Que ganda nabo!!! |
sexta-feira, 6 de abril de 2018
segunda-feira, 2 de abril de 2018
"Recomeçar"
Luís Liberato |
Este poema foi-me também enviado por uma amiga (obrigada, A.).
Gostei e "tem mensagem" para a vida, o que sabe sempre bem.
É bonito como todos os que conheço de Carlos Drummond de Andrade.
Não importa onde você parou,
em que momento da vida você cansou,
o que importa é que sempre é possível e
necessário “Recomeçar”.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo,
é renovar as esperanças na vida, e o mais importante:
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado.
Chorou muito?
foi limpeza da alma.
é renovar as esperanças na vida, e o mais importante:
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado.
Chorou muito?
foi limpeza da alma.
Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia.
foi para perdoá-las um dia.
Sentiu-se só por diversas vezes?
é porque fechaste a porta até para os anjos.
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora.
é porque fechaste a porta até para os anjos.
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora.
Pois é, agora é hora de reiniciar, de pensar na luz,
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender a
pintar, desenhar, dominar o computador,
ou qualquer outra coisa…
Um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender a
pintar, desenhar, dominar o computador,
ou qualquer outra coisa…
Olha quanto desafio, quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando.
esperando.
Tá se sentindo sozinho?
Besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”…
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.
Besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”…
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza
nem nós mesmos nos suportamos,
ficamos horríveis…
O mau humor vai comendo nosso fígado,
até a boca fica amarga.
nem nós mesmos nos suportamos,
ficamos horríveis…
O mau humor vai comendo nosso fígado,
até a boca fica amarga.
Recomeçar…hoje é um bom dia para começar novos
desafios.
Onde você quer chegar?Ir alto? Sonhe alto. Queira o
melhor do melhor, queira coisas boas para a vida, pensando assim
trazemos prá nós aquilo que desejamos. Se pensamos pequeno,
coisas pequenas teremos…
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor,
o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental…
Joga fora tudo que te prende ao passado, ao mundinho
de coisas tristes: fotos, peças de roupa, papel de bala, ingressos de
cinema, bilhetes de viagens, e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados…
desafios.
Onde você quer chegar?Ir alto? Sonhe alto. Queira o
melhor do melhor, queira coisas boas para a vida, pensando assim
trazemos prá nós aquilo que desejamos. Se pensamos pequeno,
coisas pequenas teremos…
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor,
o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental…
Joga fora tudo que te prende ao passado, ao mundinho
de coisas tristes: fotos, peças de roupa, papel de bala, ingressos de
cinema, bilhetes de viagens, e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados…
Jogue tudo fora! Mas
principalmente, esvazie seu coração. Fique pronto para a vida, para um
novo amor. Lembre-se: “somos apaixonáveis”. Somos sempre capazes de amar
muitas e muitas vezes, afinal de contas – Nós somos o “Amor”.
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 31 de março de 2018
Feliz Páscoa!
Como gostei muito, também quero partilhar uma boa parte.
"Para a Quaresma, o Papa Francisco propõe 15 simples atos (...) que ele mencionou como manifestações concretas de amor:
*1. Sorrir, um cristão é sempre alegre!
*2. Agradecer (embora não “precise” fazê-lo).
*3. Lembrar ao outro o quanto o ama.
*4. Cumprimentar com alegria as pessoas que vê todos os dias.
*5. Ouvir a história do outro, sem julgamento, com amor.
*6. Parar para ajudar. Estar atento a quem precisa de si.
*7. Animar alguém.
*8. Reconhecer os sucessos e qualidades do outro.
*9. Separar o que você não usa e dar a quem precisa.
*10. Ajudar alguém para que ele possa descansar.
*11. Corrigir com amor; não calar por medo.
*12. Ter delicadeza com os que estão perto de você.
*13. Limpar o que sujou, em casa.
*14. Ajudar os outros a superar os obstáculos.
*15. Telefonar ou Visitar Seus Pais."
quarta-feira, 28 de março de 2018
As páscoas de A Páscoa
A nossa infância e juventude estão quase sempre presentes na nossa vida, para o bem e para o mal. Recordo-me, por isso, dos dias de Páscoa e das páscoas, umas flores pequeninas que brotavam em canteiros e jardins por alturas de abril ou maio.
