sábado, 10 de março de 2012

Exceções e adaptações


     Muitos políticos, pela sua expressão facial, revelam muito do que são: construtores de mentiras habilidosas, egocêntricos, calculistas... Aplica-se-lhes bem o provérbio: Bem prega frei Tomás, olhem para o que diz e não para o que faz.
     Estão tão narcisicamente encantados com o seu poder e com a sua imagem que nem se lembram que muitos dos seus atos pioram o mundo em vez de o melhorarem. Isto acontece  também quando jogam com as palavras e argumentos para encontrarem muitas exceções à regra, como é o caso do não corte nos salários dos funcionários da TAP e da CGD. Porta-vozes destas decisões vêm dizer que não são "exceções" mas "adaptações"...
      Para além de erros que cometem, tratam os comuns dos mortais como parvos e distraídos.
     Para além disto, figuras que representam todos os portugueses, como o PR, mostram, em muitos momentos, a pequenez do espírito de vingança.
      Há quem defenda que os cargos de muitos governantes se devem ao facto de a sociedade civil se demitir com frequência.
      De facto, seria bom que, no contexto atual, houvesse políticos que fossem exceções, mas, muitas vezes, não passam de adaptações de modelos já gastos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A caixinha de música

Julgo que nunca tive nenhuma caixinha de música. Julgo também que a maioria das pessoas nunca teve uma caixinha de música. Também não é fundamental que se tenha uma caixinha de música. Mas há coisas que são importantes, ainda que não essenciais, tais como uma caixinha de música.
Este objeto  - quase mágico, quase mítico - tem vindo à baila com frequência entre um grupo de amigos por causa do livro de Maria Clara Miguel - O tesouro.
Ora, na busca do tesouro, as personagens deparam-se com uma caixinha de música há muito existente num velho casarão. Estaria lá escondido ou não o tesouro?
Um livro pode ser um tesouro e ajudar a recuperar muitos outros. Tal como os sons encantatórios de uma caixinha de música. A rodopiar, leve e suavemente, na nossa memória.

Comentários: 
Afinal, não sou só eu que nunca tive uma caixinha de música! No tempo em que eu tinha idade para a ter, os meus pais deviam andar mais preocupados com o trabalho do que com comprar-me brinquedos. Pois é, naquele tempo, os brinquedos estavam no sapato em cima do fogão no dia de Natal, uma vez por ano! Hoje, todos os dias é Natal para a maioria das crianças. Será que amar os filhos é dar-lhes tudo e esquecer que eles existem enquanto pessoas? Mas, um dia ainda vou comprar uma caixa de música para ver se também eu encontro o meu tesouro. CS em A caixinha de música

Quando era criança, lembro-me que a minha mãe tinha uma caixinha de música com uma bailarina, quando se levantava a tampa, começava a ouvir-se a música e surgia a bailarina que rodopiava ao som da música. E entretanto arranjei uma "caixa" de música que é um farol. Gosto de caixas de música :) em A caixinha de música Redonda

A caixinha de música da minha infância não era lá de casa!
Pertencia a uma senhora - a dona Nezinha (Que Deus a tenha!)- amiga  da minha tia Guilhermina (tia-avó, que Deus a tenha também!) que me criou.
Quando íamos a casa da dona Nezinha, ela emprestava-me a caixinha: a princípio aos olhos; mais tarde para as mãos. Era um pinaninho que, quando se abria, exibia uma pequena bailarina que dançava ao som, penso eu, do Lago dos Cisnes.
Por baixo das teclas, havia uma pequena gaveta que funcionava como guarda-joias. Não sei se eram de valor. Só sei que me ofuscava com o brilho das peças...
 E era um pequeno tesouro, que, mesmo não sendo meu, me fazia feliz.
Penso que a caixinha de música da Maria Clara Miguel foi pedida emprestada àquela que foi "minha" na minha infância!
Afinal, nada é por acaso!
Bjinhos para a Mariana e a Dolores
IA

Olhos de água


Chegou mais tarde e entrou na sala de aula sem dizer nada. A professora não gostou e olhou-a com aridez no olhar. Ultimamente, andava estranha e hoje nem se tinha dignado sequer a dizer bom dia e a pedir desculpa pelo atraso. Ainda que fosse irritante quando ouvia de uma única assentada: desculpatraso. Como que a despachar uma obrigação.
Se andava aborrecida com a vida, o problema era dela. Tinha chatices? Quem as não tem?
No final, Rosa veio ter com a professora. Pediu-lhe desculpa pelo atraso, mas que, naquele momento, nada tivesse de explicar.
A professora ouviu-a com atenção e reparou melhor nos claros olhos de água. Tristes, húmidos e avermelhados.

