segunda-feira, 3 de junho de 2024
sábado, 1 de junho de 2024
Acho que em Portugal não aconteceria!
Há uns dias, uma senhora velhinha e muito frágil foi a um Centro de Saúde a poucos quilómetros do centro de Londres. Dirigiu-se ao balcão e disse ao que ia: sentia-se doente e queria marcar uma consulta. Ouviram o pedido e a resposta foi:
- Desculpe, mas não podemos marcar consultas aqui ao balcão. Tem de o fazer online.
A velhinha disse que tinha dificuldades em fazê-lo desse modo.
Poderia então pedir ajuda a alguém - responderam-lhe.
A senhora velhinha foi-se embora, muito mais triste e fragilizada do que tinha chegado.
Apesar de todas as críticas ao SNS em Portugal, vindas de diferentes setores e agudizadas por ideias que na Campanha eleitoral são repetidas, acho que tal não se passaria e a consulta seria marcada.
Oxalá eu tenha razão no que estou a dizer. E sobretudo que continue a haver cada vez mais razões para que quem precisa de ajuda tão premente não seja despachado com indiferença o que, em idades mais avançadas, aumenta a dor da solidão.
sexta-feira, 31 de maio de 2024
Como se eu tivesse oito anos
O meu pai lê muito e muito bem. A minha mãe também, mas à noite é o meu pai que costuma ler para mim. Deito-me e só adormeço depois de ouvir a história. Há muito tempo que andamos a ler Harry Potter. Adoro tudo o que é Harry Potter. Ano passado, oferecemos um livro, em português, do Harry Potter à minha avó. Ela gostou muito, mas disse que a letra era muito pequenina.
Eu já sei ler há muito tempo, mas adoro à noite estarmos os três a ler ou a ouvir ler um livro. Já é assim, desde muito pequenina. Deve ser por eu gostar tanto que a minha mãe às vezes diz que não há leitura de história à noite, quando ralha comigo por qualquer coisa que fiz mal, mas acaba por desculpar e leem na mesma um livro. Eu acho que os meus pais também gostam muito daquele bocadinho em que estamos os três juntos para a leitura, antes de eu dormir.
Quando a minha avó nos vê assim, diz que é muito bonito e que é por isso que eu gosto de ler. Não sei se é, mas gosto muito de ler e também de cantar e de ver vídeos no meu iPad e da escola e da natação… Do que não gosto tanto é de tocar piano, mas o meu pai insiste. Se eu soubesse magia como no Harry Potter, havia de convencê-lo a não insistir tanto, mas como não sei, tenho mesmo de tocar,
O que vale é que todas as noites, sei que vou estar quentinha e feliz na minha cama a ouvir ler uma história,
quinta-feira, 30 de maio de 2024
De dentro para fora - diferentes formas de calor
Quando chegámos a Londres, chovia com abundância. Em Portugal, as temperaturas altas levavam muita gente para o bronze ou frescura da praia. Sol e maresia a consolar o corpo e a alma.
Mas eu, que se calhar sou meio esquisita, gostei de ouvir a chuva nas janelas do avião. Seria assim depois da viagem de comboio e já em casa da minha filha?
Tínhamos partido cedo e já havia fome. De estarmos todos juntos e também de almoçar.
E se fôssemos ao restaurante libanês? Todos concordaram.
Comida saborosa, mediterrânica, colorida…
Depois da caminhada a pé, chegámos a casa. Com as malas e com sol, ainda que tímido mas bonito. E veio o dilema: ficar em casa ou aproveitar o tempo do resto da tarde para um passeio ou visita.
Vamos andar de barco?
Vamos a um parque?
Acabámos por ficar em casa a ouvir a chuva que voltou, a sentir a preguiça boa de poder estar no sofá, conversando, uns quase dormitando…
Entretanto, reparei que o fogão precisava de limpeza e o frigorífico de alguma arrumação. Sem dizer nada, meti mãos à obra. Entretanto, a menina tinha afastado os seus castelos de legos para que o primo mais pequenino não os desfizesse. E era uma correria: o mais pequenino que queria chegar aos castelos e a mais crescida que logo ia atrás dele como boa castelã e guardiã.
No dia seguinte, haveria programa mais completo.
No nosso país, tinha ficado a campanha eleitoral das europeias. E muito calor.