Como também me lembro do compasso - um grupo de homens de fato e opa branca que entravam em todas as casas que estivessem dispostas a recebê-los e que eram todas ou quase todas.
À frente, vinha o padre, presença que passou a ser ausência porque as vocações religiosas há muito escasseiam. Trazia uma cruz que era dada a beijar para celebrar a ressurreição de Cristo, por entre água benta e a palavra Aleluia.
À frente, vinha o padre, presença que passou a ser ausência porque as vocações religiosas há muito escasseiam. Trazia uma cruz que era dada a beijar para celebrar a ressurreição de Cristo, por entre água benta e a palavra Aleluia.
Para se fazerem anunciar, um dos elementos do grupo tocava uma campainha. A grande maioria das pessoas não saía de casa, enquanto a visita pascal não se efetuasse. Às portas, eram colocadas flores e folhas que convidavam à entrada.
Quando eu era menina, havia muitas crianças que seguiam o compasso, correndo e saltando porque era grande a diversão. Como os habitantes de várias casas ofereciam ao grupo rebuçados ou amêndoas, a seguir, as guloseimas eram distribuídas pelas crianças. Recordo até que as atiravam ao ar e as crianças quase se acotovelavam para as apanharem. Confesso que não era muito bonito de se ver, como não eram outras coisas dos anos sessenta.
Era então por essa altura que as flores, a que chamávamos páscoas, iam aparecendo, muito delicadas e branquinhas. Nós, as meninas, apanhávamo-las e fazíamos raminhos que segurávamos nas mãos pequeninas enquanto jogávamos à patela ou corríamos pelos carreiros ou calçadas.
Onde vivo, ainda passa o compasso em domingo de Páscoa e há páscoas em muitos sítios. No entanto, existem menos casas abertas nessa data e as meninas e meninos quase não sabem o que é o jogo da patela.
Mas sabem outras coisas, por isso, não deixa de ser Páscoa, nem as páscoas deixam de renascer.
domingo, 25 de março de 2018
Os ramos de Os Ramos
Foto da net |
Em grupo, íamos a pé até à igreja para benzer o ramo. Depois de benzido, era tradição ser colocado numa jarra, em casa, para apaziguar tempestades ou trovoadas.
Quando chegávamos ao adro da igreja, logo víamos as pessoas, cada uma com o seu ramo, habitualmente pequeno.
No entanto, havia rapazes e homens, ligados à agricultura, que carregavam grandes ramos de oliveira ao ombro. Talvez aproveitassem partes da árvore que haviam sido podadas.
Aos meus olhos infantis, os troncos pareciam tão pesados como uma cruz e não encontrava explicação para aquilo. O tempo não era de grandes explicações e todos os anos o ritual se repetia.
Um dia, passados muitos anos, passei pelo adro da igreja, em domingo antes da Páscoa, e vi muita gente sem ramo e os que vi eram muito pequenos. Senti saudades dos grandes ramos de oliveira que via na minha infância.
Muito perto, estava uma vendedora de flores, entre as quais havia goivos. Aproximei-me para sentir o cheiro e ver melhor a cor.
Quis acreditar que eram semelhantes aos que a minha mãe punha no nosso ramo em Dia de Ramos.
terça-feira, 20 de março de 2018
Também os nossos (ex-)alunos anunciam a primavera!
Este texto foi-me enviado por uma ex-aluna. Gostei muito, disse-lho (desculpa, Bia, pela demora da resposta!) e perguntei-lhe se o poderia partilhar. Disse que sim e fiquei contente.
Obrigada, Bia. É tão bom ser sempre aprendiz!
"Aprendiz
Tanto tempo
passou e ainda não me consegui reconstruir. Juntar pedacinho a pedacinho
daquilo que me levaste e não devolveste. A revolta passou, a raiva também, a
vontade de estar contigo, de te ver, de te abraçar também. A dor já não é a
mesma, já não me permite exprimi-la, gritá-la, deitá-la fora. Aprendi a viver
com a impossibilidade de te ter, com a improbabilidade de te encontrar.
Remeto-me à esperança, aquela intocável e implícita esperança que sei que nunca
irá desaparecer. Finalmente deixei de viver para ti, libertei-me, pensei que
não conseguia. Consegui. Se te amo? Amor que é amor nunca deixa de existir,
apenas fica arquivado de forma diferente. Amar-te-ei para sempre.
