Ainda estava a ouvir a última comunicação do primeiro ministro sobre as datas do desconfinamento, ou melhor, reabertura, e já mandava uma mensagem à minha cabeleireira para marcação.
Passados uns minutos, tinha o dia e hora marcados e ontem lá fui eu. Tive ainda de esperar uma meia hora fora do salão. Já lá dentro, o telefone não parava de tocar. Na lavagem do cabelo, fechei os olhos porque aqueles momentos para mim são apaziguadores ou até redentores. A menos que a água me caia na cabeça demasiado fria ou demasiado quente.
Soube-me pela vida. Há dois meses que não sentia o mesmo prazer de estar sentada e sentir que o meu cabelo estava a ficar bem lavado e que ainda por cima ficaria um bocadinho mais bonito, porque não tenho muita paciência para o secar bem. Entrego, quase sempre, essa tarefa ao ar que se respira e que, neste caso, também seca.
Pelo que vi e ouvi, eu fui uma das imensas pessoas que foram ontem ao cabeleireiro ou ao barbeiro. O dia deve ter ficado marcado pela melhoria de visual de milhares e milhares de portugueses e portuguesas (para ser mais atual!). Aos contentores do lixo devem ter chegado sacos e mais sacos de cabelo que a vassoura varreu do chão há muito seco e careca.
Acho que me vi ao espelho, ao lavar as mãos quando cheguei a casa. Logo depois, vi que a minha filha que não vive cá me tinha mandado fotos. Não sei se era porque me sentia um pouco mais apresentável, olhando as imagens floridas (ela sabe que eu gosto), o mundo e a vida pareceram-me mais bonitos.