O céu estava coalhado de nuvens
pardacentas. O ar gelava. A noite aproximava-se e não se via ninguém na rua
ladeada de árvores despidas e negras. No silêncio parado, irrompeu o ruído de
um carro, parando junto da porta do casarão, quase sempre fechado. O silvado
cobrira os muros altos, isolando a casa. Todos diziam que lá não morava ninguém
e contavam-se histórias sobre os habitantes que há muito tinham morrido, mas que,
por muito amarem aquela casa e por muitas paixões guardarem, não tinham
desaparecido. Porém, o único indício de vida, percebido do exterior, era o
carro que, de repente, entrava e saía pelo portão que batia de forma
assustadora.
Engolido o carro, tudo voltava ao
silêncio.
Numa noite, houve um outro sinal:
saía fumo de uma chaminé.
Aproveitando a minha invisibilidade
de autora da história, entrei porque o frio era muito e também não gosto de
ficar a espreitar aquém dos muros.
As sebes do enorme jardim estavam
desgrenhadas e ressequidas; as árvores erguiam-se nos seus troncos retorcidos,
sustentados por raízes irregulares e salientes; algumas rosas vermelhas haviam
murchado em botão, as heras trepavam, cobrindo grossas paredes em ruínas.
Porém, no centro do jardim, erguia-se
uma pequeníssima estufa envidraçada. As suas paredes de vidro deixavam ver
aveludadas e viçosas rosas amarelas. Era o único sinal de cuidado naquele
espaço sem mimo de mão humana. Ao cimo das escadas de pedra, ouviam-se vozes
quase murmuradas. De repente, uma porta rangeu, saindo uma bela mulher de rosto
palidamente entristecido. Desceu as escadas e dirigiu-se à estufa. Colheu um
ramo de rosas e voltou a entrar em casa. O murmúrio estalou de novo.
De repente, as nuvens ganharam
movimento e houve um pouco de luar. Sem se ouvir qualquer ruído, a mulher
desceu as escadas de granito, trazendo um ramo de rosas secas na mão. A noite
foi devolvida às trevas. Sem estrondo da pesada porta exterior, a mulher saiu
num ápice, tal como tinha entrado. Nenhuma luz se via. Apenas o fumo da chaminé
continuava voando.
De madrugada, a luz da lua iluminou
as flores murchas. A seu lado, podiam ver-se, jazendo no chão, umas pesadas
correntes.
Jan. 2012
Minha boa amiga,
ResponderEliminarEste texto lembra-me Edgar Allan Poe! Muito misterioso!... Acho que podias continuá-lo. Que(m) poderá desta sinistra casa sair?
beijinho e bom FDS!
IA
Julgo que escrevi este texto depois de uma visita à CS, em Viana do Castelo. recordo-me de termos falado de histórias sobre uma casa próxima, onde não vivia ninguém. Nesse dia, pareceu-me ver o fumo a sair da chaminé. Sem qualquer mistério, com certeza.
ResponderEliminarRevisitei agora o texto e fiz algumas mudanças. Pode ser que siga a tua sugestão. Obrigada.
Um abraço
M.
também gostei muito de o ler! beijinho
ResponderEliminarObrigada, linda, tenho mesmo de o continuar, então!
ResponderEliminarO pior é se as "correntes" se perdem.
Um beijinho
M.
Li e reli e voltei a ler. Quero mais, D.
ResponderEliminarAbraço
clemie
Obrigada, Cemie, tenho mesmo de continuar, então.
ResponderEliminarAbraço
M.