terça-feira, 2 de julho de 2024

Há dias assim

 

Há dias em que acordamos cedo e apetece logo levantar e sentir o cheiro do café  quente e ouvir os pássaros e regar as flores e fazer o que ficou por fazer do dia anterior, quase sem pensar na vida que se abre em tudo que tocamos. Tão natural como a nossa sede.

Há outros dias em que quase nada disto acontece. E parece que o presente estagna por desconhecimento e receio do futuro. E a boca seca ainda que da torneira continue a jorrar água.

Há dias em que apetece organizar tudo porque a vida promete; existem outros dias em que muitas das palavras ouvidas pintam os sorrisos de amarelo.

Há dias em que se ouvem as crianças a falar de borboletas e logo esses seres surgem aos nossos olhos e voam, risonhos, na nossa memória.

Há dias em que as borboletas parecem desaparecer porque não veem flores onde pousar.

Há dias e dias, como há mar e mar. Fique sempre a esperança de a melhores dias voltar.


domingo, 30 de junho de 2024

Previsões intensas


Nos últimos dias, mais uma vez, o meu telemóvel anunciava chuva e trovoada intensas. Ora, eu que, se puder, fujo das trovoadas como o diabo da cruz, vendo estas previsões, fico logo em alvoroço e só penso como mudar os planos, se os tiver, é claro.
E, com frequência, lá estou eu a ver no mesmo site a que horas chega a chuva intensa e a trovoada também intensa. Porém, o que vejo eu? Ele é céu nublado, ele é sol a espreitar e pouco mais.
E as horas vão passando, as noites e os dias também e as tempestades anunciadas ficam pelo caminho. Ainda bem, mas porque foram tão anunciadas para tantos lugares tão fora da sua rota? 
Como as palavras andam sempre interligadas, é caso para dizer:  ‘Cão que ladra não morde’ ou, então, o que é pior, eis outra coisa em que não se pode confiar.
Como ainda estamos em maré de santos populares, 

Aí que bom não haver
A anunciada tempestade
Retirou-se ou perdeu-se?
Vá lá, digam a verdade!


sexta-feira, 28 de junho de 2024

O balcão número 3

 

- Boa tarde!

- Tirou a senha?

- Sim,  aqui está.

- Para que é?

-Venho fazer este exame e queria marcar uma consulta.

- Uma coisa de cada vez.

- Quanto  vou pagar pelo exame?

- Estou a preencher o formulário, não posso fazer tudo ao mesmo tempo.

- Não há problema, eu aguardo.

- Tem de ser. Não é chegar e vencer.

- Também  não era essa a minha intenção. Apenas quero fazer o exame e marcar uma consulta. Estou na minha vez.

- É que os médicos têm marcações. A consulta não pode ser logo logo.

- Também não disse que queria já já.

- Mas há pessoas que julgam que só os outros têm de esperar.

- …

- Pronto, aqui tem. A seguir, vão chamá-la para fazer o exame. Para a consulta só tenho vaga às cinco horas.

- Marco  então para a semana. São só duas horas e tenho de ficar muito tempo à espera. É para renovar a carta de condução e ainda tenho algum tempo.

- Então, já podia ter dito, porque há mais gente à espera.

- …

- Dona Maria…, pode acompanhar-me, por favor. Ora vamos lá fazer o nosso exame. Não vai custar nada, vai ver.

- Nem sei que diga, porque tenho várias perguntas a fazer, mas receio sobrepor alguma e que me leve a mal.

- Por que diz isso? Esteja à vontade. Estou a ver que vem do balcão número 3!!!!


quinta-feira, 27 de junho de 2024

Ó meu rico S. Pedro


Já passou o Sto António

E também o S. João

Vem agora o S Pedro

Haja festa e balão


És o último, deixa lá

Como se costuma afirmar

Os últimos são os primeiros

E vale a pena esperar


Em muitos sítios és rei

Um querido padroeiro

Não perdes a compostura

Desejado mensageiro


Como tens as chaves do céu

Abre as que puderes

Torna mais felizes os homens

Mas não esqueças as mulheres


terça-feira, 25 de junho de 2024

A meio gás


Ontem, 24 de junho e dia de S. João, era feriado no Porto. Como vivo em concelho vizinho, verifica-se um misto de procedimentos. Há quem folgue e quem trabalhe; veem-se portas abertas e outras fechadas… Tudo parece acontecer a meio gás.  E não é que acho piada a isso?

Pois bem, logo pensei: tenho análises para fazer e será da maneira que não encontro fila. E, pelas oito da manhã, lá estava eu. Fui a primeira, disse-me a enfermeira que logo me perguntou se eu tinha feito o jejum necessário, porque a noite tinha sido de folgar até tarde, com sardinhas e febras à mistura.

Confirmei. Não, não fui à festa, disse eu. E fiz-lhe a mesma pergunta, porque não havia ninguém à espera e o gabinete era só nosso. Tinha feito a festa em casa, disse ela. E ainda falámos das correntes no rio Douro que quase impediam o fogo de artifício na Ribeira, o que estragaria a Festa. No final, desejámo-nos um bom dia de S. João.

Já junto ao balcão:

Olá, não me estás a conhecer?

Claro que estou,  como estás?

Estou cheia de caruncho, ando manca… venho fazer exames.

E a conversa continuou mais um pouco neste tom. E, olhando-lhe o rosto, parecia que ainda há pouco éramos adolescentes, dávamos alegres gargalhadas, tínhamos sonhos e os olhos sorriam com os namoricos.

Volto para casa. Deito de comer à Castanha e são poucos os carros que passam na rua. Sabe-me bem o silêncio. Até as hidrângeas dos canteiros me parecem mais nítidas e bonitas.

Talvez seja boa altura para ir também à Loja do Cidadão tirar os documentos que me faltam. Procuro na net. Há serviços abertos. 

E fui.

Afinal, também à Loja do Cidadão estava a meio gás, isto é, uma porta estava aberta, outra fechada.

As pessoas em espera contavam-se pelos dedos. Tiro a senha. Vejo alguém a fixar-me e a sorrir. Alguém que conheço há muitos anos e que, apesar de nos encontrarmos poucas vezes, temos sempre assunto. Daí a nada, estávamos com os telemóveis a mostrar as fotos dos netos  - para cada um de nós os mais lindos do mundo.

