quinta-feira, 5 de abril de 2012
quarta-feira, 4 de abril de 2012
O Ovo
(Imagem retirada da net)
Nasruddin ganhava a vida a vender ovos.
Um belo dia passou alguém pela sua loja e disse: «Adivinhe o que trago na mão».
«Dê-me uma pista, pelo menos», disse Nasruddin.
«Pois
dou-lhe várias e até muitas», disse o outro. «Tem forma de ovo,
tamanho de ovo, aparência de ovo; tem cheiro de ovo, tem gosto de ovo
e, por dentro, é branco e amarelo. É líquido antes de cozido… E é a
galinha que o põe!»
«Ahaaa! Já sei!», exclamou Nasruddin: «É uma espécie de bolo!»
Quantas vezes também nós não entendemos o óbvio!
Falta-nos talvez a simplicidade e a atenção plena ao presente.
Anthony de Mello
O canto do pássaro
Lisboa, Ed. Paulinas, 1998
(Adaptação)
Texto enviado por:
http://contadoresdestorias.wordpress.com
Por falar em ovo…
Quando eu era pequena, a minha
mãe criava galinhas e coelhos. Quando não tinha ovos que chegassem, eu ou a minha
irmã íamos a duas casas de lavoura, na nossa aldeia, comprar os ovos.
Ensinaram-nos a dizer: ovos para botar. Aqui,
o sentido de botar era chocar e deles
saírem novos pintos.
De ambas as casas tenho
recordações.
As casas de lavoura tinham
habitualmente os currais, a que chamávamos aidos, por baixo e no piso de cima
ficava a parte da habitação.
Ora, quando chegávamos a uma das
casas, chamávamos pela dona – era uma senhora muito alta, muito magra que usava
sempre saias compridas e um avental – e ela vinha à janela. Nós dizíamos que
queríamos ovos. Ela desaparecia da janela e daí a nada tinha nas mãos uma
cestinha com os ovos que fazia descer, cuidadosamente, por uma corda fina. Nós, em
baixo, recolhíamos os ovos, colocávamos o dinheiro na cestinha que era de novo
içada.
Da outra casa recordo a
graciosidade da senhora que nos vendia os ovos, em contraste com a palha seca,
o estrume, as hortaliças cheias de terra, os bois a chegar, pesados e
tristonhos…
Dos ovos nasciam pintos que
cresciam e se reproduziam, através de novos ovos. Também davam uma bela canja,
arroz de frango, um bom assado a perfumar muitos domingos…
É curioso que deles no prato não
me lembro, mas dos ovos e da capoeira nunca esqueci.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Por que é que a EDP e PT se enganam sempre contra o consumidor?
Ontem, recebi uma fatura exorbitante de gás natural. Hoje, contactei os serviços, pedindo um esclarecimento. Do outro lado, dizem-me que houve um erro na estimativa, que a fatura vai ser cancelada e substituída por outra. Pergunto quando irei receber nova fatura. Repetem-me num tom "soberano" que só sabem que a fatura vai ser cancelada. Interpelo a assistente se o erro foi meu e o porquê do tom. Reduz o volume de voz. Diz-me para aguardar. Aguardo. De vez em quando interrompe a música para me agradecer a espera. Após uns minutos, diz-me que poderei consultar os dados pretendidos no site da EDP. Digo-lhe: este tempo todo para me dizer que posso consultar o site? Desejo-lhe bom trabalho e um bom dia.
Lado mau da situação: apesar de muitos avanços, o consumidor ainda é o elo mais fraco.
Lado bom da situação: A conta que quase me assustara vai ser cancelada.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
O lobo, a raposa, a cegonha...
Imagem retirada da net
Quando eu era pequena, o meu pai
comprava-nos livros de histórias na feira do Livro do Porto. Para mim e para os meus irmãos. Chegava a casa, contente, com vários livrinhos pequenos
com capas coloridas e folhas com desenhos também de muitas cores.
Quase todas as histórias metiam
lobos, raposas e cegonhas. Pelo menos foram os animais que me ficaram na
memória. O lobo era feroz; a raposa, matreira e a cegonha vingativa.
