terça-feira, 8 de novembro de 2011

Palco

s/cem palavras

Chamaram-na para a consulta. Levantou-se, cambaleante. Em breve, regressou à sala de espera. Ao lado, outra mulher sentada. A doente, com Parkinson, começou a falar, avassaladora. Tinha oitenta anos, fora empresária de espetáculos, o marido morrera, o filho deixara de vir almoçar com ela, tinha perdido o contacto da filha, não gostava da família do genro porque mostrava desprezo quando ela não segurava o prato e sujava o chão em dias de festa...

Com flor de lantejoulas no cabelo, risco desalinhado nos olhos, decote pronunciado, prótese a soltar-se na boca estreita, saiu sozinha. Diva sem pose. Público com pena.

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