sábado, 4 de maio de 2019

Poema Fala de Mãe e Filho


“Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?”

Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.

“Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar?”

Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.

“Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?”

Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.

Mia Couto

sexta-feira, 3 de maio de 2019

'Verifiquei que a Madalena sou eu...'

'Não gosto nada de blogues... o amigo Vítor já sabe!
No entanto, visito a carruagem, sempre que posso...e partilho a opinião de Dolores Garrido: vale a pena!
Lá, encontramos sugestões feitas de experiências conseguidas, opiniões muito válidas e uma humildade apoiada em conhecimento sólido. Por isso, a Carruagem 23 é o único blogue que conheço.
Mas porque a vida é feita de esperas, encontros, desencontros e reencontros, partilhas e confidências, aconteceu chegar-me às mãos um livro com o título 'A VELHA CASA e outros dias', e com uma dedicatória - «Fev.º 2019 - Para a Ana Rosa com um beijinho - Dolores Garrido». Foi o meu amigo Vítor que mo deu. Olhei para a contracapa e reconheci o rosto da autora, era-me familiar... Vou ler!
Folheando ao acaso, li, no espaço dos agradecimentos da última página, outro nome que conheço dos bancos da FLUP: Ana Cardoso. E assim a teia se foi construindo...
À medida que me ia embrenhando na velha casa, em A Ver O Rio e ia viajando até Paris, verifiquei que a Madalena sou eu... que quem escreveu este diário fui eu... Desculpe-me Dolores! Eu explico:
Amor pelos livros e pelas arrumações, sou eu a autocaracterizar-me. Tento, em cada dia, reconhecer o que de bom me acontece na vida, quero estar satisfeita, mas...zás, aparecem os contratempos, parece que a vida não quer que eu me sinta bem! Também sou o centro de uma sanduíche, tenho os meus pais que precisam de mim e uma filha que também precisa (embora esta nem sempre o saiba, da altura dos seus 22 anos). O carinho pelos meus alunos, a troca de mensagens com eles, o orgulho que sinto de os ter ajudado a serem quem são, a escola que circula nas minhas veias, porque é inseparável de mim, são aspetos que reconheci em Madalena. O prazer numa curta conversa e o olhar atento a quem nos rodeia e a quem connosco partilha os seus dias, como é o caso do sr. Delfim...
Adorei! Não só porque me reconheci, como já expliquei, mas também pelo estilo escorreito e sem rodeios.
Foi par dizer MUITO OBRIGADA que vim a este blogue e creio que já me alonguei... Será que passei a gostar de blogues? "On verra!"
Beijinho'.
Ana Rosa Silva

Nota - O blogue a que Ana Rosa Silva se refere é http://carruagem23.blogspot.com, magnificamente dinamizado por Vítor Oliveira. As viagens nesta Carruagem são sempre diferentes e, à saída, fica-se sempre a saber mais e a pensar melhor.

Resposta à Ana Rosa - Antes de mais, MUITO OBRIGADA também pela felicidade que me deu ao fazer-me sentir que valeu a pena ter escrito a Velha Casa e outros dias. E que, por isso, valerá a pena continuar a escrever.
Para além da escrita, devo dizer que eu podia viver também sem o meu blogue, mas, para mim, não era bem a mesma coisa, apesar de ser bem simples. Porém, tal como a Ana Rosa, também visito poucos, se calhar por inércia ou indisciplina minhas.
A 'Carruagem 23' é um dos que visito com mais frequência. Obrigada, Vítor, pela profundidade, pertinência e atualidade dos teus posts. E por, através de ti e do teu blogue, ter tido o grande prazer deste dia: abrir o olamariana e ler o comentário da Ana Rosa, a quem agradeço imenso as palavras tão saborosas. Também refere a Ana Cardoso (felizmente, minha amiga, tal como o Vítor). Foi ela que apresentou generosa e maravilhosamente este meu diário, num dia também muito feliz para mim. De facto, o mundo é pequeno, mas as pessoas podem torná-lo bem melhor e bem mais habitável.
 Obrigada, Ana Rosa, por ter lido o meu livro com tanta atenção e por ter escrito o comentário que 'puxei' para página principal (espero que não me leve a mal), porque entrou no post de 3 de junho, já bastante recuado e, como tal, mais difícil de ser visto e partilhado.
Adorei a sua alegre e cúmplice vivacidade ao declarar-se também autora do livro, identificando-se com  diversas situações que refiro e que são vivenciadas por imensos professores. Também isso lhe agradeço. E se me diz que consegui convocar algumas, fico ainda mais feliz.
Um grande abraço e, mais uma vez, OBRIGADA.
Dolores


terça-feira, 30 de abril de 2019

domingo, 28 de abril de 2019

E Madrid aqui tão perto!


Fui a Madrid nos últimos dias.
Conhecia/conheço mal a cidade. E gostei do que vi, embora muitíssimo mais houvesse para ver.
Partilho algumas das imagens que captei.
Não ficaram os pinchos quentinhos comidos no Mercado de S. Miguel, o sossego de algumas ruas, o bulício das avenidas, a polícia com armas, os cartazes dos candidatos às eleições de hoje...
A simpatia no atendimento, o desconhecimento da língua portuguesa, a ligação imediata de Portugal a Ronaldo...
A rapariga loira a pedir esmola sentada junto de uma esplanada, a Grândola, vila morena que vinha de uma janela de uma casa antiga na tarde de 25 de Abril, a maratona de ontem que corria a cidade, os cafezinhos acolhedores onde o abacate é rei...
A visita de locais de arte de referência, como o Museu do Prado, que se encontra revestido para obras, nunca descurando a beleza...

