terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Elas eram quatro
Elas eram quatro. A rua Santa Catarina estava cinzenta e outonal. O homem das castanhas mantinha o fogo e o fumo quente dos frutos do outono, que ia amontoando na esperança de os vender.
Que cheirinho. Dá gosto. Há tanto tempo. Dantes, vinha mais vezes ao Porto, agora só de vez em quando.
Era quase Natal, mas as luzes da época apenas brilhavam nas montras das lojas. Na Praça da Liberdade, acendiam-se só as luzes habituais. Nas outras ruas, apenas as névoas, as pessoas que passavam, as lojas que esperavam clientes.
E comentou-se: quando éramos crianças, vínhamos ao Porto pelo Natal, para vermos a iluminação das ruas. E comprar as prendas prometidas há muito. Só seriam dadas se merecidas.
Elas eram quatro e há muito que não falavam tanto tempo. O trabalho, a família... o tempo torna-se pouco. Na mesa do café, havia quatro chávenas e pão torrado. Em fatias, quentinho. Lá fora chovia. Olha, está a chover. E o guarda-chuva ficou no carro. Os assuntos surgiam encadeados, já com as chávenas vazias.
E começou a ouvir-se o som do piano. Ao vivo. A música juntava-se à bruma, às castanhas, ao ar um pouco sombrio de uma cidade sem as luzes do Natal. As pessoas continuavam a falar, as quatro amigas também. E mais tempo ficariam se não houvesse compromissos.
Quando é a próxima? O melhor é marcar já a data senão o tempo vai passando.
Percorreram a rua até ao parque de estacionamento. Já não chovia. Porém, se chovesse, a rua continuaria a ser bela. Aquecida pelas palavras e sorrisos da amizade.
Elas eram quatro e, na próxima, querem ser cinco. Ou seis.
domingo, 25 de novembro de 2012
Magia
Em diferentes momentos,
encontramos histórias sobre a palavra Amor,
mesmo que esta não seja escrita nem pronunciada.
Nos seus nove anos felizes e suaves,
Catarina sorri e aparecem as covinhas nas maçãzinhas do rosto. Na festa de anos
da madrinha, Catarina mostra, como habitualmente, a sua doçura e alegria.
Dizem: é tão parecida com a mãe. É tal e qual. E logo o sorriso dela se abre e
as covinhas das maçãzinhas do rosto aparecem. Aconchega-se à mãe e sorriem as
duas.
Catarina estava à espera do dia da
festa de aniversário para rever amigos da madrinha e mostrar truques de magia.
Tinha aprendido vários num livro e num DVD que aquela lhe tinha oferecido.
Um dos truques era o de a outra pessoa escolher uma carta de um baralho e a
mágica adivinhar qual a carta tinha sido escolhida. Noutro, alguém segurava num
fio esticado, onde estava presa uma argola, com os dedos polegares e, depois de
vários laços, a mágica puxava o fio e, de repente, a argola saía.
Muito bem, Catarina, e Catarina sorria
nas covinhas das maçãzinhas do rosto.
Depois, fez o truque com o Rodrigo, um
menino também com nove anos e que tinha sido convidado para a festa de
aniversário. Estava com uma prima, muito amiga da aniversariante. O Rodrigo
esticou o fio com os polegares, deixou a Catarina fazer os laços habituais, mas
a menina-mágica, ao puxar o fio, a argola ficou presa e não se soltou, como era
previsto. Num segundo, Catarina ficou preocupada porque o truque não resultava,
mas não desistiu. Rodrigo, que é um menino muito responsável e atento, até
corou. Mas tudo isto durou apenas o tempo de o diabo esfregar um olho, porque
logo o truque resultou bem, embora, durante uns segundos, parecesse difícil.
No final do jantar, Catarina voltou a
pegar no fio mágico e ia repetindo os truques. Rodrigo observava. Não sei se
estava a fazer rimas, porque, antes do jantar, tinha participado de um jogo: encontrar
palavras que terminassem com o mesmo som. E, partindo de “pão”, vieram as
palavras coração, avaliação, oração, emoção, televisão...
