sábado, 29 de fevereiro de 2020

Luis Represas e Rui Veloso - Da Próxima Vez


As máscaras

Da última vez que fui a Londres, no início deste mês de fevereiro, vi bastantes pessoas que, ao chegarem ao aeroporto, logo puseram uma máscara para defesa do coronavírus. 
Naquela altura, achei um pouco exagerado, porque ainda não se conheciam tantos casos da doença na Europa, mas como cada um tem as suas defesas, achei natural que o fizessem.
Durante os dias que lá estive, se bem me lembro, só raramente vi pessoas com máscara e todos os dias ando a pé, faço as compras diárias, vou à escolinha buscar a Clarinha, etc.
Assim sendo, parecia-me exagerada tanta máscara em pessoas que, tal como eu, iam do Porto para Londres.
Pois, mas os tempos mudam e as vontades também.
Já tenho aqui em casa uma caixinha com máscaras de proteção para levar na mala da próxima vez que for a Londres.



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Li hoje no Expresso curto a propósito do Covid-19:

'Nem cocaína, nem óleo de sésamo, nem urina infantil. A proliferação de falsa informação sobre a forma como prevenir e combater o novo coronavírus obrigou a Organização Mundial da Saúde a fazer uma lista para desmentir os rumores e as recomendações que circulam sem qualquer evidência científica




Expresso
No que ao Covid-19 diz respeito, o clima de medo favorece a proliferação de falsas informações a uma velocidade que arrisca ser superior à da própria transmissão do vírus. E se algumas não resistirão ao bom senso, outras há que preocupam a Organização Mundial da Saúde (OMS), por promoverem comportamentos de risco. Daí os alertas quanto aos mitos que circulam. A saber:

O novo coronavírus pode ser transmitido por picadas de mosquito

Não, o Covid-19 é transmitido principalmente pelo contacto com uma pessoa infetada, através de gotículas expelidas quando a pessoa doente tosse ou espirra, explica a OMS. Não existe qualquer evidência que suporte a alegação de que este vírus pode ser transmitido através de insetos.

O Covid-19 pode ser destruído em 30 segundos com um secador de mãos

Não. Os secadores de mãos, como os usados nas casas-de-banho públicas, não matam o vírus.

A urina infantil protege contra o novo coronavírus

A urina não mata vírus ou bactérias, este sim é um facto.

O novo coronavírus pode ser transmitido através do manuseamento de notas e moedas

Apesar de informações preliminares indicarem que o novo coronavírus pode sobreviver na superfície de um objeto por algumas horas ou um pouco mais, o risco de alguém ficar infetado pelo contato com objetos, como moedas, notas ou cartões de crédito, é muito baixo.

O frio e a neve matam o Covid-19

Não. A temperatura normal do corpo humano mantém-se a cerca de 36,5°C e 37°C, independentemente da temperatura exterior ou das condições meteorológicas, logo “não há razão para acreditar que o frio possa matar o novo coronavírus ou acabar com outras doenças”, insiste a OMS.

A cocaína oferece proteção contra o novo coronavírus

Não. Além de desmentir o mito, a OMS recorda que a cocaína é uma droga estimulante e viciante, cujo consumo é prejudicial à saúde e provoca sérios efeitos colaterais.

Os animais de companhia podem transmitir a doença

Não há até agora provas que apontem nesse sentido. Mas é “conveniente lavar as mãos com água e sabão depois de tocar nos animais de companhia, para se proteger de várias bactérias comuns que podem ser transmitidas aos seres humanos, entre elas a E. coli e a Salmonella", recomenda a OMS.

As vacinas contra a pneumonia protegem contra o novo vírus

Não. As vacinas contra a pneumonia, como a vacina pneumocócica e a Haemophilus influenzae tipo B (Hib), não protegem contra o novo coronavírus, frisa a OMS. A vacinação é recomendada, por evitar doenças respiratórias, mas ainda não existe uma vacina específica contra o Covid-19. Nisso estão a trabalhar vários investigadores.

O novo coronavírus pode alcançar até oito metros de distância com um espirro

É falso. O vírus é expelido através dos espirros e tosse, mas as gotículas respiratórias atingem até um metro de distância, adianta a OMS. Daí a recomendação para evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse.

O novo patógeno pode espalhar-se a grandes distâncias através do ar

Na verdade, as gotículas provenientes da saliva ou das secreções do nariz "são muito pesadas para se espalhar por longas distâncias", explica a OMS, que alerta para o facto de a infeção também poder ocorrer ao tocar nos olhos, boca ou nariz após o contacto com uma superfície contaminada.

