Neste momento, muitos professores e alunos (assim como encarregados de educação) estarão tristes com os resultados do exame de Português do 12º ano. Outros, felizmente, poderão sorrir. É certo que muitos alunos não se organizam devidamente ao longo do ano para terem sucesso nos exames. Outros, porém, trabalham no sentido de se prepararem mas podem ser surpreendidos com fatores que lhes escapam.
Na minha opinião, teriam sido benéficas reuniões para aferição de critérios, promovidas pelo GAVE. É certo que houve formação para a grande maioria dos corretores, mas os textos selecionados, para serem trabalhados nesses dois dias, vinham já do ano passado. Seria necessário que a amostra incidisse sobre respostas deste ano para que a aplicação dos critérios fosse partilhada de modo mais eficaz e que para as necessidades atuais se encontrassem soluções comuns de forma mais atempada.
Por outro lado, julgo que alguns critérios eram discutíveis. Dou o exemplo de um, comunicado por e-mail: se o aluno escrevesse mal (a propósito de uma oração) a palavra “subordinada”, ser-lhe-ia descontada toda a cotação. Acho muito importante que exijamos que os alunos escrevam corretamente, mas parece-me excessivo que um erro ortográfico, desta natureza e neste contexto, implique o desconto total da resposta, que era de meio valor.
Outros fatores poderiam ser nomeados, nomeadamente sobre questões de interpretação do poema, mas confio que o GAVE tenha em conta pareceres transmitidos pelos professores. Neste momento, as notas da primeira fase já foram publicadas. Resta a muitos alunos a repetição da prova, com as implicações que daí advêm.
Para que os resultados melhorem de forma mais sustentada, considero indispensável que seja alterada a carga horária da disciplina de Português. Dois blocos de aulas semanais são insuficientes para a lecionação de todos os conteúdos programáticos, para o trabalho de desenvolvimento da competência escrita e oral, para análise de texto, funcionamento da língua… Interrogo-me por que razão a maioria das disciplinas, no 12º ano, com ou sem exame a nível nacional, têm três blocos de aulas e Português apenas tem dois. A necessidade de tempo para o ensino/aprendizagem de muitos conteúdos tem levado a que estabelecimentos de ensino privado substituam, habilmente, as aulas de Trabalho de Projeto por apoio a disciplinas de exame. Considero urgente a reformulação da carga horária no 12º ano.
Um outro elemento que penso ser fundamental para a melhoria dos resultados é a necessidade de esforço comum para que haja um crescente rigor. Porém, este rigor não pode ser exigido apenas na correção dos exames e terá de ser tido em conta, de forma regular, nos diferentes contextos educativos e adotado por todos os seus atores. O combate ao facilitismo tem de ser travado de forma sistemática e não apenas em momentos-chave para a vida dos alunos.
Não posso também deixar de referir o facto de as provas de exame de Português, muitas vezes, contemplarem, como foi o caso deste ano, um número muito reduzido de conteúdos estudados. E pergunto: por que razão a Mensagem de Fernando Pessoa há muitos anos não é convocada para estas provas se à obra dedicamos uma boa parte de tempo?
Assim, a meu ver, são necessárias mudanças na elaboração das provas, na formulação de critérios, na execução de procedimentos no contexto familiar, escolar, sem esquecer as diretrizes do Ministério da Educação.
Não atiremos baldes de água fria. Já é grande a enxurrada.
DG
NOTA - Enviei este mesmo texto para o Terrear - Blog de Matias Alves
Dolores (ou será melhor Mariana?!)
ResponderEliminarEm primeiro lugar, quero desejar-te as maiores felicidades para este teu novo cantinho de afetos, desabafos, bonitos lugares cheios de apeadeiros e buganvílias e mais flores e... de muita esperança também (ou eu não te conhecesse)!
Quanto aos exames, faço minhas as tuas palavras, como o farão muitos dos professores que aqui ou no Terrear te lerem.
Esperemos a segunda leva (que é já para a semana), porque os alunos, esses, com certeza, serão muitos a repetir a prova!
bjinhos e tudo de bom
Clarinha (IA)
Obrigada, amiga
ResponderEliminarMariana
Pois eu atirei água e ajudei na enxurrada já há alguns dias:
ResponderEliminarhttp://carruagem23.blogspot.com/2011/07/exames-muitas-vozes-para-quantas-nozes.html
E apeteceu-me dizer 'Água vai!'; mas decidi ficar calado e quem apanhar o banho que se cuide.
Serve a tua reflexão para apaziguar o que criticamente denunciei. Que literatura!
Boa!
Obrigada, Vítor, mas, de facto, não me sinto nada apaziaguada!
ResponderEliminarAinda não li o teu texto, mas quero fazê-lo. Oxalá as palavras ditas e escritas ajudem a reduzir fatores arbitrários e cegos que só aumentam as trevas.
dmariana