sábado, 5 de janeiro de 2013

Le pain des autres

 
Rémi parle avec sa grand-mère.
Rémi aime bien l’écouter parler du temps où elle était une petite fille.
— Dans mon village, en Provence, pour la nouvelle année, le 1er janvier, tout le monde offrait toujours un cadeau à tout le monde. Devine un peu ce que cela pouvait être ?
Rémi cherche :
— Acheter des cadeaux pour tout un village… Il faut beaucoup d’argent. Les gens étaient donc riches ?
Mémé dit en riant :
— Mais non, en ce temps-là, nous avions bien peu d’argent et personne dans le village n’achetait de cadeaux. Il n’y avait même pas de magasins, comme aujourd’hui.
— Alors, vous les fabriquiez, les cadeaux ?
— Pas vraiment !
— Alors, comment faisiez-vous ?
— C’était très simple. Écoute…
Autrefois chaque famille faisait son pain. Il n’y avait pas d’eau courante dans les maisons. Alors on allait en chercher à la fontaine sur la place du village.
Et le 1er janvier tôt le matin, à peine la nuit finie, la première personne qui sortait de chez elle posait un pain frais sur le rebord de la fontaine, pendant que sa cruche se remplissait d’eau. Celle qui arrivait après prenait le pain et en déposait un autre à la place
pour la suivante et ainsi de suite… Comme cela, dans chaque maison, on mangeait un pain offert par quelqu’un d’autre. On ne savait pas toujours par qui, mais je t’assure que le pain nous semblait bien bon parce que c’était comme un cadeau de l’amitié. Les gens qui étaient fâchés pensaient qu’ils mangeaient peut-être le pain de leur ennemi et c’était un peu comme une réconciliation…
Durant quelques jours, cette histoire a trotté dans la tête de Rémi.
Un matin, Rémi eut une idée.
Il a glissé dans sa poche une tranche de pain de campagne. C’est le pain qu’on mange dans la maison de Rémi. Et à l’école, juste avant la récréation, Rémi a posé le pain, bien en vue sur le bureau de Philippe, son voisin. Philippe a toujours faim et il répète sans cesse à Rémi :
— Ah ! ce que j’ai faim, mon vieux, ce que j’ai faim ! Je mangerais bien un petit quelque chose !
Quand Philippe a vu la tranche de pain, quelle bonne surprise ! Il savait bien qui la lui avait donnée, mais il a fait semblant de rien savoir. À la récréation, tout content, il a mangé le pain sans rien dire à Rémi, mais…
…mais le lendemain, qu’a trouvé Rémi sur sa table, juste avant la récréation ?
…un morceau de baguette !
Un gros morceau bien croustillant ! Un vrai régal !
Philippe riait.
Et ils ont continué, comme ça, à se faire des cadeaux de pain.
En classe, Charlotte et Sylvie sont assises juste derrière Philippe et Rémi. Elles ont, bien sûr, très vite appris l’histoire du pain, et ont voulu participer aux surprises. Le lendemain, Sylvie a apporté un morceau de pain ficelle et Charlotte une tranche de pain de seigle. D’autres enfants ont voulu participer aux cadeaux de pain.
Il y a eu du gros pain, du pain bâtard, du pain au son, du pain de mie, du pain de ménage, du pain de gruau, du pain russe, noir et un peu aigre, que Vladimir a apporté, et des morceaux de galette que la maman d’Ahmed a cuite dans son four, et encore bien d’autres pains.
Ainsi, presque toute la classe, pendant la récréation, s’est mise à échanger des morceaux de pain.
La maîtresse a remarqué les échanges et a demandé :
— Mais, que faites-vous là ?
Charlotte et Rémi lui ont raconté toute l’histoire du pain des autres.
Et juste après la récréation, qu’y avait-il sur le bureau de la maîtresse ? …un morceau de pain !
Toute la classe regardait la maîtresse. Elle a souri puis elle a mangé le pain.
Et le dimanche suivant, quand Rémi a vu Mémé, c’est lui qui avait une histoire à lui raconter.
— Tu sais Mémé ? Et bien, dans ma classe… 

Michèle Lochak 
Le pain des autres 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Corações (também) de papel





Uma questão fora do tempo

Lembro-me bem dela. Era uma aluna estudiosa, responsável, mas não queria (por timidez?) ler os seus textos para a turma. Eu dizia-lhe: tenta ler, verás que és capaz. Com o tempo, foi modificando. Deixei de a ver desde o 12º ano.

