quinta-feira, 31 de maio de 2018
quarta-feira, 30 de maio de 2018
terça-feira, 29 de maio de 2018
quinta-feira, 24 de maio de 2018
"Haverá música mais harmoniosa?"
Ontem à noite, no Ateneu Comercial do Porto, houve boa música tocada por três jovens de Gondomar, alunas de escolas de música.
A Inês Silva tocou piano a solo e acompanhou a Ana Sofia Matos em clarinete, sendo evidente a concentrada sintonia entre artistas e instrumentos.
A terceira interveniente foi Mariana Ribeiro, que tocou as suas peças de forma entusiástica.
É bom quando as regiões se vão afirmando também pelos talentos artísticos e vontades fortes de muitos dos seus habitantes.
Foi um serão com juventude, talento e seriedade. Haverá música mais harmoniosa?
Perto do Bolhão
Há dias, fui ao mercado temporário do Bolhão, no Centro Comercial La Vie, junto ao Via Catarina e bem perto do Bolhão.
Achei-o um pouco mais frio do que o original, apesar das cores dos frutos, das flores e das hortaliças.
Os novos tempos exigem a renovação de espaços e de equipamentos. Oxalá o mercado do Bolhão reabra de cara lavada para servir os residentes e turistas.
Gostei da homenagem que foi feita aos vendedores do Bolhão, à entrada destas instalações temporárias, através de grandes fotografias, com os nomes e com os respetivos produtos vendidos.
Como se entrássemos num espaço humano criado por muitas pessoas, cujo rosto é conhecido, e que, ao longo de muitos anos, foram acarinhando as suas raízes.
terça-feira, 22 de maio de 2018
segunda-feira, 21 de maio de 2018
Valter Hugo Mãe - O paraíso são os outros
Acabo de ler O paraíso são os outros de Valter Hugo Mãe.
A leitura pode demorar menos de uma hora, ou mais, se houver paragens ou recuos.
A narradora é uma menina e as palavras fluem poéticas, inocentes, sábias e verdadeiras.
O amor, os casais, os filhos são temas recorrentes.
O que a mãe costuma dizer à menina parece abraçar o leitor. E o o outro. E os outros. E a humanidade.
As ilustrações são também do autor. Quem escreve e desenha assim já entrou no paraíso.
Quando comprei o livro, perguntei:
- É para crianças?
Responderam-me:
- É para todas as idades.
E tinham razão.
domingo, 20 de maio de 2018
sábado, 19 de maio de 2018
Flashes de Londres
O chapéu da senhora japonesa
A senhora
japonesa entrou no comboio. Os passageiros vinham quase todos do aeroporto e
seguravam malas. Algumas, muito grandes, quase barravam a passagem no corredor
da carruagem. Era primavera, o tempo ia frio e as roupas eram escuras.
A
senhora japonesa vestia um fato claro e trazia um chapeuzinho de palhinha
branca com um raminho de flores num dos lados. Nas mãos, segurava uma pequena
carteira e um telemóvel com rosadas
flores de cerejeira na capa.
Uma
das malas bateu-lhe ligeiramente no pé. Sorriu, desviou-o e adormeceu, deixando cair o rosto
redondinho. Que parecia dar lugar ao redondo chapeuzinho.
A
menina e o varão
A
carruagem do metro ia quase vazia. Nela entrou uma mulher jovem com uma menina
alta, na fronteira de menina pequena para menina grande. A mulher jovem, que
devia ser a mãe, ficou de pé, sempre a escrever no telemóvel. Nunca desviou o
olhar do ecrã.
A
menina, apoiando-se no varão da carruagem, começou a dançar inclinando a cabeça
para trás. Rodava e a saia rodada também parecia dançar à volta das pernas
altas e esguias.
Não
sei se era loucura ou vontade de não desperdiçar nenhum momento de liberdade.
Dá-me
a tua mão
Era
domingo. A família da menina foi almoçar fora. Escolheu um pub descontraído,
como são quase todos em Londres. O sunday roast não era muito caro, sem deixar
de ser bom.
As
mesas de madeira foram-se enchendo de famílias.
Enquanto
os adultos comiam ainda, algumas crianças já corriam entre as mesas. Foi quando
se ouviu uma menina dizer para um menino com quem brincava: "Dá-me a tua mão".
Quando
a família da menina saiu do pub, a família do menino ainda ficou. Os meninos deram uma
abracinho de despedida e as famílias trocaram sorrisos como se todos dessem as
mãos.
quarta-feira, 16 de maio de 2018
sexta-feira, 11 de maio de 2018
Maio - Irene Lisboa
Lee Krasner |
Meados de Maio
Chuvoso maio!
Som da cidade ...
Do outro via a chuva no ar.
Perpendicular, fina,
Tomava cor,
distinguia-se
contra o fundo das trepadeiras
do jardim.
No chão, quando caía,
abria círculos
nas pocinhas brilhantes,
já formadas?
Há lá coisa mais linda
que este bater de água
na outra água?
Um pingo cai
E forma uma rosa...
um movimento circular,
que se espraia.
Vem outro pingo
E nasce outra rosa...
e sempre assim!
Os nossos olhos desconsolados,
sem alegria nem tristeza,
tranquilamente
vão vendo formar-se as rosas,
brilhar
e mover-se a água...
Irene Lisboa, in 'Antologia Poética'
segunda-feira, 7 de maio de 2018
Achados improváveis?
A família da minha mãe estava ligada à agricultura e, como vivíamos todos próximos uns dos outros, fui habituada, desde pequena, a conhecer e a valorizar muito do que a terra nos dava.
Uma das plantas era o linho, que nunca vi cultivar, mas cujas alfaias me eram familiares. Ouvia também falar das técnicas utilizadas no seu cultivo até o fio ir para a tecedeira.
Ora, eu via toalhas, colchas, panos e cortinas de linho e qualquer bocadinho não se desperdiçava nunca, porque tinha sempre serventia: para usar em feridas, para aumentar e embelezar com entremeios de renda, etc.
Também as rendas e bordados eram usuais. A casa dos meus avós maternos era de matriarcado. Em muitas tardes da minha infância, via tias a bordar o linho com desvelo e bom gosto ou a tecer rosetas ou longas tiras de crochet.
Por isso não será de estranhar que achei estranho o achado junto de um contentor de lixo: um rolo com mais de dez metros de linho e um trabalho minucioso de crochet. Como mos mostraram, fotografei-os e partilho-os agora com algumas interrogações:
- mesmo que se desconheça o valor destas coisas, não seria melhor oferecê-las a alguém ou a instituições?
- ainda que a intenção fosse disponibilizar o que não se queria para ser aproveitado por quem passasse (foi sorte não ter passado antes o camião do lixo), não será um grande desprezo pelas pessoas e pelos objetos?
Tenho uma amiga que, um dia, encontrou peças de loiça da Vista Alegre, ainda embaladas, num contentor de lixo.
Custa-me imenso ver pessoas a vasculhar nos contentores de lixo em busca de comida.
Oxalá que para isso não sejam nunca procurados, mas, se calhar, de vez em quando, convirá dar uma vista de olhos. Sabe-se lá as coisas improváveis que podem ser encontradas.
domingo, 6 de maio de 2018
"Poema à mãe" - Eugénio de Andrade
Helena Almeida |
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"
sábado, 5 de maio de 2018
"Mãe" - José Almada Negreiros
Helena Almeida |
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
josé de almada negreiros a invenção do dia claro
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