Apetece-me fugir daqui. Já abracei os noivos, já saboreei nachos, tacos, tortillas..., já dancei sentindo as dunas macias da prima da Lupe, já tirei o casaco, já suei a camisa, já engoli muitos copos de tequila, já suguei bâton vermelho, já sequei o suor de mãos com o calor dos meus dedos...
Apetece-me fugir daqui. Não sou homem de quentes salas fechadas, de músicas que explodem nos meus ouvidos, de luzes que disparam nos meus olhos, de ares com perfumes mesclados até à náusea...
Apetece-me fugir daqui. Porém, o Pepe é um grande amigo de muitas estações e de muitos desertos. E de longas conversas ao sol, refrescadas pela sombra dos nossos chapéus. Fico feliz ao vê-lo feliz neste dia do seu casamento. E ao vê-lo sorrir muito mais do que quando estamos, entre o céu e a terra, a guardar as vacas.
Apetece-me fugir daqui. Apontados para Lupe, quantos dos meus olhares devoradores o meu sombrero encobriu. Sobretudo quando ela aparecia com o vestido curto de folhos e no bâton vermelho cintilava o prazer dos lábios. Logo se retiravam e eu ficava a guardar as minhas vacas e as dele ou a fingir que dormia, mas sempre fixando o plano cada vez mais distante, o ponto que mantinha a cor do vestido de Lupe. Quando regressavam, ela retocava o bâton e afastava-se, sozinha. Ficávamos em silêncio naquele deserto da tarde.
Apetece-me fugir daqui, porque sei também que não muito longe arranham o chão as pesadas caravanas, cheias de sonhos americanos e parece-me ouvir gritos arremessados aos meus ouvidos.
Oh! Estão a atirar o ramo da noiva e é a prima da Lupe quem logo o agarra e vem pô-lo na abertura da minha camisa, quase cravando as flores no meu peito.
Ela, com um bâton ainda mais vermelho do que o veludo ondeado do vestido, diz-me ao ouvido:
- Apetece-me fugir daqui!
Ora aí está um bonito texto que nos deixa a pensar no nascimento de uma relação amorosa e frutuosa!! Com essa semelhança de gostos, entre o narrador/convidado e a prima da noiva...outro casório entretento aconteceu.
ResponderEliminarQuem me dera ter assim tão fértil imaginação, como a Dolores tem.
E paciência, vá. Isto da escrita bem elaborada exige muita dedicação, criatividade e...transpiração. Como dizia o amigo Henrique Antunes.
Um beijinho e votos de um excelente fim-de-semana.
Bonitas e boas são as suas palavras, Janita. Obrigada.
ResponderEliminarOlha quem fala - sempre com ideias novas e giras!
Beijinhos, Janita, e um fim de semana muito bom. Por aqui, está sol.
Um conto muito bonito.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom fim de semana
Obrigada, Elvira. Quando vou/ia a Londres, vamos/íamos de vez em quando a um restaurante mexicano. Aproveitei,por isso, para falar dos pratos que conheço.
EliminarUm beijinho e um domingo muito feliz.
Hummmm que texto delicioso e curioso... Valeu a pena ir esperando.. :))
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SINTO FALTA...
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Beijos, e um excelente fim de semana.
Que bom, Cidália. Obrigada. Fim de semana feliz.
EliminarPois saiu-se muito bem que eu, se me pedissem uma história com um mexicano dentro, apenas saberia do sombrero. E a ideia de manter sempre a mesma frase no início de cada parágrafo, frase que afinal tem um sentido de remate à baliza e é golo, é algo original. Gostei.
ResponderEliminarBoa noite.
Obrigada, Bea. Gostei da ideia do golo!
ResponderEliminarGosto destes desafios e, às vezes, trazem-me mais ideias do que se não os tivesse. Acho que sou um bocadinho preguiçosa e dispersa.
Feliz domingo.