Ainda há espaço para a alegria?
O ano que agora começa não vai ser propriamente um
tempo festivo. Por isso, poderá parecer ao leitor que este tema é uma dolorosa
provocação. Mas não é: falo muito a sério.
A alegria é um sentimento sem o qual os humanos não
podem viver. Mesmo na noite mais escura, em que a dor, o sofrimento e o choro
encharcam a nossa alma, se não encontrarmos um espaçozinho para a verdadeira
alegria, dificilmente suportaremos tal situação.
É claro que há várias formas de alegria e nem todas
produzem esse efeito libertador.
Há a alegria de aviário, que não tem consistência,
usa-se quando a circunstância a exige, mas não tem nada por detrás. É como a
carne dos frangos produzidos em série, obrigados a crescer à pressão, com um
sabor sem sabor, filhos de hormonas e antibióticos insossos.
Há a alegria industrializada, que estrondeia nas
vielas da noite, alimentada a combustíveis etílicos ou a passas que não são de
uva. É hoje muito estimada por industriais legais de drogas ilegais que se
alimentam da sua distribuição bem lucrativa e muito desejada, porque gera
euforias momentâneas a quem as usa e lhe dá bravata para tomar atitudes das
quais, em estado sóbrio, se envergonharia.
Há a alegria amarela, que se espelha num sorriso dessa
cor, para disfarçar uma desilusão ou vir em socorro da vítima de uma qualquer
partida de colegas ou da vida. Por detrás está a frustração que se quer
esconder e se possível ignorar.
Há a alegria «de café» que, na sua ambiguidade, tanto
pode ser um ato de superficialidade balofa como uma genuína
manifestação de contentamento, que reforça as relações interpessoais.
Há a alegria franca que ressoa na gargalhada
cristalina. Brota do fundo da nossa dimensão lúdica e ajuda a suportar com
estoicismo angústias e medos que a vida nos põe a cada curva.
Há a alegria interior que faz «pouco ruído» mas sempre
se pode encontrar na limpidez de um olhar tão transparente que chega ao fundo
da alma. O olho é o espelho da alma. Quantos doentes, às vezes em estado quase
terminal, continuam a irradiar um olhar sereno, a apresentar uma face risonha,
a iluminar os que estão à sua volta.
Só esta alegria é capaz de ultrapassar as maiores
dificuldades. Não se trata de uma alegria exterior que disfarça a amargura nem
de uma alegria hipócrita que pensa enganar a dura realidade, fugindo ou
ignorando-a. É, antes, a alegria dos fortes, que aceitam que a vida é feita de
tempos felizes e tempos dolorosos e que uns e outros têm de ser vividos com
serenidade, a alegria que evita angústias doentias ou euforias alienantes.
Esta alegria nasce do fundo de nós próprios, do facto
de estarmos vivos, de acreditarmos em nós próprios, de nos reconhecermos
«pessoas», sujeitos livres e conscientes da Vida e da História.
Neste ano vamos precisar muito de aprender a viver e a
expressar esta alegria.
É necessário expressá-la para nos ajudarmos a nós
mesmos e também para contagiar os que vivem perto de nós. Em tempos de crise, a
alegria pode ser e é uma forma privilegiada de ajuda aos outros.
José Dias da Silva
Caros Leitores,
O Projeto Clube das Histórias: Abrir as portas ao sonho e à reflexão,
tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma
forma significativa não só em Portugal como também no
Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No
sentido de assegurar a sua continuidade, foi
constituída uma equipa pedagógica formada por
professores de vários grupos disciplinares e provenientes de
diversos estabelecimentos de ensino, que têm a seu
cargo a seleção, preparação e envio gratuito de uma
história semanal por correio eletrónico.
O Clube das Histórias
visa assim promover a literacia, contribuindo para o
gosto pela leitura de pequenos contos que podem
fazer a diferença no mundo de hoje, contos esses que
convidam não só a refletir como a sonhar…. As
histórias, que são selecionadas em função do conteúdo ético
e simbólico, permitindo deste modo uma reflexão sobre
os princípios fundamentais da sociedade atual, abordam
temas relacionados com as vivências individuais e
coletivas, e transmitem valores como a solidariedade, a
justiça, a generosidade, o amor, o respeito por si
próprio e pelos outros, a delicadeza, a responsabilidade,
entre muitos outros.
Pode visitar o nosso blogue http://contadoresdestorias.wordpress.com onde irá encontrar histórias sobre os mais diversos temas, atividades pedagógicas múltiplas e textos de reflexão.
E é sempre com muito gosto que lhe enviamos gratuitamente, em cada semana, histórias que o farão sorrir e pensar…
BOAS LEITURAS!
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
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