Aqui, em país que saiu da Europa, havia outra forma boa de calor.
terça-feira, 28 de maio de 2024
Palavras ditas ou não ditas
Dizer alguma coisa, por pouco que seja, em muitas circunstâncias, ainda que simples, é correr riscos. No entanto, não dizer nada também pode trazer consequências.
Considero cada vez mais difícil atingir o equilíbrio, isto é, dizer as palavras certas no momento certo e saber calá-las, quando desnecessárias. E, às vezes, as palavras, ainda que aparentemente anódinas, ferem e marcam algumas sensibilidades, ainda que sejam proferidas naturalmente e sem má intenção.
Recordo-me de algumas situações - poucas, felizmente - em que umas tantas palavras me escorregaram e a outra pessoa reagiu, por exemplo, pelo silêncio, que pune mais do que muitas palavras.
Se, para algumas pessoas, não custa nada ver que alguém ficou melindrado com alguma palavra; para outras, pode aumentar tristeza e até solidão, sobretudo se a educação foi mais acusatória do que benevolente.
Será lugar comum dizer-se que o ser humano é complexo. Bem mais do que algumas situações, aparentemente simples, que complicamos - quando dizemos ou escutamos alguma coisa que, no momento, não nos cai no goto. Também não fujo à regra, é claro.
segunda-feira, 27 de maio de 2024
Elogio versus crítica
O tempo em que nasci e vivi durante anos era avesso aos elogios, ou melhor, estes nem eram lembrados porque quem o poderia e deveria fazer também pouco ou nada os tinha ouvido.
E a falta de elogios deixa mazelas. Conheço vários casos de sofrimento ao longo da vida por não ter havido, durante a fase de crescimento, um sorriso de empatia, uma palavra elogiosa, o reconhecimento de que algo estava bem feito.
Se as coisas corriam mal, havia críticas fortes; se as coisas corriam bem, nada se dizia porque assim tinha de ser e nada havia a acrescentar.
E como cada ser humano é diferente e complexo, muitos dos que sempre ouviram críticas e nunca elogios mantiveram essas práticas para com os mais próximos; enquanto outros passaram a dizer que sim a tudo para que o pesadelo vivido não se repercutisse nos seus descendentes.
Muitas inseguranças se geraram pela ausência permanente do elogio e pela mais que certa crítica por tudo e por nada.
É por estas e por outras que precisamos cada vez mais de reconhecer o que os outros fazem de bom para sermos todos um bocadinho mais felizes!
domingo, 26 de maio de 2024
O ‘não fez nada’ está na moda
Pelo menos desde que a atual ministra do trabalho criticou duramente Ana Jorge por não ter feito nada na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, já ouvi até jornalistas a dizer que fulano ou fulana de tal não fez nada no cargo que exercia.
Não estou lá para ver, mas custa-me bastante aceitar que uma equipa não faça nada. Pode ficar aquém das expectativas, não ter resolvido problemas essenciais, mas dizer que não se fez nada é, muitas vezes, uma forma de puxar a cadeira para que outra pessoa se sente nela o mais depressa possível. Se a moda pega, nem é preciso arranjar muitas justificações - dizer e repetir que alguém não fez nada no cargo é o pontapé para saída da pessoa que se quer ver substituída e não o pontapé de saída para se conhecer a realidade.
A moda não se ficará só pela política. E nem são precisos muitos adereços: basta poder e alguma arrogância.
Recordo-me de ter ouvido um dia uma professora dizer desesperada, depois de um momento difícil na sala de aula: ‘Não valho nada’.
Sentir que não se vale nada será muito diferente de ouvir que não se fez nada?
sexta-feira, 24 de maio de 2024
domingo, 19 de maio de 2024
Mais um problema para alguns professores
Felizmente aconteceu-me poucas vezes, mas houve alturas em que ouvi alunos a dizer: ‘Eu digo o que eu quiser, porque há liberdade’
Para responder com eficácia nessas ocasiões, não há modelos e mesmo o que se diz pode ser bom para uns e o contrário para outros, o que é natural.
Continuo a ter muito mais dúvidas do que certezas sobre muitas coisas e sobre esta também. Como vivi também no tempo em que não havia liberdade de expressão, defendo que esta tem de existir, mas deve haver o cuidado de não se ofender nem amesquinhar seja quem for.
Isto tem a ver com o que se passou recentemente na Assembleia da República, cujo presidente defendeu que tudo pode ser dito na ‘Casa da Democracia ‘, uma vez que há outros escrutínios.
