sábado, 26 de janeiro de 2013

Porto com sentido!








"Um português AQUI"

Convite enviado pela livraria Poetria:
"Um português AQUI"

"JOSÉ FANHA é símbolo de solidariedade, talento, incansável intervenção cívica, cultural e artística, ternura. O seu último livro de poesia será apresentado pela Poetria no próximo dia 2/2 no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett (Palácio de Cristal), Porto pelas 17,30h. com a presença do autor e apresentação de Jorge Velhote (Obra) e Júlio Couto (Vida).

Serão lidos poemas por Ana Afonso, Rui Spranger e Rafael Tormenta, a acompanhamento musical (viola) de Carlos Andrade.

Será servido um Porto de Honra.

POETRIA"

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Alegrias!

Hoje, ao início da tarde, cheguei ao Centro de Recursos e vi a Rita, uma menina do 8º ano, muito contente e com um brilhozinho nos olhos. Professora, o meu conto sobre a palavra Amor foi escolhido para o livro. Felicitei-a e senti-me feliz por estar ligada à iniciativa. 

Muito mais feliz ainda me sentirei, juntamente com todas as pessoas que estão no projeto, quando virmos o livro publicado, sobretudo pelas histórias escritas pelos alunos.

Poderá ser uma maneira simples - como tantas outras - de revelar o Amor pela Escola em tempos pouco favoráveis.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Este domingo - em Londres


Amor - em manhã de domingo

Nasce a manhã de domingo. Cinzenta e fria. Felizmente passou a ventania. Sento-me ao computador e volto-me para os Contos sobre a palavra Amor, histórias apresentadas a um concurso da ESG, destinado a alunos, professores, funcionários e encarregados de educação.

Separo as histórias por escalões para serem revistas antes da sua publicação. E como as palavras são plurais, apetece dizer que, em manhã de domingo, coloco o Amor em pastas.

O Amor, como era dito no Regulamento, poderia ser em relação às pessoas, aos saberes, à escola, à natureza, à família...

Houve uma muito boa adesão, já que participaram uns noventa alunos e uns dez adultos - professores, funcionários e duas encarregadas de educação. É gratificante ter resposta tão positiva a um projeto, neste caso, da Oficina de Língua da ESG - com a valiosa e indispensável colaboração do C.Recursos, do D.Línguas, do A.de Artes.

Em tempo de tantos desamores, pode ser um sinal positivo. Nem que seja para se falar da palavra  Amor em manhã cinzenta e fria de domingo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

A casa pequena com outra grande às costas

Era uma casa pequena. Entrava-se e tudo se vivia no mesmo piso. Tinha sido construída ao mesmo tempo que uma família se criava. Um homem e uma mulher amavam-se e casaram. Como milhões de mortais, tiverem filhos. Veio o primeiro e depois o segundo. Todos pareciam gostar do seu abrigo. E a casa parecia feliz com o seu recheio. Ouvia música, ouvia os ruídos da televisão e ouvia sobretudo a família a falar, a rir… De vez em quando, alguns silêncios pesados, alguns ralhos, algumas discussões, algum choro – quase sempre de porta fechada aos soluços.
No geral, pelo menos vista de fora, parecia uma casa feliz, no sentido próprio e no sentido figurado. Também é verdade que a casa, nos seus diversos sentidos, era estimada: logo que aparecia uma mazela, havia logo quem reparasse e tentasse resolver a situação.
Assim foi durante mais de vinte anos. Mas, como quase nada dura sempre, a família cresceu, vieram novas necessidades e a casa passou a ser demasiado pequena. O que fazer, então? O melhor seria fazê-la crescer, tal como a família havia crescido. Mãos à obra, então.
Em breve, o tijolo começou a prolongar as paredes da casa pequenina inicial. Como se os braços da casa tivessem crescido para aguentar um peso maior.

