Não me dói nada meu particular.
Peno cilícios da comunidade.
Água dum rio doce, entrei no mar
E salguei-me no sal da imensidade.
Dei o sossego às ondas
Da multidão.
E agora tenho chagas
No coração
E uma angústia secreta.
Mas não podia, lírico poeta,
Ficar, de avena, a exercitar o ouvido,
Longe do mundo e longe do ruído.
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'
Bom dia!
ResponderEliminarNão resisti e aqui deixo um outro de Torga que, há dias, veio ter comigo.
beijinhos
IA
Santo-e-Senha
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.
Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.
Miguel Torga, in "Poesia Completa", vol. I, p.93, publicações Dom Quixote, 1ª edição
Lindíssimo poema. Feliz encontro que tiveste. Ainda bem que o partilhaste, como é teu hábito.
ResponderEliminarO poema "Fraternidade" não veio logo ao meu encontro, porque tive de o procurar. Queria um poema que abordasse o tema das composições de exame do 12º ano, 2ª fase.
Miguel Torga, por acaso ou não, mostra sempre luzes a "quem vai na sua estrada".
Um beijinho
M.