sábado, 24 de março de 2012
sexta-feira, 23 de março de 2012
Retiro lexical
Gosto do sabor de
certas palavras...
Silêncio sabe-me tão bem!
E há tanta paz na palavra
Silêncio!...
Tudo vive na palavra
Silêncio...
porque
todas as palavras dormem
na palavra
Silêncio!
IA (Isaura Afonseca)
Soube-me tão bem este Silêncio que não resisti a partilhá-lo!
quinta-feira, 22 de março de 2012
Isto não é poesia
A poesia existe em
coisas simples e quotidianas
Podem ser
espirituais ou mundanas
Mas será possível
encontrar poesia
Seja à noite ou
durante o dia
Na correção de
testes em folhas dobradas
Que às vezes ficam
amontoadas?
E dou comigo a
dizer às vezes
São iguais as
semanas e meses
E pergunto-me de
novo
Sem querer de
Colombo o ovo
É possível poesia
encontrar
Nesta correção que
quero acabar?
E começo de novo a
dizer
Claro que é
possível
Mas é difícil
fazer crer
Posso encontrá-la
Ou pelo menos
vislumbrá-la
Numa frase curta
de uma composição
Numa resposta de
interpretação
Numa criativa
conclusão
Mas o que acho
poético
Embora pareça
patético
É chegar a um breve momento
De bastante contentamento
Da correção
concluir
Meter os testes na
pasta
E exclamar nem que
seja só para mim
Corrigir testes
não é ruim
Mas felizmente por agora
basta
E tanto erro será pra
me redimir?
terça-feira, 20 de março de 2012
Atenção, isto não é poesia. Apenas uma referência ao Dia do Pai
No Dia do Pai
Dei um decantador de vinho
Ao meu pai
A embalagem era de papel colorido
Com um laço bem garrido
Pegou no embrulho vistoso
Mas não abriu logo
Acho que gostou das cores
E de me ver a sorrir
Eu disse-lhe que o decantador era
para usar
Por que é que as coisas mais bonitas
Têm de estar sempre guardadas
Como se pudéssemos
Guardar o tempo?
domingo, 18 de março de 2012
Verduras e flores após a (pouca) chuva
Comentário (ainda não arranjei tempo para consertar o sistema de publicação e leitura de comentários):
A
Primavera, que não é nada vera este ano, chegou e as flores que nos
enchem a alma de cor e de odores não faltaram como é habitual. Eu também
gosto de contemplar as flores nos jardins, nos quintais,nos vasos,
enfim, onde elas estiverem eu perco-me a contemplá-las. A propósito
desta foto, lembro-me de uma tarde de Primavera em que me ofereceram um
ramo de fresias. Até aquele momento eu não conhecia estas belas flores. A
partir de então planto fresias, coloco-as em jarras e aprecio o seu
perfume. Para mim, representam os odores da estação do ano mais
colorida,alegre e perfumada. E lembro-me daquele ramo de fresias e de
quem mas ofereceu...
CS em Verduras e flores após a (pouca) chuva
sábado, 17 de março de 2012
ANIVERSÁRIO
champanhe a olhar o nada.
Entre crianças e adultos sérios
Tive trinta em casa.
Será comovedor os quatro anos
e a festa colorida
as velas mal sopradas entre um rissol
no chão e os parabéns:
quatro anos de vida.
Serão comovedores os sumos de
laranja concentrados (proporções
por defeito) e os gostos tão
diversos, o bolo de ananás,
os pés inchados.
Será soberbamente comovente
toda a gente cantando,
o mau comportamento dos adultos
conversas-gelatinas e os anos
só pretexto.
Mas eu gostei. E contra mim gostei
mesmo no resto:
este prazer pequeno do silêncio
um sapato apertando descalçado
guardanapo e rissol por arrumar
no chão e um copo
olhando o nada
em restos de champanhe
Ana Luísa Amaral
Querido diário,
Hoje, é o aniversário da minha irmã mais velha
e quero dar-lhe os
parabéns.
Eu acho
engraçada a prenda que vou dar à minha irmã: hoje vou ter sempre tempo para
ela. Como estamos em crise, até nem custa muito. Vou ajudá-la naquilo que eu puder, porque cá em casa estamos sempre a dizer:
eu hoje não posso, tenho muito que fazer, tenho de acabar este trabalho,
não me dá jeito nenhum sair…
Isto cá pra nós,
mas eu tenho mais tempo livre. Como sou a mais nova, tenho de ter algum
proveito. Ora essa. Mas hoje, vou mesmo estar ao lado da minha maninha. Até me
levantei mais cedo e tudo. Ela até vai ficar admirada quando me vir a pé e bem
acordada. A minha mãe também já disse assim: já te levantaste, Mariana?