Se eu soubesse desenhar, poria a casa tal qual a estou a ver: uma casa pequena, pintada de branco, a segurar uma bem maior que nela se apoia.
 Na verdade, o que me parece ver é essa casa pequenina com outra maior às costas. Quanto a mim, preferia-a mais pequena, mas não poderei saber o que é melhor. É que também sei que só sabe o que se passa debaixo de um telhado quem sob ele se abriga.

Ondas

P.A. Renoir

Olhou-se ao espelho e gostou do que viu: os cabelos branquíssimos, acabados de lavar. Mas o que lhe agradou mais foi o ondulado dos cabelos. Quase tal e qual como quando eram bem negros. E mais fortes. E mais longos, E mais jovens. E mais brilhantes.

Tinha oitenta e seis anos. Não gostava muito de se ver ao espelho. Sobretudo de se aproximar da verdade das rugas, da perda do brilho do amendoado dos olhos. Sabia que era uma velhinha, mas o espelho, apesar de tudo, mostrava-lhe ainda o ondeado do cabelo. O tempo não lho tinha tirado. Como fez com a audição, com o andar...

Quem a via dizia: que velhinha bem arranjada. Porém, o tempo, esse atento "escultor", ia fazendo das dele. Não tinha, porém, apagado toas as histórias e versos que ela sabia de cor há quase oitenta anos. Desde o tempo da instrução primária. Que dizia ter feito com distinção.

"O temporal é grande, as pernas não me ajudam, há muito que não vou ao cabeleireiro. E sabes, filha, hoje gostei de ver que ainda tinha ondas no cabelo!"
 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

L’ÉTOILE D’ERIKA


Note de l’auteur
En 1995, cinquante ans après la fin de la Seconde Guerre mondiale, j’ai rencontré la femme dont il est question dans cette histoire. Mon mari et moi, assis sur le bord d’un trottoir de Rothenburg, en Allemagne, regardions une équipe de nettoyeurs ramasser les débris du toit de l’hôtel de ville. La nuit précédente, une tornade s’était abattue sur ce joli village médiéval ; il y avait des gravats un peu partout. Un vieux commerçant qui se trouvait là nous a dit que les ravages causés par cette tempête étaient comparables à ceux de la dernière offensive des Alliés pendant la guerre. Le commerçant est retourné dans sa boutique et une dame, assisse près de nous, s’est présentée sous le nom d’Erika.
Preto de ouros (cartas)Preto de ouros (cartas)Preto de ouros (cartas)Preto de ouros (cartas)
Elle nous a demandé si nous étions venus faire du tourisme dans la région. Quand je lui ai répondu que nous venions de passer deux semaines à Jérusalem pour y mener des recherches, elle a avoué, avec un soupir, qu’elle avait toujours voulu y aller mais n’avait pas les moyens de s’offrir le voyage. Voyant qu’elle portait à son cou une chaîne en or ornée d’une étoile de David, je lui ai dit que, après notre passage en Israël, nous avions traversé l’Autriche en voiture et visité le camp de concentration de Mauthausen. Erika m’a confié qu’un jour elle était allée en visite à Dachau, mais n’avait pu se résoudre à franchir la porte.
Et puis elle m’a raconté son histoire…
Preto de ouros (cartas)Preto de ouros (cartas)Preto de ouros (cartas)Preto de ouros (cartas)
Entre 1933 et 1945, six millions d’hommes et de femmes de mon peuple furent tués. Beaucoup furent fusillés. Beaucoup moururent de faim. Beaucoup finirent incinérés dans des fours ou asphyxiés dans des chambres à gaz. Pas moi.
Je suis née en 1944. Je ne sais pas quel jour. Je ne sais pas comment je m’appelais à ma naissance. Je ne sais pas dans quelle ville ni dans quel pays je suis née. Je ne sais pas si j’ai eu des frères ou des sœurs. Ce que je sais, c’est que, âgée de quelques mois à peine, j’ai échappé à l’Holocauste. Souvent, j’imagine ce qu’était la vie des membres de ma famille lors des dernières semaines que nous avons passées ensemble. J’imagine mon père et ma mère, dépouillés de tous leurs biens, forcés à quitter leur maison, envoyés au ghetto. Peut-être avons-nous ensuite été expulsés du ghetto. Mes parents avaient sûrement hâte de quitter le quartier clos de fil de fer barbelé où ils avaient été relégués, d’échapper au typhus, au surpeuplement, à la crasse et à la faim.
Mais avaient-ils la moindre idée de leur destination ? Leur a-t-on dit qu’ils allaient être emmenés vers un lieu plus accueillant, où ils trouveraient de quoi manger, où ils auraient du travail ? La rumeur qui évoquait à mots couverts les camps de la mort était-elle arrivée jusqu’à eux ? Je me demande ce qu’ils ont éprouvé quand on les a conduits à la gare avec des centaines d’autres Juifs. Entassés dans un fourgon à bestiaux. Debout les uns contre les autres. Ont-ils été pris de panique lorsqu’ils ont entendu que l’on barricadait les portes ?
De village en village, le train a dû traverser des paysages champêtres étrangement épargnés par la terreur. Combien de jours sommes-nous restés dans ce train ? Combien d’heures mes parents ont-ils passées serrés l’un contre l’autre ? J’imagine que ma mère me tenait tout contre elle pour me protéger de la puanteur, des cris, de la peur qui régnaient dans ce wagon bondé. Elle avait certainement compris qu’on ne l’emmenait pas en lieu sûr.
 