Ontem, encontrei-a na rua. Trazia, nas mãos, sacos com compras do supermercado. O diálogo foi mais ou menos assim:

- Olá, professora!
- Olha a D., estás boa? Que estás a fazer?
- Estou na tropa.
- Na tropa? 
- Sou das melhores da minha especialidade.
- Parabéns. E estás a gostar? 
- Mesmo muito. Estou cá de férias e na próxima semana volto.
- Há alguns anos não te imaginaria de farda.

  (Mete a mão ao bolso, tira o telefone e mostra uma fotografia dela fardada. Sorri com um sorriso alto e bonito). 

- Um dia destes, eu e o M.vimos à escola para a professora nos ver fardados. O M. está no Kosovo. Também é um dos melhores do grupo.

(Ponho-lhe uma questão, se calhar, fora do tempo:)

- E os rapazes? Tratam-te bem?
- A mim? Claro, eu mando em mais de metade deles!

(Sim, a questão estava fora do tempo).


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Frutos de janeiro


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Propósitos para o Ano Novo

 Álvaro Marques
 
Hoje, logo de manhã, abri o computador. Vi que "O diário da Mariana" teve a preferência nos últimos dias. Deve ter sido sobretudo pelas visualizações do grupo de alunos que o seguem. Um beijinho, meninos, e prometo que a Mariana escreverá mais vezes pensando em vocês (O Silva lá estará e muitos mais, mais ou menos implícitos ou explícitos, porque, como sabem, em ficção, junta-se muito do que é real a uma parte que é imaginada).

Entrei também em dois blogues que sigo habitualmente: Carruagem 23 e Dona Redonda
Pois bem, do primeiro ficaram-me as músicas e o mar, belo começo para primeira manhã do ano 2013.
Do segundo,  retive uma lista de propósitos.

Sem querer copiar, mas como gostei muito das ideias, aqui vão também algumas das minhas intenções para o Novo Ano, embora a idade já me tenha ensinado que a vida nos traz muitas surpresas e muitos imprevistos.
- andar mais a pé;
- falar menos e ouvir mais;
- olhar mais para o presente e futuro e menos para o passado;
...

É melhor ficar por aqui, porque se forem muitos os compromissos, muitos ficam por cumprir.

E, com propósitos ou sem eles, façamos todos de propósito para que o Ano de 2013 Seja Mesmo Feliz para Todos. Bom Ano!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo!

