domingo, 21 de julho de 2013

Fraternidade

Amadeu Sousa Cardozo
Não me dói nada meu particular.
Peno cilícios da comunidade.
Água dum rio doce, entrei no mar
E salguei-me no sal da imensidade.

Dei o sossego às ondas
Da multidão.
E agora tenho chagas
No coração
E uma angústia secreta.

Mas não podia, lírico poeta,
Ficar, de avena, a exercitar o ouvido,
Longe do mundo e longe do ruído.

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

2 comentários:

  1. Bom dia!
    Não resisti e aqui deixo um outro de Torga que, há dias, veio ter comigo.

    beijinhos
    IA

    Santo-e-Senha

    Deixem passar quem vai na sua estrada.
    Deixem passar
    Quem vai cheio de noite e de luar.
    Deixem passar e não lhe digam nada.

    Deixem, que vai apenas
    Beber água de Sonho a qualquer fonte;
    Ou colher açucenas
    A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

    Vem da terra de todos, onde mora
    E onde volta depois de amanhecer.
    Deixem-no pois passar, agora

    Que vai cheio de noite e solidão.
    Que vai ser
    Uma estrela no chão.

    Miguel Torga, in "Poesia Completa", vol. I, p.93, publicações Dom Quixote, 1ª edição

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  2. Lindíssimo poema. Feliz encontro que tiveste. Ainda bem que o partilhaste, como é teu hábito.

    O poema "Fraternidade" não veio logo ao meu encontro, porque tive de o procurar. Queria um poema que abordasse o tema das composições de exame do 12º ano, 2ª fase.

    Miguel Torga, por acaso ou não, mostra sempre luzes a "quem vai na sua estrada".

    Um beijinho
    M.

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