Raros são os
dias em que acordo e penso em ti, raras são as noites em que adormeço com o teu
sorriso no meu pensamento. Porém, recordo-te. Vejo o teu sorriso todos os dias,
sinto o teu perfume, sinto o teu toque. Ainda sou capaz de fechar os olhos e
remeter-me até há dois anos e sentir tudo, com a mesma intensidade e vivacidade
que me fez considerar esses os melhores anos da minha vida. No entanto, já não
dependo de ti para ser feliz, para sorrir com a maior verdade, para me rir até
me doer a barriga, para ter a consciência que mais tarde ou mais cedo amarei
alguém, não como te amei porque ninguém é comparável, mas para amar.
Simplesmente isso: amar.
Por vezes,
durante todo este processo, achei que o tempo estava a ser traiçoeiro comigo e
não estava a fazer o seu trabalho: atenuar aquela dor, tão forte, tão
solitária, tão terrível, porém, não o podia ter feito da melhor forma. Fez-me
perceber o quanto o amor dói, apesar de não haver nada mais poderoso no mundo
que o amor. Tudo é amor, pode não ser demonstrado da melhor forma, pode não ser
compreendido como era suposto ser compreendido, mas tudo o que fazemos é por
amor apesar de continuar a ser uma pequena aprendiz e espero que para sempre o
seja, não quero que o dogmatismo leve o melhor de mim, ou seja, a curiosidade,
a cor da vida.
Muitas vezes
pergunto a mim própria quanto tempo mais é preciso para poder ser capaz de me
interessar por alguém, deixar de ter medo de viver, arriscar, voltar a ser quem
era antes de ti. Mas é impossível. A vida e as suas circunstâncias
modificam-nos a cada segundo. Sinto que esta impossibilidade me tira a
respiração, mas também é por ela que respiro, para tornar a vida possível.
Agora, aqui
sentada, vislumbro o horizonte que outrora vislumbrámos, relembro os planos que
fizemos, as conversas que tivemos e as que não tivemos. Imagino como seria se,
agora, aqui sentada, tu estivesses ao
meu lado, envolvidos no silêncio e no frenesim que era o nosso silêncio. Penso
e repenso tudo o que disse e o que não disse, tudo o que sonhei e deixei de
sonhar, tudo o que vivi mas não vivi, contigo e comigo. É a vida - dizem eles.
Para sempre
serei uma mera aprendiz, que nada sabe mas que pensa, inofensiva e
imaturamente, tudo saber, tudo viver. Um dia, quando souber verdadeiramente o
que é o amor, prometo procurar-te, para te contar tudo o que descobri, para
dissertar acerca do tudo e do nada, estejamos à distância que estivermos,
vivamos a vida que vivermos.
Mas ... tenho
uma coisa para te dizer: eu nunca irei procurar saber o que o amor é, pois, de
e para sempre, desejo ser uma eterna aprendiz.
Bia"
sábado, 17 de março de 2018
sexta-feira, 16 de março de 2018
quinta-feira, 15 de março de 2018
quarta-feira, 14 de março de 2018
Stephen Hawking - Um homem muito especial
Hoje o Expresso Curto noticia:
"Aos 76 anos, morreu na sua casa em Cambridge, no Reino Unido, um dos mais conceituados e geniais cientistas do planeta. O físico autor de "Breve História do Tempo". O homem que aos 21 anos viu ser-lhe detectada uma doença degenerativa rara (esclerose lateral amiotrófica), com uma esperança de vida de cerca de dois anos, e que sobreviveu mais de meio século depois disso. O cientista que nos habituámos a ver agarrado a uma cadeira de rodas e a comunicar através de um computador. Stephen Hawking. O anúncio foi feito em comunicado pelos seus filhos."
Do Expresso Curto também retirei " algumas das mais emblemáticas citações de Hawking:
Remember to look up at the stars and not down at your feet
My goal is simple. It is a complete understanding of the universe, why it is as it is and why it exists at all
Life would be tragic if it weren’t funny
We are just an advanced breed of monkeys on a minor planet of a very average star. But we can understand the Universe. That makes us something very special"
terça-feira, 13 de março de 2018
Convite de "Mimos e Livros"
Mimos de Maio
Antologia Poética 2018
A Mimos e Livros completa um ano de existência e quer comemorá-lo consigo!
Vamos publicar uma Antologia Poética: MIMOS DE MAIO.
