Pela fresca, em manhã bastante fresca
Saí de casa cedo. Parte do meu
domingo seria passado na 'minha' cidade com mar ao fundo. Antes das nove, a TSF
passa o compacto de 'Postal do dia' de Luís Osório. Ouvi tudo com agrado.
Estava sol e eu conduzia devagar. Não tão devagar, acho eu, que irritasse
outros condutores. Àquela hora, também os havia poucos.
Lá chegada, vi que no espaço da feira semanal, havia
uma feira de velharias. Devia ter peças engraçadas. Noutro tempo, não resistiria
e compraria alguma coisa. Hoje, andei sempre, embora não deixasse de olhar.
A bela adormecida
Ainda tenho nos olhos a foto com o palco mágico de A Bela Adormecida, espetáculo aonde a Clarinha foi com os pais.
Com o belo bailado diante dos seus olhos e a música a envolvê-la,
a menina ouvia, escutava, via, olhava...
O primeiro ato foi visto com olhos e ouvidos atentos do
princípio ao fim; a meio do segundo, já encostava a cabecinha à mãe; no
terceiro, aconchegou-se ao colo do pai. Daí a nada, adormeceu. Era uma verdadeira bela
adormecida.
Vamos indo e vamos lendo
Apesar das suas mais de quinhentas páginas, já li o thriller
quase todo Cem Anos de Perdão de João Tordo.
No dia 3 de fevereiro, o autor viria à Biblioteca Municipal de
Gondomar para falar da sua obra e deste livro em particular, como
havia sido anunciado na sessão anterior. Na
minha cabeça, ficara a data registada e nem procurei confirmação.
Como não tive tempo de ler tudo antes da sessão, aproveitei
uma longa sesta do meu neto e li bastantes páginas finais do livro. Nada de que
Daniel Pennac não tenha previsto nos seus Direitos do Leitor. Estava ainda mais disponível para a sessão que seria daí a horas.
Embora não goste de sair à noite, era bom pensar que iria ao encontro dos 'Encontros com Escritores'. Telefonei a uma amiga e lá
fomos, contentes e felizes, à hora marcada. Porém, à hora marcada, a Biblioteca
estava ... fechada.
Ontem, liguei para a Biblioteca porque nada via no site.
Sim, haverá a sessão, mas noutra altura. Será anunciada atempadamente. Sim, foi
dito na sessão anterior, mas nada foi escrito posteriormente, como pode confirmar. Que pena terem
vindo ao engano. As nossas desculpas.
Tal como havia registado a data, também registei: mais vale
não acreditar logo na palavra dita e esperar pela palavra escrita. Enquanto
isso, vamos indo e vamos lendo.
'O sol é histérico', disse ele
Se esta sessão (ainda) não se realizou, o encontro com
Valter Hugo Mãe, no final de janeiro, teve lugar e foi muito bom. A sala estava cheia e
havia gente jovem, o que nem sempre acontece nestas coisas.
A sessão começou, como habitualmente, com uma abordagem
breve de algumas obras e temas trabalhados pelo autor, seguindo-se um diálogo
mais específico sobre o livro escolhido, neste caso, Contra Mim, um livro quase todo escrito durante a pandemia e que
resultou de crónicas/episódios dessa altura e que o autor viria a unir e a articular. Valeu-lhe até o
prémio da novela e romance da APE. A uma pergunta se o livro era uma romance, respondeu com graça
e espontaneidade em modo irónico: se ganhou o prémio do
romance é porque era.
Uma coisa foi pelo autor confirmada: é autobiográfico e foi
repetindo situações pessoais e familiares vividas e contadas no livro. Se
morresse, disse ele, na pandemia, durante a qual 'parecia não haver futuro', o passado tinha
valido a pena, tal como o arrumara no livro.
Quanto ao trabalho de escrita, disse realizá-lo virado para a parede e de janelas fechadas
para não entrar luz exterior. E, apesar de viver perto do mar, em Caxinas, Vila
do Conde, prefere as nuvens ao sol. E mais uma frase surpreendente se lhe
ouviu: 'o sol é histérico'.
Sobre a utilidade da escrita, disse que escrever é um modo
de dizer que gosta de ser útil e de continuar a ponderar o mundo melhor.
E esta ideia não é nada histérica. Como esperei deste domingo
bom e de sol com um belo mar ao fundo.