As escolas que defendem publicamente os contratos de associação têm usado slogans de uma grande emotividade e pouca consistência. Dizem, escrevem, repetem, propalam que deve haver "liberdade de escolha", e muitos põem, de facto, o slogan em prática. Muitos, isto é, direções desses estabelecimentos de ensino..
Ora, não sou nem nunca fui contra o ensino privado, Porém, se existem contratos de associação, com o recurso a dinheiros públicos, não poderão ser aplicados critérios de seleção de alunos como acontece, de forma recorrente e conhecida.
Um dia, um ex-aluno meu, do ensino público, com uma disciplina em atraso no secundário, disse-me que ia mudar de escola, porque tinha sabido de uma vaga num estabelecimento de ensino com contrato de associação. Disse-lhe que o melhor seria não contar com essa vaga. Ele, crente no concerto do mundo, manteve as expectativas. Perdeu-as, contudo, no dia em que contava fazer a inscrição. É que, para além de uma disciplina em atraso, as outras notas eram bastante baixas, o que afetaria, com certeza, o ranking escolar, porque não se antevia sucesso.
De facto, todos conhecem casos em que a liberdade de escolha é limitada para muitos e abundante sobretudo para a direção dos colégios. Haverá, com certeza, exceções, mas não fazem a regra.
O mar amarelo, que se avistava em Lisboa na última manifestação, era composto por muitas crianças e jovens. Teriam sido consultados, respeitando a sua liberdade de escolha, para lá estarem?
Ontem, um comentador, julgo que Miguel Sousa Tavares, dizia ter desconhecido, até agora, a vasta dimensão dos apoios do Estado a escolas privadas. Outro comentador, Luís Marques Mendes, por outro lado, dizia, no comentário do últimos domingo na SIC, que o governo devia manter os contratos de associação por mais dois anos, porque também existem muitos outros dinheiros que se gastam! Ora, isto é uma forma, embora displicente, de reconhecer que estes contratos são dispensáveis.
A defesa da sua manutenção está a tornar-se apenas ideológica.
Outro slogan muito repetido é que o ensino ministrado nos colégios tem mais qualidade. - Imediata - acrescento eu, porque são referidos, com muita frequência, casos de grande sucesso no ensino superior, por parte de alunos que estudaram em escolas públicas.
Sem querer aumentar a cisão entre o ensino público e o privado, porque ambos merecem muito respeito, seria bom que não se perdesse tanto tempo com slogans e tiradas algo irracionais de uma só cor e em proveito próprio ou de um grupo restrito, mas que se agisse com mais sensatez, tendo em conta que "A César o que é de César".
E há tanto a fazer na Educação - tanto em escolas públicas como em privadas, apesar de já tanto se ter feito!