Pode reutilizar-se uma máscara N95

Não. As máscaras, incluindo máscaras clínicas planas e máscaras de filtro N95, não devem ser reutilizadas. Após o contacto próximo com uma pessoa infetada com o novo coronavírus ou outra infeção respiratória, a parte frontal da máscara usada deve ser considerada contaminada e descartada. Para a retirar, o procedimento correto é não tocar na frente e logo depois lavar as mãos com um gel hidroalcoólico ou com água e sabão.

O Covid-19 morre se for usada uma lâmpada ultravioleta para desinfeção

As lâmpadas ultravioletas não devem ser usadas para esterilizar as mãos ou outras partes do corpo, pois a radiação ultravioleta pode causar eritema (irritação da pele), esclarece a OMS.

É aconselhável lavar o nariz com uma solução salina para evitar infeções

"Embora algumas evidências indiquem que enxaguar o nariz regularmente com uma solução salina pode acelerar a recuperação após uma constipação comum, não foi demonstrado que isso previna infeções respiratórias", assinala a OMS.

Comer alho ajuda a prevenir a infeção pelo novo coronavírus

O alho é um alimento com algumas propriedades antimicrobianas, mas nenhuma evidência aponta para que a sua ingestão proteja contra o novo coronavírus.

Aplicar óleo de sésamo na pele evita a infeção

Não. O óleo de sésamo não mata o novo coronavírus. Existem desinfetantes químicos que aplicados em determinadas superfícies podem matar o Covid-19 - como desinfetantes à base de cloro e alguns solventes - no entanto estes produtos têm pouca ou nenhuma eficácia contra o vírus quando aplicados na pele ou sob o nariz (além de serem perigosos para o efeito).'

O arroz

Quando eu era miúda, gostava muito de almoçar numa casa de familiares que viviam perto de nós. Sempre que podia, ia brincar para lá pela hora do almoço. O cheiro que vinha da cozinha aguçava qualquer apetite. Não tardava que me dissessem: queres almoçar aqui?
Ouvida a pergunta desejada, eu corria a casa para pedir à minha mãe.
Passados minutos, estávamos todos sentados à mesa, depois de uma pequena oração de ação de graças, enquanto a comida fumegava, e que se repetia depois da refeição, quando os pratos já estavam vazios.
Isto foi-se repetindo ao longo da minha infância.
Toda a comida era simples, deliciosa, bem apurada, e o sabor do arroz era único. Pensar naquele arroz nunca deixou de me fazer crescer água na boca.
Muitos anos mais tarde, já adulta, passei um dia com a família para onde eu gostava de ir em criança. Pela lei natural da vida, a casa estava mais vazia de pessoas, mas a cozinha não tinha perdido o saboroso cheiro. A meio da manhã, e com tempo, fomos preparando o almoço: seria frango estufado e arroz. 
Quando ouvi a palavra arroz, as minhas papilas gustativas até dançaram. Iria saborear o tão desejado arroz da minha infância. E poderia aprender a fazê-lo também.
Como o frango já estava quase no ponto, era o momento certo de fazer o arroz.
E foi quando ouvi:
- Estou com dores nas pernas de estar tanto tempo de pé. Não te importas de fazer tu o arroz?  Também deves ter outra maneira mais moderna de o fazer; o nosso é à moda antiga e, se calhar, nem gostas.
De repente, senti lágrimas nos olhos e não foi só da cebola.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Já não é Carnaval?

Postal enviado pelo Clube das histórias


 

Ligação natural


Amélia Muge - "O que vê o meu olhar" do álbum "Não sou daqui" (2007)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Maria Bethânia - carnaval

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Caetano Veloso - Miragem de Carnaval

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Provérbios de Carnaval

       
Imagem da net






Não há Entrudo sem lua nova nem Páscoa sem lua cheia.

Quer no começo quer no fundo,  em fevereiro vem o Entrudo.

Namoro de Carnaval não chega ao Natal.

Carnaval na eira, Páscoa à lareira.

É Carnaval, ninguém leva a mal.

Esta vida são dois dias e o Carnaval são três.

Quem quiser o alho cabeçudo sache-o pelo entrudo.

José Afonso - 'Moda do Entrudo'



Ó entrudo, ó entrudo...