Expor-se mais à sexta-feira à noite


Já ouvi várias vezes o escritor Mário Cláudio dizer que escrever é expor-se. 
Manter um blogue, ainda que discreto, também implica alguma exposição. Vê-se a que horas se escreve, a frequência com que se escreve, os assuntos recorrentes…
Mas chegar à sexta-feira à noite e escrever, com alguma tranquilidade, um pouco mais no blogue pode implicar exposição mas que é bom é. 
É como atravessar uma ponte devagar, captando novos ares. Acenando, quase em silêncio, enquanto se caminha. Ainda que não se saiba quem está do outro lado.

Flores da há muito anunciada primavera

Comentário:
Belas flores para uma bela Primavera! A propósito de camélias lembro a exposição de camélias ocorrida este fim de semana no nosso Porto, o Porto romântico, o Porto dos jardins à inglesa que nos enternecem o olhar. CS em Flores da há muito anunciada primavera

O raminho de violetas


Tenho diante de mim um raminho de violetas.  Olhei-as, peguei nelas, senti-lhes o perfume e,  enquanto as punha na água, revi imagens de há muitos anos atrás. 
Em ruas do Porto, perto do mercado do Bolhão, havia vendedeiras de violetas. As belas flores miudinhas estavam em cestas, em raminhos, e atraíam os transeuntes, sobretudo os namorados. Lembro-me que  também as recebi. Quero crer que foi por amor.

Comentário:
O meu namorado era muito gentil. Esperava-me, às vezes, nos degraus da Faculdade de Letras com um raminho de violetas na mão. Tinha-as comprado a uma violeteira que costumava sentar-se à porta da Igreja dos Congregados. Era muito bonito ver um rapaz de 18 anos com um ramo de violetas na mão para oferecer à sua amada. Se calhar por ter passado por essa experiência feliz, quando vejo um homem com um ramo de flores na mão, não deixo de o olhar, imaginando o ar de felicidade de quem as vai receber. Ainda há homens que merecem ser amados! CS em O raminho de violetas

quinta-feira, 8 de março de 2012

Também os homens conhecem as mulheres (?)

 Paula Rego

Calçada de Carriche

Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
António Gedeão

quarta-feira, 7 de março de 2012

O dia por um fio




quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tiago Veiga - Uma Biografia, escrita por Mário Cláudio, vence

...Prémio para melhor Livro de ficção narrativa, pela Sociedade Portuguesa de Autores.

Será biografia? Ou heterónimo? Ou uma vida imaginária?

É uma obra extensa. Com muitas fotografias de personalidades da vida cultural portuguesa.

Onde começa a ficção? E a realidade?

Não é só na Vida que elas se misturam.

Sobre Os Amantes, de David Mourão Ferreira



 Um dos contos dá título ao livro. A leitura desta narrativa suscita muitas interpretações: um cenário de guerra colonial, imagens de toda uma vida, busca da pessoa amada, situações representativas do fantástico e do onírico...

Apesar de todas estas e muitas outras leituras, nos contos, nomeadamente "Os amantes", existe um forte visualismo por inspiração do cinema - sobretudo francês e italiano. Também esta forma de arte pode suscitar muitos modos de entendimento.

Como disse Mário Cláudio, nem tudo tem de ser interpretado; pode sentir-se apenas empatia.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O dia amanheceu com nevoeiro...

 Alfred Sisley


NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa, Mensagem

Cores da (desejada) chuva!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A chuva não vem e daqui a nada é primavera!