Ela saiu de casa logo pela manhã, em véspera do Ano Novo. Chegou ao Porto ainda não eram nove horas. A cidade estava sonolenta, cinzenta, húmida, solitária. 
No café Guarani, viam-se, pela vidraça, as mesas já postas para o almoço, sobretudo de muitos turistas. Uma mulher jovem limpava o chão. Mais acima, um barbeiro ensaboava a cara do cliente.  O café Aviz foi a paragem para o pequeno almoço. Ela tinha lá estudado algumas vezes, há muitos anos. Pela janela, viu uma gaivota a pousar por momentos sobre um carro, uma mulher de saltos muito altos a passar pesando os passos, uma jovem à janela à procura de rede para o telemóvel...
Saiu, aconchegando-se com a gola do casaco que aquecia e sempre protegia da chuva miúda. Subiu em  direção à Praça dos Leões. Mais uns passos e entrou na igreja do Carmo. Recordou visitas de estudo ao Porto Barroco. Esta igreja era quase sempre referência. Lá dentro, umas dez pessoas rezavam - quase todas de cabelos brancos. 
Em frente à Universidade, passou por lojas antigas, que ela se habituou a ver desde que tinha consciência de ver. Entrou numa delas, pequenina, com peças de pano de múltiplas cores, novelos de linha...
Nesta loja, haveria chita de certeza. Sim, temos. Pode escolher. Deste lado é popeline mas faço o mesmo preço. Oh, sim, este artigo agora vende-se muito bem. Há muita gente desempregada que faz muitos trabalhos para vender.
Entra uma senhora muito idosa na loja. Parece presença habitual, mas o tempo parece pouco para conversas. D. Maria de Jesus, agora estou muito ocupado. Não, este jornal não é de hoje. Boas entradas, D. Maria de Jesus. Venha para a semana e eu já terei mais tempo para falar. 
Desce os Clérigos. Repara nas montras. Numa, com roupa de cama, pode ler-se num pequeno letreiro junto a uma mantinha: "Extremamente confortável".  Uma mulher varre o passeio em frente a uma loja e limpa o visor da caixa Multibanco (talvez só a tenha tocado com esta função). Aproxima-se um homem de cabelos brancos e compridos. Falam. Tem de ser. Lá por ser final do ano, tem de se trabalhar na mesma, ora e(i)ssa!
É quase meio-dia. E se fosse almoçar à Império? Os rissóis são "extremamente saborosos".
Senta-se a uma mesa. Vem a empregada. Olham-se e surpreendem-se. Já foi minha professora de Francês. Bem me parecia que a estava a conhecer. Então, está tudo bem? Há quanto tempo!
Ela, saindo, entra de novo nas ruas da cidade de que tanta gosta e que raramente percorre assim devagar. Lembra-se com tristeza  do que ouviu há dias: "às vezes, tenho saudades do Porto. Quem me dera poder ir lá outra vez". 
Chega a casa. Faz  rabanadas. E gostaria de a todos desejar: Feliz Ano Novo!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Diário de Mariana



30 de dezembro 2012

Oh, querido diário, nem sei como começar.  Um colega meu disse-me, com ar de gozo, antes de as aulas acabarem: ”és muito criativa!” Mandou-me esta boca, porque lhe respondi à letra. Eu acho que há pessoas que pensam que podem dizer tudo e os outros têm de medir muito bem as palavras. Isso é que era bom!

Gostava de te escrever de forma diferente, sei lá, descobrir uma cena gira, mas não consigo. Tem de ser assim, porque escrevo muita coisa que sinto, mas não posso dizer tudo. Fui educada a ouvir muitas vezes: Mariana, porta-te bem. Mariana, tem juízo. Mariana, vê lá o que dizes. Mariana, vê lá o que fazes…

Um dia que tenha filhos, acho que não vou estar sempre a dar tipo conselhos. Há tantas coisas diferentes para dizer!

O meu Natal também não foi muito diferente dos outros mas foi fixe. Somos muitos à mesa, falamos muito, rimo-nos, damos e recebemos prendas. Tenho umas primas pequenas que são o máximo. Gostam de cantar e de contar anedotas. São altamente e muito alegres. 
Acho que nos devíamos rir mais uns para os outros. Disse isto à minha mãe e ela disse logo: ó Mariana, deixa-te de risota e anda mas é ajudar-me. E, pronto, lá fui eu, porque assim podia continuar a dizer coisas engraçadas e a rir-me.

A minha mãe fez uns corações de cartolina e com bocadinhos de pano colados para pôr na mesa. A família reparou e ela ficou contente. Eu tinha visto a minha mãe fazer os corações e fiz dois também. Um para lhe dar, em tons de azul, e outro em vermelho para o Gi, mas só lhe mostrei a ele e não disse nada a mais ninguém. A gente não pode dizer tudo, não achas, querido diário?
Depois, lembrei-me que as minhas irmãs também gostavam e fiz um para cada uma e escrevi: “amo-te muito, maninha”.