Convidavam-na para almoçar e apresentavam-lhe a comida num prato raso. O bico bem se abria
mas não apanhava nada. Saía de casa dos amigos (se os amigos eram assim, como
seriam os inimigos?), cheia de fome e desencanto. Não tardava muito a convidar a raposa, apresentando a comida em altas jarras...
Quando vejo livrinhos
semelhantes, olho logo a ver se encontro o lobo, a raposa e a cegonha da minha
infância.
E, por instantes, dura a ilusão.
domingo, 1 de abril de 2012
Diário de Mariana
Querido diário, ontem fui ao casamento do meu primo.
A minha mãe e as minhas irmãs
cismaram que eu tinha de ir com sapatos altos e meias
fininhas. Elas não devem estar boas da
cabeça. O que vale é que a minha irmã do meio disse assim: Mariana, acho que deves ir
como te sentires melhor e se te tens sapatos de que gostas, por que se há de
gastar dinheiro a comprar outros?!
Só que a minha mãe e a minha irmã
mais velha acham que se a gente gosta da pessoa que nos convida para o
casamento, devemos comprar tudo novo. Eu refilo mas nem me ouvem. Que nervos.
Mas o casamento foi altamente.
Até me esqueci que tinha os pés a arder (acabei por comprar sapatos novos mas
recusei-me a andar de tacão porque depois ainda se riam de mim. ‘Tou mesmo a
ver: olha a Mariana de sapatos altos. Coitadinha, nem parece ela! Como ela cresceu!)
Foi mesmo fixe o casamento. Os meus primos estavam muito contentes e toda a gente lhes dava
os parabéns.
Quanto a mim, nem sei se me caso
porque deve dar cá uma trabalheira. Na mesa onde fiquei, disseram assim: está
tudo muito bonito e muito bem organizado.
Como é que eu me posso casar se
em casa ‘tou sempre a ouvir que sou desarrumada e deixo as coisas para a
última?! Ainda chegava ao dia do casamento, eu a correr de um lado para o outro e a não saber onde estava o vestido. Devia ser lindo.
Para além disso, toda a gente diz que eu sou simpática mas não poder refilar com ninguém
durante todo o tempo deve ser um stress. Coitado, se calhar era o noivo (será que quando chegar a essa altura ainda ando com o Gi?) que
pagava as favas e também não concordo que se faça isso, porque acho altamente
quando as pessoas estão contentes por estarem juntas, riem-se, olham-se, dizem coisas meiguinhas. É mesmo fofinho quando é assim..
As cerimónias na Igreja não foram paradas e curti a música. Cerimónias sem música são um bocado seca. Quando
chegou a noiva, toda a gente se virou para ela porque a noiva é sempre a rainha
da festa. Como o meu primo era o noivo e eu gosto muito dele, eu olhava para os dois. Ele ‘tava
altamente: gravatinha, coletinho, fatinho… Também achei altamente o vestido da noiva. Não sei é como ela podia arrastar aquele véu tão direitinho. Se fosse eu, já sei que o deixava prender em qualquer lado e ainda o rasgava.
Depois das alianças, das promessas, dos beijinhos, fomos almoçar. Eles
estavam à porta a receber os convidados. Coitados, tiveram de dar e receber tantos
beijinhos e abraços! Depois da entrada, vieram as entradinhas. Nestes casos, do que mais gosto é de petiscar.
Na minha mesa, ficaram várias primas mais novas do que eu que eu mal conhecia De princípio, falávamos pouco, mas depois parecíamos todas da mesma idade. Passeámos pela
quinta (só de pensar que me queriam impor a seca de sapatos fininhos!).
Como a família é muito grande, nem sempre a gente se encontra. A
minha mãe até diz que só se veem nos funerais. Livra!
Fiquei a saber que uma das minhas
primas gosta muito de ler, outra curte fazer bolos, outra gosta de dançar; as
mais pequenas têm um cão pastor alemão… As que são mais novas do que eu três anos perguntaram-me se eu tinha facebook e ficaram admiradinhas por eu não ter.
Foi altamente ver toda a gente a
falar e bem disposta.