Quando chegou à minha vez, tratei metade dos assuntos que queria, nada mau, em dia de S. João, um dia a meio gás, com bocadinhos bons de suaves e antigas amizades dentro.


De regresso a casa, ouvi o podcast ‘O coração ainda bate’, de Inês Meneses. O episódio de hoje  - A idade maior - fala do ‘privilégio da amizade’.

https://podcasts.apple.com/pt/podcast/o-cora%C3%A7%C3%A3o-ainda-bate/id1543484053

Em dia de instituições a meio gás, soube bem ouvir este programa tão bem escrito, tão bem dito, tão profundamente arquitetado, e que dura apenas 6 m. O dia continuou amigavelmente devagar. Gosto de dias assim.


segunda-feira, 24 de junho de 2024

Várias vezes fui ao Porto

 

Várias vezes fui ao Porto

Na noite de S. João

Na cabeça, o martelinho;

No céu, a luz do balão.


E em muitas ruas se via

Uma rusga a aparecer

Com arquinho e balão,

Tudo lindo de morrer!


De manjerico e cidreira

A noite era perfumada;

O alho porro e a arruda

Para a malta ataviada!


Muito se fazia ouvir

O martelo brincalhão.

Se a cabeça era careca,

Maior era a animação.


Há muito não vou ao Porto,

Em noite de  S. João,

Prefiro ver à distância

A alegre multidão.


E a bela sardinha assada,

Na brasa a fumegar,

À espera da bela broa

Pra nela poder pingar!



Pudesse eu voltar atrás,

Talvez lá quisesse rever

As minhas filhas pequenas,

Podendo vê-las crescer.


O resto lá foi passando,

Ficando-me na memória.

Foi ave que já voou

Morando na trajetória.



domingo, 23 de junho de 2024

Ó meu rico S. João!

 

O meu rico S. João,

Temos tido a vitória;

Sabendo jogar a bola.

Venha então nova glória!


E não só no futebol,

Mas na vida em geral;

Tanta verdade que falta,

Não mentira em Portugal.


Há tantas meias verdades,

Tanta gente a enganar,

Para, subindo ao podium,

Prémio único ganhar!


S. João, é bom rever-te,

Aqui pertinho de nós.

Aumenta os bons exemplos

Pra não nos sentirmos sós!


E quando dissermos gooolo!

Que seja grande a alegria!

Não pra mostrarmos vingança!

Mas pra termos confiança

Que melhora cada dia!


terça-feira, 18 de junho de 2024

‘Verão’


 

O croquete e a maçã

 

Ontem e hoje, em tudo que é revista ou programa cor de rosa ou de outra cor qualquer, logo se ouve ou lê sobre a expulsão de Sónia Tavares, cantora dos Gift, do Rock in Rio em Lisboa.

Estando ela a fazer reportagem para a SIC, e, comendo um croquete da mesa, foi severamente admoestada por alguém da organização, que lhe retirou a pulseira de acesso à zona e a levou por um braço para fora do espaço vip, onde estava a trabalhar, juntamente com Bárbara Guimarães.

Se calhar, há razões de parte a parte para que a trinca no croquete pudesse ser dada e notada, mas ser expulsa e exposta daquela maneira, sinceramente, não havia necessidade, acho eu, que sou um ser anónimo que não vai a festivais de verão nem frequenta zonas vip, embora também goste de croquetes.

Esta história do croquete fez-me lembrar uma situação desconfortável, que se passou comigo há bastantes anos. De vez em quando, íamos, em família, passar férias ao Algarve, quase sempre num aldeamento. Uma vez, resolvemos puxar os cordões à bolsa e fomos uns dias para um hotel de uma cadeia conhecida e nada barata.

Pois bem, uma manhã, depois do pequeno almoço, olhei para uma maçã, que parecia bem saborosa, tipo tentação de Adão e que ruborescia num cesto de fruta bem próximo. Peguei na maçã, e fui saindo, inocentemente, com ela na mão,  Poderia, assim, satisfazer o slogan saudável: ‘Ao meio da manhã, coma uma maçã.

O que eu desconhecia era que, no hotel, as regras não permitiam levar alimentos para o exterior da sala. Por isso, o funcionário, à saída, logo me chamou a atenção para a infração que eu estava a cometer e lá tive de deixar a bela e tentadora maçã em cima do balcão. Não sou muito de corar, mas sentia imenso calor na cara pela vergonha, ou pecado que vinha de longe, também por causa de uma maçã. 

Mais valia - pensei eu depois - ter dado uma trinca na maçã e, por certo, já não teria de a devolver, nem passaria por aquela vergonha. 

Quando vejo o símbolo da Apple, lembro-me sempre da trinca que, naquele dia, podia ter dado na maçã, se tivesse tido mais coragem.

Pelo que sei, Adão nunca se arrependeu.

sábado, 15 de junho de 2024

Deixem-nos desfrutar!

 

Tendo ouvido as últimas notícias, apetecia-me dizer: Deixem os professores aposentados descansar! E fazer coisas diferentes de que gostam. Sem tantos horários a cumprir. Sem tantos constrangimentos burocráticos. Sei, contudo, que ‘cada caso é um caso’. Conheço docentes - poucos, é claro - que quiseram, por sua livre vontade, continuar a trabalhar até aos setenta anos.

Compreendo a proposta que o governo (vinda por certo de alguém que não deu aulas dezenas de anos a fio)  emitiu para que professores aposentados possam trabalhar, mediante pagamento, e assim ajudar a resolver o grave problema da falta de professores nalgumas disciplinas. Outras medidas parecem-me, porém, mais enquadradas no contexto, como o pagamento de propinas a candidatos a cursos de educação, uma vez que há pouquíssimos jovens que querem ser professores.

Voltando aos professores aposentados que poderão voltar à escola, o dinheiro pago, em muitos casos, não compensa o desgaste que inclui também a reação de alunos perante professores, para eles velhíssimos, e que consideram desatualizados.

De facto, sem pôr em causa a sua competência e boa vontade, facilmente se confrontarão com a dificuldade em dominar sobretudo novas tecnologias e técnicas para porem os alunos a trabalhar de forma alegre, motivada e ativa.

Sem esquecer que há exceções à regra.

