sexta-feira, 13 de novembro de 2020
Quando o Céu procura o Mar
Obrigada, Vítor, pelas belíssimas fotos que partilhaste. Já as vi também na http://carruagem23.blogspot.com/ no teu post de ontem. Gostei também muito do poema que juntaste, de Fernando Pessoa. Boa sugestão para olhar e ler, perto ou longe do mar, em dias de confinamento.
quinta-feira, 12 de novembro de 2020
O estado de emergência do meu concelho e a velha máquina de costura!
Confesso que me perco no conjunto de medidas e de números que são apresentados nas conferências de imprensa dos governantes, sobre os diferentes estados de confinamento. Preciso depois de ver o resumo mais sistematizado.
Porém, parto do princípio de que as saídas têm de ser as essenciais e que o que tenho em casa pode ser rentabilizado.
E passei a utilizar bastante mais o comércio local.
Até descobri que o merceeiro mais perto da minha casa tem um jeito brutal para a decoração da montra. Hoje fui lá e deparei com uma velha máquina de costura, deixada por uma velha vizinha cuja vida tinha sido salva por ele que, não a vendo em toda a manhã, lhe tinha entrado em casa pela janela, encontrando-a inanimada.
Soube que a máquina Singer vai ser exposta aos clientes de forma criativa. Fiquei com curiosidade de ver o resultado. Deixarei para a próxima semana, porque não é urgente. E seguirei o mesmo critério para as outras saídas que podem ser adiadas.
Vou-me dar a mim própria este conselho, até porque, soube há pouco, o meu concelho não saiu do confinamento.
Felizmente, há pessoas assim!
A família da minha mãe trabalhava na agricultura. Sempre me habituei às hortaliças frescas, aos ciclos das estações e ao que elas produziam.
Não sei se foi por isso, mas gosto muito de ver campos e espaços verdes. Se possível com flores, mesmo as que nascem naturalmente.E tenho o meu quintal, nem sempre tão bem cuidado, como eu gostaria, mas onde colho couves, alfaces e o que houver (se os caracóis e as lemas não chegarem antes de mim!).
Sempre vi a minha mãe preocupada com as plantas. Quando diz que estão com sede é como se falasse de uma criatura humana!
Ora, para além destes gostos e hábitos que vamos adquirindo, apercebemo-nos de que há pessoas que trabalham muito para que o país seja todo ele mais saudável e bonito. Um dos pioneiros da necessidade de transformação da paisagem foi Gonçalo Ribeiro Teles, que faleceu ontem aos 98 anos, tendo sido decretado luto nacional para o dia de hoje.
Ao longo da sua vida de arquiteto paisagista, falava da importância das hortas, quando quase ninguém se lembrava delas ou as valorizava. Nunca desistiu dos seus ideais, deixando ficar muita obra realizada e mudança de mentalidades. Talvez por isso se diga que foi um homem à frente do seu tempo.
Se não fosse o seu trabalho, calmo mas constante, em prol de um ambiente melhor para todos, incluindo todos os seres vivos, não haveria atualmente tantas hortas comunitárias, tantas hortinhas caseiras, tanta erva aromática nas varandas, tanta gente a correr e a caminhar em parques e jardins públicos cuidados e apetrechados... E muito mais para que a qualidade de vida de todas as pessoas melhore, de facto.
Felizmente há pessoas assim!
terça-feira, 10 de novembro de 2020
A VIDA MENTIROSA DOS ADULTOS - ELENA FERRANTE
São 292 páginas, divididas em 7 capítulos, que, se houver tempo, se leem, por livre vontade, em poucos dias. Sobretudo quem aprecia o desenrolar da história, em detrimento do prazer do texto ou das reflexões nele contidas.
A capa, logo que a vi, criou-me um certo desconforto e até relutância. Porém, compreendi-a à medida que avançava na leitura.
A história decorre na cidade de Nápoles. Duas famílias da classe média têm fortes laços de amizade e de trabalho. As três crianças dessas famílias crescem muito próximas.
A mais velha, adolescente, para além de ir descobrindo a vida, a sexualidade, o amor, o desamor, depara-se também com problemas familiares, impensáveis na sua infância.
Giovanna, a adolescente, e Vittoria, uma tia, têm um papel preponderante na história - pelas semelhanças entre ambas; por situações, umas caricatas que fazem rir, outras comoventes até às lágrimas, em que há aproximações e recuos, abraços e incompreensões, procura e afastamento, palavras doces ou rudes...
Se a história tivesse som, tanto ouviríamos fortes ruídos como sentiríamos pesados silêncios, mas sempre com vivacidade narrativa, embora o mundo apresentado, na minha opinião, seja bastante restrito.