A data limite para entrega dos textos é 15 de Abril de 2018.
Participe!
Regulamento
Siga aqui o evento no facebook:
https://www.facebook.com/events/1780010298972893/permalink/1781505295490060/
Antologia Poética 2018
A Mimos e Livros completa um ano de existência e quer comemorá-lo consigo!
Vamos publicar uma Antologia Poética: MIMOS DE MAIO.
A data limite para entrega dos textos é 15 de Abril de 2018.
Participe!
Regulamento
- O prazo de inscrição para participação na antologia MIMOS DE MAIO e envio de textos decorre até 15 de abril de 2018.
- Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para geral@mimoselivros.pt
- Serão admitidos textos do género lírico (poemas e prosa poética).
- Cada autor poderá participar apenas com um texto, que pode ocupar até 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos) ou um máximo de 1400 caracteres (espaços incluídos).
- A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.
- Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.
- Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 500 caracteres, incluindo espaços.
- O tema dos textos é livre.
- No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, emwww.lugardapalavra.pte enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.
- A organização e seleção dos textos para publicação pertencem à Mimos e Livros Edições, uma chancela da Lugar da Palavra Editora. Da decisão de seleção ou não do júri não haverá recurso.
- Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.
- Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo- lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.
- A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.
- Os casos omissos serão resolvidos pela organização.
- O CONSELHO EDITORIAL da Antologia Poética MIMOS DE MAIO é constituído por
Anabela Borges, Celeste Almeida e Maria Eugenia Ponte, e terá como função:
1. Pronunciar-se sobre a inclusão ou não de alguns textos que serão enviados pela organização com vista a garantir a qualidade da antologia;
2. Nomear alguns textos com a menção de 'qualidade superior';
3. Redigir uma crítica da obra a publicar.
Siga aqui o evento no facebook:
https://www.facebook.com/events/1780010298972893/permalink/1781505295490060/
segunda-feira, 12 de março de 2018
Refugiados e escritores
Lendo diferentes obras
de J. M. Gustave Le Clézio para uma tese de mestrado, antes de este autor de língua francesa ter recebido o prémio
Nobel em 2008, tomei contacto com dramas de refugiados, sobretudo chegados a França,
vindos do norte de África, embora o mundo ainda não estivesse abalado pelo
terrorismo, como nos dias de hoje.
Com a sua vasta obra, Le Clézio mostra
que - recorrendo eu a palavras de Marguerite Yourcenar, em Les Yeux ouverts - é um escritor
"qui ressent, qui regarde, qui agit".
Na coletânea de cinco contos Printemps et autres saisons (julgo que não está traduzido em
português), esse autor conta histórias de cinco mulheres árabes, de
diferentes idades, que erram pela França, nomeadamente no Sul, em busca de
acolhimento e também de si próprias.
Muitas delas foram vítimas de passadores que as abandonaram, sem qualquer escrúpulo, depois de lhes terem extorquido grandes quantias de dinheiro, fazendo lembrar os atuais naufrágios no mar mediterrâneo, afundando toda a poesia desse elemento mítico que tanto fascina os seres humanos.
Muitas delas foram vítimas de passadores que as abandonaram, sem qualquer escrúpulo, depois de lhes terem extorquido grandes quantias de dinheiro, fazendo lembrar os atuais naufrágios no mar mediterrâneo, afundando toda a poesia desse elemento mítico que tanto fascina os seres humanos.
"No mar não há Primavera nem Outono
No mar o tempo não morre"
Sophia de Mello Breyner
Várias vezes falei aos meus
alunos. de Jean-Marie Gustave Le Clézio, escritor franco-mauriciano, em cujas obras aborda problemas cruciais do nosso tempo.
Quando vinha a propósito o tema dos
refugiados, alguns alunos insurgiam-se contra a sua presença em países da
Europa, repetindo, talvez, o que ouviam em casa: que vinham roubar os empregos
e criar instabilidade social.
E lá pelo meio vinha o argumento, que me
surpreendia e desagradava profundamente: "Se Salazar fosse vivo, ninguém
entrava cá". E era preciso repetir-lhes que se Salazar fosse vivo, não
poderiam sequer exprimir-se livremente, nem estariam na escola, à
qual, felizmente, todos têm agora acesso.