Ó entrudo ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
As mocinhas ao solheiro
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu'eu estou bem
Que no monte é qu'eu estou bem
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu'eu estou bem
Estas casa são caiadas
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira

José Afonso



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Há nomes que dão para tudo

Ouvi ontem o deputado do partido Chega, na Assembleia da República, a evocar a morte de Jacinta Marto, precisamente num dia 20 de fevereiro, manifestando-se contra a despenalização da Eutanásia. Confesso que, de repente, não identifiquei logo o nome da pessoa a quem se referia.
Já não bastava Camões e Pessoa serem encaixados em muitos discursos públicos, consoante os tempos e consoante as vontades, também alguns santos da Igreja católica podem dar jeito e fazer semear uns votos que serão colhidos em tempo julgado certo.
O mesmo deputado, que critica a hipocrisia de muitos para desvalorizar e branquear atos de racismo e de ódio, socorre-se de tudo para navegar na onda do populismo e oportunismo.
Como qualquer pessoa católica, conheço um pouco da história dos três pastorinhos de Fátima, tendo dois deles, Jacinta e Francisco, morrido em idade jovem e inocente. Poderá ser este um bom motivo para o referido deputado querer influenciar e fazer-se ouvir, no seu estilo frenético, truculento  e nervoso.
Descansa em paz, santa Jacinta, mas não perdoes sempre aos que sabem o que fazem.



"Dá-me um abraço"

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Hoje não poderia deixar de falar deste assunto

Imagem da net

Poderia começar por Era uma vez..., mas prefiro ir direta ao assunto num dia em que o racismo não pode nem deve ser ignorado.
A minha neta frequenta uma escola primária e pública em Londres - onde as crianças começam a sua escolaridade no ano letivo em que fazem cinco anos.
Conheço um pouco dessa escola (cujos resultados mostram que funciona bem), porque já fui buscar a minha neta bastantes vezes e falamos da escola em casa.
O alto portão de grades, que dá para o espaço largo e aberto, abre-se às 15.30 e os adultos vão à respetiva sala buscar as suas crianças, onde à porta está a professora.
Na sua grande maioria, quem espera as crianças são as mães: árabes, negras, brancas, tal como as crianças. Estas, tanto na sala de aula como no recreio, brincam, comunicam, falam, tudo de forma natural, o que também é cada vez  mais legítimo e natural.
Muitos adultos deviam seguir estes exemplos e de muitos outras crianças.
Oxalá que elas não aprendam, fora da escola, o ódio ou a humilhação pela sua cor de pele. 
Em estádios de futebol, na política, na rua, em muitas casas e em muitos outros lugares, existem homens e mulheres que usam inexplicáveis filtros e defendem o seu mundo de uma só cor. E há também os que se encostam a esse mundo, preferindo, cobardemente, fingir que não sabem, que não veem, que não ouvem... 
E não compreendem que é nefasta a história que vão escrevendo.



domingo, 16 de fevereiro de 2020

Jacques Brel - Quand on n'a que l'Amour

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

L'amour...


Postal enviado pelo Clube das Histórias



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Carta de amor à mãe


Não têm conta os contos que tu, mãe, me contaste.
Quando eu era muito pequena, nem sempre tinha paciência para os ouvir até ao fim ou deixar que terminasses a leitura. Saía do teu colo e ia buscar outro livro, mas voltava logo porque o teu regaço era  o melhor sítio para ouvir as histórias, fosse de um livro ou contadas por ti.
A ouvir histórias e aconchegadinha a ti, mãe, tudo parecia perfeito.
No tempo em que eu ainda não sabia ler, gostava sobretudo de ver as imagens e ouvir as tuas palavras mágicas. Recordo-me que abria o livro e tu perguntavas-me se eu sabia onde estava o galo, o pintainho, a flor, o cavalinho... Quando me enganava, sorrias e repetias as palavras serenamente para eu as fixar melhor.
Se vias o desenho de uma menina muito bonita, logo dizias que era eu. A seguir,  apressava-me a encontrar uma senhora igualmente bonita para te dizer que eras tu, mãe.
Eu ainda não sabia dizer todas as partes do rosto, mas reconhecia-as e apontava-as: os teus olhos azuis (com os óculos que às vezes te queria tirar, embora soubesse que não devia), a boca sorridente, as faces rosadinhas e macias...
E recordo que usavas palavras ligadas ao céu: minha estrela, meu sol...
Só não sei é por que razão nunca me chamaste lua, porque sempre sentiste muito encanto por todos os pontos luminosos do céu. Até dos aviões. Ainda guardo, por exemplo, um livrinho com uma imagem de que eu gostava muito: um ursinho a dormir serenamente e uma lua muito luminosa.
Muitas outras expressões que usavas eram como o açúcar, apesar de nunca abusares dele: minha doce, minha doçura...
Mas a minha preferida sempre foi: tu és a luz dos meus olhos. Lembras-te, mãe?
À noite, quando chegavas do trabalho, sentavas-te um bocadinho comigo e esse era um dos melhores momentos do dia. Às vezes, chegavas cansada a casa, mas parecia que tinhas todo o tempo do mundo.
Agora, dou comigo a repetir para a Clarinha muitas das frases que me dizias quando eu era criança. Ela gosta muito e eu fico feliz. Espero que fiques feliz também.
Um abracinho, mãe, que é uma maneira muito singela de dizer que te amo.
Clara

