domingo, 30 de maio de 2021

Os Anjos...

 

 Ontem, foi o lançamento online desta coletânea. Para além de outras pessoas, os editores tinham-me convidado para o conselho editorial deste livro, convite que aceitei com gosto. Cabia-me também dizer umas palavras. Escrevi o pequeno texto que agora partilho e que não li, porque não pude estar presente na sessão.

Em breve, partilharei também o conto que escrevi e que foi publicado no livro: 'Maria dos Anjos'. Ficará para depois do Dia da Criança, em que outros anjos poderão voar.

 

Nota:

Agradeço os comentários  muitos generosos. Só queria esclarecer que fiz parte do conselho editorial (e não redatorial, como, por lapso, escrevi) só  nesta coletânea. Nada mais. Por isso, é coisa pouca, sem deixar de ser boa, é claro.


Boa noite a todos. Não podendo estar presente por motivos familiares, deixo esta mensagem.

 Agradeço à Editora Lugar da Palavra o convite para fazer parte da equipa editorial da coletânea - Os Anjos na Prosa e na Poesia. Parabéns  aos editores, João Carlos Brito e Ana Bessa, autora também da belíssima capa, e a todos os autores.

Quando, inicialmente, vi a proposta de tema e de título do livro, fiquei logo interessada em participar e curiosa sobre os textos que iriam ser produzidos.

De facto, o tema era inspirador e dava pano para mangas ou, neste caso, dava asas para voos diferentes, em prosa ou em verso.

 Nessa altura, sobre os sentidos da palavra 'anjo', logo me ocorreu a oração matinal ao anjo da guarda que a minha mãe nos ensinava.

 Também me lembrei dos anjos barrocos muito rechonchudos, tal como me vieram à memória crianças pequeninas que não resistiam às graves doenças. Dizíamos, com muita tristeza, serem anjinhos que iam para o céu.

Impossível não me recordar também dos anjinhos nas procissões das festas religiosas, ou da expressão bem menos inocente e tão usada a propósito das pessoas que põem máscaras sem ser a sanitária: tem cara de anjo mas é um demónio.

E, nesta linha de pensamento, vem o livro de Camilo Castelo Branco, A queda de um anjo cuja história se aplica na perfeição a tantas figuras públicas atuais. Ou a figura aterradora da 'tecedeira de anjos' do romance O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós.

Como já temos a coletânea nas nossas mãos, podemos encontrar os diferentes modos como todos os autores recriaram o tema. Aqui reside a beleza da diversidade humana presente  numa coletânea.

Desculpem-me se me alonguei, se não correspondi às expectativas e também pela minha ausência, mas não me mandem para o inferno, porque só  gosto da terra e do céu. Por isso, destaco as palavras de José Saramago, transcritas na capa da nossa coletânea: 'o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer'.

Muito obrigada e continuação de um bom encontro. Muita saúde e que todos se sintam felizes com a escrita e com a leitura.

 29 de maio 2021

sábado, 29 de maio de 2021

Elas eram três

 

Elas eram três irmãs e a casa onde viviam valia por várias. Porque era grande, velha, muito exigente de cuidados. Queixava-se, rangendo, de quase tudo. Do chão ao teto. Elas ouviam o ranger e tentavam repará-lo. Quando deixaram de ouvir bem, sentiam as dores da casa que se juntavam às dores dos seus corpos que iam envelhecendo e entorpecendo. Quando as forças estavam mais intactas, às vezes ficavam com sobrinhos-netos que eram  muitos porque a família era grande. Puseram até um baloiço para eles se entreterem. Para além de verem os coelhos, os pintos, correrem na eira, plantarem uma alface...

As três repartiam as tarefas de casa: a cozinha, as roupas, as limpezas, os vasos do pátio, o telheiro, a horta... Só uma conduzia o carro verde e pequeno. Ele era as compras, ele era a farmácia, ele era levar as irmãs à igreja ou ao médico... Que nada faltasse em casa. E que não lhe faltassem estas saídas para tomar um café e ver gente e saber o que se passava e dizer umas graças e ouvir uma anedota... e vir refrescada para casa, a que, por graça, dizia parecer um convento.

No tempo em que não havia os serviços de saúde atuais, enquanto as mãos estavam firmes,  dava injeções a quem lhe pedia. Lá ia ela a qualquer hora com a caixinha das injeções, o frasco do álcool e os fósforos para desinfetar a seringa pelo fogo.

Porém, pela falta de saúde, teve de deixar de conduzir, o que lhe encurtou o prazo para a viagem final.

Ontem, a que em tempos nunca parava, a que saía mais e era mais conhecida pela enérgica alegria, partiu. Foi a última das irmãs daquela casa.

