segunda-feira, 16 de julho de 2018

Em Chichicastenengo - Guatemala

Araras
O enorme mercado 
O colorido cemitério
Um tuk tuk

Tenho uma amiga americana que, periodicamente,
vai à Guatemala, com um grupo também de amigos, 
em missão de solidariedade. 
Partilham o seu saber e oferecem o seu trabalho
 para que várias famílias 
passem a viver melhor.



Obrigada, M. J. 

sábado, 14 de julho de 2018

ZAZ - "Je Veux" Legendado PT-BR

Elis Lovrjé - Cantora Croata no Brasil e Vidal França

Jacques Brel - Le Plat Pays.

Trump em Londres - O direito à indignação

Imagens da net

sexta-feira, 13 de julho de 2018

terça-feira, 10 de julho de 2018

Felizmente há luzes ao fundo do túnel!

Foto de LAUREN DECICCA

"Na Praia de Chesil"


É um filme que tem alguns ingredientes de que gosto: belas paisagens, uma história bem contada e com muita humanidade dentro, sentimentos fortes, artes como a música ou pintura, guarda roupa bonito, etc.
A história passa-se em 1962 e estende-se até outras datas assinaladas: 1975 e 2007.

O mar banha a praia de Chesil (na costa sul da Inglaterra), de imensas e pequenas pedras que são calcorreadas, em diferentes circunstâncias, um par de vezes pelo jovem casal (Florence e Edward) que acaba de se casar. 
A noite de núpcias é passada num hotel e o diálogo entre ambos revela medos, preconceitos, boas e más memórias, dramas familiares, desconhecimento da vida a dois, etc. O presente vai sendo complementado com imagens do passado que também justificam atitudes drásticas de desajuste sexual.

Ainda estava longe a libertação que muitos movimentos sociais e artísticos foram introduzindo.
Para a maioria dos jovens de hoje seriam inenarráveis os entraves mostrados à consumação do casamento e geradores de improváveis soluções.

A caracterização é fabulosa, sobretudo no final do filme, estando vincadas as marcas do tempo, apesar de a memória conservar um amor que parece ter durado sem qualquer disfarce artificial.


segunda-feira, 9 de julho de 2018

Também são belas as cores diferentes das rosas!


ANIVERSÁRIO

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15-10-1929
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944

domingo, 8 de julho de 2018

Uma noite na Velha Casa e Outros Dias


Noite

Estou a escrever à noite porque, durante o dia, não tive tempo nem vontade. Acontece aos escritores e muito mais facilmente a mim que não o sou, apesar do meu amor pela escrita.
O céu está sereno, embora as nuvens o tinjam de tons pardacentos. Há muito que vivo só e julgo que assim quero continuar.
Antes de o Félix ir para Moçambique, falámos várias vezes sobre o assunto e vêm sempre à baila os casos de amigos nossos que dormem em quartos separados ou em casas diferentes, e vivem felizes.
- Mas é preciso que a casa tenha espaço ou que cada um aguente as despesas, diz sempre ele com o seu sorriso abraçador (surgiu-me esta palavra, gostei  e acho que a vou adotar).
 Durante a tarde, resolvi, fazer compota de abóbora. Colei, nos frascos, uma etiqueta com flores rosadas miudinhas e que embelezam aquele sabor doce e de cor outonal. Pu-los depois numa prateleira que enfeitei com uma cortininha colorida de papel que recortei. Tal como faziam as velhas senhoras da casa e a minha avó paterna.
Olhei em seguida a eira e vi-me em criança a virar o milho em pequeninos carreiros para que todos os grãozinhos amarelos, bem espalhados na pedra, secassem ao sol. Nunca mais esqueci o calor rugoso do milho quente debaixo dos pés descalços.
Agora, é noite e escrevo porque as palavras fazem-me falta se estiver muito tempo sem lhes tocar.
As luzes da sala estão acesas e vejo o céu coberto de nuvens inertes. E também algum nevoeiro. Vou-me deitar. Gosto pouco da noite. É a morte do céu e de quase todas as coisas.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Uma manhã em A Velha Casa e Outros Dias


Questionamento

Passei a noite com várias horas sem dormir.
Donald Trump ganhou as eleições americanas, ao contrário de sondagens e previsões. Para espanto de milhões de americanos. E do mundo.
Esta eleição terá de ser respeitada, porque foi democrática, mas dá fortes sinais de que a política e os políticos vão mal e têm feito muita coisa de mal e que, por isso, o mundo não está nada bem. Pior lição era impossível.
Como pode a um homem, em quem o mundo não confia, ser-lhe confiado o mundo? Um homem que desrespeita tudo e todos, que tem pose de boçal apresentador de reality show, que é populista, autoritário, arrogante e egocêntrico, que afirma que as alterações climáticas são uma mentira, que não conhece o mundo para além do que lhe está próximo e que ele se habituou a manipular, causando retrocesso ao país e à Humanidade.
De facto, a manipulação cresce cada vez mais, mesmo nos pequenos círculos. Não é só a que é levada a cabo pelos governantes, mas também pelos que detêm mais poder do que o homem comum.
Os casos de corrupção divulgados são de igual modo preocupantes. Banqueiros e políticos que roubaram incontáveis dinheiros públicos apresentam-se perante os meios de comunicação social como se fossem seres irrepreensíveis.

Desculpem, também é publicidade!


Está à venda na livraria Latina, na rua de Santa Catarina, no Porto (quase em frente à rua 31 de Janeiro).