Tenho uma amiga americana, da Califórnia, professora aposentada e que faz trabalho periódico na escola há muito tempo. Diz ela que se sente bem em fazê-lo e ganha assim dinheiro para pagar as viagens que gosta de fazer.

Cada um sabe da sua vida, mas acho que, entre nós, não haverá muitos candidatos para esse trabalho. Se houver, na minha opinião, passado algum tempo dirá:

- Já fiz o meu papel durante muitos anos, agora, deixem-me desfrutar! 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

O pombo persistente



Era uma vez um pombo

Que vi em praça londrina

À volta de uma migalha

Ou semente peregrina


Dava-lhe forte bicada

Com desejo de a apanhar

Mas nunca mais conseguia

Fazê-la no bico entrar


Mas nada de desistir

O pombo era persistente

Sem deixar de ir à luta

Como via tanta gente


E assim fiquei um tempo

Esta cena a observar

Pra saber quem poderia

Esta luta então ganhar


O tempo foi passando

E resolvi sair dali

Sendo menos persistente

Do que o pombo que ali vi.


Não sei portanto o desfecho

Mas continuo a pensar

Que a migalha ou a semente

No chão não iam ficar!


quinta-feira, 13 de junho de 2024

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Você, a correção e o riso!

 

Em criança, nunca fui habituada a dizer ‘você’ aos meus pais, avós, tios, isto é, aos mais velhos. Também não os tratava por tu, porque o tempo não era para grandes aproximações.

Essa prática devia-se sobretudo à minha mãe e às minhas tias (eram 13 irmãos) que, não tendo casado, ficaram na casa antiga e de lavoura, onde todos nasceram.

Elas prestavam muita atenção às palavras e às formas de tratamento. Não tinham estudos - exceto o irmão padre - mas cuidavam muito da expressão linguística, sobretudo as que gostavam de ler. Apesar de alguma austeridade, tinham bom humor e as palavras incorretas que ouviam davam sempre para serem contadas com graça na varanda ou na cozinha.

Pois bem, graças sobretudo a esse ramo da família, os meus irmãos e eu sempre aprendemos a dizer: - o pai/ a mãe quer? Em vez de dizer: Você quer? 

Estava implícita alguma (às vezes muita!) formalidade.

Tive muitos alunos que diziam: - Ó professora, você… 

E como aqui no Norte trocamos os vês pelos bês, o você saía bocê. Por aí não vinha mal ao mundo, porque cada região poderá ter a sua forma de pronunciar as palavras e nenhuma é mais correta do que outra. Tal como diz o provérbio, cada terra tem seu uso, cada roca tem seu fuso!

Nesses momentos, eu chamava a atenção para a forma de tratamento - eu era muito mais velha e havia uma hierarquia - apesar de o diálogo se estabelecer com bastante naturalidade, aconselhando-os a dizer:  - A professora… em vez de você. Isso valia para, por exemplo, o desempenho ser melhor em futuras entrevistas de emprego, etc., em que todos esses elementos contam.

Muitos alunos nem sequer tinham pensado no assunto, porque assim haviam sido habituados. E alguns até acrescentavam: - Mas não é falta de respeito!


Reparo que já escrevi muitas linhas e ainda não cheguei à peripécia que queria contar. Não estivéssemos nós no tempo das cerejas!

Pois bem, um dia destes, o meu neto, que tem três anos, disse-me:  Avó, você já vai embora?  

Não consegui conter o riso.

Donde viria o você, se em família quase todos nos tratamos por tu e é palavra pouco usada cá em casa? E, como a fama das avós é serem permissivas, logo ouvi: - Mãe, deve ser dos desenhos animados que o deixas ver.

E não é que a forma de tratamento, que sempre tentei evitar ou corrigir, me fez achar graça vinda do meu neto? Não devo ser a única. Ele há coisas! 

Seja como for, quando o ouvir dizer você, vou corrigir, até porque há muita proximidade entre nós e tratamo-nos por tu. Não sei é se consigo fazê-lo sem me rir.

 

terça-feira, 11 de junho de 2024

Ó meu rico Santo António!


Não comprei o manjerico

Como é costume fazer

Não se pode comprar tudo

O importante é viver


Ó meu rico Sto António

Não entres em euforia

Mas não deixes de trazer

Ao mundo mais harmonia


Gosto de ver a cascata

Com prato prà moedinha

A fartura não é muita

Que não falte comidinha


Não te peço muita coisa

Santo de boa figura

Mas não deixes de aumentar

A educação e cultura


Tanto problema existe

Difícil de resolver

Mas evita um muito grave

Que são crianças a sofrer


E agora faz a festa

De sardinha aí que cheirinho

Que haja paz e alegria

Muito abraço e beijinho


segunda-feira, 10 de junho de 2024

O zapping de ontem

 

Ontem, estive a ver os resultados eleitorais até se conhecerem os números  definitivos. E fiz ainda mais zapping do que costumo fazer. 

Fiquei contente com os resultados finais e muito, muito mais com a estrondosa redução de votos no partido de André Ventura. Só por isso foi um dia bom para a democracia. Ele não tem feito nada bem ao país, pelo contrário, por isso merece que se chegue para lá.

E a mim, que sou católica, que tenho algumas virtudes e muitos defeitos, custou ver esse dono da voz de todo o partido, de joelhos, a rezar. Quem será o seu deus? Não é o Deus da misericórdia, com certeza. Se fosse, não seriam espalhadas tantas mentiras, tanta discriminação, tanto desrespeito por quem é diferente ou vem de país diferente.

Julgo que à volta de meio milhão de eleitores não votou nesse partido, tal como nas eleições anteriores. E não deve ter sido só pela falta de jeito do senhor embaixador-velejador, candidato ao parlamento europeu por esse partido. Foi lançado às feras pelo dono da voz do partido todo, embora o tornasse invisível de vez em quando, para ficar sempre ele na fotografia.

Com o tempo, as pessoas vão percebendo quem as quer ajudar e quem as pretende enganar, embora os vendedores da banha da cobra façam tudo para parecer que não cobram nada.

Oxalá esta extrema-direita vá secando e não haja maus motivos para a regar, porque a sede é grande e, para os populistas, o copo parece sempre vazio. E o zapping que fazem, no seu motor sedento de busca, nunca é inocente.


domingo, 9 de junho de 2024

Vou votar em mobilidade

 

Hoje é dia de eleições europeias.. E vou votar, é claro, como sempre tenho feito. Acho que, desde que vivemos em democracia, só não votei uma vez. 

