de manhã, quando passei junto da pequena árvore que fiz em casa, senti necessidade de ver as luzinhas a piscar. Acendi-as. 
O café com bolo-rei aproximou-me ainda mais das luzinhas de Natal.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A Missa do Galo

Há muitos anos que digo que gostava de ir à Missa do Galo, mas, também há muitos anos, não vou à Missa do Galo.
Na verdade, nem tenho ideia da última Missa do Galo a que assisti. Talvez fosse muito nova ainda. A família não era tão grande e o volume de prendas também era bem menor. 
Há um bom par de anos, optámos pelo "amigo secreto", que é uma boa ideia porque se poupa tempo, dinheiro e em desperdício.
Mesmo assim, fica pouco tempo para ir à Missa do Galo. Ou melhor dizendo, a vontade é que, àquela hora tardia, já está dormente.
O tempo vai, assim, clarificando as ideias e poupando algumas palavras.
Se gostava de ir à Missa do Galo e não vou, é porque não gostava tanto assim de ir à Missa do Galo. Por isso, tento usar melhor as palavras.
E este propósito talvez seja um bom substituto da Missa do Galo.

Até o Natal tem fases!

Gosto da fase de quando está tudo organizado e resta tempo livre para se saborear o tempo de Natal.
Com as prendas já distribuídas ou prontinhas para serem entregues. E não tem de se penetrar na multidão para se arranjar um presente de última hora.
Este ano, não dei muito lucro às lojas e preferi objetos realizados por pessoas que criam e fabricam pequenos objetos, muitas vezes reutilizando-os e dando-lhes nova e bonita vida.
Mesmo assim, também tive muitos momentos de frenesim. Talvez por isso, já pensei seguir o exemplo de uma senhora velhinha que conheci e que, logo a seguir ao Natal, começava a tecer os presentes para a próxima época natalícia. Não os vou tecer, com certeza, mas, mais calmamente, tentarei juntá-los para não viver o stresse das compras de última hora.
Quero, isso sim, continuar a partilhar presentes porque são momentos de mostrarmos aos outros que mimam as nossas vidas.
E dessa fase também gosto.

sábado, 22 de dezembro de 2018

A união faz a Música. Boas Festas!


Obrigada, Zá, por teres partilhado este vídeo no Bem-Vindos ao Paraíso.
Boas Festas!

Boas Festas!

Cheguei com o presente. Ofereci-lho e disse:
- Boas Festas.
Ela, com ar preocupado, e eu, felizmente, bastante menos:
- Obrigada. Peço-lhe desculpa, mas ainda não tive tempo de comprar nada.
- Não é para me dar nada.
- Mas eu quero.
- Eu sei como são os seus dias sempre ocupados.
- Eu sei que sabe.
- Também sei que o mais importante é a ajuda durante o ano e não apenas os mimos destes dias.

E voltámos a desejar Boas Festas.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Impossível não lembrar a infância


Quando eu era pequena, devido à grande religiosidade da minha mãe e, talvez, aos costumes da época, não fazíamos árvore de Natal em casa. Porém, nunca faltava o presépio que fazíamos sempre com musgo que íamos buscar ao "monte". O monte mais não era do que uma mata num terreno mais alto do que a nossa aldeia. Levávamos uma cestinha e, com as pequenas mãos, arrancávamos plaquinhas de musgo que grassava nas zonas mais frias e cobertas de árvores.
Fazer o presépio era uma tarefa do frio dezembro com as figurinhas que, de ano para ano, a minha mãe guardava numa caixa de sapatos; com a cabaninha onde colocávamos a estrelinha dourada de cartão; com os caminhos de saibro que alinhávamos sobre o musgo. Depois de concluído, começava o Natal.
O tempo não era largo em gastos nem em desperdícios. Depois da ceia de Natal, era a hora de pôr o sapatinho na chaminé para que o Menino Jesus lá deixasse o seu presentinho.
Era tanta a inocência que, uma vez, pareceu-me ver o Menino Jesus a depositar as prendinhas. E tinha caracóis, afirmava eu.
Devo ter sonhado porque o Natal também é sonho. Talvez por isso, agora, que simplifico o presépio e faço uma pequena árvore de Natal, é-me impossível não lembrar a infância.