Se calhar, para a palavra “magia”,
Rodrigo encontraria dia, tia, alegria, aletria, ria… e muitas mais de certeza
absoluta, posso eu dizer, eu que raramente tenho certezas absolutas.
Outra certeza tenho: a Catarina é
mágica e até já entrou, pelo menos, numa história escrita em livro, porque, para além da magia, da serena
alegria das covinhas das maçãzinhas do rosto, também traduz muito bem, por
palavras, coisas engraçadas que observa.
Quanto ao Rodrigo, tenho outra
certeza: é um menino que sabe rimar com escutar, pensar, falar, questionar,
observar…
E tudo simples com(o) um toque de
magia.
Aristides Sousa Mendes
Imagem retirada do blogue Carruagem 23
Se puderem, não deixem de ver o filme sobre este grande homem português que ajudou a salvar inúmeros Judeus, durante a Segunda Guerra Mundial.
Chamo a atenção para o post de Vítor Oliveira, colocado no seu blogue, sobre o papel desse Homem, muito visível no filme que passa atualmente nas salas de cinema.
carruagem23.blogspot.com/
sábado, 24 de novembro de 2012
Retrato de mulher com ateliê de escrita ao fundo
Esta semana, vai iniciar-se, em Serralves,
um novo curso/ateliê de escrita:
"Literatura e Música: um diálogo eterno".
O dinamizador é o escritor Mário Cláudio.
Por acaso, encontrei este pequeno
texto que escrevi num ateliê de escrita anterior.
Mulher que
gosta do mar, que ouve e vê, no barulho das ondas, outros elementos da
natureza, que se sobressalta com o equilíbrio azul das palavras límpidas de
Sophia ou com os versos ensolarados de Eugénio,
poeta que também iluminou quadros de pintores como Júlio Resende. Mulher que sente
a amorosa errância ardente de Florbela ao olhar as árvores solitárias e esquentadas
do Alentejo.
Mulher que
teme o frio e o vazio das grutas mas que delas se aproxima em busca de luz e de
silêncio. Que gosta de passear mas que o faz muitas vezes olhando a janela,
vendo as camélias a florir lá fora. De tão próximas, parecem abrir cá dentro.
Mulher que
gosta de escutar e ler os textos de Mestres da Literatura, mas também de ouvir
os dos colegas de ateliê que, em poucos minutos, escrevem uma história com
todos os sentidos, fazendo emergir a pluralidade das vozes. De si próprios ou
de seres com quem se cruzam.
Mulher que vai
escolhendo e combinando palavras que apanha na beira dos caminhos que conhece,
embora gostasse de as colher mais fundo.
Mulher que
gosta de ouvir música que irrompe também da combinação de palavras e de sílabas.
Que se deixa embalar com a música de Jacques Brel à qual gostaria de repetir:
Ne me quitte pas.
Mulher que
gosta de escrever pequenos textos e de os ler em voz alta. Tal como qualquer artesão
que partilha as suas pequenas peças. Ou um adolescente que envia uma mensagem
que o deixa insatisfeito mas mais tranquilo.
Mulher que, no
ateliê, toma notas sobre Literatura e sobre o Mundo, sentindo este mais
habitável e mais visível, graças a todos que o reescrevem.
Mulher que
acha quase tão reais os Pescadores de Raul Brandão como os pescadores que vê junto
ao Douro.
Mulher que
gosta de escrever, pondo-se na pele de outrem, embora não possa fugir de si
própria como permitia a genialidade de Fernando Pessoa.
Mulher que se
confronta, como qualquer ser humano, com o seu destino, com
o seu papel no mundo, que se interroga sobre as marcas que vamos deixando com o passar
dos dias.
Mulher que vê o Atelier de Escrita como uma orquestra, onde cabem diferentes músicos,
diferentes instrumentos, trabalhando todos sob a batuta de um Maestro que, para
além de orientar o grupo, tem vasta obra produzida e vai ajudando a que cada
um, à sua maneira, vá compondo novas peças.