Elena Ferrante, a escritora italiana, cuja identidade é um enigma, mais uma vez, escreve de maneira torrencial.
Se tivesse de apanhar estrelas para avaliar esta obra, bastar-me-iam três.
Partilho também uma das páginas do livro:
segunda-feira, 9 de novembro de 2020
Sob ou Sobre: Eis a questão
Vi,
há dias, esta imagem, com um erro na legenda - onde se lê 'sobre', deve ler-se 'sob' - num programa de
antena aberta da SIC Notícias.
Consultei as Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, donde retirei os dois excertos que cito:
"Sob vem da preposição latina «sub» e significa por baixo, em posição inferior, subordinado, (...), além de ser usado para dizer que se está sob a alçada de, como nas expressões sob juramento e sob compromisso".
Vejamos, então, alguns casos:
- Com o aumento de casos covid-19, há hospitais a trabalhar sob pressão.
- Há cidades sob nuvens de poluição.
- O mundo continua sob a ameaça da atual pandemia.
- Havia muito pó sob as folhas velhas.
- Em noites de verão, sabe bem ficar até mais tarde sob o céu estrelado.
"Sobre tem como origem a preposição
latina super e significa por cima, em cima, na parte superior, numa posição
superior, (...), entre outras dezenas de significados", como a respeito de...
Eis alguns exemplos:
- Deitou-se sobre a cama e adormeceu logo de seguida.
- Encontraram-se, mas não quiseram falar sobre o passado.
- Em casa da minha mãe, há sempre chá e biscoitos sobre a mesa.
- Para evitarem a lama, passaram sobre a relva.
- Põe sempre o pisa-papéis sobre as folhas soltas.
Pronto, já falei um bocadinho sobre estas duas preposições que se assemelham, mas que são opostas.
Não estou a escrever sob qualquer compromisso, é apenas o meu gosto pelas palavras.
domingo, 8 de novembro de 2020
Biden - Palavras com sentido
União, respeito, decência, verdade, ciência...
Foram estas algumas das palavras de Joe Biden que pudemos ouvir na Festa de ontem à noite, depois de ter sido o Presidente eleito dos Estados Unidos da América. Um homem que já viveu duros dramas familiares e que terá de enfrentar muitos obstáculos, na presidência de um país desunido, cargo a que se candidatou e que venceu por maioria.
A seu lado, a primeira mulher vice-presidente naquele país imenso. De forte, mas serena energia, como será necessário no presente e no futuro.
O ambiente de natural alegria e euforia não tinha os artificialismos, leviandades, insultos, luxuosas vaidades, ameaças, falsidades e muito mais a que o ainda Presidente habituou o país e o mundo.
Muito mais seguro e eficaz do que muitos previam, Biden comoveu muita gente com o seu discurso pacificador, mesmo sabendo-se que a tarefa que tem pela frente é muito difícil pelas divisões que foram acentuadas no mandato de Trump.
Como seria natural, ouviram-se canções. Partilho aqui duas delas. A música, aliada às palavras, também faz muito sentido.
sábado, 7 de novembro de 2020
Conversa entre o afetivo, efetivo e também com afeto!
- Estou muito contente.
- O seu filho renovou o contrato?
- Ainda melhor: ficou afetivo.
- Que bom ter ficado efetivo. É uma garantia.
- Ficar afetivo era o que ele mais queria e eu também.
- Então estão de parabéns por ele ter ficado efetivo.
- Nem quero acreditar.
- O seu afeto também ajudou.
- Ele é muito responsável e trabalhador.
- E afetivo também.
- Sim, agora é afetivo!
- Pois!
sexta-feira, 6 de novembro de 2020
Hoje, lembrei-me deste poema!
Modigliani, 1918 |
Bucólica
A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga, Diário, 1941
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
Conversa com o Pai Natal dentro
- Pai, já sei os que presentes que quero para o Natal.
- Sim, filho, e o que é?
- Já pus cruzinhas na folha que recebemos da loja.
- Deixa ver. Mas são bastantes, filho. Fica caro.
- Pois é, mas eu tenho um truque.
- Um truque? E qual é?
- Eu escolho os mais baratos.
- E os outros? Ficam sem efeito?
- Não, os outros, peço-os ao Pai Natal!
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
Entrando, de novo, no barco O Dois Amigos, de Kirmen Uribe.
O livro de Kirmen Uribe não fala só de pintura, mas este tema é retomado no excerto que agora escolhi e partilho e no qual é referido um quadro famoso de Picasso.