Je me demande où elle se trouvait précisément. Était-elle au milieu du wagon ? Mon père était-il à côté d’elle ? Lui a-t-il dit d’être courageuse ? Ont-ils parlé de ce qu’ils allaient faire ? Quand ont-ils pris leur décision ? Ma mère a-t-elle dit : « Pardon. Pardon. Pardon » ? S’est-elle frayé un chemin parmi cette masse humaine jusqu’à la paroi en bois du fourgon ? Tout en m’enveloppant bien serrée dans une couverture chaude, a-t-elle murmuré mon nom ? A-t-elle couvert mon visage de baisers, m’a-t-elle dit qu’elle m’aimait ? A-t-elle pleuré ? A-t-elle prié ?
Lorsque le train a ralenti, le temps de traverser un village, ma mère a dû regarder par la lucarne du fourgon à bestiaux. Aidée par mon père, elle a dû écarter à grand-peine le treillis de barbelé qui condamnait l’ouverture. Elle a dû me soulever à bout de bras vers la faible lueur du jour. La seule chose que je sache avec certitude, c’est ce qui est arrivé ensuite. Ma mère m’a jetée par la fenêtre du train.
Elle m’a jetée hors du train sur un petit carré d’herbe, au ras d’un passage à niveau. Des gens attendaient que le train passe ; ils m’ont vue tomber du fourgon à bestiaux. Sur le chemin qui la menait à la mort, ma mère m’a jetée à la vie. Quelqu’un m’a ramassée et conduite chez une femme qui s’est occupée de moi. Elle a risqué sa vie pour moi. Elle a évalué mon âge et m’a attribué une date de naissance. Elle a décidé que je m’appellerais Erika. Elle m’a donné un foyer. Elle m’a nourrie, vêtue, envoyée à l’école. Elle a tout fait pour moi.
À vingt et un ans, j’ai épousé un homme merveilleux. Il m’a soulagée de la tristesse qui me saisissait souvent, il a perçu mon désir d’appartenir à une famille. Ensemble, nous avons eu trois enfants, qui ont aujourd’hui leurs propres enfants. Dans leur visage, je reconnais le mien. On disait jadis que mon peuple serait un jour aussi nombreux que les étoiles au firmament. Six millions d’étoiles sont tombées entre 1933 et 1945. Chacune correspond à un membre de mon peuple dont la vie a été déchirée, l’arbre généalogique déraciné.
Aujourd’hui, mon arbre a repris racine. Mon étoile brille encore.
Ruth Vander Zee
L’étoile d’Erika
Toulouse, Milan Jeunesse, 2003