domingo, 23 de fevereiro de 2020
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Provérbios de Carnaval
Imagem da net |
Não há Entrudo sem lua nova nem Páscoa sem lua cheia.
Quer no começo quer no fundo, em fevereiro vem o Entrudo.
Namoro de Carnaval não chega ao Natal.
Carnaval na eira, Páscoa à lareira.
É Carnaval, ninguém leva a mal.
Esta vida são dois dias e o Carnaval são três.
Quem quiser o alho cabeçudo sache-o pelo entrudo.
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Ó entrudo, ó entrudo...
Ó entrudo ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
As mocinhas ao solheiro
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
As mocinhas ao solheiro
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu'eu estou bem
Que no monte é qu'eu estou bem
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu'eu estou bem
Que no monte é qu'eu estou bem
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu'eu estou bem
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu'eu estou bem
Estas casa são caiadas
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira
José Afonso
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira
José Afonso
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Há nomes que dão para tudo
Ouvi ontem o deputado do partido Chega, na Assembleia da República, a evocar a morte de Jacinta Marto, precisamente num dia 20 de fevereiro, manifestando-se contra a despenalização da Eutanásia. Confesso que, de repente, não identifiquei logo o nome da pessoa a quem se referia.
Já não bastava Camões e Pessoa serem encaixados em muitos discursos públicos, consoante os tempos e consoante as vontades, também alguns santos da Igreja católica podem dar jeito e fazer semear uns votos que serão colhidos em tempo julgado certo.
O mesmo deputado, que critica a hipocrisia de muitos para desvalorizar e branquear atos de racismo e de ódio, socorre-se de tudo para navegar na onda do populismo e oportunismo.
Como qualquer pessoa católica, conheço um pouco da história dos três pastorinhos de Fátima, tendo dois deles, Jacinta e Francisco, morrido em idade jovem e inocente. Poderá ser este um bom motivo para o referido deputado querer influenciar e fazer-se ouvir, no seu estilo frenético, truculento e nervoso.
Descansa em paz, santa Jacinta, mas não perdoes sempre aos que sabem o que fazem.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
Hoje não poderia deixar de falar deste assunto
Imagem da net |
Poderia começar por Era uma vez..., mas prefiro ir direta ao assunto num dia em que o racismo não pode nem deve ser ignorado.
A minha neta frequenta uma escola primária e pública em Londres - onde as crianças começam a sua escolaridade no ano letivo em que fazem cinco anos.
Conheço um pouco dessa escola (cujos resultados mostram que funciona bem), porque já fui buscar a minha neta bastantes vezes e falamos da escola em casa.
O alto portão de grades, que dá para o espaço largo e aberto, abre-se às 15.30 e os adultos vão à respetiva sala buscar as suas crianças, onde à porta está a professora.
Na sua grande maioria, quem espera as crianças são as mães: árabes, negras, brancas, tal como as crianças. Estas, tanto na sala de aula como no recreio, brincam, comunicam, falam, tudo de forma natural, o que também é cada vez mais legítimo e natural.
Muitos adultos deviam seguir estes exemplos e de muitos outras crianças.
Oxalá que elas não aprendam, fora da escola, o ódio ou a humilhação pela sua cor de pele.
Em estádios de futebol, na política, na rua, em muitas casas e em muitos outros lugares, existem homens e mulheres que usam inexplicáveis filtros e defendem o seu mundo de uma só cor. E há também os que se encostam a esse mundo, preferindo, cobardemente, fingir que não sabem, que não veem, que não ouvem...
E não compreendem que é nefasta a história que vão escrevendo.
domingo, 16 de fevereiro de 2020
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
Carta de amor à mãe
Não têm conta os contos que tu, mãe, me
contaste.
Quando eu era muito pequena, nem sempre
tinha paciência para os ouvir até ao fim ou deixar que terminasses a leitura. Saía
do teu colo e ia buscar outro livro, mas voltava logo porque o teu regaço era o melhor sítio para ouvir as histórias, fosse
de um livro ou contadas por ti.
A ouvir histórias e aconchegadinha a ti,
mãe, tudo parecia perfeito.
No tempo em que eu ainda não sabia ler,
gostava sobretudo de ver as imagens e ouvir as tuas palavras mágicas.
Recordo-me que abria o livro e tu perguntavas-me se eu sabia onde estava o
galo, o pintainho, a flor, o cavalinho... Quando me enganava, sorrias e repetias
as palavras serenamente para eu as fixar melhor.
Se vias o desenho de uma menina muito
bonita, logo dizias que era eu. A seguir, apressava-me a encontrar uma senhora igualmente
bonita para te dizer que eras tu, mãe.
Eu ainda não sabia dizer todas as partes
do rosto, mas reconhecia-as e apontava-as: os teus olhos azuis (com os óculos
que às vezes te queria tirar, embora soubesse que não devia), a boca
sorridente, as faces rosadinhas e macias...