As 182 páginas do romance trazem até ao leitor pedaços da vida de três gerações com viagens, encontros, desencontros, chegadas, partidas, criação artística ...
Todos os 23 capítulos têm um título.
Neste, há referência a Stornoay - cidade de uma ilha da Escócia.
Picasso - Les demoiselles de Avignon |
George Braque - Man with a guitar |
Picasso - Ma jolie |
terça-feira, 3 de novembro de 2020
Biden ou Trump? O mundo com os olhos postos nos EUA
Tal como qualquer cidadão, sinto apreensão
pelo que hoje vai ser decidido (ou não!) nos EUA.
Confesso que nos últimos dias já me custa ver as imagens e escutar os sons
daquele ser humano egocêntrico e corpulento, de cabelo
em barco, que goza com todos, menos com os seus que o defendem.
Não é só a democracia de um país que está em causa, mas o mundo,
onde vão nascendo pequenos clones.
Para palavras mais sustentadas do que as minhas,
partilho excertos do Expresso Curto de hoje, do jornalista João Silvestre, com o título
"Dia D nos EUA. Será de Donald ou de derrota?"
"É 59ª eleição presidencial nos EUA. Mas não é uma eleição qualquer.
Não apenas o país enfrenta uma violenta segunda vaga da pandemia como,
apesar da recuperação do PIB no terceiro trimestre, vive sérios
problemas na economia. Está em causa a reeleição de Donald Trump que,
a confirmar-se, avisam alguns, pode ser um perigo para a democracia
americana. Leia-se, por exemplo, o editorial do New York Times publicado a meio de outubro que classificava Trump como “a maior ameaça à democracia americana desde a Segunda Guerra Mundial”. Ou o texto do famoso colunista Thomas Friedman, no mesmo diário duas semanas antes, que recorria igualmente à história para colocar o nível da ameaça à democracia acima da Guerra Civil, de Pearl Harbour ou da crise dos mísseis de Cuba. Ou ainda as palavras de Clara Ferreira Alves no Expresso que avisava que “se a eleição correr mal a Trump, não hesitará em atiçar as milícias da igreja de fiéis, e em desafiar a ‘lei e ordem’”.
Na verdade, há sinais de que as coisas podem complicar-se. Há quem garanta que Donald Trump tem um plano para ganhar mesmo não ganhando, antecipando a declaração de vitória antes de estarem contados todos os votos, ou que poderá tentar declarar uma fraude se os números não lhe forem favoráveis. Nada tranquilizador é o facto de as vendas de armas nos EUA terem disparado no mês de outubro (...).
A poucos dias da eleição, para gáudio de Trump, saíram os dados do PIB dos EUA no terceiro trimestre que deu um salto de 33,1%
– na taxa actualizada, ou seja, quatro trimestres a crescer ao ritmo de
7,4% que foi o efectivamente registado naqueles três meses. Mas isso
não esconde a dura realidade para o inquilino da Casa Branca: a pandemia
e crise económica vieram baralhar drasticamente as contas de Trump que contava ter um ano 2020 de grande pujança (...).
A pandemia é um dos principais pontos de confronto entre ambos. Trump tem sido acusado pela forma como lida com a pandemia e, em particular, por não ter suficiente cuidado. Agora, um estudo da universidade de Stanford estima que os seus comícios tenham provocado 30 mil infetados e 700 mortos – uma notícia do Expresso com direito a reação da Casa Branca.
(...)".
Elida Almeida - Bidibido
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
Conversa com menos enfeites
- Podes acreditar. Se quiseres, faz as contas.
- Sim, acredito, claro.
- Enfeitei a campa durante sessenta anos!
- Incrível. Uma vida.
- Sim, uma vida e quase sempre com flores cultivadas por mim e pelas minhas irmãs.
- Ainda melhor, então.
- Nunca gostei de comprar flores, preferia sempre as de casa.
- Que trabalhão! Boa homenagem a quem partiu.
- Foram os pais, foram os tios, foram irmãos...
- A família é grande.
- Agora, já não posso ir enfeitar nem tratar das flores.
- A vida atual é diferente, mas o seu exemplo será seguido.
- Não faltam catos por aí. Mas deixem ficar os que têm picos.
domingo, 1 de novembro de 2020
Os livros também são luzes
Gosto muito de livros que, para além de uma boa história, nos permitem conhecer e viajar pelo mundo.
O Dois Amigos, de Kirmen Uribe (escritor basco, de 50 anos), cumpre bem esses critérios.
Hoje, Dia de Todos os Santos, partilho um excerto do romance sobre um quadro.
Também achei muito interessante a ligação do que o narrador vai vivendo com lembranças, vivências, questionamentos...