Acho bem que tenham pensado em alternativas para a escolha do local de voto, não só por causa dos feriados, mas porque pode motivar mais à participação, tornando o ato mais natural e menos rígido.

Estou até com alguma curiosidade para ver como funciona.

Logo às oito da noite, conto estar atenta para saber se as sondagens acertaram ou se foram apenas sondagens, como dizem os políticos quando os resultados não agradam ou querem conter o entusiasmo.

Tenho as minhas convicções e espero que a minha candidatura preferida ganhe. Se não ganhar, paciência, embora preferisse a vitória. O que é preciso é que quem for para o parlamento europeu continue a defender direitos e deveres, como, no geral,  foi proclamado na campanha eleitoral, para que na humanidade haja avanços e não retrocessos. 

Dos candidatos,  lamento, porém, a presença do velho senhor, que é ou já foi velejador, não pela idade, mas pelas ideias que defende e que se move em águas de desventura.

Quando o dia começar a declinar, veremos os resultados. 

Convinha era não haver outras eleições em breve, senão, mesmo com mobilidade, ganha a vontade de desmobilizar.


sexta-feira, 7 de junho de 2024

Que calor!

 

Digo também: ‘Que calor!’ Mas não me posso queixar! Não tenho de entrar em autocarros cheios, nem comboios a abarrotar, nem andar a pé e à pressa para chegar a horas ao emprego, nem trabalhar em lugares quentes com pessoas frias que ainda ficam mais frias com o excesso de calor…

Entre o dia de ontem e o dia de amanhã, intercalou-se um dia de calor que, dizem as previsões, arrasta poeiras, desaba em chuvas e rebenta trovoadas. Desde pequena, que relâmpagos e trovões me apavoram. 

Em criança, ouvia repetidamente que as trovoadas eram castigos de Deus pelos pecados cometidos. Com os ensinamentos da vida, fui-me afastando dessa noção de Deus castigador, ideia que, tantas vezes, servia para aumentar ou calar outros grandes medos quando a liberdade era muito pequenina.

Mas, pelo que se ouve e sabe, mesmo empiricamente, muitas tempestades atuais resultam da acumulação de erros de muita gente e ao longo de muito tempo. 

Iremos ainda a tempo de reduzir problemas como o excesso de calor e outros fenómenos climáticos que atingem e adoecem os diferentes continentes?

Ser otimista, também neste caso, poderá ser estimulante para se melhorar o que se faz, ou que ainda não se faz e que, facilmente, se pode fazer para benefício de todos e de cada um.

E para que não se diga, aflitivamente, em tantos sítios do mundo: Que calor!


quarta-feira, 5 de junho de 2024

Despojamento

 

Hoje passei uma boa parte da manhã a arrumar uma divisão da casa  que já estava à espera disso há muito tempo. Eu, pelo menos, estava, mas demorou a começar: umas vezes porque não havia tempo, outras, porque faltava vontade…

E, como estamos no tempo das cerejas (hoje comi algumas e souberam-me muito bem), umas coisas puxam outras. Recuei então ao tempo em que as minhas filhas eram pequenas e passávamos férias no Algarve. Tínhamos um Mini, onde cabíamos os quatro, mais as malas, mais uns sacos, mais um lanche e garrafas de água…

Nessa época, eu tinha o fraquinho pelo artesanato do Alentejo e por cestos em vime do Algarve.

Portanto, na viagem de regresso, o pobre do Mini aguentava também com cestos algarvios (alguns ainda duram) não muito pequenos e pratos ou outras peças do Redondo, que ainda conservo, embora já tenha dado algumas.

Ah, e da zona de Almeirim, ainda trazíamos um melão ou melancia e pequeninas abóboras decorativas.

E não havia autoestrada nem ar condicionado. Nem telemóveis. Saiamos de madrugada e, ainda assim, apanhávamos filas intermináveis. Éramos jovens, os perigos espreitavam, mas quase não os víamos.

Era o tempo da acumulação de objetos. Vou-me despojando, no entanto, de algumas coisas e não sinto vontade de ocupar esses lugares que ficaram vazios. 

Agora, procuro rentabilizar o que tenho. E, quando faço arrumações, vou separando coisas para dar, para levar à loja social, para conservar pelo valor afetivo que algumas coisas têm…

E, apesar de achar que agora um Mini seria demasiado pequeno, cada vez gosto mais da palavra despojamento.


terça-feira, 4 de junho de 2024

Os biscoitos souvenir


Sempre que eu ia a Londres, trazia uns biscoitos ou bombons para a minha mãe. De preferência em caixa ou lata bonita, que também valorizava. E depois sempre lhe arranjava serventia.

Agora, que já cá não está, quando vou e antes de eu regressar, vem-me sempre à memória essa necessidade que criei e que parece estar ainda presente. Apesar de preferir não trazer sacos no avião, para além da carteira, mesmo no aeroporto, dou comigo a pensar nos biscoitos souvenir para a minha mãe. Caio ‘na real’, lembrando-me que já não.

Um vez, juntamente com os biscoitos sempre bem-vindos, trouxe um postal com uma foto da rainha, que tinha a idade da minha mãe, e de quem a minha mãe era uma grande fã. Outras vezes, trazia pagelas de santos de uma qualquer igreja aonde eu entrasse. Ela recebia estes objetos, acarinhando-os, como se fossem únicos.

Também cheguei a trazer-lhe sementes, que ela, com os seus cuidados, ajudava a crescer e a florir, aproveitando bocadinhos de terra livre, como tantas vezes se vê em Londres, cidade que nunca visitou.



segunda-feira, 3 de junho de 2024

A guia

 

Era tarde de sábado, não chovia, o que era bom para fazermos a visita guiada já marcada à City, em Londres.

Chegámos ao ponto de encontro - de vários grupos para diferentes visitas - bem perto da majestosa Torre de Londres. Como ainda faltavam alguns minutos e um espaço verde se estendia ao nosso lado, o mais pequenino começou logo a correr na relva e a mais crescida a fazer a roda, toda consolada.