Apesar de eu achar que não, se
calhar até me quero casar. Mas não sei quando. Se calhar lá para o tempo em
que estiver habituada a andar de sapatos altos. O pior é se nunca me habituo!
Muitos abracinhos, querido diário
Mariana
Comentário: Grande final! Ou melhor ainda: ALTAMENTE!
Gostei muito do casamento, visto pelos olhos da Mariana!
bjinhos
IA
Comentário: Grande final! Ou melhor ainda: ALTAMENTE!
Gostei muito do casamento, visto pelos olhos da Mariana!
bjinhos
IA
As palavras podem ser manchas de sol
Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha
amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o
próprio sol.
Pablo Picasso
Obrigada, Za, pela mensagem sobre os livros.
Mary Cassatt
Van Gogh
Picasso
Em dia de casamento (31 de março 2012)
Umas palavrinhas,
Para ti, meu sobrinho T,
Porque é especial este dia.
Para além da tua elegância,
Mantens sempre com constância
A tua genuína simpatia.
Sempre disposto a ajudar,
Em caso simples ou complicado,
Com agilidade, paciência e saber
Graças à tua ajuda passamos a ter
Internet para ligar, eletricidade
para poder ver
Ficando o problema solucionado.
Gostas da natureza e do ar livre;
De vida simples
Sem luxo e sem vaidade.
O teu meigo sorriso
Sempre se abriu à família
Com terna serenidade.
Que o futuro conserve a bela música,
Como a de ambiente que existe em
vossa casa
Que juntos foram decorando,
De forma pensada e organizada
E o caminho fez-se caminhando.
O teu trabalho quotidiano
Anda à volta de aparelhos
Que a eletrónica detém;
Assim, ousando construir,
Ajudas a ciência a evoluir
Para o mundo ir mais além.
Vocês, T, e D,
Fazem juntos um belo par.
Parabéns e felicidades
E que este dia do vosso casamento
Seja um feliz advento
De muitas primaveras floridas
Para que continuem a alegrar
E amorosamente celebrar
As vossas vidas unidas.
Um xi-coração
|
sexta-feira, 30 de março de 2012
Eles também não acreditam
Ontem, encontrei duas alunas que
frequentam o 12º ano. Na breve conversa, veio à baila o papel dos políticos e
como são diferentes antes e depois de assumirem o poder. Muitos passam a
mentir, mudam de ideias, esquecem os ideais que defendiam, justificam atos que
consideravam reprováveis… Não sei se será por isso que alguns tiram os óculos e
passam a usar lentes de contacto!
E disseram elas: eu já não
acredito nos políticos.
E disse-lhes eu: é pena que também muitos de vocês, jovens, cheguem a esta conclusão.
E o pior é que em todas as idades se reconhece
que a culpa não é só de quem os antecedeu.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Sopa de peixe e leite-creme
Fiz sopa de peixe (obrigada, A., por tê-la saboreado em tua casa e teres-me dado a receita). Estava muito boa - disseram. Fiquei contente.
No leite-creme queimado, o açúcar formou uma mancha arredondada. E eles disseram (ou eu imaginei): que pinta!
Não sei se conseguirei
Não sei se conseguirei, mas vou tentar ler estes dois livros até à Páscoa. Se o conseguir, ficarei a saber um pouco mais e sentirei alegria ao dialogar com os meus alunos que estão a participar no CNL (Concurso Nacional de Leitura).
As capas prometem, os nomes dos autores também, os títulos nem se fala... o que é preciso agora é entrar nos livros e começar a viagem.
Acho que vou começar "nos passos de Magalhães".
Tardes + livres
São belas as tardes mais livres. Sem cumprimento de tantos horários. Apetece repetir o verso de Pessoa: "Ai que prazer ter um livro para ler e não o fazer..."
Eu, que sou mais comum e mais mortal, direi: Ai que prazer ter um livro para ler e podê-lo fazer...
Fui ao quintal e reparei que as pétalas das margaridas parecem maiores e mais aveludadas com a luz do sol, que as tangerinas só existem nos ramos mais altos da tangerineira, que a salsa cresceu muito porque está a espigar, que as ervilhas têm ervilhas, apesar de os pássaros gostarem de comer as flores das ervilhas...