Nota - Este texto teve uma menção honrosa no concurso Textos de Amor, do Museu Nacional da Imprensa, 2019



Clã - "Problema de Expressão"

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Então o amor e a amizade...

Postal enviado pelo Clube de Contadores de Histórias


Carta de amor aos meus ex-alunos


Não sabem como me custa passar à nossa antiga escola secundária e não reconhecer nenhum rosto de alunos.  Porém, muitos dos vossos continuam na minha memória e quero estimá-los sempre. Como um retrato que não perde a cor nem a beleza. Por isso, vos escrevo esta carta, esta carta de amor, sem medo de parecer ridícula.
Todos os anos, muitos de vocês chegavam e também partiam. Porque a vida não para nunca. Tal como os sonhos.
Os vossos primeiros passos eram quase sempre tímidos e inseguros por desconhecerem as salas, a reprografia, a cantina... Os rostos dos colegas, dos professores, dos funcionários também não eram familiares.
Depois, com o tempo, tudo se clarificava, embora algumas matérias continuassem muitas vezes obscuras. Nós, os professores, dizíamos que era por falta de estudo; vocês encontravam outras razões, não menos válidas.
E como eu gostava de ouvir a tirar dúvidas aos colegas, nos intervalos.  O prazer era infinito perante incontáveis talentos: para escrever, para dizer poesia, para representar, para aprofundar a ciência...
Vocês eram uma forte razão para a minha felicidade.
Quando cochichavam durante as aulas, bastava o meu olhar sério para interromper as conversas, mas só por alguns minutos. Eu imaginava que o assunto  era importante, com certeza, mas eu queria que o programa fosse cumprido e assimilado. Que todos estivessem atentos, como se fosse possível falar de um coletivo em tempo de legítima singularidade.
Nessas ocasiões, eu era a professora e a pessoa que sou em conflito entre o dever e a liberdade.  E reparava na rigidez imposta pelo espaço porque o vosso corpo não parava de crescer e as mesas mantinham-se quietas e baixas.
Como eu gostava de vocês, embora nem sempre tivesse a arte de arranjar tempo para vo-lo dizer tantas vezes como mereciam.
Vocês eram o meu público que eu não escolhia, mas que era o resultado de acasos felizes.  Nem sempre as palavras estavam em sintonia com os nossos desejos e atitudes. Como as fortes marés que, só com o passar do rio, se vão apaziguando.
Como eram radiosos os dias em que os laços humanos se ligavam, em que os interesses pelos saberes convergiam, em momentos de quase êxtase pelo valor da educação que dava mais sentido às nossas vidas.
Talvez fosse melhor tê-lo dito mais cedo, mas, antes que seja demasiado tarde, quero fazer-vos esta declaração:
Continuo a amar-vos, queridos ex-alunos. Não o sinto apenas quando passo à nossa antiga escola e vocês já lá não estão.
Vocês ensinaram-me a olhar a torrente da vida, aprendendo a navegá-la.

Um abraço de uma professora que gostaria de vos ver felizes e abraçados pela vida.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Presente


A música do jardim
vem das magnólias
e dos teus olhos.

Os nossos passos
afligem a terra
poeirenta.

Gaivotas saltam do rio
procurando lugares
onde nos sentamos
e que também ao céu
pertencem.

Ervas vivem deitadas
de tão percorridas
pelo amor que nelas pousa
ou que delas foge.

Abraça-me ao sol
da nossa alegria
sem passado.

Apenas o presente
do teu rosto
ao sol
ouvindo os sons do jardim
e do rio
que  não perturbam o silêncio
das magnólias
nem o ainda calor das nossas mãos.