Chegaram as catorze horas - a mesma hora no Porto, como dizem nos aviões - e aproximámo-nos de uma guia. Sim, seria ela a guia da visita à City.  Éramos doze visitantes, incluindo as nossas duas crianças. 

Começámos por uma zona muito antiga, onde em séculos anteriores vivia muita gente que acabou por morrer ou afastar-se devido ao grande incêndio de Londres, ou à chegada do comboio, ou à primeira guerra mundial.

Ora, a este texto dei o título ‘A guia’ e ainda não falei dela. Pois bem, teria uns sessenta anos, era muito expressiva, parecia bem informada e tinha sentido de humor. Ah, e fazia muitos gestos com as mãos pequenas e magras, sobressaindo as unhas muito compridas. Usava gabardina preta e, ao ombro, um saco vermelho de tecido, já bastante usado e que nunca saía do sítio.

Como eu gostaria de ter percebido muito mais do que ela dizia. Às vezes, quando as pessoas se riam, eu apenas sorria por simpatia. O que vale é que a minha filha que vive em Londres ia-me fazendo o ponto da situação.

Circulando entre os edifícios modernistas, espelhados e altíssimos, fomos sabendo também que há alguns que deviam ser implodidos, mas que não o são por falta de espaço. 

No final, a guia, que havia sido professora, elogiou o comportamento dos nossos meninos. Ficámos contentes. 

Sabe elogiar e olhar para todos enquanto comunica, pensei eu.

Terminámos a visita numa praça bonita, onde, no subsolo, havia ruínas romanas. A guia despediu-se de todos com o sorriso que sempre manteve ao longo das duas horas sempre a comunicar e imaginei-a a chegar a casa e a estender os braços e as pernas no sofá-alivio.

Felizmente na praça também havia bancos e logo procurei um. Que bom poder descansar um bocadinho, pensava eu, enquanto a minha neta aproveitava a praça com pouca gente para correr e fazer a roda. Que bom poder fazer mais movimento, pensaria ela. 



Fui à primeira sessão e gostei muito

 


sábado, 1 de junho de 2024

Acho que em Portugal não aconteceria!

 

Há uns dias, uma senhora velhinha e muito frágil foi a um Centro de Saúde a poucos quilómetros do centro de Londres. Dirigiu-se ao balcão e disse ao que ia: sentia-se doente e queria marcar uma consulta. Ouviram o pedido e a resposta foi:

- Desculpe, mas não podemos marcar consultas aqui ao balcão. Tem de o fazer online. 

A velhinha disse que tinha dificuldades em fazê-lo desse modo.

Poderia então pedir ajuda a alguém - responderam-lhe.

A senhora velhinha foi-se embora, muito mais triste e fragilizada do que tinha chegado.


Apesar de todas as críticas ao SNS em Portugal, vindas de diferentes setores e agudizadas por ideias que na Campanha eleitoral são repetidas, acho que tal não se passaria e a consulta seria marcada.

Oxalá eu tenha razão no que estou a dizer. E sobretudo que continue a haver cada vez mais razões para que quem precisa de ajuda tão premente não seja despachado com indiferença o que, em idades mais avançadas, aumenta a dor da solidão.


sexta-feira, 31 de maio de 2024

Como se eu tivesse oito anos

 

O meu pai lê muito e muito bem. A minha mãe também, mas à noite é o meu pai que costuma ler para mim. Deito-me e só adormeço depois de ouvir a história. Há muito tempo que andamos a ler Harry Potter. Adoro tudo o que é Harry Potter. Ano passado, oferecemos um livro, em português, do Harry Potter à minha avó. Ela gostou muito, mas disse que a letra era muito pequenina.

Eu já sei ler há muito tempo, mas adoro à noite estarmos os três a ler ou a ouvir ler um livro. Já é assim, desde muito pequenina. Deve ser por eu gostar tanto que a minha mãe às vezes diz que não há leitura de história à noite, quando ralha comigo por qualquer coisa que fiz mal, mas acaba por desculpar e leem na mesma um livro. Eu acho que os meus pais também gostam muito daquele bocadinho em que estamos os três juntos para a leitura, antes de eu dormir.

Quando a minha avó nos vê assim, diz que é muito bonito e que é por isso que eu gosto de ler. Não sei se é, mas gosto muito de ler e também de cantar e de ver vídeos no meu iPad e da escola e da natação… Do que não gosto tanto é de tocar piano, mas o meu pai insiste. Se eu soubesse magia como no Harry Potter, havia de convencê-lo a não insistir tanto, mas como não sei, tenho mesmo de tocar,

O que vale é que todas as noites, sei que vou estar quentinha e feliz na minha cama a ouvir ler uma história,


quinta-feira, 30 de maio de 2024

De dentro para fora - diferentes formas de calor

 

Quando chegámos a Londres, chovia com abundância. Em Portugal, as temperaturas altas levavam muita gente para o bronze ou frescura da praia. Sol e maresia a consolar o corpo e a alma.

Mas eu, que se calhar sou meio esquisita, gostei de ouvir a chuva nas janelas do avião. Seria assim depois da viagem de comboio e já em casa da minha filha?

Tínhamos partido cedo e já havia fome. De estarmos todos juntos e também de almoçar.

E se fôssemos ao restaurante libanês? Todos concordaram.

Comida saborosa, mediterrânica, colorida…

Depois da caminhada a pé, chegámos a casa. Com as malas e com sol, ainda que tímido mas bonito. E veio o dilema: ficar em casa ou aproveitar o tempo do resto da tarde para um passeio ou visita. 

Vamos andar de barco?

Vamos a um parque?

Acabámos por ficar em casa a ouvir a chuva que voltou, a sentir a preguiça boa de poder estar no sofá, conversando, uns quase dormitando…

Entretanto, reparei que o fogão precisava de limpeza e o frigorífico de alguma arrumação. Sem dizer nada,  meti mãos à obra. Entretanto, a menina tinha afastado os seus castelos de legos para que o primo mais pequenino não os desfizesse. E era uma correria: o mais pequenino que queria chegar aos castelos e a mais crescida que logo ia atrás dele como boa castelã e guardiã.

No dia seguinte, haveria programa mais completo.

No nosso país, tinha ficado a campanha eleitoral das europeias. E muito calor.