Que a terra ao sol tem reflexos da infância, quando corríamos pelos campos e as preocupações eram chegar a casa antes de o sol se pôr.
As tardes (mais) livres sabem bem porque habitualmente as tardes não são livres. Se todas as tardes fossem livres, agora não dava valor às tardes livres.
A janela está aberta ao sol. Abri-a porque assim a tarde parece-me mais livre.
quarta-feira, 28 de março de 2012
O Porto Aqui Tão Perto - Sérgio Godinho
Vá comboio, meu comboio
carrega na velocidade
pára só quando chegarmos
à cidade
Olá cidade do Porto
a lágrima ao canto do olho
estava fechada há que tempos
com um ferrolho
Custou tanto cá chegar
mil e uma peripécias
quando menos se espera
o diabo tece-as
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o porto
aqui tão perto
Mal chegado, vislumbrei
dois amigos do alheio
vasculhando a minha caixa
do correio
Ah, tratantes, apanhei-vos
com a boca na botija
com certeza não esperam
que eu transija
Não é nada do que pensas
Viemos trazer-te um recado
Que nos foi entregue
Por um embuçado
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Dizia assim o recado
no Palácio há variedades
se lá fores, verás que vais
matar saudades
Eu, matar, não gosto muito
mas saudades, é diferente
é como matar pulgas
alivia a gente
Cheguei lá e deparei
com uma mulher embuçada
intimei-a: Pára lá
com essa tourada
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Desembuça-mos, vá lá
e já agora, desembucha
com esse capuz, mais pareces
uma bruxa
Diz-me o que fazes aqui
canto ali com as atrações
no conjunto do "Godinho
e os seus Godões"
Já te topo, há quanto tempo
te não punha a vista em cima
diz-me lá
se és ou não és
a Etelvina
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Sou a Etelvina, sim senhor
não me digas, Etelvina
que andas assim por andares
clandestina
Clandestina? Não estás bom
Eu fugida? Nem se pense
Este fato é só p´ra aumentar
o suspense
Sou cantora no conjunto
e aparecemos embuçados
e ficam os espectadores
arrepiados
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Mas na vida é bem diferente
ando de cara descoberta
com a cabeça e os sentidos
bem alerta
Já vi tantas injustiças
falo de dentro de mim
e o que me sai cá de dentro
sai-me assim:
Faço música p´ró povo
e tu, povo, retribois
e tu me inspiras sustenidos
e bemois
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
E eu também faço o mesmo
com o que o povo me dá
gratuito o dó-ré-mi
e mais o lá
Lá fiquei a noite toda
numa de improvisação
a regenerar o corpo
e o coração
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
carrega na velocidade
pára só quando chegarmos
à cidade
Olá cidade do Porto
a lágrima ao canto do olho
estava fechada há que tempos
com um ferrolho
Custou tanto cá chegar
mil e uma peripécias
quando menos se espera
o diabo tece-as
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o porto
aqui tão perto
Mal chegado, vislumbrei
dois amigos do alheio
vasculhando a minha caixa
do correio
Ah, tratantes, apanhei-vos
com a boca na botija
com certeza não esperam
que eu transija
Não é nada do que pensas
Viemos trazer-te um recado
Que nos foi entregue
Por um embuçado
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Dizia assim o recado
no Palácio há variedades
se lá fores, verás que vais
matar saudades
Eu, matar, não gosto muito
mas saudades, é diferente
é como matar pulgas
alivia a gente
Cheguei lá e deparei
com uma mulher embuçada
intimei-a: Pára lá
com essa tourada
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Desembuça-mos, vá lá
e já agora, desembucha
com esse capuz, mais pareces
uma bruxa
Diz-me o que fazes aqui
canto ali com as atrações
no conjunto do "Godinho
e os seus Godões"
Já te topo, há quanto tempo
te não punha a vista em cima
diz-me lá
se és ou não és
a Etelvina
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Sou a Etelvina, sim senhor
não me digas, Etelvina
que andas assim por andares
clandestina
Clandestina? Não estás bom
Eu fugida? Nem se pense
Este fato é só p´ra aumentar
o suspense
Sou cantora no conjunto
e aparecemos embuçados
e ficam os espectadores
arrepiados
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
Mas na vida é bem diferente
ando de cara descoberta
com a cabeça e os sentidos
bem alerta
Já vi tantas injustiças
falo de dentro de mim
e o que me sai cá de dentro
sai-me assim:
Faço música p´ró povo
e tu, povo, retribois
e tu me inspiras sustenidos
e bemois
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
E eu também faço o mesmo
com o que o povo me dá
gratuito o dó-ré-mi
e mais o lá
Lá fiquei a noite toda
numa de improvisação
a regenerar o corpo
e o coração
Ai, eu estive quase morto
no deserto
e o Porto
aqui tão perto
"E o Porto aqui tão perto!"