Hoje eu falava dela. E logo ouvi: Oh, que tristeza. Ela deixava-nos andar no baloiço. Era uma alegria. Oh, que tristeza.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Ontem vi uma gaivota

 

Ontem vi uma gaivota

numa rua a passear,

não parecia andar perdida

mas até mui divertida

em Espinho visitar.


Eu comia um croissant

quando vi a tal turista

no passeio a saltitar;

não pude fotografar

mas ficou-me aquela vista.


De repente, o que vejo?

A gaivotinha a parar.

E fiquei surpreendida:

estaria exaurida

a ponto de não voar?

 

Mas estava escorreita

e  saudável parecia;

não  havia então razão,

só se fosse de emoção

por tudo aquilo que via.

 

E foi quando concluí

por que ela pararia:

que frescura de verdade!

Viera em  liberdade

em busca da peixaria!

 


quinta-feira, 27 de maio de 2021

Maresias, batatas, cebolas, gavetas, escolinha...

 

Hoje de manhã fui a Espinho, uma cidade bonita, geométrica e com mar ao fundo.  Enquanto conduzia, iam-me surgindo ideias. Umas iam ficando nas bermas da estrada, outras foram saborosas, ainda que simples, enquanto duraram. Matéria para um post - pensava eu. E já não sei a que propósito, pensei nas minhas viagens a Londres que deixei de fazer com a pandemia.

Quando chegava à estação de comboio e via a minha filha e a minha neta à minha espera, era como se chegasse a uma casa que não era a minha, mas que era como se fosse a minha casa. Daí a umas horas, já tinha tomado nota de coisas a comprar para cozinhar. Para uma tuga como eu, era quase impossível ter só uma ou duas batatas ou apenas uma ou duas cebolas. E logo eu: filha, vou ao supermercado. E lá vinha eu carregadinha, a pé, é claro, porque a facilidade dos transportes dispensa-lhes o carro, com batatas, cebolas, alhos, mais fruta, etc.

 E quando me apanhava sozinha em casa - na época, não havia teletrabalho e a Clarinha ia para a escolinha cedo - punha-me a arrumar prateleiras e gavetas. Quando contava isto às minhas amigas, diziam-me: fazes isso porque ela é tua filha, se fosse nora, não fazias.

E às 15.30, lá estava eu diante da porta alta e resistente da escola primária. Estivesse sol ou a chover, esperávamos todos cá fora pela hora certa em que o portão se abria para irmos buscar as nossas crianças. Mais todas do que todos. De cores de pele diferentes, umas com o cabelo descoberto, muitas com ele escondido nos lenços que os prendiam. E, em breve, estava eu junto da sala, a espreitar para ver a minha boneca, já que os meninos esperavam que a professora, à porta, os chamasse. E lá vinha ela a correr até mim, porque aos 4/5 anos, raramente se caminha e quase sempre se corre.

E assim cheguei às ruas geométricas de Espinho com as suas obras que nunca mais acabam e afixam placas com imensos desvios. Para além da maresia, há bons espaços com cheiro a boa maré de livros: uma Bertrand com muita luz e simpatia; uma biblioteca onde queria ter ido hoje, mas não fui. Faltou-me tempo. Como faltavam as batatas e as cebolas  em Londres, sem faltar a vontade de lá voltar.


terça-feira, 25 de maio de 2021

Uma nova hera

A casa sempre havia sido uma paixão. Nela tinha nascido e vivido. Era de granito firme e  sossegado, tinha um frondoso jardim e um quintal que não era grande mas enorme em fertilidade. E o rio corria sempre ao alcance da sua vista.

Os pais, em tempos, quiseram casá-lo com uma rapariga que eles conheciam desde menina. E, apesar de já não ser nada menina, toda a gente a tratava desse modo. A menina isto, a menina aquilo. E a voz e o jeito de sorrir dela era mesmo de menina.

Para fazer a vontade aos pais e por estar em idade muito mais do que casadoira, ele começou a fazer-lhe a corte. Ela sorria-lhe, mas quando ele lhe queria fazer uns mimos diferentes daqueles a que ela estava habituada, adeus ou até logo. Tinha uma novena, tinha de preparar o retiro, tinha de ir à missa, era a hora do terço, tinha de preparar uma leitura ou um  peditório, etc.

Ele começou a cansar-se de não lhe poder dar os mimos desejados nem dela receber os mimos esperados. E os mimos acabaram, mesmo sem terem começado. Era da maneira que podia passar os domingos como queria: ir correr pelos montes ou pelos passadiços junto ao mar. 