Natal: o direito à escolha


Ontem à noite, ouvi uma atriz a dizer que não faz árvore de Natal. Nem enfeita a casa de forma especial. E a lamentar não poder ir  a lado nenhum à vontade porque é sempre uma multidão em frenesim.
Hoje, ouvi um cantor a louvar esta época pelo tempo mais relaxado em família, à volta dos prazeres da mesa e do alegre convívio.
Para mim, ambos têm razão.
Bom seria que todas as pessoas pudessem escolher.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

"Um Deus à nossa medida"

 
Lurdes Castro

 

Um Deus à nossa medida…
A fé sempre apetecida
De ver nascer um menino
Divino e habitual.
A transcendência à lareira
A receber da fogueira
Calor sobrenatural.


Miguel Torga, 1953

Uma história (numa coletânea) de Natal


A Árvore de Josué
"Todo aquele que possui a memória do amor
é com certeza um contador de histórias".
Agustina Bessa-Luís, O Manto

Desde muito pequeno que Josué gostava de desenhar. Em casa, não faltavam tintas, lápis de cor, desenhos presos com post it pelas paredes. Uns de cores garridas que se matizavam; outros, já com traços mais definidos, mostravam o gosto continuado e a evolução dos gestos. A todos, o menino atribuía significados: eram os pais, os irmãos, os avós, os primos, o rio, as árvores...
Na família, havia o gosto pelas artes, sobretudo pela pintura e também pelo colecionismo. Para além das ajudas familiares, desde muito cedo que as crianças participavam em oficinas nos museus da região, vendo surgir bonitos objetos das suas pequenas mãos e que eram motivo de orgulho para os pais e avós. Mantinha-se a tradição e cultivava-se a beleza. O amor pela natureza também se semeava porque muitos objetos eram produzidos a partir de folhas caídas das árvores, de pequenos galhos secos, de raminhos de plantas aromáticas...
O avô de Josué não era dotado para o desenho, mas entusiasta dos talentos familiares. Colecionar postais ilustrados antigos era o seu hobby. Dizia ser uma maneira de partilhar a arte que não sabia produzir.  Muitas noites e muitos fins de semana eram passados a organizar os postais que ocupavam várias prateleiras na sala. Enquanto os agrupava e os incluía no sítio certo, ia contando histórias vividas nos países e locais visitados para adquirir os seus postais, muitas vezes em feiras de antiguidades ou lojas da especialidade.
Nas suas histórias, em que revelava bom humor e otimismo, surgiam, por exemplo, neves da Suíça que, uma vez, no início de uma manhã luminosa mas fria, engoliram a chave do carro, enquanto o seu olhar e o da avó se distraíam, presos às belas e brancas paisagens das montanhas. Com cumplicidade amorosa,  decidiram não mexer os pés e procurar a chave, convictos de que a encontrariam se fossem persistentes e pacientes. E assim aconteceu. De repente, a ponta de um objeto metálico pareceu brilhar. 

         (...)

Embora o avô não fosse muito dado a abraços ou a beijos, o seu olhar era um espaço calmo de carinho e confiança que a todos envolvia e estimulava. Parecia olhar mais para o que cada um tinha de bom e assim a árvore familiar ia criando raízes mais sustentadas.
Uns tempos antes do Natal, o rapazinho começou a pensar no presente para o avô e logo lhe surgiu a ideia de um postal ilustrado antigo para a sua coleção. Apesar de ajudar o avô assiduamente, apenas conhecia uma parte do espólio. Era difícil, portanto, escolher um postal que lhe pudesse agradar e não fosse repetido. Para além disso, seria muito caro, com certeza, ou difícil de encontrar.

(...) 

Estes são excertos de um conto de Natal que escrevi e que foi publicado, este ano, na coletânea cuja capa também partilho.
Não conheço o Josué nem o avô, mas, confesso, gostava de os conhecer.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Em Londres, uma árvore com estrelinha


Em Trafalgar Square, em frente à National Gallery, ergue-se uma árvore de Natal, vinda da Noruega, como acontece anualmente, desde 1947, como agradecimento ao povo de Londres pela ajuda durante a Segunda Guerra Mundial.
A árvore não é muito grande, mas é enorme a sua simbologia.

Com tantas e boas práticas que há no mundo, por que persiste a violência, a corrupção, a mentira, a falta de compaixão...

Há bancos e bancos, assim como memórias

No belo parque de Waterlow, nos arredores de Londres, muitos
dos seus bancos têm inscrições que marcam boas memórias 
de bons momentos lá partilhados com alguém.
Neste, por exemplo, há o desejo de que a pessoa, que o utilizava,
 continue a apreciar a vista,
que se estende calma e larga.



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

O Natal também é reutilização e criatividade



Obrigada e parabéns, Cândida, pelo trabalho que fazes com tanto carinho. Feliz Natal!