O girassol
Hoje o dia voltou a amanhecer chuvoso. O
céu carregado de nuvens cinzentas vai mostrando que tanta chuva não poderá ser
contida.
E, ao ver pela janela um envelhecido e
delgado girassol, veio-me à memória uma personagem da minha infância, a D.
Marieta, muito alta e muito magra, que vinha a A Ver O Rio, uma vez por mês,
entregar revistas de moda.
E, tal como a chuva, estes versos foram
tombando, gota a gota:
D. Marieta chegava
No primeiro dia do mês
E as crianças brincavam
Alegres fora de casa
Com o galo ou a galinha pedrês
D. Marieta chegava
E vinha com o seu chapéu
Colocado sobre o lenço
E debaixo do guarda-sol
Que tapava todo o céu
D. Marieta chegava
E logo os meninos corriam
Para olharem o saco
Muito escuro como buraco
Donde as revistas saíam
D. Marieta chegava
Para vender as revistas
E as janelas que se abriam
Mostravam as clientes
Costureiras e modistas
E D. Marieta partia
Com as crianças por perto
Sem dela terem sorriso
Dizia que tivessem siso
E que fossem para o deserto
D. Marieta partia
A pé como sempre se andava
Não parecia feliz
Afastava qualquer petiz
Só da perfeição gostava
D. Marieta partia
Achando o mundo imperfeito
Muito austera ia pensando
Que só em revistas de moda
A vida é bela e sem defeito
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