 Júlio
GLÓRIA
Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida 
E celebrada
Num festival de pétalas e cores
                                                      Miguel Torga  


Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás as mãos de quem te espera. 
                                                                         Eugénio de Andrade

FLORES
Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura.
                                                                       Sophia de Mello Breyner

Bem me quer...


domingo, 26 de fevereiro de 2012

No filme "O artista" ...

...com Jean Dujardin, o cão também merecia um Óscar.

Comentário:
Foi o que pensei quando vi o filme :) em No filme "O artista" ..
às 22:50

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Para a C. e para a D.


As duas adolescentes chegaram à hora prevista. Era manhã de sábado e tinham combinado com a professora ensaiar a leitura de um excerto de O tesouro, de Maria Clara Miguel, para lerem na apresentação do livro.Vinham nervosas, preocupadas em ler bem. E se se enganavam? A professora tranquilizou-as: liam muito bem. Tinham uma bonita presença. Iam gostar da experiência de lerem na Biblioteca Municipal.
De tarde, também à hora marcada, chegaram, segurando o texto dentro de umas capas da mesma cor. Uma das leitoras trazia uma trança, a outra, o cabelo bem liso.  Ambas, a  clara graça  de quem  olha o presente com vontade de futuro. Sentaram-se de novo a preparar melhor a  leitura do texto, antes da sessão começar.
A professora olhava-as com orgulho e carinho. Via nelas bons sinais de quem trabalha e se esforça para conseguir algo e de quem vai aprendendo a partilhar a beleza dos momentos que surgem e não se desperdiçam.
Antes da sessão, levantaram-se e saíram, dizendo que não demoravam nada. Chegaram com duas rosas: uma para a escritora, a outra para a professora. 
O que ia acontecendo era um tesouro, convocado pelo livro.

Comentário:
Duas lindas leitoras, que souberam estar à altura da situação: com boa leitura, com boa imagem e com um "savoir faire" social e afetivo que deixou toda a gente 'touchée', ao ofertarem flores a quem as merecia neste dia. em Para a C. e para a D.