Mulher que vai
acrescentando novos elementos para ir compondo um possível retrato. Também com o
Ateliê de Escrita ao Fundo.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Miloko
Miró
Miloko
n’est qu’un enfant. Nu et pieds nus dans la rue. Venu de loin, d’un de
ces pays lointains, inscrit en lettres minuscules sur la mappemonde.
Entre brouillard et pluie, il a débarqué une nuit de nulle part, les
yeux pleins de sommeil et de fatigue, avec d’autres enfants, avec
d’autres Miloko qui se sont aussitôt éparpillés aux quatre coins de la
grande ville.
Alors
il a longé le caniveau, frôlant les façades aux volets fermés. Il a
suivi les lampadaires comme les marins suivent les étoiles. Il a marché
longtemps, jusqu’au petit jour, puis épuisé, s’est endormi sur la
plage, bercé par le ronronnement des vagues. Les cris des mouettes et
des goélands l’ont réveillé. Il a regardé les bateaux flâner
nonchalamment sur la mer. Il avait faim. Il a monté la grande avenue,
celle des magasins. Invisible, transparent, la foule l’ignorait. Miloko
n’était qu’un enfant nu et pieds nus dans la rue.
Un
jour, au rond-point de l’autoroute, face à l’aéroport, près du
supermarché, il a rencontré des gamins comme lui, des Miloko nus et
pieds nus qui l’ont adopté. Sous le pont de l’échangeur, abrité du vent
et des intempéries, Miloko, avec des cartons géants de frigos, des
cartons énormes de téléviseurs, des cartons immenses d’objets futiles
et dérisoires, s’est bâti une cabane fermée par un fil de fer, entre
les cabanes de ses nouveaux compagnons.
Ses
copains lui avaient prêté une raclette, des chiffons, une bouteille
avec de la lessive qui faisait des bulles multicolores dans les reflets
du soleil. Au rond-point du supermarché, Miloko attendait les voitures
qui stoppaient au feu tricolore. Du vert au rouge passant par l’orange,
du rouge au vert sans révérence, il levait les essuie-glaces,
grattait, tirait, lavait les vitres souillées de boue et de moucherons.
Dans les voitures des cris, parfois des injures ! Les conducteurs,
lunettes fumées, remontaient les glaces, détournaient le regard,
accéléraient dès le passage autorisé, n’osant affronter de face la
vérité. Parfois, par la vitre entrebâillée, portières fermées, loquets
baissés, une main négligemment tendue jetait une pièce, une menue
monnaie sur le bitume.
Miloko les remerciait, un bref éclair sur son visage…
Au
début du printemps, à l’aube, des camions bleus encerclèrent le
village en papier. Personne n’eut le temps de fuir. Des hommes en
uniformes, aux casques argentés, rassemblèrent les enfants au centre du
rond-point et les comptèrent. Ils ont amené Miloko dans un grand
immeuble, sur une colline, loin de la ville. Derrière les hauts murs
noirs, il ne distinguait ni la mer, ni l’horizon. Des larmes inondèrent
ses joues.
Alors
il a pensé très fort à son village, dans ce pays lointain inscrit en
lettres minuscules sur la mappemonde. Il a gribouillé à sa mère une
cartepostale pleine de soleil, de ciel bleu, de promenades bordées de
fleurs, de rues immenses et colorées… Il a raconté que, face à
l’aéroport, près du supermarché, sous le pont, il possédait une cabane
en carton…
Un
matin, alors que la clarté se faufilait dans le parc, Miloko a sauté
le grand mur. Nu et pieds nus, il a couru sans se retourner vers le
rond-point du supermarché et s’est caché tout au fond de sa cabane. Il
est resté longtemps, très longtemps, blotti dans son refuge, épiant le
moindre bruit, sursautant aux tintamarres des moteurs. Puis, peu à peu,
il a entrebâillé sa porte et s’est aventuré au dehors.