Mesmo que não comprem, vale a pena a visita porque é uma livraria bonita e das mais antigas do Porto.

Imagem da net


quinta-feira, 5 de julho de 2018

Outro dia na Velha Casa e Outros Dias


Sábado, 24 de setembro
Uma joia

A vida é, de facto, como uma casa, pensei eu, enquanto colocava as peças de louça nos armários, depois de terem sido lavadas de tanto pó acumulado. E recordei como tinha sido bom o facto de as casas ligadas à minha infância terem tido livros, árvores e flores. Tinha sido bafejada pela sorte. Sorri pelo meu crescente otimismo.
Como tinha tempo, vagueei pelo exterior da velha casa, passando pelo azulejo azul onde se pode ler: Casa do Laranjal.
Fotografei duas rosas vermelhas que floriam, olhei as azáleas e as belas-donas, parei debaixo da figueira e comi figos que colhi. Sob os meus pés, as folhas secas estalavam como vidro preso à terra. Levantei os olhos para as janelas da casa que eram também olhos que se abriam para dentro e para fora.
Também de mim, Madalena, ex-professora, nascida nos anos cinquenta, amante de livros e de tantas outras coisas que a vida vai revelando, tal como as diferentes estações.
Quero viver este tempo de outono escrevendo e arrumando esta velha casa que remete para tantos retratos ainda visíveis.
Julgo que não me voltarei muito para o passado, porque dele não sou muito saudosa. Porém, sei que estas árvores, que vejo à minha volta, se aguentam porque têm raízes. Eu, sem elas, também tombaria como uma velha figueira que um dia vi ser arrancada pelo vento forte, caindo sem proteção.
Nesta casa, olharei as árvores de fruto que, como é natural, florescem e frutificam na estação certa. Neste final de setembro, as laranjeiras abrem os braços onde se penduram bolinhas de um tom verde carregado. Como dedos papudinhos que, crescentemente luzidios, crescerão e se inclinarão, mais tarde, do céu para a terra.
Vamos lá, Madalena, digo para mim, está mais do que na hora de começares a escrever. Sim, oiço esta espécie de grilo-falante que me diz que não se deve adiar o que há muito se deseja. Que me recorda a idade, a experiência acumulada e a necessidade de não perder demasiado tempo. Que me lembra as palavras sábias do escritor Mário Cláudio: "Escrever é expor-se", mas que não me deixam vacilar.
Escreverei o que cada dia me for ditando. E como um diário também pode implicar  disciplina, defini um tempo para a conclusão dos trabalhos: final do outono. Conseguirei? Serei suficientemente perseverante para levar este meu projeto até ao fim? Não surgirão obstáculos a impedi-lo?

Enquanto varria a eira da velha casa, encontrei, por baixo de um vaso, um brinco com uma pedra azul. Sentei-me no banco de pedra e olhei-o longamente, segurando-o entre os dedos.  Parecia estar ali há muito tempo. Nunca o tinha visto em ninguém.  Caíra junto a um velho vaso, com plantas agora ressequidas e já quase sem espaço para as raízes. Aproveitei para arrancar a planta e substituí-la, assim como a terra. Deitei água abundante e olhei de novo o brinco. A quem teria pertencido?
Pela forma do brinco e cor da pérola, teria sido usado por uma pessoa discreta, pensei.
Uma pequena joia que jazia adormecida ou que ficara perdida como o sapatinho de cristal. Um belo brinco à espera de um príncipe encantado que o devolvesse à sua amada ou a uma princesa que o voltasse a usar. Muitas outras histórias também convocaria aquele brinco de pedrinha azul água.
Entrei em casa e coloquei-o dentro de uma pequena caixa em cima da cómoda que tinha sido limpa de manhã.
Se eu tivesse mais imaginação, poderia criar uma história à volta do brinco encontrado, mas chego à conclusão de que sou mais contemplativa do que imaginativa. A realidade é tão fértil em acontecimentos que prefiro prestar atenção ao real. Mas pode ser que a realidade me conte a verdadeira história do brinco. Veremos.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Um dos dias em A Velha Casa e Outros Dias


O girassol

Hoje o dia voltou a amanhecer chuvoso. O céu carregado de nuvens cinzentas vai mostrando que tanta chuva não poderá ser contida.
E, ao ver pela janela um envelhecido e delgado girassol, veio-me à memória uma personagem da minha infância, a D. Marieta, muito alta e muito magra, que vinha a A Ver O Rio, uma vez por mês, entregar revistas de moda.
E, tal como a chuva, estes versos foram tombando, gota a gota:

D. Marieta chegava 
No primeiro dia do mês 
E as crianças brincavam 
Alegres fora de casa
Com o galo ou a galinha pedrês

D. Marieta chegava
E vinha com o seu chapéu
Colocado sobre o lenço
E debaixo do guarda-sol
Que tapava todo o céu

D. Marieta chegava
E logo os meninos corriam
Para olharem o saco
Muito escuro como buraco
Donde as revistas saíam

D. Marieta chegava
Para vender as revistas
E as janelas que se abriam
Mostravam as clientes
Costureiras e modistas


E D. Marieta partia
Com as crianças por perto
Sem dela terem sorriso
Dizia que tivessem siso
E que fossem para o deserto

D. Marieta partia
A pé como sempre se andava
Não parecia feliz
Afastava qualquer petiz 
Só da perfeição gostava

D. Marieta partia
Achando o mundo imperfeito
Muito austera ia pensando
Que só em revistas de moda
A vida é bela e sem defeito