Quando os pais morreram, ele ficou a morar sozinho na casa. Como já estava reformado, todos os dias tinha flores para plantar, ervas para arrancar, relva para cortar, ramos para podar, etc. A casa estava sempre num brinco e, para a aprimorar ainda mais, mandou fazer um grande azulejo com a sua fotografia, de todas a melhor e mais bonita. Achava um primor vê-la na parede com mais sol.

Um dia, nesses passeios de domingo, que manteve porque a vida tinha de continuar, conheceu um amor, um grande amor, o seu maior amor. Era como se já se conhecessem desde o tempo em que o amor é amor. E o cupido acertou de tal maneira que foi ficando na casa de seu amor para do amor estar mais próximo. Fica só hoje. Só mais esta noite. Amanhã é domingo e podemos correr juntos, etc etc etc. E os dias foram passando, as semanas e até os meses.

Mas a lembrança da casa que fora o seu berço não o abandonava. Como estará tudo? Deve estar uma selva. Parece que a casa é mais importante do que eu - dizia o seu amor. Claro que não - respondia com amor. E tinha pena de o seu amor não conhecer a casa. Muitas vezes o seu amor prometera ir ver a casa, mas, chegando o dia, sugeria nova corrida ou um petisco como ele nunca provara. Ainda bem que o seu amor, quando se dispunha a falar dela, o aconselhava a nunca vender a casa.

Um dia, mesmo sem querer contrariar o seu amor, trocou-lhe as voltas e, sem nada lhe dizer, foi em corrida até à sua casa. Já não podia mais. Tinha de ver como estava. Quando chegou, nem queria acreditar, as ervas daninhas cresciam por toda a parte e em plena liberdade. E que desgosto ver uma hera que havia trepado pela parede e já lhe cobria parte do retrato. Nem teve coragem de entrar. Pôs-se a caminho da casa do seu amor. Ia desnorteado, meio zonzo e nem ouviu a buzina do carro que o atropelou. Morreu poucas horas depois.

Na mesma semana, o amor, que fora o seu amor, veio conhecer a casa. E foi amor à primeira vista. Tinha era de cortar a erva. E plantar uma nova hera para cobrir todo o retrato. Sempre ficava mais barato do que mandar tirá-lo da parede.

 

segunda-feira, 24 de maio de 2021

domingo, 23 de maio de 2021

Hoje tomei a primeira dose da vacina. 'Voilà'

 
Pelo telefone, avisaram-me da minha vez para tomar a vacina: Multiusos de Gondomar, às 11.30 deste domingo.
Aceita?
Claro que aceito. Posso saber qual é a vacina?
Isso não sei.
Ok, muito obrigada.
 
Cheguei ao Multiusos à espera de uma grande 'turma ex-covid', porque, entretanto, soube de outros casos de pessoas que foram infetadas, como eu, e também chamadas. E assim aconteceu, mas tudo calmo, apesar de haver muita gente. Tinha vestido uma blusa sem manga para tornar mais fácil o ato e desejando que a seringa entrasse rápido e não em perfuração lenta, como às vezes parece na televisão.
 
E tudo decorreu como gosto: espaço para o necessário distanciamento, boa organização, simpatia, pouco tempo de espera. 'Uma boa linha de montagem', como disse um amigo que lá encontrei.
 
Tomei a Astrazeneca que não era, de modo algum, a minha preferida, mas a que hoje estava destinada aos maiores de sessenta. E só uma toma. Indaguei. O motivo era eu já ter tido covid.
 
Hoje vou estar com o meu neto, um novo amor que nasceu há dois meses. Não deve ser nada científico, mas não é que já me sinto um pouco mais segura para me aproximar um pouco mais dele?!
E como vi ontem à noite Barbara Pravi no festival da canção, apetece-me repetir: voilà! 
 
Gostei de ouvir esta música francesa (sempre tive um fraquinho pela música em língua francesa), se calhar, por ser mais sóbria e não com aquele aparato histriónico de quase todos os grupos. Se calhar, por me fazer lembrar a pequena mas gigante Edith Piaf ou o imenso Jacques Brel. Se calhar, pela cantora ter um sorriso cheio de expressividade e de encantamento. Sei lá. Os portugueses também estiveram bem. E é sempre bom falar de amor. 'Voilà'.

sábado, 22 de maio de 2021

Isto de se ser amadora tem destas coisas!

 

Peço desculpa aos meus amigos bloggers, mas, por um erro de reformatação, perdi o endereço de alguns blogues e são todos muito importantes para mim.

Se repararem nas faltas, foi apenas por falta minha. Coisas de amadora. Ao querer aprimorar, acabei por estragar.