Madrugaste! Estou banzada!
Como eu já
tenho dito, a família compara-me às minhas irmãs. Que mania! Eu já sei que sou mais
distraída, mais preguiçosa, mais refilona… Enfim! O que vale é que são todos fixes.
Pois, mas
voltando aos anos da minha irmã mais velha, eu às vezes até fico a olhar pra ela. Nunca está despenteada, não tem nenhuma gordurinha a mais, nunca se
esquece de pôr perfume nem blush… E sai sempre a horas de casa para o trabalho.
Ela é mesmo qualquer coisa, como a
minha mãe diz quando quer dizer que é altamente.
Esta semana,
andei à procura de uns papéis (ao contrário das minhas irmãs, eu ando sempre à
procura de qualquer coisa que não sei onde está) e vi uma fotografia dela. Era
da primária. Lá estava ela muito concentrada, muito responsável, a fazer um desenho.
E o que eu também achei muito fixe foram os anéis que ela usava nos dedos
pequeninos.
A minha prenda é estar disponível para a minha
irmã, mas acho que lhe vou dar um raminho de flores. Ela gosta muito. Ela é das primeiras a
chegar a casa e a dizer: já viram as magnólias? Já ouvi tantas vezes isto
que conheço bem essas árvores que por acaso agora estão floridas. E também
curto mesmo.
Como eu já
tenho dito, eu gosto muito de escrever, mas fazer poemas já nem tanto. Mesmo assim, fiz estes versos. Não são poesia, mas um miminho para a minha irmã mais
velha que adoro e a quem quero dar os parabéns.
Hoje fazes anos,
maninha do meu coração
quero dar-te muitos beijinhos
e um grande xi-coração
Contigo quero aprender
A ser como tu afreimada
E também muito bonita
E sempre muito bem arranjada
E se eu não conseguir
Como estou mesmo a ver
Sei que posso contar contigo
E muita felicidade ter
Parabéns, minha maninha
Maninha do meu coração
Recebe da tua irmã mais nova
Um muito apertadinho
E também muito fofinho
Xi-coração
Mariana
PS - Esta semana, fui a uma visita de estudo e o Gi abraçou-me e deu-me um beijo. Foi altamente. Eu um dia conto. Ou sei lá se conto. A gente também não pode contar tudo. Hoje quero é estar com a minha irmã que faz anos.
quinta-feira, 15 de março de 2012
Não querem ficar bem na fotografia?
Há pequenas situações quotidianas
que revelam bem, a meu ver, diferentes posturas
dos jovens na sua maneira de
encarar o mundo:
- achar que tudo compete aos
outros e que tudo podem fazer e dizer;
- contribuir com as suas atitudes
para o bem estar pessoal e do grupo.
Vejo e oiço, por
exemplo, nas aulas, alunos que se assoam ruidosamente enquanto outros estão a
ler em voz alta; batem com a caneta na mesa durante a explicação do professor; estalam
a garrafa de plástico vazia no tempo em que alguém fala; bocejam sem controle; mexem em objetos desconcentrando
os mais próximos; conversam quando seria necessário silêncio…
Durante uma
representação teatral, falam em voz alta como se estivessem no intervalo; fazem
comentários quando as luzes se apagam; ligam os telemóveis sem ligar às
recomendações…
E são muitas vezes os que mais ruídos emitem,
os que mais transgridem que mais se queixam, que mais descontentes se mostram,
que mais críticas fazem, que mais confusão instalam, que mais pedras atiram e
logo escondem a mão...
Um guia dá
informações sobre um espaço, onde dificilmente o grupo voltará, e alguns
elementos aproveitam para se sentar e conversar, em voz alta, sobre coisas que
nada têm a ver.
Será um
problema genético ou o resultado de muitas práticas educativas de desresponsabilização?
Em época de
poupança, muitos dos nossos jovens desperdiçam recursos que outros lhes preparam para o seu sucesso. Muitos nem o reconhecem tão surdos que estão por todos os ruídos ouvidos e produzidos.
Felizmente a
maioria dos jovens mostra a maravilha que é um ser humano a usufruir, com
alegria, beleza e naturalidade, do mundo que nos rodeia. Outros ainda não tiveram ou
não aprenderam a aproveitar essa oportunidade.
Mais vale não
deixar para amanhã. Pode ser demasiado tarde.
Não querem ficar bem na fotografia?
quarta-feira, 14 de março de 2012
Uma foto para o facebook
Os Maias
Hoje o dia foi passado em Sintra em
visita de estudo. Professores e alunos. Começámos na Quinta da Regaleira – obra
de arquitetura esplendorosa do século XX.
