Era sempre o pai que gostava de
escolher o nome dos/das descendentes. Esteve para optar pelo nome de
personagens de epopeias. E até já os tinha escrito num caderninho, onde
registava recados para memória futura, com letra muito miudinha. Se o primeiro fosse rapaz, seria Ulisses; se fosse menina, chamar-se-ia Penélope. E não
era só por ter lido a Odisseia de Homero, mas a ideia sempre lhe surgia
quando via a mãe a tecer um interminável entremeio de renda, enquanto o pai trabalhava em África.
Mas não, os padrinhos
não concordaram que a menina se chamasse Penélope, sobretudo a madrinha que
disse até: “Pronto, tudo bem, não querem que a menina se chame Procópia como
eu, mas, então, tem de se chamar Generosa porque é o que eu sou ao aceitar que a
minha graça caia em desgraça e morra comigo, em vez de perdurar".
E assim ficou o nome
Generosa, pronunciado bem alto pela robusta madrinha junto da pia do batismo.
O segundo bebé, até nascer,
não tinha nome. Na tarde em que outra menina viu a luz do dia, a médica obstetra
pegou nela, voltou-a para a claridade da janela e exclamou: “Que formosa que
ela é”. Pronto, estava encontrado o nome: Formosa e muito formosa cresceu.
O pai, que era amante de
poesia com rimas, antes do nascimento da terceira filha foi pensando no nome
que não destoasse do das irmãs. Como tinha de rimar, pensou em Rosa, mas era
muito curto e, confrontado com o das manas, podia parecer demasiado breve e
gerador de conflitos ou ciúmes.
Na Maternidade, logo que
a menina nasceu, o pai foi com as duas filhas – Generosa e Formosa – visitá-la
e à mãe que já não sabia o que fazer porque a bebé chorava, chorava com a
boquinha muito aberta e as maçãzinhas do rosto muito vermelhas. As meninas
estavam muito caladas, sem saberem o que fazer ou dizer. Foi então que Generosa
se aproximou da irmã e esfregou o dedinho indicador no polegar, o que sempre
fazia antes de tocar na pele macia e delicada de um bebé. Disse-lhe a mãe:
“Podes fazer festas à maninha, querida. Pode ser que deixe até de chorar
tanto”. E a pequena Generosa assim fez. Não sei se por cansaço ou pelo carinho
acrescido, a recém-nascida sossegou. Foi então que Formosa, que gostava de
imitar as palavras da mãe, exclamou: “Que mimosa!”. E logo o pai disse:
“Encontrei o nome!” E, assim, Mimosa ficou..
No regresso a casa, o
pai, contente, foi com as meninas visitar uma exposição de pintura de Amadeu
(Souza Cardoso) e entraram, para lanchar, no café Orfeu.
E que mais posso dizer eu? Apenas que as meninas cresceram
generosas, formosas e mimosas. Todos os os professores diziam que eram
atentas, simpáticas e gostavam de aprender. Porém, as três manifestavam uma
reação estranha: recusavam-se a decorar rimas e esquemas rimáticos!!!
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