Aqui, em país que saiu da Europa, havia outra forma boa de calor. 


terça-feira, 28 de maio de 2024

Palavras ditas ou não ditas

 

Dizer alguma coisa, por pouco que seja, em muitas circunstâncias, ainda que simples, é correr riscos. No entanto, não dizer nada também pode trazer consequências.

Considero cada vez mais difícil atingir o equilíbrio, isto é, dizer as palavras  certas no momento certo e saber calá-las, quando desnecessárias. E, às vezes, as palavras, ainda que aparentemente anódinas, ferem e marcam algumas sensibilidades, ainda que sejam proferidas naturalmente e sem má intenção.

Recordo-me de algumas situações - poucas, felizmente - em que umas tantas palavras me escorregaram e a outra pessoa reagiu, por exemplo, pelo silêncio, que pune mais do que muitas palavras.

Se, para algumas pessoas, não custa  nada ver que alguém ficou melindrado com alguma palavra; para outras, pode aumentar tristeza e até solidão, sobretudo se a educação foi mais acusatória do que benevolente.

Será lugar comum dizer-se que o ser humano é complexo. Bem mais do que algumas situações, aparentemente simples, que complicamos  - quando dizemos ou escutamos alguma coisa que, no momento, não nos cai no goto. Também não fujo à regra, é claro.


segunda-feira, 27 de maio de 2024

Este é o tempo da hidrângea ou hidranja ou hortênsia …

 





Elogio versus crítica

 

O tempo em que nasci e vivi durante anos era avesso aos elogios, ou melhor, estes nem eram lembrados porque quem o poderia e deveria fazer também pouco ou nada os tinha ouvido.

E a falta de elogios deixa mazelas. Conheço vários casos de sofrimento ao longo da vida por não ter havido, durante a fase de crescimento, um sorriso de empatia, uma palavra elogiosa, o reconhecimento de que algo estava bem feito.

Se as coisas corriam mal, havia críticas fortes; se as coisas corriam bem, nada se dizia porque assim tinha de ser e nada havia a acrescentar.

E como cada ser humano é diferente e complexo, muitos dos que sempre ouviram críticas e nunca elogios mantiveram essas práticas para com os mais próximos; enquanto outros passaram a dizer que sim a tudo para que o pesadelo vivido não se repercutisse nos seus descendentes.

Muitas inseguranças se geraram pela ausência permanente do elogio e pela mais que certa crítica por tudo e por nada.

É por estas e por outras que precisamos cada vez mais de reconhecer o que os outros fazem de bom para sermos todos um bocadinho mais felizes!


domingo, 26 de maio de 2024

O ‘não fez nada’ está na moda


Pelo menos desde que a atual ministra do trabalho criticou duramente Ana Jorge por não ter feito nada na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, já ouvi até jornalistas a dizer que fulano ou fulana de tal não fez nada no cargo que exercia.

Não estou lá para ver, mas custa-me bastante aceitar que uma equipa não faça nada. Pode ficar aquém das expectativas, não ter resolvido problemas essenciais, mas dizer que não se fez nada é, muitas vezes, uma forma de puxar a cadeira para que outra pessoa se sente nela o mais depressa possível. Se a moda pega, nem é preciso arranjar muitas justificações - dizer e repetir que alguém não fez nada no cargo é o pontapé para saída da pessoa que se quer ver substituída e não o pontapé de saída para se conhecer a realidade.

A moda não se ficará só pela política. E nem são precisos muitos adereços: basta poder e alguma arrogância.

Recordo-me de ter ouvido um dia uma professora dizer desesperada, depois de um momento difícil na sala de aula: ‘Não valho nada’.

Sentir que não se vale nada será muito diferente de ouvir que não se fez nada?


sexta-feira, 24 de maio de 2024

O pássaro num fio

 

O pássaro que acabei de ver pela janela. Já desapareceu. Fez bem. Há parar e voar!



Há mar e mar…


‘Há mar e mar, há ir e voltar’ 
Alexandre O’Neil







domingo, 19 de maio de 2024

Mais um problema para alguns professores

 

Felizmente aconteceu-me poucas vezes, mas houve alturas em que ouvi alunos a dizer: ‘Eu digo o que eu quiser, porque há liberdade’

Para responder com eficácia nessas ocasiões, não há modelos e mesmo o que se diz pode ser bom para uns e o contrário para outros, o que é natural.

Continuo a ter muito mais dúvidas do que certezas sobre muitas coisas e sobre esta também. Como vivi também no tempo em que não havia liberdade de expressão, defendo que esta tem de existir, mas deve haver o cuidado de não se ofender nem amesquinhar seja quem for.

Isto tem a ver com o que se passou recentemente na Assembleia da República, cujo presidente defendeu que tudo pode ser dito na ‘Casa da Democracia ‘, uma vez que há outros escrutínios.

Como houve bastante ruído em relação a este episódio, JPAB já argumentou em sua defesa, mantendo a posição tomada. Ele estará no seu direito, mas, na minha opinião, crescerá o número de alunos a afirmar: ‘Posso dizer o que eu quiser, porque há liberdade’. 

Se tal acontecer, esses professores sentir-se-ão mais indefesos e sós. Viver em liberdade é um dos maiores bens humanos, mas ver pessoas tristes não celebra o seu sabor.


sábado, 18 de maio de 2024

Hoje comecei o meu dia a olhar flores

 




Ainda não eram oito da manhã quando saí de casa. Minutos depois, noutro espaço, onde vivem muitas árvores,  podia olhar e fotografar algumas flores - que estão ao sol e à chuva. E as rosas, apesar de mais imperfeitas e rugosas do que as de estufas, têm perfume e as cores são vivas.
E há pequenas margaridas a irromper na relva com muitas ervas daninhas à mistura. 
E há um banco comprido que chama para um pouco de descanso, mas que não é ouvido e continua só a maior parte do tempo. Quando está vento, as camélias dançam e fazem-lhe festas nas costas.
Chuviscava e afastei-me.
Quando voltei a casa, vi as fotos. E sentei-me no banco comprido com o olhar mais descansado.


quinta-feira, 16 de maio de 2024

Quem fala assim não está afónico!

 

Tenho seguido, ainda que de forma intermitente, o caso da exoneração de Ana Jorge da Santa Casa da Misericórdia. 

