quarta-feira, 4 de julho de 2018

Um dos dias em A Velha Casa e Outros Dias


O girassol

Hoje o dia voltou a amanhecer chuvoso. O céu carregado de nuvens cinzentas vai mostrando que tanta chuva não poderá ser contida.
E, ao ver pela janela um envelhecido e delgado girassol, veio-me à memória uma personagem da minha infância, a D. Marieta, muito alta e muito magra, que vinha a A Ver O Rio, uma vez por mês, entregar revistas de moda.
E, tal como a chuva, estes versos foram tombando, gota a gota:

D. Marieta chegava 
No primeiro dia do mês 
E as crianças brincavam 
Alegres fora de casa
Com o galo ou a galinha pedrês

D. Marieta chegava
E vinha com o seu chapéu
Colocado sobre o lenço
E debaixo do guarda-sol
Que tapava todo o céu

D. Marieta chegava
E logo os meninos corriam
Para olharem o saco
Muito escuro como buraco
Donde as revistas saíam

D. Marieta chegava
Para vender as revistas
E as janelas que se abriam
Mostravam as clientes
Costureiras e modistas


E D. Marieta partia
Com as crianças por perto
Sem dela terem sorriso
Dizia que tivessem siso
E que fossem para o deserto

D. Marieta partia
A pé como sempre se andava
Não parecia feliz
Afastava qualquer petiz 
Só da perfeição gostava

D. Marieta partia
Achando o mundo imperfeito
Muito austera ia pensando
Que só em revistas de moda
A vida é bela e sem defeito

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