Apetece-me fugir daqui. Já abracei os noivos, já saboreei nachos, tacos, tortillas..., já dancei sentindo as dunas macias da prima da Lupe, já tirei o casaco, já suei a camisa, já engoli muitos copos de tequila, já suguei bâton vermelho, já sequei o suor de mãos com o calor dos meus dedos...
Apetece-me fugir daqui. Não sou homem de quentes salas fechadas, de músicas que explodem nos meus ouvidos, de luzes que disparam nos meus olhos, de ares com perfumes mesclados até à náusea...
Apetece-me fugir daqui. Porém, o Pepe é um grande amigo de muitas estações e de muitos desertos. E de longas conversas ao sol, refrescadas pela sombra dos nossos chapéus. Fico feliz ao vê-lo feliz neste dia do seu casamento. E ao vê-lo sorrir muito mais do que quando estamos, entre o céu e a terra, a guardar as vacas.
Apetece-me fugir daqui. Apontados para Lupe, quantos dos meus olhares devoradores o meu sombrero encobriu. Sobretudo quando ela aparecia com o vestido curto de folhos e no bâton vermelho cintilava o prazer dos lábios. Logo se retiravam e eu ficava a guardar as minhas vacas e as dele ou a fingir que dormia, mas sempre fixando o plano cada vez mais distante, o ponto que mantinha a cor do vestido de Lupe. Quando regressavam, ela retocava o bâton e afastava-se, sozinha. Ficávamos em silêncio naquele deserto da tarde.
Apetece-me fugir daqui, porque sei também que não muito longe arranham o chão as pesadas caravanas, cheias de sonhos americanos e parece-me ouvir gritos arremessados aos meus ouvidos.
Oh! Estão a atirar o ramo da noiva e é a prima da Lupe quem logo o agarra e vem pô-lo na abertura da minha camisa, quase cravando as flores no meu peito.
Ela, com um bâton ainda mais vermelho do que o veludo ondeado do vestido, diz-me ao ouvido:
- Apetece-me fugir daqui!