Depuis,
chaque nuit, il compte les camions qui arrivent de nulle part. Entre
brouillard et pluie, il scrute les ombres furtives qui se glissent dans
l’obscurité. Il guette celle de sa mère. Il aimerait qu’elle soit là,
qu’elle le serre si fort dans ses bras qu’il en perdrait le souffle…
Jean Siccardi; Joly Guth
Miloko
Draguignan, Lo Païs d’Enfance, 2004
(Adaptation)
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Diário de Mariana
22 de novembro de 2012
Querido diário,
Hoje, disseram-me que já não
escrevo há algum tempo e que já sentiam a falta. Fiquei toda contente, porque acho muito fixe quando gostam de nós.
Por falar nisso, o Silva disse-me
que pensava que o Gi não era meu namorado, mas apenas meu amigo. Disse até que
tratava a namorada por “minha fofinha” e nunca ouviu o Gi tratar-me assim. E
disse também que há tempos, eu e o Gi andávamos um bocado zangados. Deve andar
distraído e, se calhar, nunca se zanga, eu acredito mesmo! Também não sou
daquelas que anda a dizer aos gritos de quem gosto. E tenho os meus segredos,
como toda a gente.
Não vem muito a propósito, mas acho mal andarem nos
corredores, no intervalo, a dizer palavrões para toda a gente olhar. Por acaso,
nunca ouvi o Silva a dizer palavrões. Ele é fixe, mas às vezes é um
teimoso de primeira e resmungão. Põe uma pergunta e quer logo que os setores venham ao pé
dele para lhe explicarem tim-tim por tim-tim.
Hoje na aula de inglês até me ri.
Tínhamos que dar a definição da palavra segredo e apareciam coisas cómicas, como,
por exemplo, que o segredo deve ser contado apenas a uma pessoa. Se fosse
assim, de repente, toda a escola sabia. Uma pessoa contava a outra… Devia ser
engraçado. Ainda começava outra grande guerra.
Nessa aula, também vimos a
definição de amigo e eu disse que era uma pessoa a quem falamos de coisas boas
e de coisas más. A Bia – é verdade, há muito tempo que não falo dela, mas é a
minha melhor amiga – acrescentou: “como a Mariana”. Achei altamente e até
fiquei com mais vontade de ser mesmo amiga.
Pensando bem, acho que gosto de mimos. Será que mais tarde, se for
professora, vou gostar de graxa? Espero que não, livra!
Hoje vou ficar por aqui, querido
diário. Estou com frio e ainda tenho de ver umas coisas para amanhã. Ai ai!
Muitos abracinhos
Mariana
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
O rio que mudou de lugar
Aos
meus alunos do 11º 1
Atenção, esta é uma "história (simples)
sobre a palavra Amor”!
Não se iludam muito, mas também não se
desiludam demasiado.
Pelo menos, enquanto houver um qualquer rio
que prenda o nosso olhar.
Maria
acordou e foi à janela. Via sempre a mesma paisagem, ou melhor, parecia sempre
a mesma paisagem, mas, vista com atenção, não era sempre a mesma paisagem.
Ela
disse devagar a palavra paisagem. A professora de Português dizia muitas vezes
para não repetir as palavras, mas que sinónimo poderia usar?
Hoje,
pela manhã, a paisagem era tão diferente que lhe chamou a atenção. No vale,
entre o aglomerado de casas e a serra de Valongo, havia um rio. Parecia mais
denso do que um rio verdadeiro. Generoso, calmo e sossegado, deixava ver o
verde frio e alto da serra.
A
jovem olhou de novo. Naquele sítio, só costumava ver campos ou o serpenteado da
autoestrada, mas o que via agora era um rio, largo, grosso, macio. Como era
possível um rio passar ali? Tinha chovido, mas não o suficiente para formar
semelhante massa de água. Por acaso, parecia uma massa gasosa, mas tinha a
forma de rio, porque o via em silêncio e pela janela, o que não costuma
enganar.