às 22:58

Algumas palavras sobre um livro que (também) pode ser um tesouro


O Tesouro de Maria Clara Miguel
Em primeiro lugar, muito obrigada à Isaura Afonseca, Maria Clara Miguel, pelo convite que me fez para apresentar este seu segundo livro: O Tesouro, dedicado à sua irmã Fernanda. Pessoalmente, também estou grata à Editora Lugar da Palavra por ter publicado um livro que, para além do prazer que tive com a sua leitura, sei que muitos alunos o poderão partilhar, nomeadamente em Contratos de Leitura. Também quero referir a ilustração. Acho a capa muito bonita e muito motivadora para a leitura do livro. Reunidas estas qualidades, este livro é um tesouro que ajudará, por certo, a descobrir outros.
Um dia, falando com uma amiga comum sobre a vontade e capacidade de escrita, ela utilizou um termo que muitas vezes recordo: A Isaura arranja tempo para escrever e escreve com este fascínio porque tem a chave. Nessa altura, ainda não existia O Tesouro e ela referia-se sobretudo às Histórias para lermos juntos.
O tempo foi passando, e para além de poemas e de contos, a Isaura ia dizendo que estava a escrever um livro ao qual viria a dar o título O Tesouro. Tive o privilégio de acompanhar a escrita que ia dando vida a um grupo de personagens que seguiam muitas pistas que iam, secretamente, encontrando.
A palavra “tesouro” é sempre motivadora pelo mistério que sugere, pelo avivar do nosso imaginário, pela recordação de leituras que ficaram na nossa memória, de filmes, de brincadeiras de infância…
 O Tesouro de Maria Clara Miguel está envolvido num ambiente propício à sua procura. Existe uma velha casa que acompanhou várias gerações de uma família, um jardim, um sótão, baús que o tempo foi cobrindo de pó, cartas antigas, uma estante bem guardada e que é geradora de pistas e indícios, morcegos a voar numa real biblioteca…
 A este propósito, queria salientar o cuidado e minúcia da autora em procurar e encontrar pistas verosímeis mas inesperadas que conduzissem ao tesouro.
Durante este tempo de escrita, a Isaura, sempre com o seu entusiasmo e brilhozinho nos olhos, falava da avó Margarida, da velha Amélia, da Joana, do Pedro, do Afonso como seres que passaram a existir através das suas palavras e cuja vida ia construindo e partilhando. Queria que os vocábulos e os diálogos saíssem com verdade e naturalidade…
E por falar em palavras, é um livro muito bem escrito, embora de leitura muito acessível. A história e o modo como é contada prendem o leitor pelo ritmo e vivacidade. As personagens são igualmente motivadoras: poderíamos dizer que são pessoas que conhecemos ou que poderíamos conhecer: os mais novos gostam de se divertir, têm bom humor, vão fazendo descobertas amorosas, falam da escola, esforçam-se por conseguir chegar ao fim das suas buscas, embora às vezes, apeteça desistir, respeitam a família e são respeitados, guardam segredos, cumprem promessas, entusiasmam-se com as pequenas coisas da vida... Os mais velhos organizam a vida com carinho e alegria.
Ao longo da obra, no sentido de encontrar o tesouro, Maria Clara Miguel não dá todas as respostas porque sabe que quem está a ler é inteligente. E os leitores poderão ser de idades muito variadas. Tal como as personagens. O mais novo, Afonso, tem onze anos, a mais velha da casa, Amélia, tem 93. Todos são uma mais-valia na busca do tesouro. Eu diria que todos são uma mais-valia na busca do tesouro que é a própria Vida.
Le Clézio, o escritor francês que ganhou o prémio Nobel em 2008, escreveu um livro intitulado O caçador de tesouros. Essa personagem fez uma longa viagem para encontrar a riqueza escondida. Quando chegou ao local, depois de consultar livros e mapas, de atravessar rios e mares, chegou à conclusão que a principal riqueza estava dentro de si.
Com este livro, Maria Clara Miguel, com o seu talento e amor que põe em tudo o que faz, revelou também que há muitos tesouros, materiais ou não, perto de nós e que podem ser encontrados. Se se acreditar, como podemos ler nas primeiras páginas da narrativa.
Retomando as tais palavras da nossa amiga comum, a Isaura Afonseca, ou Maria Clara Miguel mostrou, mais uma vez, que tem a chave. Parabéns, muito obrigada e continuação de boas escritas.
Para todos, boas leituras. Muito obrigada



 Os comentários não deviam vir aqui, mas....

Dolores,
mais uma vez não consigo comentar na tua Mariana.
Por isso segue aqui o meu comentário.
Espero que gostes e não o censures! Eh eh eh...
Um beijinho grande e muito obrigada!
Za




Depois da releitura deste teu texto de apresentação que prendeu quem o ouviu, ontem, no auditório da Biblioteca Municipal de Gondomar, só posso concluir, mais uma vez, que os verdadeiros tesouros caminham connosco! Em casa. No trabalho. Nos cada vez menos momentos de encontro e de lazer...

Um muito obrigada pelo teu texto, pelo teu carinho, por teres seguido a escrita deste "O Tesouro", do qual és também uma espécie de autora, e, principalmente, um muito obrigada por acreditares...

um beijinho muito grande desta que gosta muito de ti

Isaura, também Maria Clara Miguel




Pois não sei, Clarinha, o que se passa com a publicação e leitura dos comentários. Ai como eu gostava de saber resolver estes problemas informáticos. Como não sei, ficam sempre para quando houver tempo e ele sempre a fugir. Mas também quando passa depressa é bom sinal! É porque há tesouros que vamos procurando e, felizmente, às vezes encontrando.
Za, obrigada pelas tuas palavras. Escolheste bem o título: O Tesouro. Também o és.
Um beijinho
Dolores e também Mariana

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ansiando pelo verde da terra

Graça Morais

Para quando a chuva?

Caillebotte

Diário de Mariana - Abaixo o pombal?