Há sítios no Porto onde apetece entrar e ficar algum tempo. Se estiver sol, tudo parece mais azul; se houver névoa, a profundidade adensa-se.
De preferência fazê-lo com vagar para descansar ou observar. Ou com um caderninho para tomar notas. Ou com um computador para avançar um pouco mais no trabalho.
Um desses lugares é o Café Vitória, em frente às galerias Lumière. Local sossegado, não muito grande, mobiliário antigo e confortável, um pequeno jardim onde cadeiras e mesas se enquadram, pessoas que dialogam sem demasiado alarido ou que se concentram no écrã do monitor...
Alguém disse que parecia um cafezinho de Londres.
Também se comentou que em Londres deveria haver cafezinhos assim!...
No pátio exterior, sente-se bastante o cheiro a tabaco,
Se calhar, porque o nome é Vitória e não Perfeição!
terça-feira, 27 de março de 2012
A viagem mais longa que fiz foi a Macau
Já foi há alguns anos. Lembro-me bem da travessia de Hong-Kong para Macau. Nós, um grupo de portugueses com laços de amizade e de profissão, quase dormimos, porque o cansaço da viagem era muito. Muito distante de Portugal, a terra surgia estranha, como estranho era ver placas também escritas em português.
Porém, a língua portuguesa parecia estranhíssima nas lojas, nas ruas, nos restaurantes...
A não ser na Livraria portuguesa, num restaurante com comida que tinha sabores de qualquer região do nosso país, numa loja de uma macaense que aprendera a falar português com os clientes a quem vendia sobretudo carteiras e bordados...
Na minha memória também está a praça em calçada portuguesa, o mercado central, os monumentos do tempo dos Descobrimentos, as varandas com vidros e grades, as lojas de gaiolas de pássaros, o casino Lisboa (percorremos as salas de jogo como uma criança visita um parque de diversões pela primeira vez. Não esqueço o rosto de uma mulher já idosa a perder muito dinheiro na roleta).
Ficou-me igualmente a diversidade de pessoas, com ar natural e tranquilo, nos jardins públicos, a fazer a sua ginástica matinal. Indiferentes aos olhares, alongavam braços e pernas como uma coisa boa e necessária. Também vi grupos de meninos, com farda escolar, a dirigirem-se para as escolas. E senti o cheiro do incenso nos locais de meditação.
Dificilmente lá voltarei, mas muitas imagens ficaram. Apesar de a viagem ter sido turística e não de viajante que observa, com tempo, captando diferentes atmosferas dos locais por onde passa.
Comentário: Um dia também gostava de ir a Macau (e gostei muito deste texto por me levar a imaginar como será). em A viagem mais longa que fiz foi a Macau
segunda-feira, 26 de março de 2012
Lisboa (também de Tabucchi?)
Lisboa
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
À força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
domingo, 25 de março de 2012
As palavras não morrem tão facilmente
Morreu Antonio Tabucchi
Vou reler A mulher de
Porto Pim, livro que a minha irmã me trouxe há muitos anos dos Açores. E Afirma Pereira. Que já devia ter sido
lido porque há muito se ergue na estante.
Aos 68 anos, o escritor poderia ainda alargar a sua obra. Mas
por que é que as pessoas parecem fazer mais falta quando já não podem recontar
as suas histórias?
