Talvez não me aconteça só a mim. Quando arrumo ou organizo fotografias, sinto sempre alguma nostalgia.
Impossível conter palavras ou pensamentos quando se olham fotos já com uma série de anos, do tempo em que eram em papel e o fotógrafo colocava os negativos numa separação do envelope, para serem reproduzidos quando se quisesse.
Olha, como eras tão pequenina. O sorriso já era como agora.
Como os meus pais eram novos e bonitos.
Tanta gente
no casamento e todos tão juntos na foto de grupo.Sem os medos de agora.
Como tocavam bem viola. Gostava tanto de ouvir.
Que saudades das paisagens de inverno em Trás-os-Montes.
Tantos que já partiram.
Aqui gosto mais de me ver.
Pareciam tão apaixonados e agora nem se podem ver nem pintados.
Quem diria que a farta cabeleira daria lugar a careca tão completa.
Parece que ainda estou a ouvir o que dissemos naquele dia.
Que caracóis tão vincados.
Perdi-os completamente de vista. O que lhes terá acontecido?
Os passeios que dávamos eram tão divertidos.
Tudo parecia eterno.
E as blusas aos folhos! Um tempão para passar a ferro.
Não quero morrer sem voltar aos Açores.
Como era magrinha.
...
O tempo é mesmo um grande escultor, como escreveu Marguerite Yourcenar.
Espalhadas, muitas fotos estão à espera de novas caixas para serem guardadas, porque as antigas estavam cheias de bolor.
No fundo, procura-se guardar pedaços de tempo. Tarefa inglória a que não escapa a nostalgia.
Mas também se foram bons os momentos vividos, o tempo já não os tira. Como os menos bons, é claro.