Como houve bastante ruído em relação a este episódio, JPAB já argumentou em sua defesa, mantendo a posição tomada. Ele estará no seu direito, mas, na minha opinião, crescerá o número de alunos a afirmar: ‘Posso dizer o que eu quiser, porque há liberdade’.
Se tal acontecer, esses professores sentir-se-ão mais indefesos e sós. Viver em liberdade é um dos maiores bens humanos, mas ver pessoas tristes não celebra o seu sabor.
sábado, 18 de maio de 2024
Hoje comecei o meu dia a olhar flores
quinta-feira, 16 de maio de 2024
Quem fala assim não está afónico!
Tenho seguido, ainda que de forma intermitente, o caso da exoneração de Ana Jorge da Santa Casa da Misericórdia.
Tinha visto a entrevista com a ministra do trabalho e solidariedade em que disse e repetiu que a ex-provedora não tinha feito nada no cargo e a acusava de inação. Falava de rosto fechado, com secura e ar cáustico de justiceira.
Vi depois Ana Jorge a defender-se com muitos números à mistura, muita citação de documentos, tudo com alguma lentidão, o que já mostrou ser característica sua, como é fechar os olhos de vez em quando, o que não a revela desempoeirada, ainda que séria.
Fiquei com curiosidade e quis ver e ouvir as explicações da atual ministra. E, pelas seis da tarde, estava eu no sofá, com um trabalhinho nas mãos, para ver e ouvir o que pudesse.
Aparece então a ministra, saúda ‘afavelmente’, como referiu, os interlocutores, diz que está constipada e pode ficar afónica e expõe longamente factos, documentos, números, etc, que incriminam Ana Jorge e, no seu entender, justificam a exoneração.
Retive sobretudo a forma veloz de se expressar, a capacidade de argumentar durante umas duas horas, sempre a encostar com força a ex-provedora às cordas. Havia momentos quase de êxtase crítico do poder, embora tivesse dito que sabe que este é finito.
Não vi tudo, mas não me lembro de ouvir referir uma única coisa que a ex-provedora tivesse feito bem. Quem fala assim achará que é perfeito e devem-lho ter incutido desde tenra idade.
Crucificar assim alguém na praça pública, ainda que tenha cometido erros de gestão, nem parece de alguém em cujo título está a palavra solidariedade.
No final da audição, referiu, ufana e vigorosamente, o nome do novo provedor da Santa Casa, como um trunfo que só ela detinha. Minutos depois, era noticiado que o nomeado, Paulo Alexandre Sousa, já teve problemas num banco onde trabalhou em Moçambique, tendo tido uma sanção pesada.
Uma Santa Casa de santos ou pecadores?
Nota de hoje, 6a f:
Dizem as notícias que, após recurso, o tribunal deu razão ao provedor agora nomeado.
Vá-se lá saber a razão de tal trabalho num banco em Moçambique ter sido omitido pela ministra no currículo que evidenciou do provedor.
Se me permitem a ironia: isso ficou por dizer por causa da possível afonia!
terça-feira, 14 de maio de 2024
O aeroporto e a churrasqueira
Estive a ver as notícias sobre o anúncio da construção do novo aeroporto e, logo a seguir, passou uma reportagem em Alcochete, local escolhido para o efeito. As pessoas interrogadas mostravam agrado pela escolha e estavam confiantes sobre o desenvolvimento mais que provável que o aeroporto traria consigo. Num diálogo curto com um habitante, o jornalista perguntou se não o incomodaria o ruído dos aviões e logo se ouviu a resposta: que não, de maneira nenhuma.
Ora, recuei umas dezenas de anos e dei comigo no apartamento onde vivi durante os meus primeiros cinco anos de casamento. Um dia, tivemos a notícia de que em breve haveria uma churrasqueira na loja que dava para a rua, mesmo por baixo do nosso apartamento. Ficámos radiantes. Quando chegássemos tarde do trabalho ou não apetecesse cozinhar, o problema estava resolvido.
Pois bem, a churrasqueira abriu e a alegria continuava. Não sabíamos era que essa alegria seria breve. Os dias foram passando e o fumo voando e passando na minha varanda. O tempo não contemplava as exigências atuais, por isso o cheiro e o fumo mantinham-se e circulavam à vontade. O meu dia mais feliz da semana passou a ser a segunda-feira porque a loja estava fechada.