Dizem as notícias que um dia este italiano se apaixonou por
Portugal e optou por ficar cá o resto da vida. Continuaria o estudo e a paixão
pela obra de Fernando Pessoa. E sobre muito mais escreveria.
A luz de Lisboa também o teria seduzido. Ou seriam os olhares que ajudaria a acender?
sábado, 24 de março de 2012
Tomando notas
Na mesa, muitos papéis. Quero arrumá-los. Se o conseguir, sentirei a cabeça também mais organizada. E partirei para as outras coisas com mais discernimento.
Tenho a televisão ligada, o que habitualmente não acontece quando quero concentrar-me. Na RTP 2, passa um programa de Laurinda Alves. Chama-me a atenção. Já tinha visto um outro, por acaso, numa noite mal dormida.
Em comum, vi pessoas ligadas a atividades criativas (arquitetura, fotografia, dança) falando, com pacífica alegria, de momentos de comunhão com a natureza, sem descurar a atividade profissional.
No programa de hoje, um fotógrafo dizia que andava sempre com a máquina fotográfica, como um escritor traz um bloco, como quem desenha se faz acompanhar de um caderno... Em qualquer momento, pode surgir uma situação inspiradora.
Senti imperiosa a vontade de arranjar tempo para percorrer mais caminhos que a natureza nos dá, ou que a mão do homem também nos proporciona.
Se o conseguir, será como arrumar uma mesa, vendo tudo mais claro e arejado. Sem andar sempre aos papéis.
Como Natal é quando o homem quiser, o livro está pronto!
O livro No caminho do Natal está pronto. E bonito.
Relemos os textos muitas vezes para não haver gralhas (mesmo assim, aparecem sempre algumas, Deus meu!)
Foi necessário motivar para a escrita - o que nem sempre é fácil. Teve de se apelar para o interesse em escrever histórias, partindo de coisas simples que se podem passar à nossa volta.
Arranjou-se tempo para a escrita, para a leitura, para a correção linguística. Elogiou-se, pediu-se para substituir, para acrescentar, para concluir... Sugeriu-se observação, atenção...
E agora aqui está o produto de bastante trabalho em conjunto.
Os olhos dos alunos, ao ver o seu conto impresso, brilham expressivamente. E fico com a impressão que o trabalho valeu a pena. Ou melhor, confirmação.
Texto introdutório:
Contos de Natal
No
ano letivo de 2011/2012, a Oficina de Língua da ESG promoveu um Concurso de
Contos de Natal, com a colaboração do Departamento de Línguas, do Centro de
Recursos e do Ateliê de Artes Visuais, no qual puderam participar todos os
alunos, professores, funcionários e encarregados de educação.
Os
concorrentes foram distribuídos em diferentes escalões: 1º (7º e 8º anos); 2º (9º
e 10º anos); 3º (11º e 12º anos); 4º (outros elementos da Comunidade Educativa).
Para
a apreciação dos trabalhos concorrentes, foi nomeado um júri constituído pelos
professores:
-
João Carlos Brito, coordenador do Centro de Recursos;
-
Luísa Matos, coordenadora do Departamento de Línguas;
-
Florentina Gonçalves, coordenadora do Ateliê de Artes Visuais e também autora
da capa deste livro.
A
adesão ao projeto revelou grande entusiasmo e foi elevada a participação. Foram escritas umas
sessenta histórias, cujas personagens principais teriam de ser um sem-abrigo e
um jovem, sendo o espaço de ação uma cidade.
Esta coletânea
integra os contos vencedores e outros também apreciados pelo júri. É com muito
gosto que os partilhamos, visto que “Natal é quando o homem quiser” e a
leitura, a escrita e os valores humanos podem ser partilhados em todos os
momentos.
Todos os
autores, para contarem as suas histórias, terão olhado à sua volta, recorrido a
vivências e memórias, recordado outras narrativas, abrindo novos caminhos.
Parabéns aos
vencedores e a todos os participantes. Boas leituras e boas escritas!
A Oficina de
Língua,
Dolores Garrido
Glória Poças
Subscrever:
Mensagens (Atom)