Comprei-a, há uns vinte anos, numa feira ao ar livre em Goa. Foi barata e continuo a gostar dela. Era uma das minhas toalhas preferidas no tempo em que a família almoçava ou jantava mais vezes cá em casa. A feira tinha as vivas cores dos garridos tecidos, das frutas, dos saris e era ao ar livre. Agora milhões de indianos lutam pelo oxigénio para poderem respirar natural ou artificialmente. O mercado negro já entrou no negócio servindo apenas as castas com mais poder económico.
Os contrastes na Índia, embora eu lá tivesse estado como mera turista ocidental, eram gritantes. O luxo era vizinho da extrema pobreza. Nos sítios aonde chegavam os turistas para fotografar os pontos de todos os guias (quando lá estive, ainda eram as máquinas fotográficas que prevaleciam), acumulavam-se sobretudo grupos de mulheres e crianças que pediam esmola, com um olhar de doce negrura profunda. Bem perto do celebérrimo Taj Mahal, havia esgotos a céu aberto, rentes a casebres habitados. Em diferentes cidades, havia barbeiros a cortar o cabelo e a fazer a barba na rua. Também havia homens a lavarem-se com baldes de água, indiferentes a quem passava. Em Nova Deli, vi carnes penduradas para venda enxameadas de moscas. Quem entrava nos belíssimos templos dos diferentes lugares tinha de se descalçar e passar os pés pela água, quase sempre de um pequeno tanque com água parada que era para todos. No centro da cidade de Jaipur, bela cidade de todas as cores, de todos os ruídos e de todas as luzes, as pessoas amontoavam-se, sem se distinguir bem o que era rua do que não era.
Jaipur - Índia |
Hoje revi o álbum que sempre fazia depois de uma viagem mais longa. Ontem, na Índia, foram vários milhares as vítimas mortais de covid 19.
Acho que só usarei a toalha que comprei na bela Goa quando a situação melhorar na Índia. Pouco importa - dir-se-á. Será apenas o mais ínfimo gesto de uma turista, que por lá andou durante uns dias, como milhões e milhões de tantos outros, que marca o desejo de que todos possam respirar.