Querido diário, 
Há tanto tempo que não te escrevo. Tenho tido testes, trabalhos... mas também só uma fã é que me disse há algum tempo: Mariana, não tens escrito o teu diário! Eu sorri, puxei o cabelo para trás e encolhi os ombros. Ontem, a minha irmã mais velha também me disse: ó Mariana, há que tempos não leio nada teu. Eu até lhe disse logo: ó mana, até ‘tou admirada contigo porque criticas algumas páginas. Uma vez até disseste que o diário nem fica muito bem neste blogue adulto. Como é que disseste? Eu acho que tu chamaste pediátrico ao meu diário. Lembras-te? Até achei piada.
A minha irmã mais velha também é muito querida, mas gosta de tudo muito a sério. Ainda bem que eu não sou assim, porque isso dá muito trabalho e nem dá para descansar um bocado no sofá. Livra!
Pus-me a falar da minha irmã mais velha e ainda não falei do assunto que pus no título. Eu então vou contar. Hoje foi o último dia de aulas nos contentores. Também se dizia que eram monoblocos, mas quase toda a gente chamava pombal. As escadas, de chapa aos furinhos, eram muito largas,  tremiam muito e faziam muito barulho. Até me dava pena ver algumas professoras a subir: num braço, a carteira, no outro a pasta e às vezes o computador ao ombro. Eu não gosto de criticar as pessoas mais velhas, mas às vezes imaginava-as a serem içadas até às salas de aulas. Se a minha Dê-Tê sabia disto, deitava-me logo um olhar fulminante e dizia: Mariana, por amor de Deus!
Hoje foi o último dia que estivemos nessas casinhas provisórias. A partir de agora, depois de muitas obras que, pelos vistos custaram bué de milhões (eu que tenho só uns euritos por semana até me custa compreender essas contas) vamos ter salas a sério outra vez. Mas até houve coisas fixes durante este tempo que estivemos no pombal: era mais fácil copiar porque as mesas estavam mais juntas; podíamos trocar bilhetes sem a setora ver; falávamos mais à vontade sem nos chamarem a atenção… Pra não falar do Gi que às vezes dizia que não percebia, eu punha-me a explicar-lhe baixinho  e ele dizia-me que só me queria dizer outra vez que eu era a inspiração dele. Ele é mesmo fofinho!
Para a semana, falo das minhas impressões das aulas “na parte nova”. Ainda não sei muito bem onde vai ser a sala da minha turma mas oxalá que não fique muito longe do bar. Os croissants  são altamente.
Eu como me habituo com facilidade às situações novas, até continuava no pombal, mas, pronto, tem de ser, tem de ser. O pombal vai abaixo. Que vá. Mas não digo “Abaixo o pombal”. Tenho recordações tão fixes!
Até um dia destes, querido diário. Muitos abracinhos.
Mariana

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Balada de outono


Graça Morais

Águas
E pedras do rio
Meu sono vazio
Não vão
Acordar
Águas
Das fontes
calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Águas

Do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar
Zeca Afonso

2 de agosto 1029/23 de fevereiro de 1987

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Marcha De Quarta-Feira De Cinzas

 Toulouse-Lautrec
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz

                                     Vinicius de Moraes

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Dia Internacional da Língua Materna


Hoje, dia 21 de fevereiro,  comemora-se o
 Dia Internacional da Língua Materna
(proclamado pela Unesco em 1999)


Picasso

«As palavras, como os pássaros,
voam por cima das fronteiras políticas».
Rodrigues Castelão

«Da minha língua
vê-se o mar».
Vergílio Ferreira

«Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela
as quantas dimensões da Vida». 
Mia Couto

«A minha pátria
é a língua portuguesa».
Fernando Pessoa

«Porque bonitas são as línguas depois de manejadas e
celebradas pelas pessoas».
Ondjaky

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Provérbios de Carnaval


 K. Somov
 
Não há Entrudo sem lua nova nem Páscoa sem lua cheia.

Quer no começo quer no fundo,  em fevereiro vem o Entrudo.

Namoro de Carnaval não chega ao Natal.

Carnaval na eira, Páscoa à lareira.

É Carnaval, ninguém leva a mal.

Esta vida são dois dias e o Carnaval são três.

No Carnaval nada parece mal.
 
Pelo Natal semeia o teu alhal, e se o quiseres cabeçudo, semeia-o pelo entrudo.
 
Quem quiser o alho cabeçudo, sache-o pelo entrudo.

Há máscaras que não devem cair!

Veneza

Teatro

Antiguidade 

Moçambique
Podence, Trás-os-Montes