A vegetação abundante, os recantos
convidativos, as fontes românticas, as estátuas tranquilas, o poço iniciático…
eram cenários de novos conhecimentos e de fotos e mais fotos pelos alunos. Fotografavam-se uns aos outros
com pose ou naturalmente. A esta hora, já devem encher muitos olhos que entram
no facebook. Sinal dos tempos.
A guia tinha até de esperar pelos fotógrafos que se encantavam com as
fotos como Narciso ao olhar a sua imagem no espelho das águas.
À tarde, fomos ao Teatro Olga Cadaval
assistir à peça Os Maias. Uma boa oportunidade para todos lerem melhor o romance de Eça de Queirós, para
entenderem diferentes linguagens a partir de uma obra-prima da Literatura universal que apresenta, analisa e critica muitos factos da vida de Portugal do século XIX , imbuído do espírito do Romantismo. Não é por acaso que o subtítulo do romance é "Episódios da vida romântica" (Carlos e Ega chegam a esta conclusão: "Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..." Os Maias, cap. XVIII).
Ocasião também para aprender a ver uma peça de teatro, respeitando atores, espectadores; tirando partido dos bons recursos disponíveis de forma educada e inteligente; mostrando que estar bem em sociedade é aprender a saber estar em qualquer sítio.
Alguns meninos estão bem longe de o demonstrar. Muitos, felizmente, já revelam que podem ir e estar em todos os lugares, com luz acesa ou apagada, num grupo grande ou pequeno, porque sabem, responsavelmente, que os ambientes são criados por todos mas por cada um em particular.
Ocasião também para aprender a ver uma peça de teatro, respeitando atores, espectadores; tirando partido dos bons recursos disponíveis de forma educada e inteligente; mostrando que estar bem em sociedade é aprender a saber estar em qualquer sítio.
Alguns meninos estão bem longe de o demonstrar. Muitos, felizmente, já revelam que podem ir e estar em todos os lugares, com luz acesa ou apagada, num grupo grande ou pequeno, porque sabem, responsavelmente, que os ambientes são criados por todos mas por cada um em particular.
Ah, e não esquecemos as queijadas!
Um dia em Sintra
Imagens da Quinta da Regaleira
Imagens do interior do Palácio da Regaleira
(Romântico - recuperação do estilo manuelino)
Subindo ao Céu que é Sintra
terça-feira, 13 de março de 2012
Viagem
É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...
Miguel Torga, in 'Diário XII'
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...
Miguel Torga, in 'Diário XII'
domingo, 11 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
Confissões
Há muitos anos, eu trabalhava a uns trinta quilómetros de casa. Entre colegas, combinámos levar o carro à vez. Para além da poupança na gasolina, as viagens eram mais animadas. Falávamos das peripécias do dia, das notícias, da família, dos trabalhos que íamos executando...
No regresso, falávamos muitas vezes de receitas de cozinha: de pratos que sabíamos fazer, de que gostávamos, etc.
Este tema era quase sempre no regresso porque devia ser quando estávamos mais libertos e também com alguma fome.
Mas os temas podiam ser bem diferentes. Às vezes, falávamos sobre religião, porque alguém defendia as vantagens da confissão dentro dos preceitos da religião católica, isto é, a um padre. E as razões apresentadas eram sobretudo o facto de se evitar perder tempo e gastar dinheiro num psiquiatra. E entre sorrisos, havia insistência: então, não acham que é melhor? E é de graça! E não tem de se marcar consulta!
Quando passo nessa estrada, ladeada de árvores de mimosas bem amarelas no final do inverno, lembro-me dessas nossas conversas. Entre vozes e gargalhadas, também partilhávamos as nossas confissões.
Comentário:
E também, do bacalhau com natas da Marília... Era cá uma fome, que até o José António dizia que ia sair dali feito num oito. Onde estará este colega? Que saudades desse tempo! Se pudesse voltar atrás, metida numa máquina do tempo e viajar até ao ano de 1980 à la recherche du temps perdu, ia de certeza encontrar esses colegas ausentes hoje, mas sempre presentes na minha memória. Fizeste bem em recordar aqui esses espaços e esses tempos felizes. Obrigada por teres partilhado também comigo alguns desses momentos. CS em Confissões
Comentário:
E também, do bacalhau com natas da Marília... Era cá uma fome, que até o José António dizia que ia sair dali feito num oito. Onde estará este colega? Que saudades desse tempo! Se pudesse voltar atrás, metida numa máquina do tempo e viajar até ao ano de 1980 à la recherche du temps perdu, ia de certeza encontrar esses colegas ausentes hoje, mas sempre presentes na minha memória. Fizeste bem em recordar aqui esses espaços e esses tempos felizes. Obrigada por teres partilhado também comigo alguns desses momentos. CS em Confissões
Porque hoje é sábado...
