segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Um zangão à janela ou era uma vez um trinta e um?



Era uma vez uma professora. Como tantas professoras. Talvez mais velha do que muitas professoras, mas continuava a gostar de ser professora. Às vezes, a professora zangava-se. Queria que os alunos estivessem atentos. Queria que os alunos fizessem os trabalhos de casa. Queria que os alunos falassem e escrevessem corretamente. Queria que os alunos respeitassem os outros. Queria que os alunos não fizessem barulho. Queria que os alunos falassem na sua vez…
Mas às vezes gostava de sorrir, de dizer algumas graças, de improvisar quadras a propósito de ocorrências ou momentos engraçados – ou sem graça nenhuma – que se passavam na aula.
Pois bem, num dia em que o sol batia na janela e aquecia a sala, a professora, ainda assim, mandou correr a vidraça. Porém, abriu a porta, porque a sala de aula parecia uma estufa e ninguém era uma semente na terra que precisasse de tanto aquecimento húmido para germinar.
E uma aluna, ao ouvir o pedido da professora, levantou o braço e foi empurrando, empurrando a pesada vidraça larga, que se ficou por uma abertura estreita até a professora dizer que estava bem.
Foi quando, de repente, se ouviu: ai, ui, que horror, fogo, fecha a janela!
 E a professora, olhando os alunos e sem perceber ao certo o que se passava, foi ficando zangada com a confusão. De repente, olhou para a janela e escancarou os olhos ao ver um grande zangão, mesmo encostado à vidraça e a olhar para dentro da sala.
E como a imaginação não tem fronteiras, logo se ouviu:
- É um zangão curioso..
- O zangão quer explicações de graça.
- O zangão vai fazer exame e já começou a estudar.
- O zangão é esperto porque fica do lado de fora…
Foi então qua a professora – que tem uma costelita parecida com uma qualquer de S. Francisco de Assis, disse:
- Deixem lá o bicho. Também tem direito à liberdade. Mas, realmente, o melhor era ir à vida dele.
E, de repente, o zangão caiu no peitoril da janela e desapareceu dos olhos dos alunos que o olhavam com curiosidade.
A professora disse então:
- Dava para escrever uma história gira. O título poderia ser: “O zangão e a professora zangada”.
E logo a Mi-Mi abriu o rápido sorriso e disse: ó setorinha, ó setorinha!

Ao mesmo tempo, talvez o zangão, agora desaparecido, espreitasse uma nova sala de aula, podendo até ouvir:
Vai-te embora, zangão molengão,
Vieste para os alunos contar
Ou para fazer pim pam pum?
Não nos venhas desconcentrar.
Como já somos quase trinta
Não queiras ser um trinta e um!

Paraíso de outono





domingo, 2 de novembro de 2014

Voltando ao Natal (ou à infância?)



As bonequinhas foram feitas com fuxicos (obrigada, D. Dionísia, da ESG, pelo gosto e paciência) e rosetas de crochet.

sábado, 1 de novembro de 2014

Hoje, dia 1 de novembro




Hoje, logo que abriram, aqueles onde entrei estavam mais bonitos. Mais frescos e viçosos. Sem espaços secamente esquecidos.
Cada retângulo tinha recebido, com mãos atentas e carinhosas, água, flores, trazendo vida a um local de morte.
Os crisântemos – de fechadas ou abertas cores – eram a flor-rainha. E também as rosas. E os gladíolos. E as margaridas.
Vistos de cima, aqueles espaços pareceriam um campo de claras flores. A mesma imagem teria uma criança pequena, esperando-se, contudo, que o seu olhar atingisse sobretudo a beleza cuidada dos enfeites.
E chegavam homens e mulheres com bem abertos arranjos florais.
Como ainda era cedo e não havia muita gente, as conversas não se enovelavam. E um grupo de mulheres falava alto do alto preço das flores.
- Então, as tuas não foram caras.
- Comprei-as na lavradeira (há tanto tempo não ouvia esta palavra!)
E outras pessoas chegavam com pequenos raminhos, garantindo os laços (mas não gosto nada de ramos com grandes laços!) amorosos da memória.
A essa hora, já não havia nevoeiro.
À porta de um dos cemitérios, uma carrinha vendia castanhas. Para se comerem quentes e boas. E delas também ficarão as cinzas.



E o Natal... "aqui tão perto"!



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Onde está a polícia? Fui apanhada por ladrões!



Há mais de uma dezena de anos, pedi recibos verdes às Finanças. Preenchi todos os documentos que me impuseram. O tempo foi passando. O trabalho foi bastante (embora poucas as tarefas), mas o dinheiro que ganhei foi pouco. Porém, não é esse o problema que agora me preocupa.

Apesar de ter feito sempre todos os meus descontos e pago todos os meus impostos, recebi há alguns meses uma carta comunicando-me que devia ao Estado uns milhares de euros – mais do que o que ganhei em todo o tempo em que usei os recibos verdes – por, alegadamente, não ter feito descontos para a Caixa Geral de Aposentações.
Como sou professora, perguntei várias vezes: “Então não há cruzamento de dados”?

Pedi ajuda, pus-me a caminho e entreguei todos os comprovativos como sempre havia descontado para a CGA, aliás, como acontece com todos os docentes.
Enquanto esperava pela resposta, ia perguntando se o pedido havia sido deferido ou não.. Na Segurança Social, ouvi: “Isso não é nada connosco, mas são coisas que demoram muito tempo”.
Nas Finanças: “Isso não é nada connosco, mas são coisas que demoram muito tempo”.
Na Caixa Geral de Aposentações: “Tem de esperar. A resposta seguirá por carta. Estas coisas demoram muito tempo”.

Hoje, soube que em algumas destas situações estão a ser penhoradas, silenciosamente,  contas bancárias.
E, estou mesmo a ver, vou ter de pagar de novo uma conta que já paguei. E como eu outros haverá.
E agora pergunto: para quem vai este dinheiro, uma vez que a política é roubar aos fracos para dar aos fortes?!

A que estado chegou o estado deste país! A verborreia monocórdica da ministra das finanças causa repulsa, porque o que afirma agora com veemência inexpressiva nega depois com o mesmo tom de voz e igual cara de pau.
O estado anda a espreitar os bolsos de cidadãos honestos e desprevenidos. Com os outros nem se metem porque sabem que daí não levam nada. E até lhes dão milhões.

E o pior é que com este sobressalto todo de valores humanos nem se sabe se se pode confiar no polícia ou, pura e simplesmente, dar logo o dinheiro ao ladrão!