sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

E este é (também) o nosso ofício. Felizmente!


Esta semana, numa turma do 10º ano, os alunos começaram
 as apresentações do “Contrato de Leitura”, 
tendo por base narrativas curtas.
Aos contos podiam ligar-se outros textos.
Uma aluna, a Ana Rita, trabalhou três histórias de Sophia de Mello Breyner: 
“Homero”, “Praia” e “O Homem” da coletânea Contos exemplares.

Sophia

Escolheu também este poema de Sophia:

A Forma Justa
 
Sei que seria possível construir o mundo justo  
As cidades poderiam ser claras e lavadas  
Pelo canto dos espaços e das fontes  
O céu o mar e a terra estão prontos  
A saciar a nossa fome do terrestre  
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia  
Cada dia a cada um a liberdade e o reino — 
Na concha na flor no homem e no fruto  
Se nada adoecer a própria forma é justa  
E no todo se integra como palavra em verso  
Sei que seria possível construir a forma justa  
De uma cidade humana que fosse  
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco  
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo
                                                  Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"


E escreveu o seu próprio texto poético:
Terra, és única

Olha em teu redor.
O que vês?
Talvez tudo, talvez nada,
Um mundo repleto de sombras,
A terra completamente banalizada.

Bem, olha agora com mais atenção.
Pensa com o coração.
Não vês o reflexo do sonho?
Não vês que tudo tem a sua intenção?

Intenção de nos apaixonar,
De nos fazer pensar,
De nos tornar sonhadores
Ver o mundo de todas as cores.

Afinal as sombras não existem,
Afinal o que parecia nada é tudo.
Terra é única,
Única e apaixonante,
Como o sol de uma manhã brilhante.

Ana Rita Carvalho 


E assim se vivem "manhãs brilhantes". 
Graças também à escrita e à leitura.
E a quem tão bem as partilha.
Felizmente, também esta é uma parte do nosso ofício.





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