Há muitos anos, ouvi alguém a dizer:
"Não peço desculpa a ninguém". Não lhe atribuí qualquer forma de
altivez ou mania da superioridade. O contexto era de despedida e vinham, entre
abraços, à baila aquelas palavrinhas muito portuguesas (acho eu, mas, se calhar,
não é bem assim): Desculpa qualquer coisinha.
Confesso que esta expressão
não é nada do meu agrado - pela palavra "coisinha" e se, de facto, houve
qualquer coisa a despropósito, porquê deixá-la só para a hora da despedida?
Se não houve, porquê dizê-lo? Também poderá introduzir a ideia de que a pessoa pode fazer o que lhe apetece
e, depois, numas curtas palavrinhas, lava um bocadinho a fotografia.
Se calhar, por isso, a frase ouvida
soou-me, naquele momento, como um sinal até positivo. Claro que afirmar que se não
pede desculpa a ninguém é negar uma das características humanas que é errar e
ter vontade de corrigir o erro.
Há dias, ouvi a mesma expressão num
contexto escolar. Um jovem disse e repetiu: "Não peço desculpa a ninguém".
O eco, que chegou aos ouvidos dos presentes, fechava qualquer hipótese de mudança
de comportamentos. Não surgia como reação a frase esgotada por tão repetida,
mas como um muro que se erguia, apesar de ser ainda muito novo o construtor.
Da facto, as mesmas palavras podem assumir muitos sentidos, pelo contexto, pelo
modo como são ditas, pelo motivo que levou a dizê-las...
As vivências de uma jovem há trinta anos não
se comparam a um adolescente dos dias de hoje.
Não consigo é saber em que época as circunstâncias eram mais difíceis. E por isso peço desculpa.