Àquela
hora, Maria estava sozinha em casa, porque os pais tinham ido trabalhar e o
irmão mais novo saía sempre mais cedo. Ao olhar aquele rio, que se estendia tão
próximo, pensou ficar em casa e dizer depois que o despertador não tinha
tocado. Não, os pais não iriam acreditar na história e haveria, de certeza,
problemas. E se dissesse que ficava a estudar para o teste? É que queria mesmo
continuar a olhar para aquele rio improvável. Não, se dissesse aos pais que
tinha faltado para ficar a estudar, haveria chatice pela certa, porque
sobretudo a mãe não admitia tal coisa. Imaginava-a a franzir o sobrolho, a
ficar muito séria, a olhá-la muito fixamente. Nem seriam precisas palavras.
Via-se logo que a mãe não concordava e que estava zangada. Não, tinha mesmo de
ir para a escola e nem podia atrasar-se muito. Entrava às nove e dez e já passava
das oito e trinta.
Oh,
agora só faltava esta. O telefone fixo a tocar. E para mais estava na sala.
Está bem, vou já. Estou! Sim, mãe, estou quase pronta. O despertador tocou, só
estou um bocadinho atrasada. Não te aflijas que chego à hora. Vou já tomar o
pequeno-almoço. Não, ainda não vi o pão fresco, mas vou já à cozinha. Ó mãe,
ainda não pude aquecer o leite. Não, mãe, não fiquei na cama, estive a olhar
pela janela. Ó mãe, achas assim tão estranho eu ficar a olhar pela janela? Eu
sei que me levanto sempre em cima da hora e a correr. Achas, mãe, achas que eu
vou faltar? Eu estava a olhar o rio. Não, mãe, não estou tolinha, mas parecia
que um rio se tinha mudado para perto de nós e eu fiquei a ver. Eu sei, mãe,
que não tens tempo para fantasias, mas tu é que me perguntaste por que é que eu
tinha estado a olhar pela janela. Ó mãe, não, não estou a gozar, era mesmo um
rio aqui no vale. Ó mãe, não, não rebentou nenhum cano, podes estar descansada,
eu acho até que o rio não era de água. Estou bem, mãe, estou, só te estou a
dizer o que estive a ver pela janela, mas agora tenho de ir, senão chego mesmo
atrasada à escola. Eu sei, mãe, que não me justificas as faltas de atraso, isso
também só aconteceu uma vez. Pronto, mãe, até logo. Beijinhos.
Maria
olhou o relógio. Já eram nove menos um quarto. Tinha de ir a passo acelerado
para a escola. Se a professora já estivesse a escrever o sumário, quando ela
entrasse, diria logo: pois, Maria, desculpo o atraso, mas não tiro a falta.
Às
nove e cinco, estava a fechar a porta de casa. Ainda entrou de novo, para ver
se o fogão tinha ficado aceso. Caminhava tão depressa que nem reparava nas
pessoas com quem se cruzava. Às vezes, ainda olhava para as nuvens que pareciam
coroar a serra, mas hoje nem isso. E o relógio a andar tão depressa. Às vezes, as
horas não passam, outras são um cavalo em liberdade, sempre a correr.
Quando
estava a chegar à escola, lembrou-se do rio que tinha visto no vale, logo pela
manhã. Ainda lá estaria? Entrou na sala atrás da professora. Uf! Tinha chegado
a tempo.
Sabia
que tinha sido o nevoeiro que tinha criado aquela ilusão, mas enquanto tirava o
livro e o caderno da mochila, ia pensando: sou mesmo sortuda, hoje um rio veio
visitar-me perto de casa.
De
repente, viu que a professora a olhava, à espera de uma resposta para uma
pergunta formulada.
-Desculpe,
professora, não ouvi a pergunta. Pode repetir, por favor? Estava distraída por
causa de um rio que vi no vale, perto da minha casa.
-Também
reparei no fenómeno do nevoeiro quando passei lá perto. A Natureza é
surpreendente. Às vezes, até um rio parece mudar de lugar. Interrogo-me se a
Natureza não o faz por Amor.
Vamos
lá, meninos, escrevam o sumário.
D.G.
– 21 de novembro 2012
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