Respirar as árvores da cidade

Duas fotos do parque Casa de Campo
Parque do Retiro

A bela diversidade dos edifícios



No Metro, também há arte


quarta-feira, 24 de abril de 2019

25 de Abril

 

'A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo 
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo'


Sophia de Mello Breyner

E não há plano B. Vale a pena ver, ler e agir.

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terça-feira, 23 de abril de 2019

Conversa numa livraria para crianças


- O livro está muito bonito, mas não vende em livrarias.
- Porquê?
- Como a capa não é grossa, as pessoas não compram.
- Mas assim fica até mais barato e as crianças poderão ler mais.
- Cada vez mais as pessoas compram livros apenas para oferecer e não para as crianças lerem em casa. Como são um presente, preferem capas duras.
- A sério? 
- A realidade é esta: as crianças leem cada vez menos e os adultos compram cada vez menos livros também.  As provas de aferição e os exames vieram matar muita leitura por gosto.
- É pena. Há livros maravilhosos para crianças, tanto pelo texto como pela ilustração. Com eles, podem aprender tanto!
- Sim, é uma área fascinante, mas muito pouco rentável.
- Talvez os professores do ensino básico devessem interessar-se mais pela leitura.
- Muitos preferem outras áreas de ensino e não lhes faltam constrangimentos.
- Pois, as Clarinhas, as Marias, os Josés, as Matildes... vão vivendo tantas histórias para contar. Mesmo assim, o melhor é não deixar de as escrever e ilustrar...
- Para que o mundo não fique com uma capa ainda mais dura!!!

Alguns tesouros

Postal enviado pelo Clube das Histórias

segunda-feira, 22 de abril de 2019

No Dia da Terra

A Terra



Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!


Miguel Torga

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Feliz Páscoa!

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Paris, toujours!


Imagem da net

terça-feira, 16 de abril de 2019

Maria Alberta Menères 1930/2019


https://images.search.yahoo.com/search/images?p=Maria+Alberta+meneres+poesia&fr

Nossa Senhora!



Na primeira vez que fui a Paris, há muitos anos, um dos objetivos principais era visitar Notre Dame e ver os vitrais. Apreciá-los de dentro da igreja faz(ia) calar as palavras e demorar o olhar nos desenhos cheios de luz.
Neste momento, talvez estejam estilhaçados e caídos no chão.
Ontem, as imagens do incêndio da catedral assemelhavam-se ao ruir brusco e rude de muitos sonhos que pareciam não ter fim. Era o tombar do que parecia erguido para nunca ser derrubado.
Nossa Senhora!
As notícias dizem que muitas pessoas, que estavam por perto, choravam. E não foram só elas. 
Notre Dame chamava multidões, mostrando-lhes, com beleza e generosidade, a arte de que todos os seres humanos precisam. E amor. E espiritualidade. E história(s). E recreio. E harmonia. E força. E tanta coisa que cada um procura.
Ainda que não exclamasse: Nossa Senhora!


domingo, 14 de abril de 2019

Ficam sempre bem


Quando eu era pequena, a minha mãe fazia, para mim e para a minha irmã, uns raminhos para serem benzidos na missa do domingo de Ramos.
Para além de raminhos de oliveira e de alecrim, punha flores. Lembro-me sobretudo dos goivos cor-de-rosa e muito perfumados.
No adro da igreja, eram inúmeros os ramos que iam chegando. De todos os tamanhos. Havia lavradores com ramos de oliveira tão grandes e pesados que tinham de os levar ao ombro.
Nunca tive uma oliveira no meu quintal, mas acho que um dia destes vou plantar uma. Não para a cortar, mas para vê-la crescer. Tenho, porém, alecrim que me cheira a dias festivos da infância.
Estas recordações chegaram-me pelas imagens da televisão e pelo raminho que estava a fazer. Não para ser benzido, mas para ser oferecido. E, num caso ou no outro, as flores ficam sempre bem.


sábado, 13 de abril de 2019

Livros ao pé da porta

- Ontem, apresentei um trabalho com mais duas colegas num Encontro de Professores de Português, em Leiria.
- Correu bem?
- Sim, correu. Falámos sobre o concurso "Vamos contar um conto", que realizámos na escola durante seis anos consecutivos e que levou à publicação de seis livros.
- O vosso trabalho era pago?
- Achas? A adesão de bastantes alunos, professores e outros elementos da Comunidade era o melhor prémio.
- Já em férias escolares, havia muitos professores a fazer formação?
- Muitos, embora menos do que em anos anteriores.
- Não vi notícia nenhuma.
- Estas coisas não se escrevem na televisão.


quarta-feira, 10 de abril de 2019

Conversa ao pé da porta

- Hoje vi numa praceta um cartaz que dizia: "Elogiem-se".
- Ótimo. Há pessoas que vivem tristes porque nunca têm um elogio.
- Concordo. Isso vê-se melhor do que um cartaz.
- Isso o quê?
- Olha-se para alguém e vê-se logo se tem o hábito de ouvir elogios.
- E vê-se como? 
- Por tanta coisa dita ou calada; por tanta coisa que se esconde ou se grita...