O tal senhor de Alcochete, que diz não se importar com o ruído dos aviões, ainda vai poder desejá-los durante muito tempo, porque construir um aeroporto não é a mesma coisa que abrir uma churrasqueira.
Se não for vegetariano, ainda poderá comer sossegadamente muitas vezes frango no churrasco. E o melhor é aproveitar enquanto não chegam os ruídos dos desejados, porque não faltará ocasião para dizer, enquanto tapa os ouvidos: parem de chatear o Camões!
segunda-feira, 13 de maio de 2024
Por falar em cores
Desde que me conheço, em nossa casa sempre vi entusiasmo pelo FCP. Já casada e com filhas adolescentes, cheguei a ser sócia e a assistir a alguns jogos. Eu própria me surpreendia com o entusiasmo que exteriorizava e me fazia levantar bem alto o cachecol azul e branco que levava comigo e que se juntava a tantos outros na cor e calor da festa.
As minhas filhas iam também muitas vezes aos jogos e era vê-las muito jovens, alegres e bonitas com os cachecóis azuis amarrados à cintura. Com o tempo, elas foram perdendo o entusiasmo e agora só sabem aquilo que os media anunciam, repetem e toda a gente conhece.
No meu caso, há anos que não vou ao Dragão nem a outro campo qualquer, mas continuo a ser adepta do FCP - um pouco como quando se diz ‘sou católico mas não praticante’. Nem sequer conheço o nome de todos os jogadores, mas as vitórias do FCP continuam a dar-me alegria.
Porém, estas feias macacadas muito faladas recentemente - embora já muito antigas - e ontem ainda mais divulgadas envergonham - ou deviam envergonhar - quem as pratica e quem as apoia. Infelizmente uns e outros já estão tão habituados a esses esquemas de ilícitos lucros dourados que nem param para refletir ou mudar.
Ainda bem que algumas coisas poderão mudar com a nova direção do clube, mas vai ser tarefa muito difícil porque árvores muito enraizadas custam a arrancar.
E como seria bom, mesmo arrumados os (meus) cachecóis, ter a alegria de ver o clube sem esta péssima, continuada e alargada macacada de ‘bilhetes dourados’. Seria oiro sobre azul.
sábado, 11 de maio de 2024
A bela aurora
Estas fotos chegaram-me agora de Londres, onde também as belas cores róseas da aurora boreal foram vistas há poucas horas, tal como cá em Portugal.
Pelo que li, esta tempestade solar poderá tornar-se ainda visível durante o fim de semana. Vou tentar olhar o céu.
quarta-feira, 8 de maio de 2024
Ontem foi um dia em cheio!
Ontem, dia 7 de maio, o dia nasceu com o sol a brilhar. E entrou no Auditório Municipal de Gondomar através de grupos de meninos e meninas do primeiro ciclo ao ensino secundário, acompanhados por professores e pelos responsáveis pelas Bibliotecas dos diferentes agrupamentos do concelho de Gondomar.
Todos ali estavam para o Primeiro Concurso concelhio de Leitura. Cada aluno participante tinha escolhido um livro e alguns objetos ligados à respetiva história. A prova consistia na leitura de um excerto da obra e na argumentação a partir do seu conteúdo e dos objetos selecionados.
Tive o privilégio de fazer parte do júri e de assistir de perto a todas as provas, vendo o nervosismo de alguns alunos, a segurança de outros, o à vontade de outros tantos, a preocupação de todos em cumprir bem a função…
E foi bonito, na parte da manhã, ver chegar ao palco, por ordem crescente, o grupo do primeiro ciclo e logo a seguir os participante mais crescidos do 2o ciclo. Todos com o seu livro, os seus objetos, a sua vontade ativa de participar.
O dia ia crescendo e, à tarde, subiram ao palco os concorrentes do terceiro ciclo e ensino secundário. O entusiasmo não parou de aquecer e iluminar a sala onde decorria a atividade que havia sido pensada e organizada ao pormenor. Com todo o cuidado e amor pelas causas da Cultura e da Educação.
E considero que foi um dia em cheio, porque todos aprendemos um pouco mais: os alunos que foram os protagonistas, os professores que os ajudaram, os pais que amorosamente estiveram presentes, os organizadores que novas atividades poderão sonhar, o staff que apoiou para que tudo corresse bem no lugar e no momento certo…
Todos os alunos participantes tiveram um prémio oferecido pela CMG. Os prémios maiores foram para os três alunos que o júri distinguiu (tarefa tão difícil!) em cada um dos ciclos. E foi animador ver as crianças e jovens, felizes, em palco com o seu prémio e diploma pelo desempenho que irradiou de um livro e de trabalho conjunto.
