É muito triste quando morre um escritor, sobretudo em idade em que muito podia ainda produzir.
Manuel António Pina nasceu em 1943, na Beira Alta e viveu no Porto desde os 17 anos.
Escreveu poesia, crónicas, livros de ficção para diferentes faixas etárias...
No ano passado, em 2011, recebeu o prémio Camões.
As palavras, nestas circunstâncias, são sempre de circunstância e pobres.
Lembro-me de, há uns dois anos, ter ido à feira do Livro do Porto. Ele estava num dos stands a dar autógrafos.
Nesse dia, comprei uns livros para crianças e dirigi-me ao escritor para que autografasse um que eu queria oferecer. Ele estava com o telemóvel na mão, pediu-me desculpa, mas tinha de atender uma chamada da família. Eu, mera e comum leitora; ele, um escritor consagrado, falava-me de forma afável e afetuosa. Como, pelos vistos, era seu hábito.
Muitas das crónicas do Jornal de Notícias ter-se-ão perdido no turbilhão dos dias. Mas os ecos dos 1100 caracteres diários viverão em muitos leitores. Tal como os seus livros.
Recordemos um poema que escreveu:
A um Jovem Poeta
Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças
como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.
Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina, in Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças
como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.
Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina, in Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança
Foi no sábado passado que um dos seus poemas veio ter connosco. Mal sabíamos que uma semana depois não haveria mais palavras suas a arrebatar o branco do papel...
ResponderEliminarFicámos mais pobres também sem o seu bom humor!
É caso para dizer: até sempre!
IA
PS: coloquei igual comentário em Carruagem 23.
É verdade. Ainda bem que pude partilhar, aqui e nesse sábado, o poema que Cristina Mello trouxe para a ação sobre a Leitura.
EliminarFelizmente ele ainda estava vivo porque, muitas vezes, só lembramos o valor de alguém após a sua morte!
Beijinho
M.
Honras ao autor de "Aquele Que Quer Morrer".
ResponderEliminarVida às palavras que nos deixou.
Tudo por uma forma de felicidade, tal como ele o dizia.
http://carruagem23.blogspot.pt/2012/10/uma-forma-de-felicidade.html
Sim,as palavras também são Vida. E uma maneira boa de se encontrar também essa "forma de felicidade".
ResponderEliminarBeijinho
M.