sábado, 4 de maio de 2019

Poema Fala de Mãe e Filho


“Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?”

Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.

“Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar?”

Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.

“Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?”

Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.

Mia Couto

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