Logo que possa, vou recuperá-los e reformular a lista. Fiquei triste e a todos peço imensa desculpa.

Já agora, obrigada pelas vossas visitas e comentários amigos. 

É muito bom estarmos juntos.

Um abraço e bom fim de semana.


sexta-feira, 21 de maio de 2021

Jardins abertos.com, bancos de jardim, etc etc etc


Ouvi hoje que vai decorrer o Festival dos jardins abertos. Abri o endereço e uma das imagens que de lá retirei foi a que a seguir partilho, muito antiga mas que achei curiosa:

https://www.jardinsabertos.com/ 

Armando Serôdio
Jardim da Parada
1959
 
Na imagem, só vejo homens sentados e em idade ativa. Não há mulheres. Se elas se sentassem em bancos públicos, seria contrário à decência e aos bons costumes da época, com certeza. E daria também uma ideia de ociosidade, igualmente pecaminosa. Apesar de tantas mudanças necessárias, e por incrível que pareça, atualmente ainda surge a mesma questão, sobretudo se a mulher estiver sozinha a desfrutar do descanso e da contemplação.

Também na foto não há só pessoas velhas a tentar descansar de tantas e aflitivas solidões, como se vê em muitos jardins públicos.

Acho que os bancos de jardim deviam ser reabilitados, onde todos e de todas as idades se pudessem sentar para repousar o corpo e engrandecer a alma.

Vi um dia num parque de Londres, uma sucessão de bancos de jardim num lugar donde se tinha uma vista deslumbrante para o resto do parque e da cidade. Cada banco tinha nomes de pessoas que os tinham frequentado muitas vezes e onde, naturalmente, se tinham sentido bem e retemperado as diferentes forças de que tanto precisamos.

Os bancos de jardim deviam ser preservados, limpos para que as pessoas que os utilizam se sentissem mais felizes. E não houvesse garrafas abandonadas, restos de embalagens gordurosas, etc.

E como achei uma bela ideia a da abertura de jardins ao público, fui ao google à procura de mais jardins. Encontrei lá esta reportagem da revista Visão com belos jardins portugueses que se podem visitar. É esta a porta de entrada:

 https://visao.sapo.pt/visaose7e/sair/2021-03-19-11-parques-e-jardins-para-passear-ao-ar-livre-agora-que-comeca-a-primavera/

Puxei a brasa à minha sardinha, isto é, às minhas proximidades, e escolhi esta imagem da Quinta de Bonjóia, no Porto, que, julgo, não é muito conhecida: 

Foto: Filipe Paiva

E se chover no fim de semana, como hoje por cá acontece, há sempre um jardim à nossa espera, nem que seja pequeno. Pode ser o nosso, o canteiro da varanda, o de uma costumeira rotunda, o do vizinho que vemos pela janela, as cores e flores das árvores da rua...

Ah, e há rosas trepadeiras em muros onde menos se espera. Tantos e sempre abertos ao nosso olhar.

 Um fim de semana feliz e florido.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

A rapariga e a caturra

 

Fui comprar pão. Só entram duas pessoas de cada vez. Quem chega vai esperando cá fora. À minha frente, estava uma jovem. De repente, uma ave espavorida esvoaça-lhe no ombro. Assustei-me, apesar de estar a uns dois metros de distância. 

Vi depois que o pássaro estava preso por um cadeado fininho e atado por um gancho ao ombro da sua dona, presumo. Achei graça ao exotismo da imagem. Perguntei qual era a ave.

Uma caturra - disse a rapariga.

Reparei que a pousante no ombro era bonita e de crista bem recortadinha.

Que sorte andar a passear - disse eu.

Ela gosta - disse a rapariga do ombro transportador.

Ela gosta? Como se sabe? - interroguei-me eu.

Mas não perguntei mais nada porque era a vez de a rapariga entrar na padaria e eu não sabia se ela era caturra.

 

terça-feira, 18 de maio de 2021

Nos museus também se pode ser feliz

 

Julgo que hoje é celebrado o Dia dos Museus e lembrei-me que já não vou a um museu desde que começou a pandemia. E como eu muita gente, de certeza. E logo me lembrei do museu de Serralves, no Porto. Para além das exposições e atividades dentro de portas, também o exterior do museu e da Casa são locais onde apetece ficar sempre um bocadinho mais pelo que se vê,  se sente, se cheira, se aprende, se desfruta. 