Tinha visto a entrevista com a ministra do trabalho e solidariedade em que disse e repetiu que a ex-provedora não tinha feito nada no cargo e a acusava de inação. Falava de rosto fechado, com secura e ar cáustico de justiceira.

Vi depois Ana Jorge a defender-se com muitos números à mistura, muita citação de documentos, tudo com alguma lentidão, o que já mostrou ser característica sua, como é fechar os olhos de vez em quando, o que não a revela desempoeirada, ainda que séria.

Fiquei com curiosidade e quis ver e ouvir as explicações da atual ministra. E, pelas seis da tarde, estava eu no sofá, com um trabalhinho nas mãos, para ver e ouvir o que pudesse. 

Aparece então a ministra, saúda ‘afavelmente’, como referiu, os interlocutores, diz que está constipada e pode ficar afónica e expõe longamente factos, documentos, números, etc, que incriminam Ana Jorge e, no seu entender, justificam a exoneração.

Retive sobretudo a forma veloz de se expressar, a capacidade de argumentar durante umas duas horas, sempre a encostar com força a ex-provedora às cordas. Havia momentos quase de êxtase crítico do poder, embora tivesse dito que sabe que este é finito.

Não vi tudo, mas não me lembro de ouvir referir uma única coisa que a ex-provedora tivesse feito bem. Quem fala assim achará que é perfeito e devem-lho ter incutido desde tenra idade. 

Crucificar assim alguém na praça pública, ainda que tenha cometido erros de gestão, nem parece de alguém em cujo título está a palavra solidariedade.

No final da audição, referiu, ufana e vigorosamente, o nome do novo provedor da Santa Casa, como um trunfo que só ela detinha. Minutos depois, era noticiado que  o nomeado, Paulo Alexandre Sousa, já teve problemas num banco onde trabalhou em Moçambique, tendo tido uma sanção pesada.

Uma Santa Casa de santos ou pecadores?



Nota de hoje, 6a f:

Dizem as notícias que, após recurso, o tribunal deu razão ao provedor agora nomeado. 

Vá-se lá saber a razão de tal trabalho num banco em Moçambique ter sido omitido pela ministra no currículo que evidenciou do provedor. 

Se me permitem a ironia: isso ficou por dizer por causa da possível afonia!



terça-feira, 14 de maio de 2024

O aeroporto e a churrasqueira

 

Estive a ver as notícias sobre o anúncio da construção do novo aeroporto e, logo a seguir, passou uma reportagem em Alcochete, local escolhido para o efeito. As pessoas interrogadas mostravam agrado pela escolha e estavam confiantes sobre o desenvolvimento mais que provável que o aeroporto traria consigo. Num diálogo curto com um habitante, o jornalista perguntou se não o incomodaria o ruído dos aviões e logo se ouviu a resposta: que não, de maneira nenhuma.

Ora, recuei umas dezenas de anos e dei comigo no apartamento onde vivi durante os meus primeiros cinco anos de casamento. Um dia, tivemos a notícia de que em breve haveria uma churrasqueira na loja que dava para a rua, mesmo por baixo do nosso apartamento. Ficámos radiantes. Quando chegássemos tarde do trabalho ou não apetecesse cozinhar, o problema estava resolvido. 

Pois bem, a churrasqueira abriu e a alegria continuava. Não sabíamos era que essa alegria seria breve. Os dias foram passando e o fumo voando e passando na minha varanda. O tempo não contemplava as exigências atuais, por isso o cheiro e o fumo mantinham-se e circulavam à vontade. O meu dia mais feliz da semana passou a ser a segunda-feira porque a loja estava fechada.

O tal senhor de Alcochete, que diz não se importar com o ruído dos aviões, ainda  vai poder desejá-los durante muito tempo, porque construir um aeroporto não é a mesma coisa que abrir uma churrasqueira.

Se não for vegetariano, ainda poderá comer sossegadamente muitas vezes frango no churrasco. E o melhor é aproveitar enquanto não chegam os ruídos dos desejados, porque não faltará ocasião para dizer, enquanto tapa os ouvidos: parem  de chatear o Camões!


segunda-feira, 13 de maio de 2024

Por falar em cores

 

Desde que me conheço, em nossa casa sempre vi entusiasmo pelo FCP. Já casada e com filhas adolescentes, cheguei a ser sócia e a assistir a alguns jogos. Eu própria me surpreendia com o entusiasmo que exteriorizava e me fazia levantar bem alto o cachecol azul e branco que levava comigo e que se juntava a tantos outros na cor e calor da festa.

As minhas filhas iam também muitas vezes aos jogos e era vê-las muito jovens, alegres e bonitas com os cachecóis azuis amarrados à cintura.  Com o tempo, elas  foram perdendo o entusiasmo e agora só sabem aquilo que os media anunciam, repetem e toda a gente conhece. 

No meu caso, há anos que não vou ao Dragão nem a outro campo qualquer, mas continuo a ser adepta do FCP - um pouco como quando se diz ‘sou católico mas não praticante’. Nem sequer conheço o nome de todos os jogadores, mas as vitórias do FCP continuam a dar-me alegria.

Porém, estas feias macacadas muito faladas recentemente - embora já muito antigas - e ontem ainda mais divulgadas envergonham - ou deviam envergonhar - quem as pratica e quem as apoia. Infelizmente uns e outros já estão tão habituados a esses esquemas de ilícitos lucros dourados que nem param para refletir ou mudar.

Ainda bem que algumas coisas poderão mudar com a nova direção do clube, mas vai ser tarefa muito difícil porque árvores muito enraizadas custam a arrancar.

E como seria bom, mesmo arrumados os (meus) cachecóis, ter a alegria de ver o clube sem esta péssima, continuada e alargada macacada de ‘bilhetes dourados’. Seria oiro sobre azul.



sábado, 11 de maio de 2024

A bela aurora

 

Estas fotos chegaram-me agora de Londres, onde também as belas cores róseas da aurora boreal foram vistas há poucas horas, tal como cá em Portugal.

Pelo que li, esta tempestade solar poderá tornar-se ainda visível durante o fim de semana. Vou tentar olhar o céu.





quarta-feira, 8 de maio de 2024

Ontem foi um dia em cheio!