E recordo que usavas palavras ligadas ao
céu: minha estrela, meu sol...
Só não sei é por que razão nunca me
chamaste lua, porque sempre sentiste muito encanto por todos os pontos
luminosos do céu. Até dos aviões. Ainda guardo, por exemplo, um livrinho com
uma imagem de que eu gostava muito: um ursinho a dormir serenamente e uma lua
muito luminosa.
Muitas outras expressões que usavas eram
como o açúcar, apesar de nunca abusares dele: minha doce, minha doçura...
Mas a minha preferida sempre foi: tu és
a luz dos meus olhos. Lembras-te, mãe?
À noite, quando chegavas do trabalho,
sentavas-te um bocadinho comigo e esse era um dos melhores momentos do dia. Às
vezes, chegavas cansada a casa, mas parecia que tinhas todo o tempo do mundo.
Agora, dou comigo a repetir para a
Clarinha muitas das frases que me dizias quando eu era criança. Ela gosta muito
e eu fico feliz. Espero que fiques feliz também.
Um abracinho, mãe, que é uma maneira
muito singela de dizer que te amo.
Clara
Nota - Este texto teve uma menção honrosa no concurso Textos de Amor, do Museu Nacional da Imprensa, 2019
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
Carta de amor aos meus ex-alunos
Não
sabem como me custa passar à nossa antiga escola secundária e não reconhecer
nenhum rosto de alunos. Porém, muitos
dos vossos continuam na minha memória e quero estimá-los sempre. Como um
retrato que não perde a cor nem a beleza. Por isso, vos escrevo esta carta, esta
carta de amor, sem medo de parecer ridícula.
Todos
os anos, muitos de vocês chegavam e também partiam. Porque a vida não para
nunca. Tal como os sonhos.
Os vossos
primeiros passos eram quase sempre tímidos e inseguros por desconhecerem as
salas, a reprografia, a cantina... Os rostos dos colegas, dos professores, dos
funcionários também não eram familiares.
Depois,
com o tempo, tudo se clarificava, embora algumas matérias continuassem muitas
vezes obscuras. Nós, os professores, dizíamos que era por falta de estudo;
vocês encontravam outras razões, não menos válidas.
E
como eu gostava de ouvir a tirar dúvidas aos colegas, nos intervalos. O prazer era infinito perante incontáveis
talentos: para escrever, para dizer poesia, para representar, para aprofundar a
ciência...
Vocês
eram uma forte razão para a minha felicidade.
Quando
cochichavam durante as aulas, bastava o meu olhar sério para interromper as
conversas, mas só por alguns minutos. Eu imaginava que o assunto era importante, com certeza, mas eu queria que
o programa fosse cumprido e assimilado. Que todos estivessem atentos, como se
fosse possível falar de um coletivo em tempo de legítima singularidade.
Nessas
ocasiões, eu era a professora e a pessoa que sou em conflito entre o dever e a
liberdade. E reparava na rigidez imposta
pelo espaço porque o vosso corpo não parava de crescer e as mesas mantinham-se
quietas e baixas.
Como
eu gostava de vocês, embora nem sempre tivesse a arte de arranjar tempo para
vo-lo dizer tantas vezes como mereciam.
Vocês
eram o meu público que eu não escolhia, mas que era o resultado de acasos
felizes. Nem sempre as palavras estavam
em sintonia com os nossos desejos e atitudes. Como as fortes marés que, só com
o passar do rio, se vão apaziguando.
Como
eram radiosos os dias em que os laços humanos se ligavam, em que os interesses
pelos saberes convergiam, em momentos de quase êxtase pelo valor da educação que
dava mais sentido às nossas vidas.
Talvez
fosse melhor tê-lo dito mais cedo, mas, antes que seja demasiado tarde, quero
fazer-vos esta declaração:
Continuo
a amar-vos, queridos ex-alunos. Não o sinto apenas quando passo à nossa antiga escola
e vocês já lá não estão.
Vocês
ensinaram-me a olhar a torrente da vida, aprendendo a navegá-la.
Um abraço de uma
professora que gostaria de vos ver felizes e abraçados pela vida.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
Presente
A música do
jardim
vem das
magnólias
e dos teus
olhos.
Os nossos
passos
afligem a
terra
poeirenta.
Gaivotas
saltam do rio
procurando
lugares
onde nos
sentamos
e que também
ao céu
pertencem.
Ervas vivem
deitadas
de tão percorridas
pelo amor que
nelas pousa
ou que delas
foge.
Abraça-me ao
sol
da nossa
alegria
sem passado.
Apenas o
presente
do teu rosto
ao sol
ouvindo os
sons do jardim
e do rio
que não perturbam o silêncio
das
magnólias
nem o ainda calor
das nossas mãos.
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