Já lá participei de vários ateliês de escrita dinamizados pelo escritor Mário Cláudio, de escrita portentosa e saber enciclopédico, onde cabe também o que se passa no tempo atual. Ao longo das sessões, dava-nos tarefas de escrita. Quando um diálogo não estava de acordo com o que as personagens diriam, ele reagia, dizendo que estava pouco real. Por isso, uma das participantes enquadrou uns palavrões num texto, como seria natural no ambiente da história. Porém, ao lê-los, quase tropeçava nas palavras que dizia em voz mais baixa, porque, disse, não estava habituada a dizer palavrões. Houve risota, obviamente.

Também um outro ateliê de escrita, com outro belíssimo escritor, Richard Zimler, me ficou na memória. Chegava sempre com um chapéu largo e de cor garrida. Quando entrava em funções, tirava os sapatos de forma muito discreta e ficava em meias, aproximando-se atentamente e simpaticamente de todos os participantes, nas suas tarefas de escrita, na bela e luminosa biblioteca com as mesas em U, no sentido de os ajudar.

Vou ver se consigo ir lá em breve e num dia de sol. Sem deixar de tomar um café na cafetaria exterior, com esplanada sob velhas glicínias, creio. Por onde não faltam pássaros em cantares livres e festivos.

 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Um bom livro sem gorduras


 

Este fim de semana, acabei de ler o livro A Gorda de Isabela Figueiredo. O romance, de 285 páginas, conta, na primeira pessoa e numa linguagem de grande vivacidade, despojamento e realismo, a história de Maria Luísa, que vive tormentos, ao longo da sua vida, a nível familiar, escolar, amoroso, etc, pelo facto de ser gorda e, por isso, diferente de outras pessoas. O seu peso pesava muito sobretudo em idade mais jovem. 

Tendo ela retornado com os pais de Moçambique, no pós 25 de Abril 1974, também são referidos acontecimentos e modos de viver dos anos 70 até aos dias de hoje, em que Maria Luísa vive as suas solidões de mulher adulta, atravessadas por amizades que a marcaram e por um amor que também lhe trouxe - e traz - entusiasmos e deceções.

Para além da história, há muitas reflexões fulcrais sobre a vida humana: o amor, a morte dos que nos são próximos, a solidão, as perdas...

Porém, é um livro que respira força, vontade alegre de viver, de não desistência a meio do caminho...

 

Partilho aqui um excerto da obra, embora haja muitos mais que sublinhei com o lápis que me acompanha sempre quando gosto da leitura. Escolhi esta passagem sobretudo por aquilo que Maria Luísa diz ser muito importante na sua vida.

A escrita será mesmo salvífica?


 

sábado, 15 de maio de 2021

Eles e elas e era uma vez...


Maria Keil (Silves, 1914 / Lisboa, 2012)

Não vejo a vida sem elas, porque contam, evocam, recordam, estabelecem ligações,  alertam, fazem pensar,  ajudam a sorrir,  ensinam, transformam...

São as histórias de encantar que o Era uma vez... tantas vezes inicia, o abracadabra de um mundo inventado mas também humano e sustentado.

Não, não existem sem eles e sem elas, que as inventam, que as escrevem, que as contam, que as desenham, que as pintam, que as imprimem...

São os autores e as autoras que dão vida às histórias, reescrevendo a História.

Não vejo, igualmente, a vida sem o conhecimento delas, que guiam, que orientam... Sem elas, as personagens tropeçam, os espaços amontoam-se, os tempos confundem-se, a ação turva-se...

Elas são as regras da língua materna que é preciso amar e entender para serem utilizadas ou, criativamente, transgredidas.

Assim, eles e elas podem sorrir às histórias, sempre à espera de serem ouvidas, lidas e reinventadas.

E eles e elas,  meninos e meninas, precisam cada vez mais de Era uma vez... 

 

                         Este meu texto foi publicado     

in Livro Aberto 2021, Rádio Voz de Alenquer, p.139

 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Peço muita desculpa pelo lapso

 

Peço muita desculpa porque não citei o autor do desenho que partilhei no post anterior. O seu a seu dono; neste caso: o desenho ao autor do desenho, que julgo ser de Isa Silva e a quem também peço desculpa. 

Felizmente, houve comentários amigos que me despertaram para o lapso.

Como o desenho vinha na sequência da citação com aspas, partilhei-o assim, o que foi um lapso, que não gosto de cometer. Para além disso, não sei desenhar nada.

Aqui vai todo o post de  http://urbansketchers-portugal.blogspot.com/, do passado dia 12 de maio, tal qual está publicado:

'Museu Bordalo Pinheiro - Vamos Desenhar Com - Jorge Vila-Nova

O desafio era inspirarmo-nos no universo da banda desenhada e usarmos apenas 2 cores. E foi desta que desenhei as andorinhas e o caracol :-)