Ontem, dia 7 de maio, o dia nasceu com o sol a brilhar. E entrou no Auditório Municipal de Gondomar através de grupos de meninos e meninas do primeiro ciclo ao ensino secundário, acompanhados por professores e pelos responsáveis pelas Bibliotecas dos diferentes agrupamentos do concelho de Gondomar.

Todos ali estavam para o Primeiro Concurso concelhio de Leitura. Cada aluno  participante tinha escolhido um livro e alguns objetos ligados à respetiva história. A prova consistia na leitura de um excerto da obra e na argumentação a partir do seu conteúdo e dos objetos selecionados.

Tive o privilégio de fazer parte do júri e de assistir de perto a todas as provas, vendo o nervosismo de alguns alunos, a segurança de outros, o à vontade de outros tantos, a preocupação de todos em cumprir bem a função…

E foi bonito, na parte da manhã, ver chegar ao palco, por ordem crescente, o grupo do primeiro ciclo e logo a seguir os participante mais crescidos do 2o ciclo. Todos com o seu livro, os seus objetos, a sua vontade ativa de participar.

O dia ia crescendo e, à tarde, subiram ao palco os concorrentes do terceiro ciclo e ensino secundário. O entusiasmo não parou de aquecer e iluminar a sala onde decorria a atividade que havia sido pensada e organizada ao pormenor. Com todo o cuidado e amor pelas causas da Cultura e da Educação.

E considero que foi um dia em cheio, porque todos aprendemos um pouco mais: os alunos que foram os protagonistas, os professores que os ajudaram, os pais que amorosamente estiveram presentes, os organizadores que novas atividades poderão sonhar, o staff que apoiou para que tudo corresse bem no lugar e no momento certo…

Todos os alunos participantes tiveram um prémio oferecido pela CMG. Os prémios maiores foram para os três alunos que o júri distinguiu (tarefa tão difícil!) em cada um dos ciclos. E foi animador ver as crianças e jovens, felizes, em palco com o seu prémio e diploma pelo desempenho que irradiou de um livro e de trabalho conjunto. 

Um dos jovens terminou a sua prova de argumentação com a palavra Esperança. Oxalá o sentido dessa palavra também se escreva e leia num futuro em cheio.








segunda-feira, 6 de maio de 2024

Para si, minha mãe, Rosa!


 




quinta-feira, 2 de maio de 2024

A palavra lento nunca andou tão depressa

 

Desde que o prof Marcelo, em momento de descompressão comunicativa, como tantas vezes lhe acontece,  atribuiu o adjetivo lento ao ex-primeiro ministro António Costa, por ter raízes orientais, e incluiu rural na caracterização do 1o ministro atual, por não ter nascido nem em Lisboa nem no Porto, tem sido um ver se te avias para estas duas palavras. Foi como se se tivessem escapado de um saco onde estavam à espera de sair para (se) divertirem um pouco mais.

Ele é ‘sabes como é, sou oriental, por isso sou lento’; ‘desculpa, sou rural, daí não se ter percebido bem o que disse’, etc, para não falar de anedotas que logo aparecem e que nos fazem rir - coisa de que bem precisamos.

Mas o que não suscita bom humor, na minha opinião,  é ouvir a mais alta figura da nação caracterizar as pessoas pela terra onde nasceram. 

Sr Presidente, sente-se bem? Será que nascer em Cascais aponta logo para a primeira linha? Ai, senhor presidente, cá para mim, rural porque nascida numa aldeia de Gondomar, o senhor padece da solidão do poder e quando se apanha com muita gente à frente, as palavras saem-lhe sem controlo.

Confesso que não votei em si, mas não gosto que o acusem, como aconteceu num dos discursos do 25 de Abril, com desventuradas e gritadas palavras,

Desculpe, mas também deve evitar falar do neto preferido, ou do seu famigerado filho com quem cortou relações. Também acho que ele o deixa ficar mal e tem comportamentos de caixão à cova. Ah, e ele também deve ter nascido em Cascais. Como o classifica quanto a isso?

Ai, senhor presidente, muita gente, na qual me incluo, anda cansada de tanta coisa que é dita, redita, desdita…por si e não só, apesar de a maioria de nós, cidadãos, não querer outro regime que não seja o democrático.

Sente-se um bocadinho, tente ser um bocadinho mais lento, ainda que não seja oriental, e imagine-se um bocadinho rural, ainda que tenha nascido na zona privilegiada do país. Pode estar certo de que muita gente continua a gostar de si  e não faltarão pessoas a querer ficar nas suas selfies.

Ah, é verdade, um dia destes ouvi Ana Paula Tavares, no podcast ‘A beleza das pequenas coisas’. Retive uma frase que ela disse ‘A velhice tem-me ensinado a virtude da lentidão, ajuda a sermos mais perfeitos e a termos mais  atenção pelas coisas’. 

A poeta e professora nasceu em África. Nem lhe pergunto como a classificaria por isso. Nem o senhor presidente responderia porque todos nós, sejamos lentos, rurais ou o que quer que seja, temos outra grande virtude: podemos aprender até morrer.


quarta-feira, 1 de maio de 2024

O primeiro Primeiro de Maio

 

Estava um belo dia de sol e todos nós ainda estávamos tomados pela surpresa festiva do 25 de Abril de 74, pela estupefacção perante ruas que se enchiam espontaneamente quando, até aí, qualquer pequeno grupo era entendido como subversão.

Quando chegámos ao Porto, nesse primeiro Primeiro de Maio, a grande praça, diante da Câmara Municipal, enchia-se de gente, de bandeiras, de cartazes, de palavras de ordem, de cravos vermelhos, de canções revolucionárias, de alegria, etc.

Era o tempo das calças à boca de sino, de grandes bigodes, de cigarros, de muito espanto perante o que estava a acontecer.

Não sei se fomos de mão dada ou de braço dado, mas tenho bem vivo e presente o mar de gente que tinha vindo até ali, porque as amarras que até aí apertavam e magoavam davam sinais de se desatarem, mesmo para quem não tinha consciência política.

Não esquecerei nunca aquela tarde de sol e de festa do primeiro Primeiro de Maio celebrado no país.

Cinquenta anos depois, não irei para a rua, mas saber que podia ir em Liberdade é sinal de que o 25 de Abril  e o primeiro Primeiro de Maio valeram a pena. 

Oxalá a Festa verdadeira possa continuar.