Repetiam que era o que os avós diziam. Parecia que muitos dos mais velhos não tinham sofrido por
terem começado a trabalhar demasiado cedo, de terem tido acesso apenas a uma
escolaridade mínima, de não terem conhecido a liberdade de expressão, de terem
estado fechados ao mundo...
De facto, a nossa capacidade de
esquecimento supera atrocidades históricas.
Os escritores ajudam a que a memória não se perca e tentemos viver melhor e com mais consciência do papel de cada um no mundo. Quero acreditar que sim.
domingo, 11 de março de 2018
"Une pensée par jour"
O Clube das Histórias lançou um blogue em francês.
Vale a pena lê-lo pela beleza das mensagens e ilustrações.
Aqui vai o link para o partilharmos.
Aucun
homme n’est une île. Tout homme est un morceau d’un grand continent,
une partie de l’ensemble. Si une motte de terre était emportée par la
mer...
sábado, 10 de março de 2018
Coisas da memória
Ana Vidigal, 2000 |
Muitos nomes e rostos de alunos continuam na minha memória. Como uma adolescente muito loira, muito bonita, muito estudiosa e que tinha um desgosto inimaginável: chamava-se Porcina.
Um outro aluno, cujo
apelido era Ludmila, fazia questão, com alguma arrogância e orgulho familiar,
de ser chamado assim e não pelo nome próprio, bem mais comum.
Tantos casos curiosos fui gravando
na memória.
De excelentes desempenhos por parte
de alguns alunos. Por vezes, dava comigo a pensar que gostava de atingir aquela
perfeição porque nada ficava por fazer,
nada ficava por perguntar, nada ficava por completar.
O contrário também acontecia:
jovens que bocejavam, que olhavam mais para fora da sala de aula do que para
dentro, que perdiam o manual e o caderno, que esqueciam a pen no dia da
apresentação de um trabalho, que não tinham esferográfica, que inventavam dezenas de truques para
usar o telemóvel na sala de aula, que nunca agradeciam nem pediam desculpa...
Recordo também algumas sessões de língua portuguesa para adultos (trabalho de que também gostei), muitas
dúvidas surgiam: onde colocar a vírgula? Por que é à e não há?
Qual é a diferença entre vêm e veem?
Para além de alguns dados sobre o Novo
Acordo Ortográfico, explicávamos e voltávamos a explicar, porque alguns
mecanismos vão perdendo o vigor em trabalho duro de anos a
fio, indiferente a estas coisas que, só regressando à escola, parecem ser importantes.
Ah! E houve uma formanda já de certa idade que, no final
de uma destas sessões, pediu para ler um poema que tínhamos incluído no guião. Leu-o com tal sentimento que o grupo lhe bateu palmas.
E disse com um sorriso de sentida vitória:
E disse com um sorriso de sentida vitória:
- Sempre gostei de poesia. Obrigada.
Eu acrescentaria: as boas memórias também agradecem.
Eu acrescentaria: as boas memórias também agradecem.
sexta-feira, 9 de março de 2018
A recessão aguça o engenho?
Pollock - The Flame |
Num dia muito frio do ano passado, eu estava em Paris, fui ao museu da
Orangerie e vi a exposição de pintura americana dos anos 1930.
Num dos painéis de uma das salas, podia
ver-se que foi no dia 29 de outubro de 1929 que a Bolsa de Nova York colapsou,
arrastando os Estados Unidos para uma crise tanto económica como de dignidade.
A exposição organizava-se por temas,
tais como: Contrastes americanos: poderio industrial e retorno à terra; a
cidade espetáculo; a história revisitada; pesadelos e realidade; para uma arte
moderna americana. Para ilustrar estes temas, eram expostas obras de autores
como Grant Wood, Charles Sheeller, Arthur Dove, Helen Lundeberg, Pollock,
Hopper...
Essa crise, começada no outono de 1929,
era bem evidente em quadros com rostos de grande secura e austeridade, evidenciando carências
também alimentares. Excertos de filmes e painéis ajudavam a compreender melhor as
consequências de uma recessão.
Também a crise portuguesa dos últimos
anos, para além dos prejuízos causados, abriu novos caminhos suportados pela
imaginação e criatividade. Mas o melhor será não haver réplicas de tão grande terramoto.
quinta-feira, 8 de março de 2018
"Mulher é desdobrável"
Menez - Figura, 1989 |
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado
Subscrever:
Mensagens (Atom)