Um dia, porém, comecei a falar com o passageiro do lado. Havia alguma instabilidade na atmosfera e seria um modo de não pensar tanto no assunto.
Já tinha reparado no seu aspeto despojado e um pouco místico. Vinha do Porto, onde dinamizara sessões de meditação. Era vegetariano há duas dezenas de anos.
Os assuntos foram-se sucedendo.
E falámos de tantos problemas graves que existem no mundo (como os de hoje: fome no Sudão, ataque com armas químicas na Síria...) e que, apesar do conhecimento da sua existência, vamos vivendo o nosso quotidiano, sempre em busca de bem-estar e felicidade, o que pode até acarretar alguma culpabilidade.
A resposta do meu colega de viagem de avião foi que a busca humanamente honesta da felicidade pode ajudar a melhorar o mundo, muito mais do que ficarmos acabrunhados perante os problemas.
Lembro-me dele quando as notícias são preocupantes, como acontece, infelizmente, todos os dias.
E o mundo não é um lugar fechado como um avião, onde apenas permanecemos umas horas.