Há dias, ouvi na rádio uns jovens
a louvar as virtudes do uso da máquina de escrever.
Achei estranho porque dispõem, com certeza, de outras ferramentas bem mais expeditas.
Estavam interessados noutras competências da máquina de escrever,
como a dimensão lúdica.
Lembrei-me então da minha velhinha máquina de escrever e revisitei-a.
Limpei-lhe o pó e pu-la numa prateleira onde não estorvasse, mas onde também não se estragasse. Gosto de preservar certos objetos que fazem parte da minha memória.
Contudo, não tenho nenhuma vontade de a reutilizar, apesar de nela ter feito muitas fichas de trabalho, testes, relatórios e ter escrito alguns pequenos textos (nesse tempo, escrevia-os sobretudo à mão e também guardo os caderninhos).
Ao escrever na máquina, era muito difícil corrigir os erros ou fazer alterações. A borracha, azul, dura e redonda, era uma boa ajuda, mas desastrada pelas manchas que deixava e pelos estragos que causava no papel.
Muitas folhas se estragavam quando havia enganos e, quantas vezes, o trabalho tinha de ser todo reescrito.
O tempo que se perdia, os nervos que se ganhavam.
Bendito computador para, perante o texto, poder avançar, retroceder, apagar, gravar, mudar, retomar, retocar, corrigir...
Por isso, velha máquina de escrever,
gosto de te saber elogiada,
mas repousa na prateleira
sossegadamente!
Porque, confesso, não me deixam saudades
esses tempos de antigamente!
Prefiro o computador
que ajuda em tantas ações!
Até para os sonetos de amor,
se ele o conhecesse,
seria a opção de Camões!