...
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
...
Vinicius de Moraes
Exceções e adaptações
Muitos políticos, pela sua expressão facial, revelam muito do que são: construtores de mentiras habilidosas, egocêntricos, calculistas... Aplica-se-lhes bem o provérbio: Bem prega frei Tomás, olhem para o que diz e não para o que faz.
Estão tão narcisicamente encantados com o seu poder e com a sua imagem que nem se lembram que muitos dos seus atos pioram o mundo em vez de o melhorarem. Isto acontece também quando jogam com as palavras e argumentos para encontrarem muitas exceções à regra, como é o caso do não corte nos salários dos funcionários da TAP e da CGD. Porta-vozes destas decisões vêm dizer que não são "exceções" mas "adaptações"...
Para além de erros que cometem, tratam os comuns dos mortais como parvos e distraídos.
Para além disto, figuras que representam todos os portugueses, como o PR, mostram, em muitos momentos, a pequenez do espírito de vingança.
Há quem defenda que os cargos de muitos governantes se devem ao facto de a sociedade civil se demitir com frequência.
De facto, seria bom que, no contexto atual, houvesse políticos que fossem exceções, mas, muitas vezes, não passam de adaptações de modelos já gastos.
sexta-feira, 9 de março de 2012
A caixinha de música
Julgo que nunca
tive nenhuma caixinha de música. Julgo também que a maioria das pessoas nunca
teve uma caixinha de música. Também não é fundamental que se tenha uma caixinha
de música. Mas há coisas que são importantes, ainda que não essenciais, tais
como uma caixinha de música.
Este objeto - quase mágico, quase mítico - tem vindo à
baila com frequência entre um grupo de amigos por causa do livro de Maria Clara
Miguel - O tesouro.
Ora, na busca
do tesouro, as personagens deparam-se com uma caixinha de música há muito
existente num velho casarão. Estaria lá escondido ou não o tesouro?
Um livro
pode ser um tesouro e ajudar a recuperar muitos outros. Tal como os
sons encantatórios de uma caixinha de música. A rodopiar, leve e suavemente, na nossa memória.
Comentários:
Afinal, não sou só eu que nunca tive uma caixinha de música! No tempo em que eu tinha idade para a ter, os meus pais deviam andar mais preocupados com o trabalho do que com comprar-me brinquedos. Pois é, naquele tempo, os brinquedos estavam no sapato em cima do fogão no dia de Natal, uma vez por ano! Hoje, todos os dias é Natal para a maioria das crianças. Será que amar os filhos é dar-lhes tudo e esquecer que eles existem enquanto pessoas? Mas, um dia ainda vou comprar uma caixa de música para ver se também eu encontro o meu tesouro. CS em A caixinha de música
Quando era criança, lembro-me que a minha mãe tinha uma caixinha de música com uma bailarina, quando se levantava a tampa, começava a ouvir-se a música e surgia a bailarina que rodopiava ao som da música. E entretanto arranjei uma "caixa" de música que é um farol. Gosto de caixas de música :) em A caixinha de música Redonda
Comentários:
Afinal, não sou só eu que nunca tive uma caixinha de música! No tempo em que eu tinha idade para a ter, os meus pais deviam andar mais preocupados com o trabalho do que com comprar-me brinquedos. Pois é, naquele tempo, os brinquedos estavam no sapato em cima do fogão no dia de Natal, uma vez por ano! Hoje, todos os dias é Natal para a maioria das crianças. Será que amar os filhos é dar-lhes tudo e esquecer que eles existem enquanto pessoas? Mas, um dia ainda vou comprar uma caixa de música para ver se também eu encontro o meu tesouro. CS em A caixinha de música
Quando era criança, lembro-me que a minha mãe tinha uma caixinha de música com uma bailarina, quando se levantava a tampa, começava a ouvir-se a música e surgia a bailarina que rodopiava ao som da música. E entretanto arranjei uma "caixa" de música que é um farol. Gosto de caixas de música :) em A caixinha de música Redonda
A caixinha de música da minha
infância não era lá de casa!
Pertencia a uma senhora - a dona
Nezinha (Que Deus a tenha!)- amiga da
minha tia Guilhermina (tia-avó, que Deus a tenha também!) que me criou.