Eu acho que se pode dar prendas quase sem gastar dinheiro. O Gi deu-me uma agenda que ele fez para eu escrever quando me apetecesse. Gostei tanto que até demos um beijo mais demorado. Mesmo assim, eu olhava para todos os lados, porque não gosto destas cenas quando há gente a passar.

Pronto, hoje não digo mais nada, mas sabes, querido diário, fico pensativa por estar a acabar o ano. Também é bom pensar no que começa e no que termina, porque a vida é mesmo assim. Será que um dia será diferente?

Um abracinho, querido diário.

Mariana


O último domingo do ano

Hoje é o último domingo do ano. Parece que vai chover. Passou o período de maior frenesim. Desejou-se Feliz Natal com mais largos ou curtos sorrisos. Deu-se e recebeu-se (bom seria que todos o tivessem podido fazer). Reviram-se e abraçaram-se familiares e amigos que são parte de nós. Muitos embrulhos se fizeram, com carinhosos ou obrigatórios laços. Muitas dessas embalagens já estarão em contentores com papéis e restos indistintos. Duraram pouco mas embelezaram o momento.
Agora, repetimos os desejos de Bom Ano Novo. Nos aeroportos e estações dos comboios são as despedidas depois das rápidas estadias.
Apesar de apreciar a rotina diária, que julgo motivadora, considero que estas fases da vida são necessárias. Implicam a reorganização também de nós próprios. Apesar da correria, há também paragens, momentos de reflexão e de um pouco mais de atenção ao que nos rodeia. 
Vejo nas notícias que há aviões cheios de turistas portugueses que vão passar o Ano Novo no Dubai. Logo vem a frase habitual: "apesar da crise..."
Hoje é o último domingo do ano de 2012. E parece que vai chover. Nas lojas dos Centros Comerciais continuará a haver muitas trocas de presentes. Os saldos em letras e números garrafais e garridos gritam e chamam. Uma oportunidade quando as oportunidades vão diminuindo. Muitas crianças farão birra porque ficam fartas do ruído e de ver montras de lojas onde muitos pais param mas não podem entrar.
O mar fará o seu movimento habitual, apesar de todas as suas diferenças. Casas haverá em que sobraram coisas que é preciso arrumar quando o tempo também sobrar; noutras, continuará a faltar tudo cada vez mais.
E muito mais acontecerá, porque pouco se pode prever. 
Hoje, último domingo do ano, como em qualquer outro dia, vêm à memória as palavras de  Sérgio Godinho: "Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida...".


sábado, 29 de dezembro de 2012

Ontem falámos de escadas rolantes

Em muitas escadas ou tapetes rolantes, é comum verem-se pessoas que barram a passagem, esquecendo que outros têm necessidade de se deslocarem mais depressa. 
Assim, veem-se barreiras com um par de namorados que se beija; pessoas a conversar animadas e distraídas; grupos que nem se movem sem reparar sequer em quem vem atrás...
Também já tive estes comportamentos algumas vezes. Julgo que só comecei a encostar-me à direita quando, viajando, vi que, noutros países, quase toda a gente tinha o hábito de o fazer e que era bom para todos que assim acontecesse. Deste modo, quem quer ir mais devagar pode fazê-lo; quem quer ou precisa de andar mais depressa tem o espaço livre.
Lembro-me de ver, numa manhã e numa belíssima estação de metro em Moscovo, as pessoas subirem as escadas à pressa, refilando com quem se mantinha à esquerda, impedindo a passagem.
As viagens ensinam muitas coisas, mas também aprendemos com o uso dos bens que, felizmente, estão acessíveis a todos e que existem em qualquer cidade.
Por que será que, muitas vezes, só nos lembramos do que nos apetece na hora, esquecendo a vontade e as necessidades dos outros?
Ontem falámos de escadas rolantes, mas, se calhar, é preciso falar mais vezes.