Um dos jovens terminou a sua prova de argumentação com a palavra Esperança. Oxalá o sentido dessa palavra também se escreva e leia num futuro em cheio.
segunda-feira, 6 de maio de 2024
quinta-feira, 2 de maio de 2024
A palavra lento nunca andou tão depressa
Desde que o prof Marcelo, em momento de descompressão comunicativa, como tantas vezes lhe acontece, atribuiu o adjetivo lento ao ex-primeiro ministro António Costa, por ter raízes orientais, e incluiu rural na caracterização do 1o ministro atual, por não ter nascido nem em Lisboa nem no Porto, tem sido um ver se te avias para estas duas palavras. Foi como se se tivessem escapado de um saco onde estavam à espera de sair para (se) divertirem um pouco mais.
Ele é ‘sabes como é, sou oriental, por isso sou lento’; ‘desculpa, sou rural, daí não se ter percebido bem o que disse’, etc, para não falar de anedotas que logo aparecem e que nos fazem rir - coisa de que bem precisamos.
Mas o que não suscita bom humor, na minha opinião, é ouvir a mais alta figura da nação caracterizar as pessoas pela terra onde nasceram.
Sr Presidente, sente-se bem? Será que nascer em Cascais aponta logo para a primeira linha? Ai, senhor presidente, cá para mim, rural porque nascida numa aldeia de Gondomar, o senhor padece da solidão do poder e quando se apanha com muita gente à frente, as palavras saem-lhe sem controlo.
Confesso que não votei em si, mas não gosto que o acusem, como aconteceu num dos discursos do 25 de Abril, com desventuradas e gritadas palavras,
Desculpe, mas também deve evitar falar do neto preferido, ou do seu famigerado filho com quem cortou relações. Também acho que ele o deixa ficar mal e tem comportamentos de caixão à cova. Ah, e ele também deve ter nascido em Cascais. Como o classifica quanto a isso?
Ai, senhor presidente, muita gente, na qual me incluo, anda cansada de tanta coisa que é dita, redita, desdita…por si e não só, apesar de a maioria de nós, cidadãos, não querer outro regime que não seja o democrático.
Sente-se um bocadinho, tente ser um bocadinho mais lento, ainda que não seja oriental, e imagine-se um bocadinho rural, ainda que tenha nascido na zona privilegiada do país. Pode estar certo de que muita gente continua a gostar de si e não faltarão pessoas a querer ficar nas suas selfies.
Ah, é verdade, um dia destes ouvi Ana Paula Tavares, no podcast ‘A beleza das pequenas coisas’. Retive uma frase que ela disse ‘A velhice tem-me ensinado a virtude da lentidão, ajuda a sermos mais perfeitos e a termos mais atenção pelas coisas’.
A poeta e professora nasceu em África. Nem lhe pergunto como a classificaria por isso. Nem o senhor presidente responderia porque todos nós, sejamos lentos, rurais ou o que quer que seja, temos outra grande virtude: podemos aprender até morrer.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
O primeiro Primeiro de Maio
Estava um belo dia de sol e todos nós ainda estávamos tomados pela surpresa festiva do 25 de Abril de 74, pela estupefacção perante ruas que se enchiam espontaneamente quando, até aí, qualquer pequeno grupo era entendido como subversão.
Quando chegámos ao Porto, nesse primeiro Primeiro de Maio, a grande praça, diante da Câmara Municipal, enchia-se de gente, de bandeiras, de cartazes, de palavras de ordem, de cravos vermelhos, de canções revolucionárias, de alegria, etc.
Era o tempo das calças à boca de sino, de grandes bigodes, de cigarros, de muito espanto perante o que estava a acontecer.
Não sei se fomos de mão dada ou de braço dado, mas tenho bem vivo e presente o mar de gente que tinha vindo até ali, porque as amarras que até aí apertavam e magoavam davam sinais de se desatarem, mesmo para quem não tinha consciência política.
Não esquecerei nunca aquela tarde de sol e de festa do primeiro Primeiro de Maio celebrado no país.
Cinquenta anos depois, não irei para a rua, mas saber que podia ir em Liberdade é sinal de que o 25 de Abril e o primeiro Primeiro de Maio valeram a pena.
Oxalá a Festa verdadeira possa continuar.