Quando íamos a casa da dona Nezinha,
ela emprestava-me a caixinha: a princípio aos olhos; mais tarde para as mãos.
Era um pinaninho que, quando se abria, exibia uma pequena bailarina que dançava
ao som, penso eu, do Lago dos Cisnes.
Por baixo das teclas, havia uma
pequena gaveta que funcionava como guarda-joias. Não sei se eram de valor. Só
sei que me ofuscava com o brilho das peças...
E era um pequeno tesouro, que, mesmo não sendo
meu, me fazia feliz.
Penso que a caixinha de música da
Maria Clara Miguel foi pedida emprestada àquela que foi "minha" na
minha infância!
Afinal, nada é por acaso!
Bjinhos para a Mariana e a Dolores
IA
Olhos de água
Chegou mais
tarde e entrou na sala de aula sem dizer nada. A professora não gostou e olhou-a
com aridez no olhar. Ultimamente, andava estranha e hoje nem se tinha dignado
sequer a dizer bom dia e a pedir desculpa pelo atraso. Ainda que fosse irritante quando
ouvia de uma única assentada: desculpatraso.
Como que a despachar uma obrigação.
Se andava
aborrecida com a vida, o problema era dela. Tinha chatices? Quem as não tem?
No final, Rosa
veio ter com a professora. Pediu-lhe desculpa pelo atraso, mas que, naquele
momento, nada tivesse de explicar.
A professora
ouviu-a com atenção e reparou melhor nos claros olhos de água. Tristes, húmidos e
avermelhados.
Expor-se mais à sexta-feira à noite
Já ouvi várias
vezes o escritor Mário Cláudio dizer que escrever é expor-se.
Manter um blogue,
ainda que discreto, também implica alguma exposição. Vê-se a que horas se
escreve, a frequência com que se escreve, os assuntos recorrentes…
Mas chegar à sexta-feira
à noite e escrever, com alguma tranquilidade, um pouco mais no blogue pode implicar
exposição mas que é bom é.
É como atravessar uma ponte devagar, captando novos
ares. Acenando, quase em silêncio, enquanto se caminha. Ainda que não se saiba quem está do outro lado.
Flores da há muito anunciada primavera
Comentário:
Belas flores para uma bela Primavera! A propósito de camélias lembro a exposição de camélias ocorrida este fim de semana no nosso Porto, o Porto romântico, o Porto dos jardins à inglesa que nos enternecem o olhar. CS em Flores da há muito anunciada primavera
Belas flores para uma bela Primavera! A propósito de camélias lembro a exposição de camélias ocorrida este fim de semana no nosso Porto, o Porto romântico, o Porto dos jardins à inglesa que nos enternecem o olhar. CS em Flores da há muito anunciada primavera
O raminho de violetas
Tenho diante de
mim um raminho de violetas. Olhei-as,
peguei nelas, senti-lhes o perfume e, enquanto as punha na água, revi imagens de há muitos
anos atrás.
Em ruas do Porto, perto do mercado do Bolhão, havia
vendedeiras de violetas. As belas flores miudinhas estavam em cestas, em raminhos, e atraíam os transeuntes,
sobretudo os namorados. Lembro-me que
também as recebi. Quero
crer que foi por amor.
Comentário:
O meu namorado era muito gentil. Esperava-me, às vezes, nos degraus da Faculdade de Letras com um raminho de violetas na mão. Tinha-as comprado a uma violeteira que costumava sentar-se à porta da Igreja dos Congregados. Era muito bonito ver um rapaz de 18 anos com um ramo de violetas na mão para oferecer à sua amada. Se calhar por ter passado por essa experiência feliz, quando vejo um homem com um ramo de flores na mão, não deixo de o olhar, imaginando o ar de felicidade de quem as vai receber. Ainda há homens que merecem ser amados! CS em O raminho de violetas
Comentário:
O meu namorado era muito gentil. Esperava-me, às vezes, nos degraus da Faculdade de Letras com um raminho de violetas na mão. Tinha-as comprado a uma violeteira que costumava sentar-se à porta da Igreja dos Congregados. Era muito bonito ver um rapaz de 18 anos com um ramo de violetas na mão para oferecer à sua amada. Se calhar por ter passado por essa experiência feliz, quando vejo um homem com um ramo de flores na mão, não deixo de o olhar, imaginando o ar de felicidade de quem as vai receber. Ainda há homens que merecem ser amados! CS em O raminho de violetas
quinta-feira, 8 de março de 2012
Também os homens conhecem as mulheres (?)
Paula Rego
Calçada de Carriche
Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
António Gedeão
quarta-feira, 7 de março de 2012
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