Deixei de gostar do meu nome quando comecei a dar conta de mim e, sobretudo, quando entrei na procissão da festa anual da paróquia, vestida de anjo. Quando ouvi: 'Maria dos Anjos, vais de anjo na procissão', disse logo que não queria porque as asas deviam ser muito pesadas, faziam-me calor e sentir ridícula. Desatei a chorar, mas a minha mãe retorquiu que tinha feito uma promessa e que eu iria de anjo, mesmo contra a vontade. Ora, eu tinha crescido, engordado e sabia que ia ouvir as graçolas da Adélia. Ela estaria na procissão, mas, mesmo que não estivesse, sabia tudo e tudo aproveitava para fazer troça no recreio da escola: se os sapatos eram grandes ou pequenos, se o vestido era curto ou comprido, se o cabelo era crespo ou fininho, se éramos magrizelas, se saltávamos mal à corda...
A Adélia era um réptil que se aproxima em surdina e fica a morder de mansinho, rindo às gargalhadas com a língua de fora. E logo tinha eu de me chamar Maria dos Anjos e ir vestida de anjo na procissão. De certeza que a Adélia me perguntaria muito alto para as outras meninas ouvirem: 'Ó anjo, sabes da Maria? Ó anjo, onde estão os outros?' Eu tinha até decidido que, mais tarde, nunca falaria com ela, nem que fôssemos vizinhas, nem que tivéssemos filhos na mesma turma.
Nesse tempo, eu pensava nisto porque ficava muitas vezes em silêncio, sem saber o que dizer ou fazer no recreio, com medo do riso e das críticas dela. Eu detestava-a mais do que as trovoadas pantanosas de inverno ou sufocantes de verão, que sempre me atormentavam.
Um dia, os pais de Adélia emigraram e levaram-na com eles. Foi uma felicidade para mim. Via-me livre dela. Meses mais tarde, no verão, chegou o meu aniversário. O tempo era de mais severidade do que de festejos, mas recebi uma carta que me surpreendeu e suspendeu a minha respiração. Vinha de França e era de Adélia. Contava que a nova escola era maravilhosa, que tinha muitas amigas e que gostava cada vez mais de desenhar. Enquanto ia lendo, eu ia pensando que lhe tinha feito bem a mudança, mas também mudei de ideias quando vi um desenho. Era de um anjo grande, gorducho e com umas asas felpudas e pesadas que o puxavam para trás. Trazia uma legenda em letras desenhadas: 'Ainda continuas um anjo rechonchudo?'
(Por mim, a história continua).
Estou a gostar da história do anjo. Aguarda-se seguimento. Palpita-me que a Adélia não seja assim um diabo tão diabo. Mas é apenas palpite.
ResponderEliminarQue bom estar a gostar.
EliminarSobre o palpite, eu sei, mas ainda não posso dizer!!!! Talvez sim ou talvez não!!!!
Um dia muito bom, Bea.
Bom dia
ResponderEliminarEu acredito que tenho um bom Anjo da Guarda.
JR
E faz muito bem, Joaquim, porque é uma ajuda em cada momento e em cada dia.
ResponderEliminarUm bom dia!
Isso não seria bulling da Adélia sobre a Maria dos Anjos?
ResponderEliminarSerá que a Adélia se arrependeu do bulling que exercia sobre a Maria dos Anjos? Parece que não. Sendo a Maria dos Anjos, um anjo, a Adélia era : Adélia do diabo, lol
Acompanhando a Estória...
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Abraço poético.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Fico contente pelas questões, Ricardo. É curioso que lhe pus também algumas sobre o seu último poema.
ResponderEliminarSobre a Maria dos Anjos não era bem um anjo nem a Adélia seria propriamente um demónio, tal como acontece com qualquer ser humano, mas, se calhar, vou continuar a falar mais só de uma delas.
Um abraço e um dia muito feliz.
Acho bem que a história continue, porque isto não poderia ficar assim...
ResponderEliminarMas ainda bem que ela não lhe chamava Anjinho Papudo...
Continuação de boa semana, amiga Maria Dolores.
Beijo.
Ou outras coisas menos angélicas, não é verdade???
ResponderEliminarSe calhar, era uma pessoa insegura, que talvez não tivesse tido muito afeto e daí o amesquinhar, mas não sei, porque isto da mente humana é muito complicado.
Um bom feriado para si, Jaime.
Achei graça à estória. Desde que não s trate do tal e bowling daquela época ;)
ResponderEliminar-
Olhar intrínseco ...
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Um excelente dia (de feriado)- Beijo
Ainda não acabou, Cidália.
EliminarEspero que continue a gostar.
Um beijinho e bom feriado.
Gostei de ler e vou gostar de saber o resto.
ResponderEliminarAcabados os cinco dias de tratamento intenso, e um pouco melhor dos olhos, estou voltando ainda com restrições.
Abraço e saúde
Que bom, Elvira, que boas notícias.
EliminarQue tudo continue a evoluir bem e vai continuar de certeza.
Um grande abraço